Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 49
Gone and back


Notas iniciais do capítulo

Sinto muito por não postar semana passada. A mudança fez com que eu seja forçada a ter aulas extras no período da tarde, além de atividades físicas, consultas médicas e aulas à noite. A partir do capítulo seguinte, a história será betada, e minha beta pede até três semanas para cada capítulo. Espero não chegar a tanto, mas veremos.

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/294242/chapter/49

CAPÍTULO 49

GONE AND BACK

“Não” sibilou Nemesis para Regulus. “Nada de coisas estúpidas.”

“Somos irmãos brincando de espadas.”

“Com um de vocês morrendo no final!”

“Melhor me arrumar uma espada boa, então” riu Regulus, vendo a espada presa nas costas de Sirius. Ele já havia vindo preparado... As luvas, a espada... “Merda. Aquela é a espada de Gryffindor?”

Os olhos de Nemesis se arregalaram por baixo do capuz. Uma espada forjada por duendes, enquanto ele havia arrancado o braço de Nicholas com algo pouco mais afiado do que uma espada de esgrima. “Não pegue a luva” urgiu para o mentor. “Fique com uma impressão de covarde, mas sobreviva. Pare com essa estupidez.”

Regulus não se abateu. “Espadas não fazem guerreiros, garoto, e se não me engano você nunca ganhou um duelo espadachim contra o Reguluzinho aqui. Hey” ele encarou Nemesis como se fosse Revan ali. “Vai ficar tudo bem. Sirius nunca foi um bom lutador.”

Aquilo era uma mentira, o pequeno comensal sabia, mordendo os lábios de raiva até sentir o gosto metálico de sangue em sua língua. Sirius era um excelente lutador, e Regulus não era páreo para ele. Por isso Regulus, e ele, preferiam a varinha ao invés da espada. O físico deles era mais apropriado, eles treinavam desde pequenininhos, e não envolvia coisas pontudas.

O com maior conhecimento venceria, e não o com mais força.

Nemesis conseguia sentir o temor se espalhando pelo peito. Olhando para a varinha completamente negra, e sentindo suas tatuagens queimarem com sua fúria, foram necessárias três tentativas até que ele conseguisse transfigurar a espadinha que havia usado anteriormente em algo que realmente pudesse dar vantagem ao mentor.

A espada era leve, para que Regulus não se cansasse com facilidade, e longa, particularmente afiada nas laterais. Reta, feita de metais resistentes, com uma ponta que desenhava sangue ao simples toque. O tamanho foi feito com cálculos internos na cabeça de Nemesis: Quanto seria necessário para Regulus acertar Sirius sem ser acertado pela espada do mesmo?

“Não posso esperar para sempre!” gritou Sirius, abanando as mãos entre os aurores, impaciente para que isso acabasse logo e ele pudesse pegar o corpo ensanguentado com cabelos ruivos que ele podia ver deixado de lado. Ele engoliu em seco, percebendo que o braço estava separado do corpo. Aquela não era a hora de se sentir enjoado. “Vamos logo!”

Aurores tentavam convencer Sirius do mesmo modo que Nemesis tentava convencer Regulus. Perder um auror do porte de Sirius causaria perdas inimagináveis para o Ministério e para a Ordem da Fênix. “Dê-me logo uma armadura” resmungou ele, desabotoando as vestes e procurando por uma armadura. “Onde ela está?”

Um dos aurores pigarreou. “Armaduras não são mais usadas, senhor Black, e não temos nenhuma aqui.”

“Como assim não têm?” Sirius estava furioso. “Eu disse claramente para trazerem todo o necessário para derrubarmos Regulus Black, se ele estivesse aqui, e olhe, ele está!”

Do outro lado do cemitério, Nemesis retirava a armadura de couro de dragão e a dava para Regulus. “Tome. Já somos quase do mesmo tamanho, e ela vai se ajustar.”

“O peso não vai me atrapalhar?” Regulus tinha o conhecimento que couro de dragão era muito, mas muito pesado.

O pequeno comensal já tinha um sorriso nervoso nos lábios. “Coloquei alguns feitiços para que ela ficasse mais leve. Você não vai sentir nada, só não faça movimentos bruscos com os braços ou pernas, ou vai perder o equilíbrio.”

Regulus riu abertamente. “Você pensa em tudo, meu lorde!” As palavras tinham tom provocativo, mas o lado da luz não precisava saber disso. Ele colocou a armadura e pegou a espada, testando seu balanço e deixando um assovio sair ao ver que o balanço não podia ser melhor. “Obrigado.”

“Ganhe a luta” replicou o pequeno comensal, sério. “E estaremos quites.”

“Não se preocupe. Vamos fazer isso agora!”

“Ótimo!”

Os irmãos circularam ao redor dos túmulos, um olhando para o outro, tentando achar um ponto para atacar. Ficaram circulando até que Sirius tropeçou em algum tipo de planta morta ao redor de uma cova, dando abertura para Regulus pular para frente e enfiando a espada no ombro do irmão mais velho, fazendo-o sibilar em dor.

Ainda no chão, Sirius deslizou a espada para cortar os tornozelos de Regulus, esperando que aquilo lhe desse a oportunidade para se levantar, mas o irmão mais novo simplesmente pulou e voltou a enfiar-lhe a espada, desta vez no peito, mas não sucedendo. Sirius podia ser muitas coisas, mas ele era forte, rápido e aparentemente um ótimo rolador de grama.

Como um cão.

As espadas se encontraram novamente com o som doentio de metal arranhando metal. Uma, duas, três vezes, bateram no ar, Regulus usando seus anos a menos como vantagem para se manter em pé enquanto Sirius ofegava, tentando resgatar o que havia de sua vitalidade e ignorar o cansaço de um corpo em seus quarenta.

“Irmãozinho, você ficou bem nisso” grunhiu Sirius, jogando Regulus para longe. Sua cabeça bateu em um túmulo qualquer, e o irmão mais novo escapou no exato momento que a pesada espada de Gryffindor cortou tal túmulo em dois como se fosse feito de manteiga. “Venha aqui, deixe-me te mostrar alguns truques.”

Regulus desviou-se, metendo o punho na cara do irmão e efetivamente quebrando seu nariz. Sirius urrou de dor, antes de se recompor e enxugar o sangue que saía de suas narinas como se não houvesse dor, não no nariz, não no ombro, em lugar algum. “Nunca! Você merece queimar no inferno.”

Ele cuspiu na direção do irmão.

“Não é assim que se trata os mais velhos!”

“Os mais velhos então não deveriam entrar em briguinhas de espada com os jovens” replicou Regulus de dentes cerrados, tentando manter o pulso firme. Ele duvidou de Nemesis quando começou a se cansar mais do que o normal. A armadura... Pelo menos não tinha mais do que arranhões em seu corpo, por enquanto.

Naquele momento, Sirius abriu uma brecha ao deslizar a lâmina de sua espada pela de Regulus, novamente fazendo os ouvintes quererem cobrir os ouvidos de agonia, e usou sua maior estatura para aplicar pressão no fim da lâmina do irmão, até que o braço esquerdo do lorde das trevas não teve outra escolha senão deixar cair a espada.

“Regulus!” berrou Nemesis, totalmente esquecendo-se do seu papel e indo na direção deles. Podia conjurar outra espada, ou usar a varinha. Uma barreira mágica, porém, impediu-o, e ele lembrou com pesar de que ninguém interferia em um duelo senão os participantes. “Use sua varinha!”

Mas a varinha dele estava posicionada cuidadosamente entre as vestes que usara para evitar que a chuva o molhasse.

“Não se preocupe, meu lorde” resmungou Regulus, correndo na direção de Sirius. Não hesitou quando a lâmina veio em sua direção: Desejando que o couro de dragão não fosse tão fino, agarrou a espada com as duas mãos e manteve-as ali enquanto a espada de Gryffindor cortava pela luva e pela pele, fazendo com que suas próximas palavras, “Eu consigo!”, saírem como um grito.

Puxando a espada de Gryffindor mais para perto de si ao ponto de a mesma tocar seus ossos, Regulus se viu próximo suficiente de Sirius para dar-lhe um chute-empurrão e correr para onde sua própria lâmina estava caída. Lágrimas frescas corriam por seu rosto: Suas mãos não fariam muita coisa depois daquela demonstração de força.

Dor correu por seus sentidos quando ele pegou a espada, tendo Regulus que se apoiar nela para não desmoronar no chão. Do lado de fora do círculo mágico designado para o duelo, Nemesis gritava e tentava penetrar a barreira.

Aquela era sua oportunidade, pensou Sirius ao investir furiosamente contra o irmão, movimento após movimento, e enquanto seus golpes ficavam mais pesados, a defesa de Regulus ficava mais lenta. Continuou a investir, movimento, desvio, movimento, movimento, desvio, outro desvio de uma tentativa frustrada de Regulus para retaliar, e movimentos, movimentos, movimentos.

Palavras apareceram na frente dos olhos nebulosos de Regulus, de modo que apenas ele conseguisse lê-las: Eu confio em você, pai.

Com forças renovadas, ele chacoalhou a cabeça, limpando o suor que molhava seus cabelos junto com a chuva e encarando os cortes em suas mãos por tempo suficiente para criar uma pequena chama que os cauterizou os ferimentos, pelo menos por ora.

“Você vai morrer!” grunhiu Regulus, levantando a espada. Era sua vez de atacar, e ele o fez com maestria: Desviando-se dos golpes do irmão, e retaliando com seus próprios, não muito fortes, mas rápidos, mais rápidos do que Sirius podia acompanhar.

Eram cortes nos braços e pernas de Sirius, um que passava por seu rosto e outro em seu estômago, todos parecendo maiores por causa da chuva que dispersava o sangue e fazia com que mais fosse à superfície da pele, tornando a derme pálida de Sirius em um tom de vermelho. Regulus não estava muito melhor, sua armadura de couro totalmente fora do corpo e o peito nu à mostra, de modo que todas as cicatrizes de treinamento fossem vistas pela audiência.

Regulus fechou os olhos para dar algumas respirações profundas. Uma funcionou. A segunda foi interrompida pelo som de metal cortando o ar, e o caçula Black virou a cabeça na direção do som: Era a espada, que entrou certeira onde acabava no topo da barriga, logo abaixo da última costela.

A próxima respiração foi curta e desesperada. A espada de Gryffindor era fria entre seu sangue quente que corria vermelho e vivo ao redor do ferimento. Grandes gotas de sangue começaram a cair no chão ao seu redor, e Regulus sentiu-se cair, seus joelhos cedendo e deixando-o ajoelhado na lama.

Sirius, ou melhor, Padfoot, corria até ele, percebeu entre a dor e os gritos de Nemesis. Palavras apareciam em flashes em seus olhos: Pai! Pai! Pai! Levante!

Nemesis assistiu quando Padfoot pulou em seu pai, os olhos bem abertos e a boca mostrando os dentes. E o pulo parou, no meio do ato. Um alto ganido pôde ser ouvido saindo de Padfoot, a espada improvisada de Regulus enfiada atravessando seu estômago e saindo por suas costas.

Estava feito.

Você conseguiu!

Mas a conexão mental só parecia estar vindo de um lado.

“Regulus!” berrou Nemesis, a barreira que antes os separava agora não mais lá. Ele olhou fixamente para os aurores que os assistiam, todos igualmente chocados pelo que se deu o duelo espadachim, todos em cima de uma poça d’água da chuva que apenas aumentava. Nemesis não os queria ali. O momento era dele, só dele.

Seus olhos verdes de predador brilharam e um raio caiu na poça d’água, eletrocutando os aurores.

“Regulus” murmurou ele, cutucando o mentor. “Por favor esteja vivo. Por favor.” Nemesis observou a poça de sangue que aumentava debaixo do mentor.

Regulus virou a cabeça para o lado para tossir o sangue que se acumulava em sua boca. “Sinto muito não viver para ver o grande lorde que você se tornará, garoto.”

“Não fale assim” ordenou ele, como se tivesse uma posição superior à da morte. “Você vai estar lá, vai ser meu conselheiro, vai me impedir de fazer burradas. Você conseguiu... Sirius está morto.”

Uma ideia surgiu em sua mente. Ele retirou do bolso de suas vestes algo que mantinha lá desde o começo do ano, porque nunca se sabe quando iria se precisar daquele exato objeto. Correu até o grimm preto, que estava em seus últimos suspiros, e colocou a coisa entre seus dentes. Ele pôde ver que Padfoot se abalou ao reconhecer o cheiro.

“Morra com o osso do seu rato entre os dentes” cuspiu Nemesis, esforçando-se para mostrar sua verdadeira face. “Porque é isso que cães fazem... Roem ossos que os donos dão para eles. E eu te possuo. EU POSSUO TODOS VOCÊS!”

Desceu o punho contra o crânio do cão, tendo certeza que suas palavras seriam as últimas que Padfoot iria ouvir.

Voltou a correr imediatamente para Regulus, chacoalhando-o para que recuperasse a consciência. “Viu o que fiz, pai? Você gostou? Um cão roendo um osso, entendeu? Seria melhor se ele fosse um gato, porque Pettigrew é um rato, mas é um cão, não tem problema. Hey, hey, olhe para mim.”

“Sinto muito” chorou Regulus, quando sua cabeça foi posicionada no colo do aprendiz. “Eu te falhei.”

“Você nunca poderia ter falhado comigo, pai” soluçou Nemesis. Ele podia sentir a vida se esvaindo do corpo do mentor. Não havia mais volta. Por que Regulus se recusara a fazer horcruxes, por que? “Você foi a melhor coisa que já me aconteceu.”

Sua respiração se recusava a vir aos pulmões, o ar tão necessitado não fazendo o caminho completo. “Queria que tivéssemos mais tempo para sermos pai e filho. Para sermos felizes... Brincarmos. Quantas vezes brincamos, Revan? Posso contar nos dedos de uma mão. Sempre para o serviço do lorde... do lorde das trevas, sempre para ele, nunca para nós mesmos.”

A pergunta pairou no ar: Você se arrepende?

Regulus levou uma mão trêmula até o rosto que se escondia debaixo do capuz, acariciando os cabelos de Nemesis. “Se eu não conhecesse o lorde das trevas, nunca teria que conhecido. E você foi a melhor coisa que aconteceu para mim, também.”

“Eu te amo” murmurou Nemesis, vendo o mentor empalidecer mais e mais. “Não vá, ainda não.”

“É um assunto onde... eu não tenho... escolha.” Riu, um riso fraco e doentio. “Nunca brinque com a morte, filho.”

O pequeno comensal assentiu. “Nunca. Vou tomar cuidado, prometo. Vou fazer tudo certo, não vou te desapontar.”

Esperou uma resposta de Regulus, uma respiração, um suspiro, mas nada saiu de seus lábios azuis. Nemesis o chacoalhou. Nada. E os gritos começaram, junto com os trovões. Raios caíam ao redor deles, sem machucar o pequeno comensal, mas fazendo uma barreira definitiva contra os aurores, que aproveitaram o momento para desaparatar.

Nemesis protegeu o corpo do comensal, seus soluços doídos, até que pareceu não haver mais lágrimas. A chuva caiu para uma leve garoa, lavando o sangue de Regulus, fazendo com que ele parecesse estar dormindo, e não morto.

Ele retirou o pendente do pescoço, colocando-o no de Regulus. Então, abraçado ao corpo, eles aparataram para casa.

A casa não seria a mesma sem Regulus. Sem suas risadas, piadas, o modo como tratava comensais e dava lições de moral tanto para Harry quanto para Revan, tudo isso não existiria mais. Já como Revan, o menino sentiu vontade de chorar. Tudo havia ido embora. Regulus, sua âncora para o mundo, havia ido embora para sempre.

“Garoto!” chamou Voldemort, caminhando apressadamente até eles. “O que aconteceu?”

Quando Revan não se moveu de cima do corpo de Regulus, o lorde das trevas fez com que ele se afastasse levitando-o para longe. Revan esperneou, gritando e tentando chegar mais perto do pai, implorando em soluços para que ele voltasse, um dia, uma hora, qualquer minutinho que fosse para que pudessem conversar.

“Ele está morto!” falou Voldemort com firmeza, segurando os ombros do herdeiro Black e torcendo mentalmente para que ele parasse de chorar. “Não há nada que você possa fazer sobre isso.”

“Não era a hora dele” soluçou Revan, agarrando-se nas vestes do lorde das trevas, sua nova âncora. “Sirius Black, ele fez isso, e eu tive que assistir... Você precisa trazê-lo de volta, Tom, por favor, eu faço qualquer coisa.”

Voldemort revirou os olhos. Ele não tinha tempo para choradeira de criança. Empurrando o menino para dentro da mansão e escadas acima, pararam na frente do quarto, onde Voldemort disse, impaciente: “Vá para a sua namorada. Ela e a veela é que têm que te confortar, não eu. Só se arrume primeiro. Mulher nenhuma quer um homem com as roupas molhadas e cheirando a morte.”

Revan fungou, tentando se recompor. “Ok. Vou estar no meu quarto.”

Voltou a chorar assim que a porta se fechou, sabendo que seu quarto era a prova de sons. Nagini veio até ele meia hora depois, quando ele ainda não tinha saído do quarto, e encontrou-o olhando pela janela que dava para onde o corpo de Regulus estava.

“Falante” sibilou ela, enrolando-se no corpo do menino para obter calor, entretanto encontrando frio. “Você precisa comer. Precisa sair daqui. Meu lorde está falando de cremar Regulus o mais rápido possível.”

“Cremar?” repetiu Revan, acariciando a cobra distraidamente. “Não. Ele merece um enterro. Merece um túmulo de diamantes, não merece ser queimado como qualquer outro comensal.”

Nagini abaixou a cabeça: “Ele era um comensal.”

“Ele era meu pai!”

“Tudo bem. Quer que eu peça para meu lorde chamar a veela de quem você tanto fala?”

“Chame Daphne” disse ele. “Pela manhã. Vamos fazer o funeral antes que ele vire comida para minhocas.”

Nagini se retirou do quarto.

O funeral teve pouquíssimas pessoas, considerando a quantidade de comensais, mas exibia todos os luxos que a varinha podia criar. Revan ordenou um elfo doméstico que limpasse Regulus e o deixasse em seu melhor estado, ao ponto que ele parecia um garanhão dormindo no caixão feito de pedras preciosas, principalmente cristais e esmeraldas.

Não diamantes. Os diamantes seriam usados depois.

Depois que todos haviam dito seus últimos adeus, Revan levitou o caixão até onde haviam cavado a cova, debaixo de um teixo, a árvore favorita de Regulus e uma que simbolizava a imortalidade. Não podia ser mais perfeito, pensou o herdeiro Black quando depositou o caixão com cuidado na cova.

“Vamos fazer isso.”

“Requiescate in pace” falaram todos em uníssono.

O caixão desceu até não estar mais sobre vista. Então, com uma força e fúria que Revan não sabia que tinha, ele começou a cobrir o buraco de terra fértil. Planejava plantar flores ali, afinal. Quando seu fôlego não aguentava mais, ele fincou a pá no chão e foi até a lápide, feita de um diamante magicamente ampliado.

Regulus Black

1961-1995

Ótimo amigo, pai e protetor.

Sua coragem será lembrada para sempre nas mentes que o amam.

“Agora você vai para os Greengrass” comandou Voldemort, impassível diante do túmulo. “É para isso que as meninas servem.”

“Sim, meu lorde” murmurou Revan, enxugando uma última lágrima e pigarreando em uma tentativa de fazer sua voz mais suave. “Só deixe-me falar com Luna antes.”

Por cartas, eles combinaram que Luna viria até onde quem que eles estivessem para pintar uma figura em tamanho real de Regulus. A loira avisou Revan: Só conseguia fazer com que as figuras respirassem, não se movessem, mas o menino mordeu o lábio, pensando que apenas o ato de respirar era o suficiente, e concordou em achar um lugar apropriado.

Luna começou a trabalhar todos os dias e noites depois que foi anunciado novamente um fim de ano mais cedo do que o normal, para a segurança de todos, uma figura de Regulus sentado em uma poltrona do papai com um copo de Whisky de Fogo na mão e a espada conjurada nas costas, relaxado e encarando o teto como se nada pudesse o atrapalhar.

“Obrigado” murmurou Revan, abraçando Luna com força. “Está perfeito.”

As notícias de morte de Sirius e Regulus Black já corriam pelos jornais quando o herdeiro Black se encontrou na frente dos portões da pequena mansão dos Greengrass, batendo na porta e esperando que suas batidas pudessem ser ouvidas pela chuva. Ele precisava se controlar. Se toda vez que chorasse, uma tempestade fosse formada, Revan tinha certeza que um dilúvio ocorreria.

Não chore, havia dito Voldemort.

Está tudo bem chorar, costumava dizer Regulus.

Um elfo doméstico aparatou próximo de Revan, avisando que podia entrar. E Revan entrou, com todo seu esplendor molhado, humilhado e com marcas de choro no rosto, os olhos inchados e vermelhos. Ofereceu seu olá para os pais de Daphne, que comentaram sobre a tragédia com relativa tristeza em suas expressões, antes de dar as direções para o quarto de Daphne.

Revan não queria a alegria de Astoria, pulando ao redor dele como... como algo que ele não conseguia se lembrar, algo elétrico, ele queria a expressão fria de Daphne, alguma coisa que o lembrasse dos dias que passara recebendo corvos de Regulus, o riso que compartilhavam quando alguém dizia algo estúpido, algo... familiar.

“Sinto muito, Tory” murmurou o menino, beijando a cabeça de Astoria. “Não hoje, ok? Depois você me conta sobre a maldição que jogou em Draco.”

“Aposto que Regulus foi um excelente pai” respondeu ela, dando-lhe um sorriso triste. “Nunca te vi ficar chateado assim antes.”

Ele assentiu. “Regulus era o melhor.”

Daphne esperava por ele em seu quarto, vestida em um vestido casual preto que não deixava de ser belo, destacando sua complexão clara. Ela abriu os braços para Revan e deixou que ele afundasse a cabeça em seu ombro, soluçando como Daphne nunca havia visto alguém soluçar, até que seus tapinhas desajeitados funcionaram e ele relaxou o suficiente para se deitarem, encarando um ao outro.

“Como a notícia chegou aos jornais?”

“O banco é alertado quando há um novo lorde de uma casa antiga e nobre, meu lorde Black.”

Revan conseguiu rir o suficiente para lhe dar um empurrão no ombro. “Cale a boca, lady Black. Então não foi ninguém... de dentro?”

“Achei que fossem neutros” Daphne tinha uma expressão divertida e machucada nos olhos. “Não seguidores das trevas.”

“Sinto muito” respondeu lorde Black. “Eu devia ter te deixado saber, mas achei que estava bem óbvio, com, Regulus, sendo meu pai e tudo.”

“É” concordou Daphne, alisando os cachos negros do namorado. “Até que estava bem óbvio. Eu é que não queria ver.”

Foi a vez de Revan ficar ofendido. Ele estendeu sua mão para pegar a de Daphne: “Isso muda alguma coisa?”

“Não. Você é o mesmo de sempre.”

Lorde Black olhou fixamente para sua lady: “Preciso saber, Daph. A guerra está prestes a estourar. Você vai ficar comigo?”

“Maldita seja Morgana, o contrato me faz estar com você” riu a loira, mostrando que aquilo se tratava de uma brincadeira. Sua expressão se suavizou instantes depois: “É claro que vou ficar com você, Revan. Como eu não poderia? Você tem minha palavra que os Greengrass irão investir tudo o que conseguirmos na guerra.”

“E você tem minha palavra” replicou Revan, beijando os nós dos dedos da mão que segurava, “Que vou fazer tudo em meu poder para manter sua família a salvo. Eu fiz essa promessa para o seu pai ano passado, e vou mantê-la até o dia de minha morte.”

Daphne sorriu: “Chega dessa conversa de morte. Vamos falar dos vivos.”

Falaram sobre bobagens até depois da meia noite, rindo e se acomodando entre eles, até que Revan se levantou com expressão de dor.

“Revan?”

“Já volto.” Correu para o banheiro, mas sua náusea estava pior quando voltou e a dor no peito, insuportável. Ele podia ouvir o sangue correndo pelo seu corpo, indo para a cabeça, as veias pulsando, o que era aquela dor de cabeça...

“Revan!” gritou Daphne, correndo para perto dele e tirando sua temperatura. “Merlin, você está frio. Deite-se.”

Ele se levantou, mas o movimento foi demais e seus joelhos cederam. O lorde Black cobriu as orelhas com as mãos e foi a sua vez de gritar ao ponto de acordar os outros da casa, que vieram em trajes noturnos para ver o que estava errado.

“Prepare uma chave de portal!” ordenou a loira, vendo a expressão perdida de Revan, encarando o teto e cerrando os dentes em dor, e tirando sua temperatura mais uma vez. Ainda mais frio. Lorde Black estava quase tão frio quanto a morte. “St. Mungus, rápido, rápido!”

Revan sentiu seus ossos diminuindo, sendo esmagados, e o sangue mudando desde a mais remota célula, seu crânio levando repetidas batidas de um inimigo invisível, seus cabelos encurtando, a pele queimando para adquirir um determinado bronzeado, e as convulsões começaram.

“Mamãe!” gritou Astoria, vendo tudo que se passava e correndo desesperada de um lado para o outro. Seu amigo estava morrendo, e ela estava de mãos atadas. “O que eu faço?!”

“Tory, querida, vá para o seu quarto.”

“Ele é meu amigo!”

“Então faça alguma coisa! Pegue gelo e água quente, ajude seu pai com a chave de portal!”

Ela fez a primeira tarefa, intercalando panos quentes e frios enquanto a temperatura corporal de Revan mudava até atingir um ponto em que só caía. Quando o gelo não se fez mais necessário, ela começou a chorar.

Frederick entrou na sala novamente carregando um objeto circular com pontas para serem seguradas. “Segure firme, Revan, e não solte por nada nesse mundo. Levante a mão se consegue me entender.”

Revan grunhiu e levantou a mão.

“Ótimo. Segurem-se!”

Um lugar todo branco. Sangue saindo de feridas que se abriram internamente e fizeram seu caminho até o mundo externo. Sangue saindo de sua boca, nariz, olhos. Não conseguia respirar. Uma maca. Pessoas gritando desesperadas. Enfiaram algo em seu nariz, deram-lhe uma injeção de anestesia e o mundo ficou preto.

Preto, mas não sem dor.

Cruciatus era brincadeira de criança perto daquilo. Revan estava pegando fogo. Estava morrendo por causa de algo que ele não tinha ideia do que estava acontecendo. Quanto recuperou a consciência, sua visão estava terrível e seu corpo ainda pior.

“Mate-me” ordenou ele para o medibruxo mais próximo. “Por favor, mate-me.”

“Vai ficar tudo bem” murmurou o bruxo desconhecido, até que os sinais vitais do lorde Black começaram a cair drasticamente. “CPR, CPR!”

Choque. Um, dois, três choques.

Então nada.

Quando acordou novamente, seu pequeno quarto estava vazio. Pensou estar cego por um minuto, mas então percebeu que deveria ser só sua visão, e a escuridão da sala. Um monitor apitava ao seu lado insistentemente. Ele tentou mover a mão, parando ao notar que a dor era grande demais. Ele estava quebrado.

Insistente, fez o movimento de se levantar e caiu no chão, esparramado. Algo dentro dele havia mudado.

E naquele momento, Revan Black morreu, e Harry Potter se levantou da morte.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sim.
Eu fiz isso.
Eu escrevi uma cena de morte clichê!
Por mais clichê que tenha sido (e eu sei que foi) senti que os dois precisaram daquele momento.
A morte abrupta foi planejada, e agora vocês entendem a conversa com Theo dois capítulos atrás. Caso não tenham entendido, não se preocupem - é um dos temas centrais do quinto ano.

59 capítulos, mas finalmente Harry Potter está de volta! Com ele, entramos no último arco da fanfic.

Semana que vem o capítulo será postado separadamente. É o extra dos Potters, situado no hospital, e terá o título de "Os Iluminados".

E chegamos ao fim do quarto ano! Por favor, se manifestem. Me dá uma dor no coração quando a maioria de vocês some nas vésperas de algo tão importante.

Portanto, RIP Regulus, e até logo!