Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 46
A arte de salvar alguém


Notas iniciais do capítulo

Essa não é uma postagem programada, porque o meu voo só sai amanhã. Então, pessoal, cá está a segunda tarefa. Obrigada pelos reviews!



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CAPÍTULO 46

THE ART OF SAVING SOMEONE

Harry chegou ao lago negro uma hora antes do pedido, carregando dentro das vestes três frascos de poção Polyjuice, por garantia. Ele não sabia quanto tempo Dumbledore iria prendê-lo por lá, e queria ter certeza de que as manchetes do dia seguinte não anunciassem em negrito e letras maiúsculas que Harry Potter era Revan Black.

No outro bolso, estava o gillyweed. Esperto, mas simples ao mesmo tempo. Perfeito para Harry Potter. Ele havia pego duas porções, e fazia contas básicas da possível necessidade de usar a segunda planta. Pelo tamanho do Lago, e a inteligência dos juízes, o menino julgava onde possivelmente seu refém estaria, também perguntando-se quem seria tal refém: Não podia estar muito próximo, por razões óbvias, nem muito longe, perto das outras bordas onde não era fundo. O meio era previsível demais, e deveria ser um lugar onde houvesse sereianos aos montes...

Seus olhos focaram-se aonde pequenas bolhas iam para a superfície todas as vezes que algo soltava a respiração. Lá, provavelmente. Era fundo, tão fundo que Harry não via nada além de escuridão, e cercado por pedras que demarcavam o perigo da colônia dos sereianos. Lembrou-se das palavras de Fleur; as criaturas não poderiam atacá-lo sem motivo, e ainda assim ao mesmo tempo, deveria haver algum perigo.

Não confie nas probabilidades, pensou para si mesmo. Harry deveria usá-las como uma forma de ataque e não de defesa. Sua varinha improvisada estava em sua mão, volta e meia lançando feixes de luz para iluminar o lago. Ele sabia que tivera sorte ao conseguir evitar usar qualquer tipo de feitiços na primeira tarefa tanto quanto sabia que não teria a mesma sorte na segunda.

Ao redor das nove da manhã, as arquibancadas começaram a ser preenchidas. As belas meninas de Beauxbatons primeiro, agasalhadas com casacos de lã em um azul que gritava “França” e seus pompons igualmente azuis, então os meninos de Durmstrang, em seus sobretudos com pelos e carrancas, e finalmente os ingleses que usavam, independente das casas, roupas amarelas e marrons para simbolizar seu apoio para Cedric Diggory, o campeão da escola.

“Bom dia” murmurou o mesmo, posicionando-se ao lado de Harry. “Péssimo dia para entrar no lago.”

Ele não conseguiu deixar de concordar. “Provavelmente a data foi escolhida a dedo pelos diretores. Qualquer probleminha extra é um empecilho para nós.”

“Você fala como sua mãe” comentou Cedric. “Puxou mais alguma coisa dela além dos olhos?”

Harry fingiu pensar por um momento. “Acho que não. Quero dizer, se eu não fosse um espelho de James, pensaria que fui adotado. Deve ter sido muitos anos sem convivência com eles.”

O puff olhou preocupado para ele, ponderando: “Conseguiu entender a mensagem e pensar em algo?”

“Não creio” o menino pensou que aquela era a primeira vez que sorria em sua verdadeira forma. “Alguém nessa escola quer me ajudar?”

“Você tem só quatorze. Eu e os outros campeões temos, pelo menos, três anos completos de vantagem. Não sei se você sabe, mas Hufflepuffs são bons em achar coisas, e eu acho que você está correndo grande risco no Torneio.”

Grande novidade.

Harry fez o que achava ser uma cara agradecida, torcendo que fosse convincente. “Obrigado pela preocupação, cara, mas eu ando sozinho faz um bom tempo. Aprendi algumas coisas que não se aprende na escola durante esse período.”

“Coisas das trevas?”

Ele balançou a cabeça, indicando que não. “Só truques na manga que se aprende em comunidades mágicas. Plantas e línguas que geralmente são desnecessárias.”

Ambos olharam para a mesa dos juízes, onde Nicholas Potter sentava sem maiores dificuldades, rabiscando suas anotações (que Harry pensava não se tratar de algo mais importante do que doces ou vassouras) e olhando para os dois de vez em quando.

Cedric retomou o assunto anterior: “Ele não é nada como você, a não ser pela aparência física, quero dizer.”

“Tivemos vidas diferentes” mencionou brevemente Harry, querendo focar-se mais no torneio do que em seu irmão. “E você, tem alguma carta na manga?”

“Sprout estava desesperada para me ajudar, me procurou ontem dizendo que tinha algo melhor do que um feitiço para mim, mas os gillyweed que tinha cultivado tinham sumido, e Snape se recusou a dar os secos que tinha.”

O menino mais novo riu e retirou os gillyweeds que tinha do bolso. “Culpe os Slytherins” falou piscando um olho. “Em minha defesa, só peguei dois.” E mais alguns que tinha escondido em lugares estratégicos do lago.

Cedric fez uma cara séria: “Se meu feitiço falhar, vou dizer que foi sua culpa.”

Ao que Harry replicou na mesma moeda: “E se o gillyweed falhar, culparei Sprout”, fazendo ambos rirem e apertarem as mãos, selando a aposta. “Lá vem Fleur.”

A veela caminhou arrogantemente até eles, lançando um olhar de desgosto ao ver que campeões de escolas diferentes estavam falando entre si. Então, dando-se conta do que fazia, colocou-se em sua posição na beira do lago. Quando teve certeza que todos olhavam para ela, tirou as vestes de seda que usava revelando um biquíni que só escondia o extremo necessário.

“Merlin” assoviou Nicholas da mesa dos jurados.

Harry olhou para Cedric com expectativa: “E aí? Não vai provar que é o cara mais desejado de Hogwarts?” Ao que Cedric sorriu e tirou a camiseta, mostrando para o mundo seu abdômen definido.

A plateia suspirou, e o menino mais novo teve que se contentar com seu corpo mal nutrido para exibir a todos. Ele podia sentir o olhar chocado de Fleur queimando-lhe a pele, assim como a dos demais, ao verem que o irmão do menino que sobreviveu não era aquela beleza toda. O que seu irmão tinha de excedente no peso, faltava em Harry.

Bagman pigarreou, elevando a voz para que fosse ouvido por todos: “Agora que todos os campeões estão aqui, a tarefa começará ao som do meu apito. Os participantes terão uma hora, precisamente, para recuperar o que foi pego deles. Ao meu sinal... Um, dois, três!”

Um relógio mágico começou a contar o tempo que tinham. Sem pensar duas vezes, Harry engoliu uma dose da poção pollyjuice e logo em seguida consumiu o gillyweed, mascando a alga como se fosse um chiclete ou uma poção desagradável. Então esperou, observando quando os outros não lhe lançaram um segundo olhar de preocupação ao pularem no lago, ensopando-o com gotas frias d’água.

Iria funcionar. Tinha que funcionar.

Quando a sensação que esperava, a de não conseguir respirar, aconteceu, Harry apalpou a face, sentindo as guelras, e deu um mortal duplo na água, mergulhando com perfeição até o fundo do Lago Negro, que em outras ocasiões parecia tão sombrio, agora era apenas uma segunda casa. Ele nadou, segurando a varinha de madeira branca e consciente de que seus feitiços demoravam mais a funcionar debaixo d’água. Ainda assim, precisava nadar, portanto seguiu as bolhas.

A água não poderia estar mais gelada nem com feitiços: Harry podia ver a ponta dos seus dedos roxos, as escamas congelando, e o ar que se convertia nas guelras queimando seus pulmões. Não deveria estar assim, pensou ao sofrer um arrepio involuntário. E logo depois, conforme nadava e esquentava o corpo com movimentos que, Harry sabia, eram impossíveis de se fazer sem o uso da alga, o frio passou a ser parte dele.

Nadar ficou mais fácil depois daquilo, deixando o menino se concentrar na única coisa que realmente importava: Sobreviver, e resgatar seu possível refém. Perguntou-se quem seria. Harry não amava a ninguém, não... Aquele Harry. Nem mesmo amor fraternal conseguia sentir, então como Dumbledore podia ter um refém dele?

“Lumos!” murmurou, quando estava escuro demais para enxergar o que estava a alguns palmos dele. Uma minúscula luz guiou-o até um emaranhado de rochas, de onde saíram cinco criaturinhas verdes com as presas à mostra. “Relashio!” Teve que repetir o feitiço várias vezes para que os cinco saíssem do seu caminho, vermelhos onde deveriam estar verdes.

O grito de quem se afogava invadiu os sentidos de Harry conforme ele nadava para onde esperava com todas as suas forças que seu refém fosse estar. Mesmo debaixo d’água, o grito era inconfundível: Só uma pessoa podia ter um grito de terror tão belo. Fleur, pensou, mudando sua direção para ver a loira lutando contra o que parecia ser uma dúzia ou mais de bichinhos aquáticos, exatamente quando a música voltou a tocar com toda a sua maestria:

“An hour long you’ll have to look,

And to recover what we took…”

O que era isso, então? Furioso, Harry lançou um feitiço básico de ar na direção dos monstros que atacavam Fleur, que, junto com água, formou ondas grandes o suficiente para dispersar as criaturinhas. Sentindo seu coração mais leve, o menino Potter voltou-se para as rochas, onde sereianos nadavam na direção de um Krum meio transformado em tubarão.

Lá. Com certeza, seguindo as rochas que portavam desenhos de sereianos.

“...Your time’s half gone, so tarry not

Lest what you seek stays here to rot…”

E o primeiro sereiano apareceu, totalmente diferente das mulheres gostosas e seminuas que Harry esperava. Carregava um tridente, que prontamente voou na direção do estômago de Harry, seguido de dezenas de peixes que mordiscaram as escamas dele, rasgando-as e tingindo a água de vermelho.

Outro, e outro, até que a força da água impediu o menino de desviar-se de algum tipo de lança. O objeto fincou-se com força em seu peito, dando início ao que Harry só conseguiria chamar de inferno. Pensou ter ouvido alguém gritar seu nome de algum lugar do Lado, mas aquilo era ridículo porque vozes não funcionavam daquela maneira debaixo d’água.

Se era assim, que fosse.

Harry prendeu a respiração (não respirava, da qualquer maneira) e arrancou a lança do peito com um puxão que nublou sua visão por alguns segundos. Quando se recuperou, nadou na direção dos sereianos, sabendo que seu refém estava ali e querendo sair da água o mais rápido possível. O primeiro sereiano foi o mais fácil de ser atingido: Era velho e lento, e flutuou para a superfície rapidamente, enquanto outros insistiam em lutar.

“Saiam daqui!” berrou ele, brandindo a lança. “Ou vou matar cada um de vocês!”

Como exemplo, dirigiu-se para o sereiano mais próximo e enfiou a lança nele repetidamente até que seus braços doessem. Os outros voaram para cima dele, e Harry não teve outra escolha senão livrar-se da metade deles antes de fugir. Eles eram demais para seu corpo mal nutrido, e se seus cálculos estavam corretos, só tinha mais vinte minutos.

A primeira coisa que viu foram os longos cabelos castanhos de Hermione que pareciam quase domados na água, seguidos dos cabelos prateados de Gabrielle, então de Cho Chang, e finalmente do seu campeão.

A visão levou os batimentos de Harry aos mil. Não, pensou, não ele...

REGULUS!, berrou Harry mentalmente, quase deixando um grito de frustração escapar, mas ele era Harry, não Revan, não podia dizer o nome do mentor... Mas também não podia deixá-lo morrer.

“Saiam da frente!” berrou para outros sereianos que impediam-no de chegar mais perto. Lançou a lança em um deles, acertando-o em cheio no meio do rosto, e bateu os pés apressadamente para chegar a Regulus, que parecia estar no mais profundo sono. O sangue que saía, tanto dos sereianos quanto dele, ainda nublava sua visão, o suficiente para que, quando ele se aproximasse, visse que não se tratava de Regulus.

Claro que não.

Era Sirius.

“Tempus” ordenou ele, vendo o tempo que tinha. Não era difícil. Krum mordia as cordas que seguravam Hermione com pressa, e Harry podia ver Cedric se aproximando para resgatar Cho. Sete minutos. Tinha sete minutos para chegar à superfície. “Diffindo!”

As cordas de Sirius foram cortadas em duas, e Harry agarrou-o pelos ombros. Sem pensar no que estava fazendo, cobriu a boca do padrinho com a sua, enchendo-a de oxigênio. Foi apenas por um instante, e conforme esperado, o corpo de Sirius flutuou para a superfície. Harry ouviu gritos de contentamento vindos da superfície, mas não sentiu satisfação nenhuma dentro de si: Ao contrário, foi para o último lugar que Fleur havia sido vista.

Achou-a sem parte dos cabelos e com mordidas ao redor do corpo, os laços que prendiam a parte de cima do seu biquíni quase soltos, mas Harry não podia se importar menos. Tirou o gillyweed extra do bolso e enfiou na boca de Fleur, seu olhar dizendo claramente: Mastigue. Quando as feições de Fleur também ficaram como as de um sereiano, o menino Potter puxou-a para onde estava Gabrielle.

Três minutos.

Os soluços de Fleur eram possíveis de serem ouvidos mesmo debaixo d’água. Suas mãos com guelras não conseguiam desfazer os nós que prendiam a irmã, e seus feitiços mal funcionavam.

Dois minutos.

Harry pegou uma pedra afiada e lançou-a para Fleur, dando adeus e nadando para a superfície. Apenas mais alguns metros... “Ascendio!”

E voou, até surgir na superfície da água, e continuou voando por alguns metros antes de voltar a cair pesadamente na água, espirrando-a nos juízes. Sirius já tinha uma toalha ao redor dos ombros, e deu um sinal de positivo que Harry não retribuiu. Ele nadou, exausto, até a plataforma, mergulhando as guelras a cada poucos segundos para respirar até que desapareceram e pôde propriamente subir na plataforma.

Bolhas apareceram com cada vez mais frequência, até que Gabrielle apareceu no Lago, debatendo-se ao tentar manter-se na superfície. Os sereianos, agora com faces tão amigáveis que Harry não podia acreditar, ajudaram-na, e ao invés de correr na direção da diretora, correu até Harry, murmurando coisas em francês.

“Sua irmã está bem” sussurrou ele de modo que ninguém pudesse ouvir. “Ela só precisa ficar debaixo d’água por mais um tempo.” Então virou-se para os sereianos. “Fleur está com um gillyweed em efeito pleno, consigam um antídoto!”

Quando tal antídoto foi providenciado, um minuto depois, Fleur saiu da água tremendo, e como a irmã, foi até Harry ao invés de Madame Maxime, abraçando-o em prantos.

“Obrigada” murmurou, colocando beijos em toda a face dele. “Você me salvou.”

Trocaram um olhar e, sem outras palavras, Fleur envolveu seus braços ao redor do pescoço de Harry e puxou-o para um beijo que arrancou assovios da plateia. Quando soltou-o, o menino arfava. Era como se tivesse ido ao paraíso. Ainda podia sentir o mel dos lábios de Fleur contra os seus.

“De nada.”

Dumbledore vibrava de felicidade quando viu Sirius Black são e salvo, e melhor, o primeiro a chegar à superfície, mesmo que flutuando e sem seu campeão.

“As notas!” anunciou ele, aumentando a voz. “Diggory foi o primeiro campeão a chegar à superfície com o refém. Por isso, damos a ele a nota de quarenta e sete pontos.” Aplausos. “Para Krum, segundo a retornar, concedemos quarenta pontos.” Aplausos vindos principalmente de Karkaroff. “Senhorita Delacour foi atacada por criaturas, e conseguiu escapar. Para ela concedemos trinta e cinco pontos, pela demora e necessidade de ajuda.” Os meninos aplaudiram das arquibancadas. “Para Potter, o primeiro a salvar seu refém, mas não a se salvar, damos quarenta e três pontos.”

Harry não esperava aplauso algum, e sentiu suas bochechas se avermelharem quando poucas pessoas, mas em quantidade suficiente para ele, aplaudiram educadamente. Foi até Fleur, sussurrou que a poção logo se desgastaria e saiu antes que as câmeras pudessem pegar mais do que suas costas. Quando os fotógrafos finalmente pareceram alcançá-lo, perceberam que não havia ninguém lá.

Como sempre.

_

“Você não deveria ter me beijado” reclamou Revan para Fleur quando se encontraram naquela noite, nas margens do Lago. Estava tão absurdamente frio que eles sabiam que ninguém ousaria interromper a conversa. “Uma veela não sai beijando estranhos.”

A loira pareceu mais ressentida do que deveria. “Você não gostou do beijo?”

“Não! Quero dizer, sim, você beija muitíssimo bem, mas você sabe o que quero dizer. Estou com Daphne, vamos nos casar em três anos, e agora você me deve um favor. Qualquer favor.”

“Era o mínimo que eu podia fazer” sussurrou Fleur, olhando para as mãos. “Você salvou Gabby. Um favor não é nada comparado à vida da minha irmãzinha.”

Revan fez que não. “Não vou te pedir favor algum, Fleur. Você é minha amiga” ele frisou a palavra. “É isso que os amigos fazem. Parceiros no crime, certo?”

A veela pulou para um abraço. “Você salvou Gabby” ela voltou a repetir, apertando o menino mais novo o máximo que podia sem que ele perdesse a capacidade de respirar. “Não há nada que eu quero mais do que te recompensar.”

“Que tal guardarmos a recompensa para depois?” sugeriu Revan, pensando desesperadamente em algo, qualquer coisa, que tirasse sua mente de como o corpo de Fleur estava pressionado contra o dele. “Podemos precisar depois. A guerra já começou.”

Suspirando, a veela se afastou, ajeitando as vestes. “É isso que quer?”

“Estou pensando em um modo de usar a recompensa a seu favor. Isso é o que eu quero.” Apesar de que seus hormônios não queriam nada mais que puxar Fleur para o armário de vassouras mais próximo, isso poderia quebrar o pacto, e sua mente, ainda funcionando parcialmente (veelas não deveriam ter permissão para aumentar seu allure) pensava em métodos de utilizá-lo para o lado das trevas.

Ou pelo menos evitar que Fleur fosse influenciada por Nicholas Potter e decidisse virar uma lutadora da luz. Veelas do lado da luz? Nada bom, pensou ele, imaginando como um exército de veelas poderia desarmar o exército de comensais simplesmente com o allure. Eles não teriam chance, e precisavam delas. O oposto poderia acontecer se as veelas fossem das trevas.

Nota mental: Converter as veelas.

“Vai pelo menos deixar Gabby se despedir de você?” murmurou Fleur com lágrimas nos olhos. Revan queria estender a mão para evitar que ela chorasse, mas seu controle foi mais forte. Sem toques. Sem intimidade. Eram amigos, apenas amigos.

O herdeiro Black assentiu, finalmente desistindo e dando outro abraço na amiga, sem deixar de se sentir estranho com tamanha proximidade. Fleur posicionou a cabeça em seu ombro e começou a chorar tão silenciosamente que, se não fosse pelas lágrimas que molhavam suas vestes, o menino não teria percebido.

“Hey” ele acariciou seus cabelos loiros, sentindo-se muito mais velho do que realmente era. “Para que a pressa? Teremos todo o tempo do mundo para agradecimentos.”

Fleur murmurou algo, tendo que repetir mais duas vezes antes que Revan entendesse do que se tratava.

“Só uma tarefa restante?” riu suavemente. “Você ficará em Hogwarts por mais cinco meses, e depois vamos nos comunicar por cartas. Também, você vai estar formada, pode me visitar em Hogsmeade sempre que quiser.”

“Não vai ser a mesma coisa.”

“Tudo bem, então. Vamos conversar com Gabby, talvez ensiná-la a nadar até o fim do ano escolar. Acha que ela gostaria disso?”

A veela deu um imenso sorriso, a luz do local refletindo em seus dentes e cabelos. “Ela se lembraria disso pelo resto da vida dela. Daqui a cem anos, quando ela já tiver várias criancinhas parte veelas correndo pela casa, ela vai poder olhar para seu irmão e dizer que foi salva, muitos anos antes, pelo irmão renegado.”

Caminharam com as mãos se tocando levemente a cada passo que davam, cumprimentando as outras meninas de Beauxbatons mesmo que não recebessem os cumprimentos de volta. Claramente, as estudantes ainda estavam com rancor com Fleur por ter sido a campeã da escola.

“Revan!” exclamou Gabby, suas palavras carregadas com sotaque. Ela pulou nos braços do menino mais velho como se ele fosse um velho conhecido, murmurando Merci a cada poucos segundos e rindo de estar em sua presença. Quando acalmou-se o suficiente, pegou grandes lufadas de ar de modo a dizer: “Fleur disse que você viria, mas eu não acreditei nela.”

O menino fez uma cara chocada. “É claro que eu viria te visitar, afinal você é minha amiga de oito anos favorita.” Gaby deu um leve tapa em seu braço, acusando-o de só ter a ela como amiga de oito anos de idade, antes de puxá-lo até uma cadeira e mostrar o que aprendia enquanto estava ali, a teoria mágica que trazia boas memórias a Revan.

Suas palavras estavam escritas em francês, em uma caligrafia infantil, mas elegante. Entre as frases estavam desenhadas margaridas e borboletas, que feitas com tinta mágica, movimentavam-se lentamente contra o pergaminho. Não havia nada ali que indicasse que Gaby já tivesse sido corrompida por qualquer um dos lados da guerra.

A veela era uma criança inocente, sem saber o que acontecia ao redor dela.

Revan encarou-a silenciosamente com pesar, intercalando os elogios que fazia em voz alta com seus pensamentos sombrios: Uma menininha casada com um dos responsáveis pela guerra, toda a inocência perdida dos seus doces olhos azuis, substituídos por medo e terror.

“Revan?”

“Não se preocupe, Gabby” ele a tranquilizou, mentindo sem maiores problemas, sua voz soando levemente rouca. “Esses desenhos são muito bonitos. Fará um para mim antes de voltar para a França?”

“Mil” prometeu a pequena veela. “Ou um por dia.”

O herdeiro Black concordou, perguntando-se quantos desenhos receberia, e calculando entre pensamentos obscuros as remotas chances de, ao fazer um desenho por dia, Gabrielle passar mais quase três anos sem interferências da guerra, ainda desenhando as borboletas e margaridas provenientes de uma brilhante, bela mente infantil.


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Notas finais do capítulo

Filosofei um pouquinho no final, né? E o capítulo foi escrito antes das crianças da Palestina/Israel serem bombardeadas.

Agora vamos a um assunto que interessa todos vocês: Lady Stark, uma leitora querida, falou que sente vontade de ter um capítulo narrado pelos Potters. Vocês também ficariam satisfeitos com um capítulo extra, a ser postado no fim do quarto ano (capítulo 50)?

Irei agora mesmo programar o próximo capítulo com a promessa de que haverá um confronto (e tanto) nele. Por favor, não deixem de comentar simplesmente pelo fato do capítulo estar programado. Cada review, por menor que seja, significa o mundo para mim.

~Lady Slytherin