Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 44
E dançaremos até a morte


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Desculpem pela demora (de alguns minutos, mas estou tentando ser pontual). Contei 56 reviews no último capítulo, e enquanto não respondo todos quero agradecer a todos que comentaram. Cada comentário tem um significado imenso para mim, por menor que seja.
AH! Novidades! Contarei mais sobre isso nas notas finais :)



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CAPÍTULO 44

AND WE SHALL DANCE UNTIL OUR DEATHS

Harry sabia que soou como uma criancinha mimada quando cruzou os braços e falou para Dumbledore: “Eu não vou!”

“É parte da tradição” repetiu o velho mago com suspiro. “Campeões dançam no Baile de Inverno. Sempre foi assim, e não vamos, nem podemos, mudar uma regra tão antiga porque você não quer, meu garoto.”

“Não sou seu garoto” resmungou ele. Mirou os pais com desconfiança, evitando manter seu olhar pregado no de James por muito tempo. Eles deviam ter um dedo nisso. Harry tinha certeza que, se fosse o queridinho Nicholas, haveria uma mudança de regras. Pare de agir assim. “Eu já disse que não vou.”

Mas Dumbledore era inabalável. “Você não tem escolha... Harry. O contrato mágico te obriga a participar.”

E Harry era inabalável igualmente. “Na verdade eu tenho, diretor. O contrato mágico me obriga a participar da tarefa. São três tarefas, uma já realizada. O Baile não é uma delas. Pode ser parte da tradição, mas eu não tenho obrigação nenhuma quanto a ele. Se sua memória está falhando, pode ler as regras. É só isso? Até a segunda tarefa.”

“Espere!” tentou Dumbledore. “Seus pais estão preocupados com você, por favor fique. Temos uma cama extra nos dormitórios de Gryffindor, tenho certeza que seu irmão ficaria muitíssimo feliz se fosse dormir lá.”

O menino riu, balançando a cabeça. “Não, diretor. Quero estar com vida até o final do torneio e, para isso, preciso treinar. Hogwarts não é o lugar para treinamentos. Como disse, Dumbledore, até a segunda tarefa.”

Com dignidade, caminhou até a porta e encontrou um beco seguro, usando o método de transporte dos comensais para ir a um lugar qualquer onde esperaria que os efeitos da poção se desgastassem. Enquanto esperava, pensou no estranho que continuava a lhe mandar poções sempre que necessário, nunca a mais, nunca a menos. E sempre com um fio de cabelo negro que antes pertencia a Harry Potter, para eventuais emergências.

Ridículo. Não queria participar e não participaria se não fosse pelo contrato mágico. Como ele odiava tudo aquilo! A competição significava menos tempo com Daphne e Tory e Fleur e Gabby, sua futura esposa e amigas. Revan suspirou, sentindo o cabelo voltar a cobrir-lhe os olhos e sua visão voltar à perfeição. Revan Black era tão superior, em todos os aspectos. Boa coisa que, quando o torneio acabasse, tudo voltaria ao normal.

Normal, pelo menos, em seus padrões.

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Fleur terminou de se arrumar, checando-se no espelho desnecessariamente para garantir que continuava impecável. Desde que o maldito anúncio sobre o maldito baile foram feitas naquilo que podia ser considerado um maldito castelo, os meninos não paravam de correr atrás dela, babando e gaguejando pedidos para serem seu acompanhante.

Non. Non, non, non. Logo, na verdade em apenas algumas horas, aquela era sua resposta automática para qualquer garoto. “Non, obrigada”, “Non, non estou interressada”, e finalmente, “Non, deixe-me em paz!” Seu sotaque se pronunciava naquelas horas, já que Fleur tentava dar a impressão da francesa arrogante que mal conseguia pronunciar um ‘não’.

Caminhou até o Salão Principal, determinada a ter um jantar rápido antes de voltar para seu quarto na carruagem. Seus passos eram rápidos, sua respiração curta. Fleur decidiu que precisava de um acompanhante, urgentemente, de modo a ter uma resposta melhor para todos os babões que andavam atrás dela como zumbis.

“Revan!” chamou, tentando não fazer sua voz soar tão semelhante à de uma cantora de soprano. Até pronunciou o nome do menino corretamente. Viu que não estava na mesa azul, onde costumavam se sentar. Revan estava na ponta da mesa verde, parecendo tão disposto a desaparecer das meninas ao seu redor quando Fleur. “Preciso falar com você.”

Ele suspirou. “Igualmente. Quer ir a algum lugar mais silencioso?” Apontou descaradamente novatas Slytherin que queriam uma chance de ir ao baile. Feur balançou a cabeça. Ali era perfeito.

“Preciso de alguém para ir ao baile comigo.”

“Eu sirvo?” Revan falou a palavra sirvo com tanto ênfase que a veela sentiu-se culpada. Sentou-se ao seu lado, desejando que pudesse modificar seu allure de modo a espantar pessoas, não atraí-las. Pansy Parkinson já havia pedido para Revan ir ao baile com ela três ou quatro vezes.

“Mas você vai com Daphne.”

“Nope. Preciso conversar com ela sobre isso. Na verdade, eu gostaria de ser esse alguém para te acompanhar.”

As meninas cruzaram os braços, frustradas, e começaram a se dispersar.

Fleur arregalou os olhos: “Não vai com sua noiva?”

“Prefiro ir com você” explicou ele, confiante de que sua tentativa daria certo. Garotas sempre caíam no truque. “Daphne estará aqui por anos, e você vai embora em Junho. Quero passar algum tempo com minha amiga.” Ele pegou uma de suas mãos, apertando-a de um jeito reconfortante, sem um pingo de segundas intenções.

Fleur engoliu em seco. “Daphne vai ficar brava, e a irmãzinha dela também. Tory, acredito que seja seu nome, tentou colocar meu cabelo em chamas ontem.”

“Ela não fez isso!”

“Fez e faria outra vez, até que meu cabelo queimasse.” A veela riu, agradecendo a Merlin pelo fato de seu cabelo não queimar tão facilmente. Só ser colocada em uma fogueira ou algo parecido para perder os fios loiro-prateados. “Porque estou passando muito tempo com você.”

“Então passe um pouco mais” pediu Revan, sinceridade brilhando em seus olhos verdes, junto com um pingo do que Fleur definiria como diversão. “E completaremos a fúria de Astoria juntos.”

Ela revirou os olhos, sentando-se delicadamente ao seu lado, e procurou pela mão do herdeiro Black do mesmo modo que ele havia feito com ela anteriormente. Com um pequeno sorriso, a veela informou que se era assim, então ela iria, definitivamente, ao baile com ele.

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Revan esperava que Daphne gritasse e o atacasse com a varinha, mas seu calmo “Como assim você não vai ao baile comigo?”, como que se não se importasse, desenvolveu mais culpa no menino ao ponto dele se perguntar se havia feito a escolha certa ao convidar Fleur. Certa, definitivamente, no ponto de vista das trevas, mas e suas morais? Daphne iria casar com ele em três anos. Casamento no papel, sim, mas não era tarde demais para que ela ficasse com pé frio, ou com raiva, e desfizesse o contrato.

“Eu sinto muito” murmurou ele, fazendo um movimento para se aproximar e constatando que contato físico não era o que sua loira queria naquele momento. Um saco de boxe faria um trabalho melhor. “Juro por Merlin, Daph, não tive escolha.”

“É claro que teve. Foi você quem a convidou.”

“Porque Regulus pediu!” àquela altura, todos em Hogwarts já sabiam que ele era filho do comensal desaparecido. “Fleur é a queridinha do ministro. Se eu conseguir manter a França neutra, Daph, as coisas mudarão tanto!”

A loira brincou distraidamente com a ponta de seus cabelos, procurando por pontas duplas. “Achei que os Black não tinham lados nessa guerra.”

“Se enganou” finalmente, o herdeiro Black se aproximou o suficiente para acariciar a pele de Daphne. “Nós temos um lado da guerra, mas os Black não participam ativamente. Só ajudamos com o dinheiro, assim como seu pai faz, para podermos ser deixados em paz.”

“Então você é o que, um pequeno político?” era possível ver a diversão nos traços da adolescente. O pensamento de seu noivo ser um político era perfeitamente capaz, com o modo como ele agia. Na verdade, Daphne podia se ver claramente, no futuro, como esposa do braço direito do ministro ou até mesmo esposa do ministro da magia.

Revan riu alto, lembrando-se do apelido entre os comensais. “Mais ou menos isso. Estou perdoado?”

“Não.” Daphne caminhou até ele, tirando a varinha do coldre e colocando-a na garganta do menino. “Precisamos estabelecer algumas regras.”

Regras?”

“É claro” seu sorriso afetado escondia a raiva que sentia. “Conhece a anatomia feminina, Revan?” Ao vê-lo assentir, continuou: “Então sabe a diferença de cintura e bunda.”

Ele deu um passo para trás. “Eu nunca...”

“Sem danças lentas, entendeu? Sei bem as reações que acontecem durante danças lentas, ainda mais com uma veela.” Inconscientemente, ela passou a mão pelo próprio corpo. Ver Revan ao lado de Fleur fazia com que Daphne se lembrasse do quanto sua beleza se enquadrava na categoria “normal”.

“Não se preocupe.” Revan suspirou, tentando memorizar todas apesar de já estarem fixadas em sua mente. Pouco a pouco, a diversão do baile se esvaía. “Mais alguma coisa, senhorita?”

Daphne levantou as sobrancelhas em apreciação ao apelido. “Dez centímetros. Quero ao menos dez centímetros de distância entre você e Delacour. Se esse limite for quebrado, terá que se ver comigo. Você sabe o que acontece com meninos que me desrespeitam.”

O herdeiro Black engoliu em seco, apertando as pernas uma contra a outra como proteção. “Posso pedir algumas coisas, então?”

“Você não está na posição de me pedir nada.”

Ele a ignorou. “Primeiro, use verde.”

“Verde? Não podia ser mais criativo?”

“Ok, então. Azul.”

A loira sorriu abertamente, já imaginando o vestido que mandaria fazer. “Ótimo. Posso perguntar por que vou vestida com a cor que você quer, se não vou com você?”

Em um movimento rápido, Revan levantou-a, dando um giro rápido ao redor da sala comunal. Em outras ocasiões, receberiam olhares confusos, mas todos já praticavam a dança com seus parceiros para fazer bonito na data. “É um baile, Daphne. Vamos dançar, assim que terminar a primeira valsa. Será a noite mais fantástica da sua vida.”

Com aquela expressão honesta no rosto do noivo, Daphne suspirou, tentando fazer o sangue descer de sua face. Dentro de si, ela sabia que o herdeiro falava a verdade.

_

O menino encarou de boca aberta, sem se importar de como parecia tolo, ao ver o vestido de Fleur. Longo e azul, abraçava sua figura com maestria, alargando-se ao redor de suas pernas sutilmente, dando a impressão de Fleur ser uma rainha ou algo parecido. Espirais douradas no que Revan tinha certeza de se tratar de fios de ouro foram bordadas em lugares estratégicos, chamando a atenção para seus seios e cintura sem fazer a veela parecer vulgar.

Delacour. É claro que o sobrenome dela seria algo relacionado à corte.

Seus cabelos haviam sido parcialmente presos ao estilo vitoriano, e os fios soltos foram encaracolados, dando a ela uma expressão perfeita de um anjo. Loira, olhos azuis, cabelo cacheado, rosto inocente. A pouca maquiagem que usada destacava ainda mais o azul de seus olhos e suas maçãs do rosto.

Revan não podia acreditar que estava indo com ela.

“Você está...”

“Obrigada” disse Fleur, entendendo a falta de palavras do herdeiro Black. Era o objetivo daquela preparação toda, afinal de contas. Uma noite onde ela pudesse se maquiar a vontade sem ser chamada de puta. “Você também está lindo.”

Ele tinha cortado os cabelos na altura das orelhas e penteado os fios negros para trás, com auxílio de gel bruxo que garantia várias horas de cabelos perfeitos. Usava vestes negras e uma gravata azul petróleo que combinava com o vestido azul céu de Fleur no ponto ideal. Nada de vestes compradas em conjunto.

“Vamos, minha dama” Revan estendeu o braço para a loira e juntos, caminharam até o castelo, já todo decorado para a ocasião com simulação de neve, lustres de cristal e plantas típicas de um inverno rigoroso, sem perder o tema romântico. Com o canto do olho, o menino viu Daphne segurando a mão de Theo, que conversava polidamente com a loira no que parecia ser um assunto que os dois discordavam.

O herdeiro Black fez menção de ir até eles, mas o aperto de Fleur era forte. “Só um pouco” pediu, adquirindo sua expressão inocente. “Apenas para cumprimentar os dois.”

“Daphne não te contou que iria com o garoto alto, o tal Theo?”

“Não.”

Sua resposta curta e ríspida fez com que a veela entendesse o real sentimento por trás da raiva. Murmurou que estaria esperando por ele nas portas do Salão Principal, e que fosse rápido.

Revan caminhou até Daphne, notando seu vestido de coquetel em um azul que beirava o verde, as costas nuas ocultas parcialmente, assim como os braços e o decote, por renda. Apesar da temperatura baixa, ela não mostrava indícios de estar com frio, enquanto o herdeiro Black agradecia por suas vestes com feitiços de aquecimento. Ou isso, pensou consigo mesmo, ou ela era de fato a princesa do gelo.

“Hey Daphne, hey Theo” exclamou ele, aproximando-se. “Não sabia que vinham juntos.”

Seu amigo deu de ombros: “Daphne veio até mim ontem e perguntou se eu podia ir com ela. O que posso dizer, era ela ou Pansy!” ignorando o encarar da loira, ele imitou a respiração rápida e entrecortada de um cão e apontou para sua atual acompanhante. Não havia comparação.

“E Tory?”

Daphne descruzou os braços e apontou para a outra extremidade do lugar, onde Draco tinha o braço possessivamente ao redor da cintura de Astoria, que carregava uma expressão de puro tédio. “Pelo menos vai participar do baile” suspirou a loira, olhando a irmãzinha.

“Bom, Fleur está esperando por mim. Até daqui a pouco.”

“É” concordou Theo, checando as horas. “Acho que já podemos entrar. Vamos?”

Quando os dois desapareceram de vista, Revan foi até as portas do salão onde Fleur esperava por ele impacientemente. Seu franzir de testa diminuiu ao vê-lo, aliviada ao ver seu acompanhante de volta a tempo para a abertura.

“Sabe dançar, certo?”

Ele revirou os olhos. “Confie em mim por um momento, flor, e tente aproveitar a oportunidade que o torneio te oferece para se divertir.”

Fleur respirou fundo e relaxou, olhando seus arredores. Tudo estava perfeito. Ainda assim, apertou a mão de Revan pedindo por suporte. Antes que o moreno pudesse apertar a mão de volta, as grandes portas se abriram, e os três campeões (ou quatro, dependendo do ponto de vista) entraram, Krum com Hermione, Fleur e Revan e Cedric com Cho.

Pegaram seus lugares no meio da pista, notando que o olhar de todos estava sobre eles. Fleur mordeu o lábio inferior, pedindo a Merlin que ela não envergonhasse sua escola. E a música começou, em notas finas e suaves. A loira viu-se dançando com o acompanhante sem maiores problemas, sentindo o calor de sua mão em sua cintura e simplesmente seguindo seus passos. Como ele disse.

“Você dança mesmo” comentou ela, girando e voltando para perto de Revan. “Onde aprendeu?”

Ele franziu a testa, lembrando:

“Levante-se, Harry” chamou Voldemort no meio do ano, quando rumores do torneio tribruxo começaram a surgir. “Há quanto tempo não dança?”

“Desde o fim do segundo ano, Tom” replicou Revan, no mesmo tom. Ele se sentia um tanto ousado depois de alimentar seu mais novo animal de estimação. “Espere, o que está fazendo?”

O Lorde das Trevas havia pegado suas mãos e agora se dirigia para o meio da sala, puxando o menino. “Se você vai dançar, preciso que faça isso com maestria.” Fez menção de colocar uma das mãos na cintura dele, mas o herdeiro afastou-se, assustado.

“O que está fazendo?”

“Te ensinando a dançar.”

Revan corou. “E eu tenho que ser a mulher?”

Voldemort levantou a sobrancelha. “Está insinuando que seu lorde deveria ser a mulher?”

“Não” o menino pigarreou. “Estou insinuando que não deveríamos fazer isso.”

“Muito bem. Dê-me um momento. Bellatrix!”

“Não!” repetiu o menino mais alto, arregalando os olhos. “É mais fácil Bella me matar do que verificar minhas habilidades de dança.”

A confirmação de Voldemort só assustou-o ainda mais. “É um risco que vai ter que correr.”

Bella já entrava na sala, a varinha pronta. Viu que não havia perigo, mas não abaixou-a, então deu um olhar de amor para o lorde das trevas e perguntou como poderia servi-lo.

“Ensine seu pequeno lorde a dançar” ordenou ele, indicando o menino com olhos ainda arregalados que de vermelho agora empalidecia. “E por favor, não morda.”

A morena assentiu, esfregando as mãos e indicando para Revan se aproximar. Sem cerimônia, pegou os braços do menino e posicionou-os no lugar certo. “Pare com essa cara, pequeno lorde. Não tenho oitenta anos, nem sou feia.”

Uma onda de coragem possuiu o herdeiro Black. “Seria mais bonita se penteasse o cabelo”, ao que Bella prontamente pisou em seu pé, afirmando com veemência que aquele era o estilo de quando tinha seus vinte anos.

“Mova-se! E firme sua mão em minha cintura. E por Merlin, pare de corar!”

“Meu pai contratou uma instrutora de dança” mentiu ele, voltando a girá-la. Ao seu redor, os outros começavam a dançar quando a primeira música terminou. “E você?”

Pararam para tomar um pouco de ponche. “Meu pai. Eu costumava dançar em cima dos pés dele quando era pequenininha.”

“Isso é uma coisa trouxa, sabia?”

“Minha família evitava usar magia durante a guerra” explicou ela, pegando outro copo. “Você nunca menciona a sua, não por um longo tempo.”

Ele franziu a testa, tentando encontrar um meio de evitar a pergunta. “Falo sempre de Regulus.”

“Não essa família” falou Fleur, baixando a voz. Agora podiam falar livremente de Regulus, mas não deles. “Sua mãe e irmão e pai e todos os amigos.”

Revan comprou mais alguns segundos ao tomar longos goles de ponche. Quando percebeu que o conteúdo do seu copo estava vazio, olhou a veela, examinando-a para ver se era digna de confiança. “Agora não. Falaremos disso mais tarde.” E saiu a procura de Daphne, afinal, ele devia algumas danças a ela.

A loira parecia ter aumentado sua discussão com Theo, se o rancor em sua face fosse um indício. Ela evitava o contato enquanto dançavam mais rapidamente, utilizando a animação da música como vantagem. “Revan!” um sorriso rompeu em seus lábios. “Diga para seu amigo que estou certa.”

“Daphne está certa, Theo” afirmou o herdeiro Black fingindo engolir em seco. “Não importa sobre o que estejam discutindo.”

“Vê?”

“Ah, calem a boca, vocês dois. Vou procurar outra pessoa para discutir maldições.”

Bem a tempo de começarem uma música lenta, Revan pegou a mão de Daphne e guiou-a para a pista de dança. “Apenas uma” concedeu a loira, posicionando-se no centro da pista. “E é melhor você fazer essa dança valer a pena.”

“Quando te desapontei?” perguntou ele, sorrindo. Quando a música começou, ele seguiu o ritmo, perguntando-se quando alguém tão perspicaz virou parte de sua vida, alguém que tinha a liberdade para dizer a maioria das coisas que pensava e que tinha uma família boa e estável.

“Quando você escolheu Fleur” ela murmurou, ambas decepcionada e zangada. “Quando a convidou para o baile ao invés de mim.”

Eles se afastaram para em seguida ficarem peito a peito. “Já te expliquei o porquê de eu fazer isso, e posso repetir se quiser” ele alisou as tranças que em conjunto formavam uma coroa. “Deveria usar seu cabelo assim mais vezes.”

“Se você se dispuser a trançá-lo todos os dias” riu Daphne, dando de ombros. “Tracey gastou quase duas horas no meu cabelo e maquiagem.”

Ela usava maquiagem basicamente em tons de cinza e preto, destacando seu cabelo e olhos claros. Revan girou-a e retomou os passos suaves. “Cada minuto valeu a pena. Mais rápido?”

Aumentaram a velocidade sem perder a postura. “Astoria está nos assistindo” murmurou a loira, quase sem mover os lábios. “Aposto que está sorrindo.”

Giraram para que pudessem ver Tory que de fato estava assistindo a eles e sorrindo consigo mesma, sempre retomando a expressão de tédio quando Draco olhava para ela. “Ela não é a única” sussurrou Revan, indicando com o olhar Nicholas Potter, que mal se movia com Ginny Weasley, mais ocupada em babar sobre seu ídolo do que dançar com ele. “Vê como é bonita? Ele tem uma veela” indicou Gabrielle, que tagarelava ao lado de Madame Maxime, “e prefere te observar.”

“Mais provável que esteja te observando. Você costumava ser amiguinho de Potter.”

“Costumava” enfatizou o menino, notando pela primeira vez Fleur, também parada. “Acho que podemos concordar que nós dois estamos sendo observados.”

Daphne fechou a cara. “Não consegue ver, consegue? Ela está afim de você.”

“Está?” perguntou Revan ingenuamente. “Não me importo.”

A expressão da loira dizia que ela duvidava daquilo.

“Sério. Você é mais... humanamente bonita. Deusas como Fleur podem se tornar entediantes depois de um tempo. O quê? Compare Afrodite e Atena. Afrodite pode ser a mais bela de todas, mas Atena ainda é uma deusa grega.”

“Isso é lindo” comentou Daphne, perdida em pensamentos. “De que livro você tirou?”

Revan apontou para a cabeça, mas sua atenção foi desviada até onde Ginny Weasley arrastava Nicholas para a pista de dança. “Olhe para aquilo” riu ele, incapaz de resistir. “Hey, Potter!”

Nicholas olhou para eles.

“Eu sinto muito.”

Os olhos castanhos do menino procuraram por uma varinha que pudesse significar uma ameaça. “Pelo que, Black?”

O herdeiro Black se fez de surpreso. “Claramente alguém morreu.”

“O que quer dizer com isso?” Nicholas sacou a própria varinha. “Está me ameaçando?”

“Claro que não!” exclamou o moreno, olhando o irmão de cima a baixo. “Quero dizer, essas vestes. Não são da coleção Funerária daquela estilista famosa?”

Ao seu lado, Daphne encarou Revan de boca aberta. De dentes cerrados, o menino-que-sobreviveu disse que não.

A cereja do bolo, pensou Revan, reprimindo um sorriso. “Por qual outro motivo você usaria coisas tão horríveis?”

“Vá se foder!” gritou Nicholas, apontando a varinha e sendo imediatamente desarmado por Astoria, atrás deles. “Você não vai ganhar nada com isso, Black! Eu vou...”

“É claro” concordou o herdeiro Black sarcasticamente. “Vá compartilhar seus planos malignos com seus bichinhos de pelúcia.”

Em uma vermelhidão total, Nicholas virou as costas e marchou para longe deles, arrastando Ginny consigo. Daphne observou a tudo aquilo em silêncio, e só se manifestou quando o ruivo sumiu de vista. “Comporte-se como um lorde!” repreendeu, apesar de ter um largo sorriso no rosto.

“Como assim? Você é quem está me ensinando o lado bom da vida.” Daphne corou, olhando para os próprios pés. “Não, é uma coisa boa. Carpe diem, certo?”

Revan retirou do seu bolso a miniatura de uma caixa, então ampliou-a até o tamanho convencional e estendeu-a para Daphne. “Uma joia para a rainha de gelo.”

Abriu a caixa, revelando um colar de ouro branco revestido de diamantes polidos do tamanho de pérolas, mas no formato de intrincadas rosas. A corrente era ondulada, como uma grande e fina cobra que circularia pelo pescoço da loira. Brincos longos completavam o conjunto.

“Revan, não sou uma mulher que pode ser comprada com joias.”

“Não é para te comprar” explicou o menino, gesticulando para Daphne se virar. “É para te dizer como você está linda hoje.”

Ela suspirou, deixando-se aceitar o presente e mentalmente calculando quando valia. Provavelmente o que seus pais ganhavam em um mês, se não mais. Não queria que o noivo achasse que ela fosse fútil como as outras meninas. Um pouquinho ela era, sim, mas todas as meninas eram fúteis, no final das contas. Todas queriam presentes e todas, sem exceção, aceitariam um presente tão belo quanto aquele.

“É encantado” informou Revan, quando Daphne sentiu o calor que emanava do colar. “Absorve feitiços básicos e reflete alguns mais complexos. Acho que será uma boa utilidade para a guerra. Não vai quebrar e nenhuma pessoa a não ser você ou eu será capaz de tirá-lo. Você pode guardar magia dentro dele, no caso de exaustão mágica, e é claro, serve para embelezar o que quer que vista. Espero que goste.”

Sem palavras, Daphne inclinou-se na direção dos lábios do herdeiro Black. Um beijo casto como agradecimento, mas a loira esperava que o noivo entendesse o sentimento por trás dele. Não apenas luxúria, mas gratidão e amor por tudo que haviam passado juntos durante o ano.

“Mais uma dança?” pediu ele, indicando a pista quase vazia.

Ela sorriu, deixando-se ser guiada. “Apenas uma.”

Dançaram quatro ou cinco, até que os rodopios nublaram a mente dos dois suficientemente para que perdessem a conta. Quando pararam para recuperar o ar, ainda de mãos dadas, apenas os campeões ainda dançavam e dois ou três gatos pingados. Já passava de uma da manhã.

“Acho que isso é o suficiente” exclamou a loira, tentando ir para os bancos mas encontrando-se incapaz de se mover. “Revan...”

O menino teria levantado as mãos se pudesse, mas estava igualmente congelado. Só podia mover a cabeça o suficiente para notar o visgo pairando sobre eles. “Daph, olhe.”

“Oh” fez ela, entendendo. “Bom, acho que não temos escolha.”

Seus lábios se encontraram novamente; o beijo passou de algo casto para algo apaixonado. Não quebraram o beijo quando recuperaram o movimento e voltaram a dançar. Podiam perceber, mesmo com os olhos fechados, que eles não giravam ao redor da sala, e sim a sala que girava ao redor deles.


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Notas finais do capítulo

Okay, pessoal. Aqui temos algumas coisas que foram pedidas: Daphne com ciúmes, romance e o baile. Confesso que não me lembro se o Baile faz parte das obrigações do campeão, ou se é apenas uma honra. Me corrijam se eu tiver errado :)

A notícia, certo? Okay. Eu terminei a fic semana passada. É claro que ainda precisa ser revisada, mas o que posso garantir é que ela tem 60 capítulos e 254 mil palavras. Haja fôlego para me acompanharem até o grand finale!

Afinal, gostaram do capítulo? Eu não sou boa com romance, como já disse muitas vezes antes. Não é por nada que estou escrevendo dark fics, haha. E alguém conseguiu pegar uma minúscula dica que eu dei sobre... algo?

Também espero que tenham gostado do pouco de humor que coloquei nas exigências e na cena do treino de dança. Pensei que cairia bem, entre tantas tragédias (as tragédias já começaram, certo?), mas também não sou boa com isso.

Leitores, se manifestem! E isso inclui vocês, fantasminhas!

~Lady Slytherin