Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 42
Adivinha quem?


Notas iniciais do capítulo

Caraca, gente. Quando vi a quantidade de reviews, saiu palavrão depois de palavrão da minha boca. Eu literalmente pulei, e quase comecei a chorar. Vocês são os melhores leitores do mundo, galera. Obrigada pela infinita paciência comigo.

Como prometido, aqui o capítulo. Assim que for postado irei responder os reviews... Vai demorar, mas não se preocupem, eu irei responder todos até no máximo amanhã.

E finalmente... o confronto.

Boa leitura!



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CAPÍTULO 42

GUESS WHO?

Revan congelou.

Pela primeira vez em anos, ouvira seu verdadeiro nome ser dito, e, em cada cenário imaginado, nunca era tão assustador.

Harry Potter.

Sussurros já surgiam nas mesas. Tantos, logo olhariam para ele. Merlin. Revan precisava escapar. Revan, disse sua mente, ou Harry? Qual dos dois você é? E sua própria mente respondia com uma voz sádica:

Harry Potter.

Não. Não! Precisava escapar. Harry, Revan, Nemesis, todos eles, para um lugar seguro, para a mansão com Regulus e Voldemort e Nagini e os comensais, não ali, não onde corria perigo. Agora os Slytherins conversavam e apontavam para Nicholas, pálido como a morte, procurando por seu irmão desaparecido.

Seu coração batia forte no peito, mais rápido do que ele imaginava ser possível. Olhou com o canto do olho para a porta, perguntando-se quanto tempo ele teria se quisesse fugir. Seria ele contra quantos? Mais de mil, agora, pessoas ávidas a procura de uma história que ele não queria contar. Revan queria esquecê-lo, não lembrar de sua antiga vida.

Harry Potter.

O menino abaixo do peso e tamanho, cujo estômago roncava quando era trancado no menor quarto da casa sem jantar, simplesmente porque, porque, porque fizera algo que os Potters não achavam certo, qualquer coisinha que fosse. Era sempre Nicholas, sempre o ruivinho. Nunca ele.

Nunca Harry Potter.

E agora chamavam por seu nome, depois de tanto tempo, múltiplas vezes: Harry Potter, Harry Potter, Harry Potter. Todos esperavam com expectativa para ver quem era o irmão do menino-que-sobreviveu. Vagamente, ele ouviu um pop e moveu a cabeça na direção do som.

Um frasco acabara de aparecer na sua frente.

“Não tenho nada a perder” murmurou, inaudível, se certificando que ninguém olhava para ele antes de engolir todo o conteúdo. Se fosse veneno, que o matasse de uma vez. Não era forte o suficiente para aguentar tudo aquilo outra vez. Se fosse algo benéfico, bom. Ele realmente precisava de algo assim.

Polyjuice, notou ao lamber os lábios. Com um quê diferente. Sentiu-se encolher, e para sua surpresa, suas vestes também encolheram, perdendo os destaques de Slytherin, tornando-se simples vestes pretas. Sua visão foi empobrecida ao ponto de não poder ver mais do que alguns metros à sua frente, e ele sentiu o cabelo rebelde cobrir-lhe os olhos.

Agora ou nunca.

Usou a aparatação comensal para ir ao lado de fora do castelo. Sem fumaça, sem barulho. Nada de chamar a atenção. Seu tapete vermelho só começaria agora.

Abriu as portas.

Todos os olhares estavam nele, e Harry sentiu-se como um menininho novamente. Caminhou encarando o irmão, sentindo lágrimas quentes chegarem em seus olhos, prestes a serem derramadas. Não chore, repetiu para si mesmo. Guerreiros não choram. Mas Harry não era um guerreiro. Revan era um guerreiro, e naquele momento, não havia Revan.

“Harry Potter?” questionou Dumbledore, mirando-o com brilhantes olhos azuis.

Harry assentiu.

Foi até a antecâmara como solicitado mais cedo, perguntando-se quem colocara seu nome no cálice e providenciara-lhe a poção Polyjuice. Tinha que ser alguém que ainda estava em contato com ele – Revan, ou melhor, Harry, poderia contar aquelas pessoas nos dedos. Quem o traíra?

Fleur olhou para ele surpresa. Não seu olhar carinhoso de quem olha para um amigo, talvez um irmão mais novo. Era simplesmente um olhar que perguntava o que ele estava fazendo ali.

“É o menino de recados?” perguntou, sua voz seca, quase não soando como o soprano que era. Harry viu que suas unhas novamente estavam levemente afiadas. Fez que não com a cabeça. “Então quem é?”

Cedric olhou para ele. “Não pode ser” voltou-se para os outros. “Esse é Harry Potter.”

“Quem?”

“O irmão do Menino-que-Sobreviveu, dado como desaparecido desde os onze anos de idade.”

Onze? O mundo bruxo levara quase cinco anos para descobrir que ele não estava feliz, que não estava com alguém responsável?

Seu coração ficou frio. “Não tenho irmãos” afirmou, tanto para si mesmo quanto para os outros na sala. Krum se aproximou dele com um olhar curioso.

“Joga Quadribol tão bem quanto seu irmão?”

Deu de ombros. “Não sei. Nunca tive muitas oportunidades para treinar.” E a semente estava plantada.

Krum fez cara de quem não acredita. “Se é um Potter, sabe jogar. Está no sangue. Nick (pronunciava Nicky) tem grandes chances de jogar no sub 20.”

“Quem sabe um dia treinemos juntos?” deu seu sorriso mais infantil, tão diferente do de Revan. “Assisti você na Copa. Você é muito bom.”

Passos lentos e pesados foram ouvidos do lado de fora da antecâmara. Harry esperava Dumbledore, não Nicholas. O ruivo mirou-o com ódio puro, como se Harry estivesse lá para arruinar sua vida. “Então é verdade? Você não está morto ou no reformatório?”

Hora de brincar, pensou ele. “Por que eu estaria morto ou no reformatório?”

“VOCÊ TENTOU ME MATAR!” berrou Nicholas, indo para cima dele. Ao esticar a mão para dar um soco bem dado, suas vestes abriram levemente expondo grandes bandagens e cheiro de carne podre e pus. “Dumbledore! Prenda-o, prenda-o agora!”

Dumbledore acabara de aparecer pela porta, tamborilando seus dedos contra a pedra das paredes. Exibia um olhar pensativo, e levou um ou dois minutos para formular uma resposta:

“Harry, meu menino, é muito bom ver você depois de tantos anos. Avisei seus pais sobre sua chegada e eles estão vindo para cá em um piscar de olhos.” O velho ajoelhou-se para ficar cara a cara com Harry, tentando obter um contato direto com os olhos do menino. Uma tarefa complicada, já que o pequeno parecia tão arisco que não parava de se mover, olhando seus arredores. “Ninguém vai te machucar. Que tal irmos ao meu escritório? Podemos tomar chá, e chupar gotas de limão. Gosta delas?”

Não. “Nunca as provei. Sempre tive um estômago pequeno e prefiro não provar coisas novas.”

Seu irmão resmungou algo, alisando o que restava de sua barriga com alto teor de massa gorda.

“Nicholas!” sorriu Dumbledore, um sorriso tenso que implorava que Nicholas entrasse no jogo. “Onde está seu sorriso? Aposto que esse é o dia mais feliz de sua vida, seu irmão está de volta! Vamos, um abraço.”

Sempre na hora certa, Rita Skeeter apareceu na porta, segurando uma câmera imensa. Em seu caderninho estava escrito: O Retorno do Outro e alguns rascunhos sobre como começar a matéria do ano. Esqueça o Torneio Tribruxo – aquele era o irmão do grande Nicholas Potter!

“Isso, um abraço” pediu ela com a voz doce, doce demais para o gosto de qualquer um naquela sala. “Jogador, criatura, Dumbledore, todos se posicionem. Essa foto vai para a história.” Clicou múltiplas vezes de diversos ângulos, vibrando de contentamento. Com aquela matéria receberia um aumento com certeza. “Mais uma!”

Ninguém sorria, apesar de Fleur parecer igualmente angelical quando tinha uma carranca profunda. Lembrava-se de Revan contando-a sobre as coisas que o ruivo fazia quando estava na escola, e sentiu pena do menininho que, nos feriados, teria que viver com uma família de fachada.

Após as fotos serem tiradas, Skeeter tentou fazer perguntas para o menino recém encontrado. Onde esteve por todo esse tempo, está feliz de estar de volta, voltou para ficar, como se sente?

“Nada a declarar” disse Harry com firmeza, checando para ver se a pena nota rápida não modificava suas palavras. Só Merlin conhecia por completo as habilidades da jornalista de torcer e mastigar as palavras dos entrevistados de modo a vender mais. A próxima pergunta foi: Quer ficar em Gryffindor junto com seu irmão? E, apesar de em sua mente o menino gritar não, manteve-se sério e repetiu: “Nada a declarar.”

Esfregou seus olhos em uma tentativa de enxergar melhor. Malditos fossem os Potters com seus óculos fundo de garrafa. Ele queria os olhos perfeitos de Revan Black novamente. Tinha quase se esquecido do que era ser quase cego, tamanha era a intensidade dos borrões. Não podia mais dizer se o sorriso das pessoas era verdadeiro.

Virou-se abruptamente na direção da porta, com velocidade, mas não o suficiente para dizer “correndo”. Se corresse, talvez conseguisse evitar um confronto direto com os pais, ou pelo menos adiar tal evento até estar mais preparado. Juntando sua terrível visão à pressa, era de se esperar que esbarrasse em alguém.

“Cuidado, garoto” rosnou alguém. Mesmo com a falta dos tão necessários óculos, a voz já confirmava quem era, juntamente com o borrão vermelho à sua esquerda. “Merlin. Você...”

Ele levantou sua cabeça para olhar nos olhos da pessoa. “Olá, pai.”

Cansado, Harry lançou um rápido feitiço para melhorar o que conseguia ver, e as figuras tornaram-se mais nítidas. Agora ele conseguia ver o tremor nos braços de Lily, o modo como estava pálida. O jeito que James encarava-o como se fosse um problema que precisasse ser resolvido com urgência. A mesma falta de amor de quando era um menininho.

Nada mudou, percebeu tristemente. Se mudou, para pior. Ninguém sentira sua falta mais do que ele sentira a falta deles. O Nada estava de volta.

“Uma foto!” gritou Skeeter, clicando. “Vamos, a família. Abrace sua mãe, Henry, agora seu pai. Evite piscar por um momento para que algumas lágrimas caiam, assim, bem assim! Você seria um ótimo ator, Henry, maravilhoso... Capa do ano, haha!”

Harry esperou para ver se alguém corrigiria seu nome antes de pigarrear, corrigindo-a. Skeeter não pareceu envergonhada. Ao contrário, deu seu cartão de flu para o menino, dizendo que estava ansiosa para uma entrevista. Clicou mais algumas vezes, focando principalmente nas expressões de todos na sala, e se retirou.

“Por favor” Harry implorou, sentando-se. “Parem de olhar para mim como se eu fosse um fantasma.”

“Mais ou menos isso” murmurou Lily, sentando-se ao lado do... filho? E sentindo sua rigidez. Assim como nos velhos tempos. “Estava em Hogwarts todos esses anos, bebê?”

Ele revirou os olhos, irritadíssimo. “Não sou um bebê, e não estive em Hogwarts. Foi o contrato que me chamou aqui. Eu poderia estar na Austrália e ainda assim apareceria aqui em um instante.”

A dor nos olhos de Lily era quase tão grande quando a vergonha de ter criado tamanha mentira. “Nós precisávamos fazer isso” explicou. “Você estava fora de controle...”

“Toda minha vida” sussurrou Harry, mostrando todo o ressentimento que carregara consigo por quase uma década. “Eu fiz tudo que vocês queriam. Fiquei quietinho, deixei Nick brincar, dava sempre a melhor parte da torta para ele. E eu nunca, Lily, nunca, recebi algo em troca. Não precisava ser um presente, ou uma viagem como deram para Nick quando aprendeu a usar o penico. Eu precisava de um sorriso. Precisava ouvir pelo menos uma vez, Lily, James, que vocês estavam orgulhosos de mim.”

James lançou um olhar para Dumbledore e percebeu que os outros campeões não estavam mais ali. “Não precisa nos chamar pelo nome, Harry.”

A melancolia nas palavras do menino era tamanha que trouxe lágrimas aos olhos de todos. “Do que mais posso chamar vocês? Papai e mamãe morreram em 1981.”

Sentiu que era a hora de ir. Não queria ficar preso naquela sala quando a poção se desgastasse e voltasse a ser Revan. “Eu, Harry James Potter, juro por minha vida e minha magia que não entrei no torneio, não pedi para alguém colocar meu nome e que não desejo competir. Que assim seja.” Com dignidade, caminhou até a porta e foi até atrás de uma armadura para se tele transportar até a Floresta Proibida. Enquanto sua família se perguntava para onde fora, Harry deu um murro contra uma árvore. Todas as emoções estavam de volta.

Pela primeira vez em anos, verdadeiras lágrimas de dor correram por seu rosto.

_

“Heaven?” chamou alguém. Revan grunhiu, abrindo um olho e levantando-se imediatamente ao perceber quem era Fleur quem lhe chamava. Deu uma rápida olhada em suas vestes, que apesar de sujas de lama, voltavam a carregar o símbolo de Slytherin. “Acorde, já são quase oito da manhã. Heaven!”

Examinou seus arredores. Ainda estava na Floresta? “Dormi aqui?”

“A noite toda” concordou a loira, tirando uma folha do cabelo do menino. “Fiquei preocupada quando não te vi no café da manhã.”

“Não precisava se preocupar. Às vezes gosto de acampar, sabe? Sou um natureba da vida.” Ele sorriu enquanto arrancava carrapichos das vestes e sapatos. Droga. Nem lembrava de cair no sono.

Fleur não acreditou. Cruzou os braços desafiando-o a contar outra mentira. “Seus olhos estão vermelhos e inchados. Você não apareceu desde ontem. Gabby tem tantas coisas para te contar, ela está tão animada! Acredito que vai ter que esperar. Venha, vamos de volta para o castelo.”

Caminharam em silêncio até que o herdeiro Black, percebendo que, com tudo que acontecera na noite passada, não cumprimentara Fleur por seu feito como a campeã escolhida de Beauxbatons. “Parabéns, Fleur. Eu te daria rosas em outra ocasião, mas tudo o que tenho aqui são folhas de não sei qual espécie.”

A risada da veela era como os mais belos sinos de uma igreja. “O que vale é a intenção. Obrigada, a propósito. Conto que vai me ajudar com as tarefas?”

“Eu prometi, não?”

“Às vezes me pergunto como um menininho pode me ajudar” comentou Fleur com descaso. “O que acha que vai estar no torneio?”

Quem dera eu soubesse. “Dumbledore é quem está coordenando tudo, então conte com coisas da luz e totalmente anti-trevas. Sabe fazer um patrono, certo? E aprenda a se defender de criaturas. Pelo menos não vai queimar.”

“Em compensação, se eu tocar a água...” arrepiou-se e afastou o pensamento. “Todas as veela odeiam água. Ficamos fracas.”

Revan parou e refletiu um pouco. “Dumbledore está contando que Diggory ganhe o torneio, portanto, é melhor ir nadar no Lago Negro enquanto se prepara.”

Caminharam juntos até o castelo, onde Nicholas Potter os esperava. Satisfeito que, como Revan, ele podia mostrar seu desgosto pelo ruivo, tentou mudar seu caminho apenas para ser impedido por dois aurores gigantes que informaram, com a voz grossa, que Nicholas gostaria de falar com eles.

O menino-que-sobreviveu sorriu para Fleur, examinando-a de cima a baixo. A loira tentou parar todo seu allure ao redor, de modo a evitar mais olhares como o que recebia naquele momento, até que percebeu que não se tratava apenas da sua aparência física. Não era o allure que o fazia sorrir daquela maneira aprovativa. Era simplesmente satisfação.

“Viu minha prometida, Black?” o ruivo mancou levemente até Fleur. “A coisa mais linda desse mundo.”

A veela prendeu sua respiração.

“Hmmm. Viu a minha?” retrucou o herdeiro Black, apontando para Daphne que se sobressaía na multidão que terminava o café da manhã às pressas. Ela podia ser considerada com facilidade uma das meninas mais atraentes do quarto ano. O fato de rejeitar avanços dos meninos era apenas a cereja do bolo. “Linda de morrer, e consegui um contrato com ela porque ela gosta de quem sou, não do que sou. E a propósito, Fleur aqui é uma pessoa, não uma coisa.”

“E mais” completou Fleur, todo o carinho de sua voz embora. Ela se assemelhava mais à criatura do que à mulher que os mais íntimos conheciam. “Eu não tenho nenhum contrato de casamento.”

Nicholas abriu e fechou a boca como um peixe fora d’água. “É claro que tem, meu pai se assegurou disso. Cabelo loiro platinado, olhos azuis bebê, uma Delacour um quarto veela.”

“Claro” concedeu a veela. “Mas existem duas Delacours que se encaixam nessa descrição. No seu caso, é aquela ali” apontou para onde Gabby tagarelava em francês com Hermione, rindo como a criança de oito anos que era. “Oito aninhos. Ela não é linda?”

“Não... Eu vi as fotos, ela é a herdeira, ela é você!”

“As fotos que são vistas no contrato de casamento são das idades sete e dezessete” Fleur explicava isso considerando Nicholas um bebê. “Você viu a foto dela dos sete anos de idade, e uma estimativa de como ficará depois de florescer. Linda, concordo.”

Ele não parecia convencido. “Eu vou me casar com a herdeira!”

Revan sentiu que podia ajudar naquele ponto. “Ela é a herdeira de Fleur, caso nossa veela favorita morra antes de se reproduzir. É uma herdeira, não a herdeira.”

Sorriram arrogantemente para Nicholas.

“Se me dá licença” finalizou a loira, seca. Segurou a mão de Revan, mostrando que o que ela falava, falava por dois. “Tenho coisas melhores para fazer do que conversar com uma pessoa tão patética como você.”

_

A magia de Harry Potter chamou-o novamente durante uma tarde que já tinha sido marcada para a pesagem das varinhas. Curiosamente, ou não, Revan ficou sabendo isso por uma carta que trazia junto uma grande quantidade da Poção Polyjuice, suficiente para dias, então conseguiu entrar em uma briga com Theo grave o suficiente para ficar na enfermaria por uma semana. No dia, bastou um feitiço para que Madame Pomfrey dormisse e ele estava livre.

Harry caminhou pelos corredores, ciente que todos os olhares estavam sobre ele. Andou com o queixo erguido, confiando na quantidade de testemunhas para que os Potter não fizessem nada a ele durante a pesagem das varinhas. Se eles não estivessem lá...

Mas é claro que estavam, junto com os outros campeões, conversando um assunto aparentemente banal: Feitiço favorito. Quando foi visto, porém, a conversa silenciou até que fosse possível ouvir a respiração de James, a mais alta da sala. “Filho.”

Boa tentativa, pensou. “Olá Ollivander! Olá Fleur, Cedric, Viktor, James, Lily.” Fez questão de deixar o nome dos pais por ultimo. Ollivander olhou para ele, tentando reconhecer quem era. O velho bruxo sabia que o menino tinha uma varinha dele, todos os bruxos daquela idade tinham. Suas varinhas eram uma das mais conhecidas do mundo.

“Olá, senhor Potter” concedeu ele. “Lembro-me do dia que vendi sua varinha” e lembrava mesmo, de um modo diferente. “Azevinho, pena de fênix e onze polegadas, certo?”

Quase. Os Potter prenderam a respiração, não estando cientes que o outro filho também tinha uma varinha. “Sua memória é melhor do que a minha, aposto.” Tirou uma simples varinha do bolso, descartável e praticamente inútil para feitiços mais complexos. “Prefiro essa.”

Ollivander e os outros da sala encararam-no como se Harry fosse louco. Aquele era o tipo de varinha que costumava vir em caixas de cereais, não do tipo preparado para um torneio tão famoso e perigoso. Nicholas tossiu para cobrir uma risada, sem sucesso. “Vai morrer” riu para si mesmo, se certificando que sua própria varinha ainda estava em seu bolso. Confeccionada especialmente para ele, custou setenta galeões ao invés de sete.

“Aposto que me saio melhor no torneio com uma varinha de brinquedo do você com a melhor do mundo” caçoou Harry friamente, indo para a fila de campeões que esperavam para ter a varinha pesada. Chegando sua vez, estendeu sua varinha para o criador dela. “Senhor.”

Ele se irritou ao examiná-la. “Isso não é varinha minha. Não tem núcleo, não tem madeira mágica. O que diabos espera fazer com isso, garoto?”

Satisfeito, Harry explicou: “Não quero estar aqui. Se o objetivo é que eu participe, posso muito bem participar com uma varinha falsa que faça com que eu zere nas três tarefas.” Perderia com estilo.

“De jeito nenhum” resmungou Ollivander, levando-o para uma pilha de varinhas com aparência antiquíssima. “É meu dever ter certeza que pelo menos os campeões tenham um escudo básico, a varinha. Teste-as, teste todas elas. Uma terá que funcionar.”

O menino desaparecido balançou a cabeça. “Elas já têm dono. Não vou roubar a varinha de ninguém.”

“São de campeões mortos que doaram suas varinhas ao morrerem no torneio. Uma tradição antiga. Desde que nenhuma delas te dê azar, tudo bem para todos.”

Harry sabia que Nichoas havia cruzado os dedos, torcendo para que o azar se repetisse ao lutar contra uma criatura feroz. Ignorou-o, tentando sentir o chamado de alguma das varinhas na pilha. Passou a mão por todas, testando-as e devolvendo-as na pilha em poucos segundos. Ele acabou por escolher uma varinha desbotada e sem nenhum apetrecho. Harry podia sentir sua infância na essência da varinha.

Balançou-a no ar, pensando em fogos de artifício. Vários deles saíram da ponta da varinha, indo para todas as direções e explodindo violentamente. “Acho que é essa” comentou, sabendo que a violência não se tratava exatamente da varinha. “A quem pertenceu?”

Ollivander examinou-a, tentando lembrar-se principalmente de como aquele determinado campeão havia morrido. “Essa é uma estranha combinação” anunciou, sentindo a madeira. “É feita de madeira branca e pelo de trestálio. Combinação mortal...”

“Ninguém vai morrer” anunciou Bagman com firmeza.

“Não, não, me refiro a outra coisa. Madeira branca é a mais pura que existe, enquanto trestálios são criaturas da morte. Ambos são raríssimos. Engraçado essa varinha ter te escolhido, senhor Potter.”

Harry fez um olhar curioso, querendo poder levantar a sobrancelha, desafiando o criador de varinhas. “Por que engraçado?”

Ollivander suspirou, alisando a varinha. “De todos os casos que já ouvi sobre essa combinação, seus bruxos sempre acabam da mesma forma.”

“Mortos?” perguntou Nicholas com uma risada curta.

“De fato” concedeu o outro. “Mas por suas próprias mãos. A combinação de madeira branca e trestálio é conhecida por seus altos índices de suicídio.”

Encarou a todos, e, recuperando sua vivacidade, testou-a, criando uma pomba branca. Em seguida, anunciou que seu trabalho ali estava feito e escapou que pudesse receber mais perguntas, deixando assim um grupo de pessoas na sala com dezenas de questões que não seriam respondidas.

_

“Heaven, preciso falar com você” anunciou Fleur urgentemente, puxando-o da mesa de Ravenclaw, onde estava se acostumando a sentar desde a chegada das francesas, e indo até um lugar onde não pudessem ser ouvidos. “É Madame Maxime, Heaven.”

Revan mostrou preocupação verdadeira. O Torneio não podia parar. “Ela está bem?”

“Mais do que bem” reclamou a loira, agora puxando-o para fora do castelo, na direção da floresta. “Ela quer que eu trapaceie no concurso, acredita? Disse-me onde encontrar a primeira tarefa. Ela, que dizia que Beauxbatons era conhecida por sua honestidade, que a escola forma bruxos e bruxas cheios de honra...”

Seguiu-a mais para saber aonde estava sendo levado. Ele podia aproveitar a informação, e sempre que pessoas ficavam bravas, acabavam falando mais do que deviam. “Não entendo o porquê de trazer-me com você” confessou. “Não é melhor ir para Dumbledore ou Karkaroff?”

Fleur deu uma risada irônica. “Como se os campeões deles não soubessem, Heaven. Parece que foi Karkaroff quem sugeriu a primeira tarefa. Estou levando você comigo para ter um álibi, e porque você sabe mais do que eu em algumas áreas. Quero saber o que enfrento.”

“Todos queremos” concordou o herdeiro Black, percebendo a entrada da Floresta Proibida. Como que acabavam sempre ali? O menino aguçou seus sentidos. Se estavam na Floresta, a tarefa incluiria um animal selvagem. “Sabe exatamente do que a tarefa se trata?”

“Claro. Só quero ver o tamanho.”

O menino se sentiu como a vítima do ditado: Quando você pensa que a vida não podia piorar, ela mostra que você está errado. Grandes, então. Tentou fazer uma lista de animais grandes e perigosos, porém que podiam ser domesticados. A lista não era muito grande.

“Lembre-se que eu queimo” insistiu Revan, parando ao ver uma enorme chama. Então ele estava certo. “Vamos ficar por aqui.”

“Por Merlin, Heaven!” Fleur puxou-o mais para perto, ao ponto de verem escamas verdes misturando-se com a folhagem. “Só mais um pouco.”

“Não! Sou eu quem pode virar churrasquinho, e pretendo te ver segurando a taça. Só mais alguns metros.”

Chegaram à cerca que continha um dos dragões, um verde galês, de acordo com a loira que tinha prazer em gastar suas horas livres pesquisando sobre outras criaturas vindas do fogo. O dragão soprava constantes levas de fogo contra um escudo invisível, querendo escapar. Ambos engoliram em seco. Os galeses deveriam ser os mais calmos.

“Perto o suficiente para você?” sussurrou o herdeiro Black no ouvido de Fleur, tentando não ser ouvido pelo dragão. “Eu quero filhos, você sabe.”

Fleur riu alto, não se preocupando com o dragão, afinal, ele não podia machucá-la. “Quem diria que o grande Heaven Black tem medo de um dragãozinho de nada.”

Seu ego falou mais alto e ele estufou o peito. “Veremos, então” no canto do olho, pensou ter visto algo. “Hey. Acho que tem alguém ali.”

“Aquele é Krum. Reconheço aquele nariz em qualquer lugar” disse Fleur, estreitando os olhos.

“Mudança de planos” concordou Revan, dando a volta para poder acertar Krum por trás como um verdadeiro Slytherin fazia. Para responder às perguntas de Fleur sobre o que estavam fazendo, ele disse sério: “Considere um presente de aniversário. Chama-se vantagem. Krum!”

O apanhador olhou para eles.

“Obliviate.”

Quando o trabalho estava feito, não conversaram sobre isso. Fleur abordou um tema que gostavam de discutir: Veelas e seus poderes. Ela adorava falar com alguém que não a julgava pelo que era e Revan adorava aprender sobre qualquer coisa, incluindo criaturas mágicas.

“Nossa memória é fantástica” ia falando conforme se aproximavam do castelo. “Humanos lembram-se de imagens e palavras. Veelas se lembram de magia.” Ao ver o olhar confuso do amigo, ela continuou: “Conhece o termo assinatura mágica, tenho certeza. É disso que nós nos lembramos. Não sua cara, não sua voz, mas sua magia. É uma coisa imutável. Não importa se sua lealdade muda, se você é adotado, sua magia nunca mudará.”

Revan parou, respirando fundo. Fleur o encarava com grandes tristonhos olhos azuis de boneca. “Você podia ter me contado, ‘Arry.”

“Eu não podia” insistiu ele, desistindo e não conseguindo deixar se sentir suas personalidades escapando de seu poder como areia escapa das mãos, lentamente, em um fluxo contínuo, até acabar. “Ninguém pode saber.”

“Nunca vou dizer nada a ninguém” prometeu Fleur, apertando sua mão para selar a promessa. “Confie em mim, sei manter segredos. Eu quero ser sua amiga.”

Revan, ao invés de apertar a mão da loira de volta, envolveu-a em um abraço. “É bom ter alguém.”

“É isso que parceiros fazem” murmurou ela.

O menino riu. “Parceiros no crime?”

Ele podia sentir Fleur sorrindo. “Parceiros no crime.”


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Notas finais do capítulo

Eu diria que esse foi um capítulo filler, mas tem até que bastante conteúdo. Juro que não me lembrava de ter escrito metade disso :)

Novamente muito obrigada para cada um dos que comentaram no capítulo anterior. Reforço que os reviews serão respondidos hoje e amanhã (60! 60 reviews!).

Sobre esse capítulo: Tive a impressão que ficou corrido, principalmente o final. Pensei o seguinte: Fleur é a primeira pessoa a "descobrir". Isso a faz especial, e uma pessoa que Harry/Revan quer agradar por motivos óbvios.

E vocês, o que acharam? Alguém tem uma previsão para o que vai acontecer durante as tarefas?

~Lady Slytherin