Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 36
...And Run


Notas iniciais do capítulo

Reviews no capítulo anterior: 44 :O

Ok, pessoal. Quarta feira, estou postando o último capítulo do terceiro ano, e ainda trabalhando no primeiro do quinto :/ Lembrando que depois desse, os capítulos do quarto ano voltam na metade de Janeiro, depois das minhas merecidas férias.

Esse é o maior capítulo da fanfic inteira, e continuará sendo, porque não estou mais em condições de escrever um capítulo de 6.476 palavras.

Aproveitem!



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CAPÍTULO 36

...AND RUN

“Meu lorde” sussurrou Nemesis, se curvando para o Lorde das Trevas. “Sucesso absoluto no controle das aranhas.”

“E o troféu?”

Nemesis estendeu um saco que continha uma certa cabeça ruiva, se curvando ainda mais ao ponto que quase beijava as vestes do mestre. Ao receber um toque leve como uma pluma em seu ombro, ele se levantou, derrubando seu capuz para que todos vissem suas tatuagens, dadas no ano passado pelo Lorde das Trevas em pessoa. Seus olhos verdes brilhavam.

“Regulus. Hogwarts é nossa?” perguntou Voldemort, se virando para a mão esquerda. O comensal em questão mordeu o lábio do mesmo modo que seu irmão fazia e chacoalhou a cabeça.

Ele podia sentir o olhar de todos queimando em sua nuca. “As ordens de Nemesis foram claras, meu lorde. Sem mortes do corpo docente e estudantil. Os aurores...”

“Não me importo com os aurores!” sibilou Voldemort, suas mãos se fechando em punhos rígidos que pareciam prontos para socar alguém. Aurores... Ele queria a morte de outras pessoas, não aurores insignificantes. “Eu repito: Hogwarts é nossa?”

Regulus engoliu em seco. “Mais reforços chegaram essa manhã, meu lorde. Eles têm a mesma quantidade de lutadores que nós, descansados e sem ferimentos. Estamos... Estamos em desvantagem.”

Voldemort não pareceu se importar muito com isso. Números não ganhavam batalhas, no final de contas. “Quais são as perdas?”

“Quatorze mortos. Vinte e sete feridos, dois deles além dos limites da magia.”

“Alguns podem lutar de posições estratégicas. Comensais com braços ou dedos quebrados podem se esconder em árvores, plantar bombas, enfeitiçar animais. Lutadores passivos. Também podem servir de apoio para aqueles que lutarão na linha da frente. Curadores. Espiões.”

Bellatrix, atrás deles, levantou uma sobrancelha tão despenteada quanto seus cabelos. “Bodes expiatórios, pequeno lorde?”

Nemesis lhe deu um sorriso sombrio. “Apenas os feridos além dos limites da magia. Temos que poupar o maior número de lutadores que pudermos. A luz vai contra atacar assim que descobrir os esconderijos. Esquadrões de aurores contra poucos comensais. Não teremos chance se estivermos em pouca quantidade, não em uma ocasião daquelas.”

O humor piorou depois disso. Os comensais, como grandes crianças com momentos de infantilidade, estavam conversando animadamente protegidos naquela parte da Floresta Proibida, pensando em quais feitiços usariam em quais pessoas e apostando quem mataria mais. Dolohov continha a maior parte das apostas, pois todos sabiam como ele amava usar sua própria maldição em todos que se aproximavam dele.

Agora, porém, ninguém falava. Todos estavam pensando nas perspectivas de perder seus amigos de infância para um auror qualquer em uma batalha que não significava muita coisa. Bellatrix apertou a bochecha de Rodolphus, chamando-o de coisinha fofa da Trixie, antes de voltar para sua posição na frente do grupo.

“Um para um, então?”

Todos levantaram os olhos.

“Três para um, meu lorde” Regulus pigarreou, desconfortável. “Se desconsiderarmos os feridos. Com os vinte e cinco, ficamos em uma proporção de dois para um.”

2,6, pensou Nemesis, que decidiu permanecer em silêncio. Estão descansados e sem ferimento algum. Sabem por onde vamos atacar. As chances deles saírem sem perdas demais não eram muito grandes.

“Meu lorde, todos esperem que tentemos pegar o menino-que-sobreviveu” murmurou o pequeno comensal, envergonhado porque todos ali sabiam que aquilo era exatamente o que ele queria fazer. “Ele está na torre principal. Se cruzarmos a ponte e usarmos a torre secundária, podemos passar pelas masmorras e reunir mais seguidores. Máscaras pretas que servirão para assustar.”

O lorde das trevas fez um som de aprovação. “E quantos máscaras pretas você tem de prontidão, garoto?”

“Vinte, meu lorde. Quarenta, com os alunos mais velhos.”

“Bom.” Como era de hábito, Voldemort girou a varinha entre os dedos. “E os mais novos?”

Silêncio. Regulus deu um passo para frente: “Eles não sabem...” lutar. “...manter a boca fechada.”

Voldemort riu em um tom sombrio, jogando sua mão contra os ombros de Nemesis e o trazendo para perto dele, sem nunca deixar de sorrir, exibindo seus dentes perfeitamente brancos. “Garoto, o que fazemos com pessoas que não mantém a boca fechada?”

“Nós nos desfazemos permanentemente deles, meu lorde.” A expressão que o pequeno comensal carregava demonstrava que ele seguiria as ordens do Lorde das Trevas, mas com pesar.

Sussurros surgiram entre os comensais, se levantando no ar e atingindo o ouvido dos três que encaravam o resto. Matar jovens de sangue puro? Certamente o Lorde das Trevas não poderia estar falando sério. Alguns deles tinham filhos em Slytherin, e outra parte tinha filhos em Hogwarts. Usá-los, talvez, mas matá-los?

Lucius parecia especialmente perturbado. Ele encarava o chão, de pé ao lado de Narcissa, ambos parecendo mais pálidos do que o usual. Vendo que o homem queria falar, Nemesis fez menção para que ele desse um passo à frente.

Malfoy disse o que Regulus havia pensado anteriormente: “Crianças não sabem lutar.”

Assentindo, o pequeno comensal completou: “Vão causar empecilhos. Peguemos aqueles que completam seus NOMs esse ano, e além. Bons duelistas, também. Se é para usarmos os mais novos, vamos usá-los como espiões” ele deu um sorriso infantil, fazendo-o parecer quase angelical. “Ninguém vai duvidar de uma criancinha de onze anos.”

Resignados, os comensais que também eram pais assentiram. Eles sabiam que não conseguiriam nenhuma barganha melhor do que aquela.

_

Amy Pearson corria pelo castelo, as palavras do garoto misterioso em sua mente. Encontre alguém importante. Fique por perto. Descubra coisas.

“Tem alguém aí?” ela chamou, levantando sua voz. Uma sombra se moveu para perto dela. Fazendo uma voz chorosa, repetiu: “Alguém?”

Das sombras saiu Amelia Bones, seus cabelos ruivos presos em uma trança que descia até os ombros. Vendo que quem chamava era uma menina de não mais do que onze anos, a bruxa baixou a varinha, se aproximando e estendendo a mão para a morena. Amy a encarou, fitando-a com seus olhos incrivelmente azuis. Em adição com a pele de porcelana e os cabelos negros, ela parecia uma guerreira celta.

“As tochas estão apagadas” choramingou Amy, pulando para os braços de Amelia. “Eu quero ir para casa. Me leve para casa, senhora auror, por favor.”

A ruiva esperou alguns segundos antes de desfazer o abraço. “Você está segura. Vamos te colocar em uma das salas com aurores, ninguém vai te machucar. Está com fome?”

“Vão haver aurores lá?” Seus olhos se encheram de lágrimas.

Amelia se apressou em assentir, segurando a mão da menina e caminhando na direção do Salão Principal. “Pode ficar conosco. Só vamos almoçar e começar a despachar os alunos mais novos. Prometo que você estará no primeiro trem, senhorita...”

“Pearson” fungou a morena. “Amy Pearson.”

“Me chamo Amelia. Vamos indo, xará. Minha sobrinha vai estar lá também.”

De mãos dadas, elas terminaram o caminho. A visão do Salão Principal tranquilizou seu coração. Tudo podia ser apenas um ato, sim, mas os corredores escuros ainda a deixavam assustada mesmo depois de meses nas masmorras. Os Potter estavam lá, junto com os professores e aurores.

Estou cercada de inimigos.

“Senhor Potter?” confirmou Amy, se aproximando mais para ter certeza de que se tratava do Auror Chefe. Hesitante, caminhou até ele, tremendo verdadeiramente. Um passo após o outro, e um susto em sua face. “Senhor Potter!?”

Finalmente Potter levantou os olhos do mapa do castelo, sem se preocupar em esconder os pinos que demarcavam a posição dos aurores. Ele pareceu forçar um sorriso. “Sim, minha jovem?”

Lágrimas. Isso, lágrimas. “Quando vai acabar? Tirem os comensais daqui logo, por favor, estou com medo…” Soluços agoniados. Como Amy gostava de suas habilidades de atuação!

“Venha aqui.”

Dando um sorriso esperançoso, a morena se sentou ao lado dele. “Hmmm?”

“Não se preocupe, nós vamos te proteger. Se esconda assim que escurecer, é quando os comensais costumam atacar. Estamos preparados, está vendo?” ele indicou o Salão, cheio de estrategistas. “Amanhã tudo já estará como antes.”

Amy voltou a sorrir. Quando foi liberada depois do almoço, correu de volta para as masmorras, conforme combinado, e procurou entre a multidão de estudantes na Sala Comunal um rosto conhecido. Ao ver Revan, foi direto para ele, se aproximando até que seus narizes se encostassem.

“Os aurores vão estar a postos ao anoitecer.”

A recompensa pelo serviço de espionagem era clara: Se sentando no colo do menino mais admirado de Slytherin, Amy envolveu os braços ao redor do pescoço dele, prendendo sua cabeça e a forçando até que seus lábios se encontraram.

O beijo parecia ser só de uma via, afinal, Revan fazia isso como “pagamento”. Pensando em um plano, ele aprofundou o beijo, entrelaçando seus dedos nos cabelos de Amy e segurando-a lá, do mesmo modo que a menina fizera com ele alguns instantes atrás, até que os pulmões da menina gritaram por oxigênio e ela foi forçada a interromper o beijo.

“Olhe para mim” sussurrou Revan com a voz rouca. Ao invés de olhos verdes, porém, o que Amy encontrou foi uma varinha apontada para seus olhos. “Obliviate.”

_

Quando o sol se pôs e aurores começaram a patrulhar os arredores de Hogwarts com mais fervor, nenhum dos comensais ousou respirar. Em silêncio, eles esperavam, se divertindo do jeito que podiam. As instruções de Nemesis acabaram sendo um jogo de mímica; o chão de terra batida virou um quadro negro para desenhos a dedo e folhas foram transfiguradas em cartas para a alegria dos jogadores.

Voldemort esperava ao lado do pequeno comensal, sua expressão tranquila parecendo indicar que passaria a noite toda sentado naquela pedra sem se importar com o frio. Pelo menos não estava nevando, pensou ele examinando o chão ensopado de neve derretida. Nada como um feitiço de aquecimento para se livrar do branco e esconder o sangue. Agora eles só precisariam se preocupar com as pegadas.

Aquilo era medo que Nemesis sentia, ou antecipação? Ele batia os dedos incansavelmente contra um galho de árvore, criando melodias diversas e pensando em padrões matemáticos para melhorar o desempenho dos comensais em batalha. Sua face não mostrava nada: Completamente neutra, como se fosse algo normal atacar o lugar “mais seguro” do mundo.

A lua cheia já estava quase em seu ponto mais alto quando aos poucos os comensais foram relaxando. Um ou dois se encostaram contra uma árvore e cochilaram, sabendo que ainda iria demorar algumas horas antes de precisarem acordar. Ansiosa, Narcissa não parou quieta, checando os feridos e repondo curativos, cochichando em seus ouvidos que iriam sobreviver mesmo sabendo que as chances eram mínimas.

Um anjo, pensavam os feridos ao ver seu longo cabelo louro claríssimo em contraste com as robes negras. Um anjo da morte.

Foi Bellatrix quem quebrou o silêncio, quando o uivo de um certo lobisomem sendo solto por perto criou a distração necessária. “Mais quanto tempo?” ela cruzou os braços, frustrada, sem nunca tirar seu olhar de adoração de Voldemort. “Eu poderia estar matando ou torturando alguém.”

“Vamos esperar até as três da manhã” informou o Lorde das Trevas, sua voz não mais do que um sussurro. Todas as cabeças se viraram para ele, ouvindo. “Nesse momento todos estão rígidos, tensos, nos procurando. Quando dormirem, porque vão trocar os turnos, não acordarão tão rápido. Três da manhã é o horário que nós mais sentimos sono. Enquanto eles estarão grogues, vamos estar despertos e prontos. Acabemos com os aurores um por um, nas quatro horas que tivermos.”

“Descansem” completou Nemesis, ele mesmo transfigurando folhas em um colchonete e se deitando, querendo ter o máximo de energia quando começassem a batalhar. Suspirando de contentamento, o pequeno comensal se ajeitou melhor, usou grama para fazer um travesseiro e fechou os olhos.

Alguém o cutucou no que parecia ser um momento depois. Acostumado a ser acordado de repente, Nemesis se espreguiçou e ficou de pé, pegando sua máscara de prata e vestes negras, colocando-as por cima da armadura de couro de dragão. O pendente que ganhara no natal do primeiro ano parecia quente ao toque.

“Vão, vão!” ordenou Voldemort para os feridos, cada um carregando uma bomba que seria colocada em pontos estratégicos. Ele se virou para seu aprendiz. “Pegue os alunos, vista-os e garanta a lealdade deles. Lembre-se, estudantes vão criar caos, não derramar sangue.”

Obediente, Nemesis jogou uma segunda capa sobre o seu corpo e correu habilmente na direção do castelo, cortando a garganta de um auror de vigia no caminho, pegando sua varinha e voltando a fazer o caminho das masmorras. Foi preciso derrubar mais dois aurores antes que Merlin o deixasse entrar.

Dentro da Sala Comunal, não mais do que trinta alunos esperavam por ele.

“Me chamo Nemesis” ele anunciou, desejando se sentir um pouco mais alto e com a voz mais grossa. “E vou ajudá-los no caminho para a grandiosidade.”

Sem parar, jogou capas, máscaras e varinhas descartáveis para cada um deles, explicando como seriam as coisas, prestando atenção para não dizer quando o ataque terminava. “Quando terminar, terminou” falou para um dos máscaras pretas quando questionado.

Nemesis olhou para os quatro aurores que deveriam estar vigiando os Slytherins. Mortos, sufocados, e escondidos atrás de sofás.

O relógio anunciou que eram três da manhã. Ao longe, o pequeno comensal teve a impressão de ouvir gritos de guerra.

_

Regulus liderava o grupo um, obviamente o primeiro a correr na direção do castelo e derrubar quem quer que aparecesse no caminho com feitiços de cores vibrantes e formatos estranhos, gritando a cada vitória e se certificando que ninguém os visse perder. Também, não perderiam. Deveriam ganhar ou morrer lutando.

Ele foi o primeiro a atingir a barricada, usando a cabeça para abrir caminho e transfigurando sua varinha em uma espada para cortar os inimigos ao meio antes que eles tivessem tempo de reagir. Regulus se sentia no céu, não só quando via os aurores caindo, mas a cada vez que alguém errava um feitiço e ele percebia que, naquele momento, ele estava vivo, e que estar vivo era a melhor coisa do mundo.

Nunca fora fã de dança, mas garantir que seus pés não pisassem em um corpo ou armadilhas era parte do jogo. E se para jogar a dança era necessária, ele dançaria até ballet, rodopiando e jogando feitiços para todos os lados. No final, esperaria a plateia o aplaudir por ser o último bailarino em pé, e se curvaria, saindo antes que aqueles que não apreciassem sua dança começassem a jogar pedras.

Porque eu sei dançar.

E Regulus sabia, ele realmente sabia dançar, desde seus tempos de Hogwarts quando precisava se defender do irmão bully e aprendera aquela arte, não a da dança, mas a da guerra, a arte mais perfeita já executada, onde cada passo valia mais do que a melhor apresentação de ballet do mundo. Dançar não era tão ruim, afinal.

“Garoto!” com a mão esquerda, ele acenou animadamente e apontou para professor Flitwick, definitivamente o mais rápido ali. “Atrás dele!”

Nemesis saiu de onde estava escondido, levitou uma pedra e a lançou na direção da cabeça do professor de Feitiços, deixando-o inconsciente sem muito trabalho e danos permanentes. Afinal, ele queria voltar para Hogwarts no ano seguinte. Então prosseguiu para perto do mentor, ficando com suas costas encostadas nas de Regulus, formando assim uma visão periférica para ambos.

“Se sairmos sem ferimentos” disse o garoto, elevando a voz acima do barulho. “Você me deve um drink.”

Mesmo na situação em que estavam, Regulus parou e encarou Nemesis incrédulo. “Você tem quatorze anos!”

Ele já tinha uma réplica pronta quando uma explosão atraiu a atenção de todos. Outras explosões se seguiram, com intervalos de dez segundos cada, até que o céu da madrugada se tornasse vermelho com a fumaça e fogo que tomava conta daquela parte do castelo.

“AGORA!”

Trinta alunos vestidos de preto romperam uma porta e avançaram contra os aurores, alguns usando golpes trouxas, mas a maioria habilmente derrubando-os com magia, dando gritos de vitória cada vez que um inimigo caía no chão. O primeiro morto veio alguns minutos depois, um Slytherin que não era tão bom em duelos como clamava, tendo seus ossos do corpo quebrados por um feitiço particularmente violento de Alastor Moody.

Theo sabia lutar, Nemesis podia perceber. Sua altura de nada o atrapalhava na hora de se desviar dos feitiços que vinham em sua direção. A cada maldição contra ele, duas eram lançadas. A maioria acertava alguém. Não mate ninguém, dissera Nemesis antes de entrarem. Ele, porém, não tinha dito nada sobre machucar.

“Tome conta dessa área!” gritou o pequeno comensal, chamando para si a varinha do oponente e a partindo ao meio. “Avada Kedavra!”

Quando todos se afastaram do jato verde de luz, ele se afastou e correu para onde Nicholas supostamente deveria estar. Ala Hospitalar, tomando conta das feridas. Ninguém prestou muita atenção nele; deveriam pensar que estava apenas fantasiado.

E eu estou certo... Outra vez.

Nicholas estava em uma cama da enfermaria, protegido por dois aurores que encararam Nemesis assim que ele entrou. Seus olhos se arregalaram quando examinaram a face do menino. Tamanha marca negra deveria significar uma posição de poder.

“Se afastem.”

Os aurores sacaram as varinhas. “Incarcerous!”

“Accio varinhas.” Ele deu um passo para o lado e abriu a mão para que as varinhas se acomodassem em sua palma. Como fizera anteriormente, quebrou as duas varinhas no meio, e voltou a falar: “Incendio.”

Fogo consumiu os protetores do menino-que-sobreviveu.

“Você!”

“Eu” sorriu Nemesis, um sorriso cruel e amargo. “Levante-se. Você vem comigo.”

Nicholas chegou a se levantar, mas correu na direção oposta. Seus setenta quilos fizeram que seus passos se abafassem debaixo dele. “Não... Você não pode fazer isso!”

“Me assista.”

Ele avançou na direção do ruivo, deixando a varinha cair e usando suas mãos para encontrar a veia no pescoço de Nicholas. Pressionando-a, Nemesis esperou alguns segundos antes de sentir o ruivo perder a consciência. Maravilhas da medicina, pensou ao arrastar o corpo do menino que sobreviveu até uma janela, depois de, é claro, pegar sua varinha.

Com um crack, o vidro de quebrou. Alguns andarem abaixo dos dois, pessoas ainda duelavam. Torcendo que sua ideia desse certo, o pequeno comensal fez um feitiço que almofodaria o chão, e, antes que pudesse se arrepender ou pensar melhor sobre isso, empurrou Nicholas e pulou.

Os dois pousaram quase sem impacto. Alarmado, Nicholas abriu os olhos, grogue, tentando ver onde estava e para onde era puxado. Ao reconhecer a capa negra que aterrorizava seus sonhos desde o primeiro ano, se debateu e gritou. Sua voz não funcionava, porém.

“Não sou estúpido” resmungou Nemesis. “Terá sua voz de volta quando chegarmos ao nosso destino.”

Com a boca, Nicholas perguntou o que iria acontecer com ele.

Os olhos verdes do pequeno comensal brilhavam. “Coisas terríveis, Potter, que você não pode nem imaginar. Vá dormir.”

Nicholas tentou resistir ao sono que se apoderava dele, mordendo os lábios e forçando seus olhos a ficarem abertos. Por que estava tudo tão embaçado? Alguns minutinhos, só alguns... Ele estremeceu. Seria até melhor se estivesse inconsciente quando a tortura começasse.

Quando acordou, Nemesis tinha uma gaiola na mão. Dentro da gaiola, Nicholas podia ver alguma coisa se movendo. Um rato? Desejou ter seus óculos com ele. Seus braços e pernas estavam amarrados com correntes, assim como na noite anterior. Dessa vez, em adição, o metal parecia queimar sua pele.

“Você gosta de História?”

Ele engoliu em seco, sem nunca tirar os olhos da gaiola. Um rato familiar... “Sim.”

“História medieval?” completou o pequeno comensal, levantando uma sobrancelha.

“Si-sim.”

Nemesis parecia satisfeito. Em movimentos fluidos, se abaixou e rasgou as vestes de Nicholas, deixando-o apenas com a cueca e correntes. A brisa fria fez com que todos os pelos do corpo do ruivo se arrepiassem. A lama debaixo dele congelava suas gostas. Nemesis prosseguiu: Pegou a gaiola e a colocou no estômago de Nicholas, com a saída tampada.

Não.

Ele não seria capaz.

“Diga oi para tio Wormtail” caçoou o pequeno comensal. “Vocês vão ficar juntinhos... Como se ele estivesse dentro de você. Incendio!”

Chamas bateram contra a parte mais alta da gaiola. Seguindo seu instinto, Pettigrew foi na direção oposta, propositalmente sendo o estômago do menino que sobreviveu. Sua pata esquerda arranhou a pele nua, tentando escapar do fogo. As chamas só aumentaram, tornando a gaiola vermelha com o calor, e fazendo Pettigrew cavar mais, tentar achar uma saída, fugir do fogo...

“Pare!”

“É natural!” replicou Nemesis. “Ratos fogem do fogo por qualquer caminho que acharem!” Para completar seu ponto, ele aumentou a intensidade do fogo. Pettigrew terminou de atravessar a pele, partindo então para os músculos.

Onde estava a cicatriz? Os pesadelos do segundo ano? Nicholas os queria de volta. Aquelas torturas não eram nada comparadas com aquilo. Ele estava no inferno. Merlin seja piedoso, soluçou olhando para cima, de modo a não ver nem o pequeno comensal, nem a gaiola com o rato. “Por favor, eu faço tudo que você quiser...”

O encapuzado sorriu. “Não.”

O rato já estava totalmente dentro de Nicholas quando este desmaiou de dor, lamentando para si mesmo a cicatriz que teria na barriga para o resto da vida. Se vivesse, completou. Aquele método costumava ser fatal entre os trouxas. Wormtail continuou cavando e mordendo, abrindo espaço. Com um grito final, seus olhos se reviraram nas órbitas e seus músculos se afrouxaram.

Mesmo tendo estado no calor da batalha, não havia melhor som do que aquele grito aos ouvidos de Nemesis.

_

Lupin conseguia sentir o medo dos estudantes no ar. Uma lua cheia, no meio daquela batalha, cada coisa inoportuna que aparecia em seu caminho. Uma noite poderia mudar tudo. Mal havia amanhecido, mas Lupin conseguia sentir seus pelos se eriçando quando alguém o encarava, ou sentia sua boca se encher de saliva quando detectava o cheiro de sangue no ar.

Um monstro.

“Há um corpo aqui” ele apontou para uma pilha de escombros. Os aurores se aproximaram e removeram as rochas, achando de fato um comensal em vestes negras, morto, sua face cheia de hematomas que não chegaram a se formar.

James suspirou. “Lily Flower poderá confirmar, mas esse daqui morreu soterrado. Consegue sentir algum outro?”

Remus assentiu e caminhou até atrás de uma gárgula, removendo-a com esforço para mostrar um jovem que não podia ter mais de quatorze anos. As vestes gritavam Gryffindor. O lobisomem vagamente perguntou a si mesmo se o vermelho que carregavam representava o sangue que sairia de seus corpos quando a coragem dos leões se transformasse em estupidez, ao que o verde de Slytherins representava a vida ganha por cautela e precaução.

Vivo. Harry está vivo.

“James…” Ele se impediu. Não ajudaria em nada estressar o auror chefe. Depois que os comensais forem expulsos, decidiu, vou contar tudo para ele, Harry querendo ou não. James merece a verdade. “Ali. Poça de sangue, vai para a Floresta.”

“Grande ajuda” zombou Sirius revirando os olhos cinzentos. “Já sabemos que os comensais estão na Floresta.”

Ele se enfureceu. “Está dizendo que não precisa de mim aqui?” Do mesmo jeito que não precisamos de Harry?

“Whoa, chihuahua” Padfoot levou as mãos ao ar em um gesto de eu me rendo. “Se acalme, ou vou pedir para Dona Lily te colocar na coleira.”

Resmungando algo incompreensível que beirava rosnados, Lupin deu as costas para os amigos e caminhou rapidamente até um beco sem saída. Um jovem, ele não podia dizer se vítima dos aurores ou comensais, o encarava com olhos prestes a pararem de brilhar. O lobisomem colocou as mãos ao redor da boca e gritou: “AJUDA! Preciso de Poppy aqui!”

O jovem o encarou, tentando falar algo. Um som molhado saía de sua boca, como se estivesse cheia de água. Não era água porém que escorria por seu queixo.

“O que?” ele se aproximou, apurando os ouvidos. “Não se preocupe. Vamos te tirar daqui.”

Mais sons. “Ne-Nemesis.”

“Não fale. Salve suas energias.” Lupin tentou movê-lo antes de perceber que sua coluna estava quebrada. Parte do braço direito faltava-lhe. Morreria, Lupin sabia. Já havia assinado sua sentença de morte ao duelar em algo tão perigoso, sendo são jovem e inexperiente.

O jovem o ignorou, gemendo. Ele encarava sua mão, que jazia a cinco metros do resto do corpo. “Nemesis” repetiu, satisfeito que a palavra saíra sem demasiados esforços. “Está com Potter.”

Harry? Não, claro que não era Harry. O outro Potter. Lupin segurou os ombros do garoto com força, o impedindo de ficar inconsciente. Nada como um pouco de dor para evitar o sono. “Onde ele está?”

“Floresta.”

“Onde na Floresta? Garoto? Responda!”

Tal garoto suspirou, morrendo.

Lupin pigarreou. “James? Achei um corpo dos nossos. Ele diz que sabe onde Nick está.” Se o fato de ter achado um jovem não promovera estímulo suficiente da parte do auror chefe, o nome do seu filho sim. James estava ao seu lado alguns segundos depois, pedindo por mais informações. Ele não demorou a dá-las. Sabia que Nemesis não era alguém que brincava e deixava os objetos intactos quando ficava satisfeito.

Ele nunca estava satisfeito.

Porque nunca recebeu a atenção que merecia, se lamentou. “Floresta Proibida. Nicholas foi visto quatro da manhã, esse jovem deve ter conseguido esses ferimentos antes das sete.”

Sirius franziu a testa. “Então podem estar em qualquer lugar.”

“Não” Lupin balançou a cabeça, pensando à frente dos colegas. “Nemesis é esperto. Saiu da floresta antes do amanhecer. Pensando em uma tortura qualquer, ele está à uma hora daqui.”

“Ótimo. Expecto Patronum! Preciso de uma unidade para entrar na Floresta. Urgente. Eu repito, urgente.”

Ao que o cervo prateado saía, um grupo de medibruxos terminou de remover os feridos da área principal da batalha e chegou mais perto, sem dúvida tendo ouvido a ordem. “Somos nós.”

“Mas... Vocês são quatro!” James estava incrédulo. “Preciso de uma dúzia!”

Sirius parecia ter mais consciência do que ele. “Prongs, somos poucos e estamos patrulhando todo o castelo, contendo os pais, tomando conta dos feridos e achando os mortos. Estamos com sorte de termos quatro, mais nós três.”

“Você sabe o que dizem” Lupin se forçou a dar um sorriso. “Sete é um número mágico. Chame Lily, vamos por duplas.”

James não perdeu tempo. Lily estava lá no que parecia ser um instante depois, dividindo os oito integrantes do grupo em quatro duplas, cada uma composta por um lutador e um medibruxo, para dar qualquer assistência necessária. Todos sabiam que tal assistência seria necessária. O olho vazado de Lily os lembrava da violência de Nemesis cada vez que alguém se lembrava de brilhantes olhos verdes.

De botas e varinhas extras, eles correram pelas entradas mais próximas da Floresta Proibida, depois de chegar à conclusão que Nemesis não queria Nicholas morto, e sim machucado – portanto ele teria que ser achado em algum lugar, depois de agonizar bastante, porém ainda bem o suficiente para se recuperar.

As árvores sempre tinham um cheiro familiar para Lupin, de verde e vida, terra e natureza. Aquele dia, ele podia detectar outros cheiros. Sangue, com certeza sangue, suor, corpos em decomposição, algo queimando. Seus ouvidos também captavam sons novos: Respiração cortada, sussurros, galopes de centauros próximos a eles, as perninhas das acromântulas, choro... E, mais ao fundo, silêncio.

O silêncio o deixava mais assustado do que todos os outros sons juntos.

“Nicholas Potter!” chamou Remus, estimulando sua parceira a fazer o mesmo. Logo ambos gritavam o nome do ruivo, olhando nas árvores e buracos, atrás de grandes rochas e ninhos. “Nick! Se conseguir nos ouvir, faça alguma coisa! Grite, se mexa!”

“Nicholas!” ecoou Anna Moore, a medibruxa que estava junto a ele. “Nicholas Potter!”

Pausaram. Silêncio.

“Isso não é bom. Se ele está por aqui, não consegue falar. Consegue sentir alguma coisa?”

Lupin a encarou. “Sou um cão farejador agora?”

Anna riu, corando levemente. “Bem que poderíamos aproveitar os lobisomens. Foi você quem achou a maioria dos corpos.”

Queria que não tivesse, eram as palavras que estavam na ponta da língua de Remus. Em parte de sua mente ele pensava que, se não tivesse achado os corpos, os estudantes ainda estariam vivos.

Seus ouvidos captaram algo. Levando um dedo aos lábios, ele pediu silêncio para a medibruxa e se concentrou: Gemidos. Sim, gemidos. Dor. Sangue, suor, ácido... Ácido? Por que Remus conseguia sentir o cheiro da sopa que Nicholas comera na noite anterior?

“Por ali!” apontou o lobisomem, ao mesmo tempo que James gritava: “Ele está aqui! Preciso de todos os medibruxos agora!”

Os dois se apressaram na direção que Remus apontara. Deitado no chão estava Nicholas, apenas de cueca. A lama se misturara ao seu sangue, deixando toda a superfície do seu corpo em um marrom acobreado. Suas vestes estavam jogadas ao lado, abandonadas. Até agora, ninguém havia visto as vestes. Todos estavam concentrados no estômago do menino. Onde ele deveria estar, havia um buraco.

“Merlin” gemeu Lily, escondendo o rosto nas mãos. “Nick, bebê, consegue me ouvir? Vai ficar tudo bem, vamos te tirar daqui.”

Nicholas a encarou com os olhos semicerrados pela dor. Ácido estomacal corroía sua pele pouco a pouco, sem cair no chão, contido precisamente de modo a fazer mal, mas não matar.

Exatamente como esperávamos.

Lupin cobriu as narinas em uma tentativa falha de parar de sentir o cheiro. Se virando para Moore, perguntou: “Ele vai sobreviver?”

Anna o examinou, tocando a pele enegrecida na barriga do menino e a jaula derretida no chão. “Esse método deveria ser fatal, mas o suspeito usou magia. Ele está prendendo senhor Potter à vida.”

“Isso é possível?”

“Meu palpite é que o suspeito usou uma pequena quantidade da Pedra Filosofal” todo o charme havia desaparecido da voz de Anna. Ela era doutora Moore agora. “Seus poderes garantirão não imortalidade, mas a vida temporária. Senhor Potter vai sobreviver, com um preço.”

“Um, dois, três!” gritaram os outros medibruxos, levitando Nicholas e conjurando uma maca.

Lily se virou para ela. “Que preço?”

Anna apertou as mãos, encarou o chão e ficou em silêncio.

_

Já estava escuro quando Nemesis chegou ao local do crime para apreciar sua obra de arte. As cobras da Floresta Proibida já haviam o avisado que humanos tinham pego o ruivo ensanguentado e levado-o de volta para o castelo.

De qualquer maneira, pensou, dando de ombros. Ainda tenho todo a tela e os instrumentos. Não era Nicholas Potter, agonizando no chão e implorando para ser deixado em paz, mas as memórias, ah, Nemesis sabia mais do que ninguém que às vezes memórias eram tão realistas quanto a própria realidade.

E ele estava sozinho ali. Todos os aurores estavam concentrados no castelo e em Hogsmeade, despachando alunos do primeiro ano para pais desesperados e fazendo a conta das perdas. Outros pais, igualmente desesperados, ainda não tinham permissão de ver seus filhos. Ninguém entrava no castelo, e a contagem de cabeças era muito rigorosa.

Além de tudo, os estudantes mais velhos são obstáculos para os comensais que tentassem entrar naquela noite.

Todos sabiam que havia outro ataque. Risadas sinistras vinham de todas as partes do castelo, e o sussurro do vento parecia carregar gritos junto a si. Mais lutadores chegaram naquela tarde, totalizando cerca de trezentos combatentes da Grã Bretanha, contra os cinquenta lutadores de Voldemort. É claro que eram de Voldemort, nenhum outro Lorde das Trevas tinha tamanho controle sobre suas tropas.

Ganharemos, repetiu Nemesis para si mesmo. Estamos em seis para um, mas como dizem, um homem louco tem a força de dez sãos. Ele sorriu, se lembrando da conversa que tivera com Voldemort e Regulus no Natal. Bellatrix ainda estava intacta, e contava com marcas na varinha quantos havia matado. Treze! Treze, ela gritava para os ares.

Regulus estava esperando reforços de outros países, especialmente da Bulgária, lugar que conseguira muitos adeptos à cultura que Voldemort tentava promover. Mais sessenta ou setenta, provavelmente, e os vinte não covardes de Slytherin.

Três para um, agora.

E um homem louco tem a força de dez sãos.

Nemesis mesmo estava começando a se perguntar se ele estava ficando louco. Onde ele julgava estar vazio, estava ninguém mais, ninguém menos do que Lupin, sentado em um tronco de árvore, a cerca de vinte metros do chão.

“Lupin” cumprimentou o pequeno lorde, fazendo uma reverência desnecessária. “Tenho que admitir, não te esperava aqui.”

A voz do lobisomem estava rouca: “Você sempre se esquece de olhar para o alto quando brinca de esconde-esconde.”

Sabendo que seu disfarce estava arruinado, estando a tão pouca distância de um lobisomem experiente, Nemesis baixou o capuz, sua marca característica, e revelou sua face coberta de tatuagens, ainda assustadora, mesmo depois de quase um ano.

“Tentemos outra vez” sorriu ele. “Olá, Moony.”

Lupin não sorriu de volta. “Olá, Harry.”

“Ah!” Nemesis saltou, aterrissando do lado do tio. “Eu te contei, tio Lupin? Aprendi a voar.”

Ele empalideceu. “Estava certo, então. Você é um deles.”

“Não” o pequeno lorde balançou a cabeça. “Eu sou Ele.”

“Nemesis.”

“Entre outros nomes” riu ele, jogando o cabelo para trás do mesmo modo que James Potter fazia, um hábito difícil de perder. “Como posso te ajudar?”

A careta de Lupin era pesadora, parecia quase carregar dor. Ele gemeu, afundando o rosto nas mãos e rosnando profundamente. Depois de alguns segundos, o pequeno lorde percebeu que seu tio Moony estava na verdade tentando esconder o choro.

Nemesis se aproximou, preparando sua voz:: “Hey, Moony, não chore. Shhh.” Quando o lobisomem olhou para ele, o menino completou: “Só choram os que são fracos.”

“Vá embora” implorou Lupin, enxugando as lágrimas e descendo do galho, pousando no chão com o suave som de folhas secas sendo esmagadas. O pequeno comensal o seguiu, ouvindo suas palavras: “Você precisa fugir. Se eu consegui descobrir quem você é, eles vão descobrir. Vão te relacionar com a tortura de Nick, te dar O Beijo.”

Tisk, tisk. Com o dedo indicador, Nemesis elevou a face de Lupin até que seus olhos se encontrassem. “Nenhum beijo será pior do que aquele que nunca recebi por anos.” (N/A: Ok, essa frase ficou estranha, mas vou deixar. Está sentimental!)

“Eles sentem sua falta.” Evitando o olhar do menino, o lobisomem olhou para cima, seus pelos se arrepiando. Ele engoliu. Parecia haver um calombo em sua garganta. “Fomos te procurar no orfanato ano passado.”

“Eu sei. O truque do cianeto nunca falha. Senhora Morgan fez isso para mim como um último favor, podemos dizer que ela morreu feliz.”

Remus discordava. “Ela morreu chorando.”

“De felicidade” insistiu Nemesis. “Ela me amava. Sabia que eu não merecia um lar que apagou minhas memórias e me deixou na porta de um orfanato à mercê da sorte.”

Os olhos de Lupin brilhavam em um belo tom âmbar. “E nós merecemos o que fez conosco? Nicholas está beirando a morte. Lily está cega. Você destruiu uma amizade de vinte anos.”

“E vocês destruíram minha vida! Quid pro quo!”

“Harry” chorou Remus. “Eu fui contra isso. Nunca quis que nada de ruim acontecesse com você.”

“Nem eu” concordou ele, igualmente emocionado. Ele abraçou o tio, segurando-o como fazia quando bebê. Já era tarde demais quando Lupin percebeu que não conseguia sentir sua varinha no bolso. “Mas você descobriu tudo. Não posso te deixar escapar.”

Lupin gelou. Ele sentiu o lobo dentro de si lutando para se libertar, sua mão chacoalhava contra a corrente que acabava de prendê-la contra a árvore. Outras cercaram seu pescoço, deixando uma margem estreita para que ele respirasse, mas não escapasse. Um rosnado primal saiu do fundo de sua garganta, afastando os pássaros ao redor.

“Vai mesmo me matar?”

“Um lobo não mata outro da mesma matilha” instruiu Nemesis, apontando para a lua. “Ele só os domina.”

As nuvens que cobriam a lua saíram, revelando-a em seu ponto mais alto. Meia noite de lua cheia. As presas de Lupin saíram, as vestes rasgaram ao que sua massa muscular crescia junto com os pelos. Uma onda de vergonha se abateu contra o lobisomem quando percebeu, mesmo em sua forma de lobo, que não podia se mexer. Um lobo submisso, pensou com vergonha.

Por que, Harry? A única coisa que saiu de sua boca foi um ganido.

“Não vou te machucar” prometeu Nemesis, por um instante quase parecendo sincero. “Porém você sabe que não posso te soltar. Sabe o que mais, Moony? Eu sempre quis um lobo de estimação.”

Os olhos do lobo se arregalaram. Ele lutou com força, mordendo as correntes e tentando chegar à carne apetitosa do menino, sair, precisava sair. Nunca havia sentido tamanhos pensamentos humanos sem tomar a poção, mas seus pensamentos estavam claros, mesmo estando na pele de lobo. Uivando, sua raiva se dirigiu contra a árvore que o mantinha preso.

“Animalia.”

Um feitiço verde atingiu o lobo no peito, e Lupin gritou, mais do que já tinha gritado na vida, incluindo sua primeira transformação, a dor de ter Harry longe dele, a traição de Pettigrew, nada se comparava a sentir algemas prendendo sua consciência à sua forma animal. Fuja, insistia Lupin, você consegue sair daqui.

Mas ele não conseguia, nem sair das correntes, nem das algemas que o prendiam internamente.

Minutos depois, quando ele uivou um uivo de raiva e derrota, Lupin sabia que aquele som era o único que sairia de sua boca pelo resto de sua vida.

_

A luta corria solta no Salão Principal. Mesas estavam sendo usadas como plataformas de duelos, cadeiras eram escudos, pratos refletiam feitiços e um por um, seus lutadores caíam. Voldemort sabia que não teria muito tempo.

Seus dedos se estreitaram ao redor da sacola de couro redonda, contendo algo muito especial. Ele fez um sinal para Nemesis, que respondeu com um sinal de positivo e lançou um feitiço-bomba para cima, destruindo o céu estrelado de Hogwarts e revelando o verdadeiro céu. Longe, ele podia ouvir um certo lobo.

“Olhem para mim!” ordenou ele, desfazendo os laços que prendiam a sacola. Sua voz era tão poderosa que todos os duelos se encerraram, os participantes o encarando onde Voldemort flutuava no ar. “Contemplem-me!”

Os professores e aurores mais velhos se lembravam de Tom Riddle e empalideceram. Outros não entendiam, mas fitavam a sacola com medo.

O Lorde das Trevas continuou seu discurso, sentindo o coração bater forte no peito: “Lorde Voldemort está de volta, mais poderoso do que nunca!” os laços terminaram, e a sacola caiu no chão. Sem perder um segundo, Voldemort pegou a cabeça ruiva de Ron Weasley e a segurou no alto para a multidão. “E essa é a primeira vítima da Segunda Guerra Bruxa! EU ESTOU DE VOLTA!”

_

Meses depois, o caos reinava no mundo bruxo. Em uma certa mansão, porém, a paz era total. Todos celebravam o anúncio do Ministro que as tropas estavam sendo armadas para a guerra.

Uma guerra que eles venceriam.

Revan caminhou até o porão da Mansão dos Black, um naco de carne crua em sua mão. A porta rangeu quando foi aberta, e os degraus da escada estalavam conforme o menino os descia, anunciando sua presença.

“Mo-ony?” chamou, sua voz melodiosa. “É Harry. Pode vir.”

Sabendo que o lobo não responderia ao seu chamado, como nunca respondia, ele jogou o naco de carne nas sombras. Sons de rasgo foram ouvidos, e Revan sorriu, satisfeito.

Oculto nas sombras e preso em correntes de titânio, Moony o encarava de volta.


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Notas finais do capítulo

Então, pessoal, aqui está o motivo pelo qual Revan se revelou a Lupin. Não faria a mínima diferença, apenas Lupin passaria o resto dos seus dias sabendo o porquê de estar em sua forma de lobo permanentemente.
E também, eis o porquê de Nemesis ter salvado a cabeça de Ron: É um troféu!

Espero que tenham aproveitado o terceiro ano tanto quanto eu gostei de escrevê-lo (foi o ano mais legal, na minha opinião). Por favor, deixem nos comentários suas opiniões. Quem sabe dessa vez nós conseguimos chegar em quatro páginas de reviews, batendo o recorde?

Não percam o especial de natal, se gostarem de yaoi (será postado na segunda feira, sete ou oito da noite), e se não gostarem, espero que não percam o contato com a fanfic, porque o quarto ano também vai estar de explodir os miolos.

Retirando-se para suas maravilhosas férias de Cinzas,
~Lady Slytherin