Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 30
Harry


Notas iniciais do capítulo

Não postei na quinta, mas postei na terça! o/
Gente, 951 reviews, vocês são demais! Apesar de o número de reviews no último capítulo ter diminuído, consegui leitores novos e isso compensou.

Alguém me perguntou se eu estava bem: Fui diagnosticada com depressão semana passada, MAS isso não vai me impedir de escrever. Não se preocupem. Eu armei a história de um jeito que posso terminá-la no final de cada ano.

Hmm... A partir de agora, a jogada de Revan é... Leiam o capítulo, explico no final.



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CAPÍTULO 30

HARRY

Alguns dias depois, quando Revan caiu no sono, a escuridão que ele estava acostumado deu lugar a um grande espaço com névoa. Do outro lado estava Lord Voldemort, o esperando em uma poltrona flutuante.

“Meu lorde” falou o herdeiro Black, se ajoelhando. “Posso perguntar onde estamos?”

O bruxo das trevas sorriu. “Dentro da sua cabeça, e dentro da minha. Um pequeno feitiço que eu gostava de usar para tortura mental. Me ter dentro da cabeça de alguém é de fato algo assustador para muitos.”

Sua cabeça? Revan pensou em uma cadeira ao lado da do mestre e magicamente, ela apareceu ali. Ele se aproximou com cuidado. “Há uma razão em especial pela qual você me chamou?” O menino conjurou uma xícara de chá com leite e tomou um gole, saboreando o gosto. Exatamente como o real.

Voldemort deu de ombros e conjurou água para si mesmo. “Queria saber sobre as coisas. Nós não conversamos ontem.”

“Nada muda de um dia para o outro, meu lorde” falou Revan educadamente. “A casa de Slytherin está mais unida do que nunca com o seu retorno. É claro, são poucos que sabem, mas é apenas uma questão de tempo até Draco abrir sua boca imensa e contar para a escola toda que Lucius é um comensal e que o senhor está de volta, mais poderoso do que nunca.”

Mais poderoso do que nunca? Voldemort gostou de como aquela frase soava. Ele começou a brincar com a varinha, como sempre fazia quando estava pensando. O herdeiro Black esperou pacientemente.

“E fora de Slytherin?” ele cobrou o aprendiz. “Ravenclaws são necessários para o cérebro da operação.”

O menino engoliu em seco. “Um feitiço de cada vez, meu lorde.” Voldemort o fuzilou com os olhos. “Primeiro toma-se a cidade para depois tomar-se o estado e finalmente, o país. É melhor termos uma base sólida antes de construirmos uma relação com casas da luz.”

Não houve resposta.

“Estou fazendo o melhor que posso—”

O Lorde das Trevas o interrompeu: “O que claramente não é muito.”

Revan cerrou os dentes. “Dumbledore estendeu sua influência para toda Hogwarts, meu lorde. Em Slytherin temos Davis, grande pensadora, que apoia a luz por ter um pai originado de uma linhagem de abortos. Ela não vai apoiar nossa causa, por enquanto. Eu preciso de tempo.”

“Você não tem tempo.”

“Eu preciso de tempo” repetiu o herdeiro Black frisando as palavras. Ele se levantou da cadeira e pairou alguns centímetros no ar. Ele podia voar? Interessante. “Nunca faça as coisas com pressa. Você foi quem me disse essa frase, meu lorde.”

Voldemort deu um suspiro irritado. “Faça o que tiver que fazer” ele concedeu. O menino tinha razão. “Mas faça direito. Até o final desse ano eu quero todos dessa casa apoiando as trevas, entendido?”

Revan assentiu.

“E o seu patrono?” A pergunta pegou Revan de surpresa. Ele a processava quando o Lorde das Trevas continuou: “Quando você parou de reclamar, eu imaginei que tivesse alcançado o sucesso.”

Revan corou e encarou o próprio colo. Ele pensou na resposta ideal, uma em que ele não precisasse confessar que dementadores eram uma tarefa mais difícil do que oclumência. “Ainda tenho problemas com ele” ao ver o olhar do mentor, ele se corrigiu: “Muitos problemas.”

“Já tentou com um dementador de verdade?”

“Meu lorde, honestamente eu não...”

Tarde demais. Voldemort pensara em um dementador e lá estava ele, se aproximando de Revan, não Revan e sim Harry, o menininho assustado de oito anos atrás, ele queria o diário, queria se esconder debaixo da cama, não deveria estar ali, era errado...

“Faça” ordenou o Lorde das Trevas. “Você conhece o feitiço.”

Não, ele não conhecia. Ele tinha o conhecimento limitado de uma criança de cinco anos, e crianças de cinco anos não conheciam feitiços tão poderosos. Sue, John, James, Nick, Lily, Sirius...

“Expecto Patronum” instruiu Voldemort, caminhando até Revan e forçando-o a olhar para cima, para o dementador. “E uma lembrança feliz.”

O menino gaguejou as palavras, mas da sua varinha não saía nada. Ele as repetiu mais uma vez, com mais força. A criatura pareceu sentir a coragem e se aproximou, estendendo as garras para Revan.

Não... “NÃO!”

O herdeiro Black acordou em um pulo, coberto de suor e com um grito preso em sua garganta.

Não passava das seis da manhã quando ele se vestiu e fez uma expedição para os dormitórios do Professor Snape. Ele bateu na porta duas vezes e esperou; logo o mestre de poções abriu a porta, os cabelos sebosos mais sujos que o habitual e grandes olheiras. Ele vestia um robe negro que flutuava por trás dele quando Revan entrou na sala.

Uma poção estava sendo cozida, fumaça verde saía dela. Ingredientes estavam espalhados pela mesa, em todos os cantos da sala haviam livros, livros de todos os tipos, e fotografias de uma ruiva que Revan conhecia muito bem.

“Como posso te ajudar, senhor Black?” O tom de Snape era tão desgostoso que o menino pensou em se retirar de lá apenas para não fazer uma coisa mal feita.

A resposta perfeita surgiu em sua cabeça. “Eu preciso de um bicho papão, professor.”

Aquilo atraiu a atenção do mestre de poções. “Posso saber para que, senhor Black?”

“Revan” pediu o aluno, sorrindo para o professor. Seus tentáculos não deveriam se limitar apenas aos estudantes. “Me chame de Revan. Preciso de um bicho papão, porque eu espero que ele se torne um dementador. Você vê, estou tentando aprender como fazer um patrono.”

Snape deu o que parecia ser um sorriso. “Sente-se, Revan. Essa vai ser uma conversa longa.”

Depois de acomodados, o mestre de poções começou: “Melhor aprender a fazer um patrono sem a presença de um dementador. Pelo menos decida a memória feliz que pretende usar.”

O herdeiro Black pigarreou. “Eu não tenho memórias felizes, professor.”

“Nem mesmo uma?” insistiu Snape. Seus olhos brilhavam de uma maneira que mostravam que os pensamentos dele estavam longe daquela sala. Ele olhou um dos retratos de Lily Evans. “Brinquedo favorito, melhor aluno de Slytherin, sair em matérias de revista com Potter, nada? Nada disso é feliz o suficiente para você?”

Revan balançou a cabeça.

“Não pense nem por um instante que eu serei seu professor, Revan, só estou te dando algumas dicas. A propósito, venha comigo. Eu na verdade sei onde encontrar um bicho papão para vermos os efeitos dos dementadores em você.” Ele se levantou e saiu, as vestes flutuando atrás dele.

No armário da sala dos professores, algo chacoalhava. Revan desbloqueou a fechadura com um olhar e, antes que pudesse piscar, um grande dementador se aproximava.

“Lembranças estão no passado, Revan” falou o mestre de poções. “Elas não podem te machucar.”

Ele estava certo. Um bicho papão não era tão poderoso, e certamente, um feitiço mais simples funcionaria com ele.

Alguém abriu a porta.

Ambos professor e aluno se viraram, surpresos. O intruso era Lupin, que pretendia checar se estava tudo bem com o bicho papão antes da classe dos Slytherins. O velho professor sorriu para eles. “Roubando minha aula, Severus?”

“Apenas respondendo a dúvida de um aluno, Lupin” cuspiu Snape.

O lobisomem sorriu novamente. “E se essa dúvida envolve um bicho papão, a pergunta será encaminhada para mim.”

Revan revirou os olhos. Snape, percebendo que não podia mais lutar contra uma pessoa tão próxima de uma celebridade, suspirou e saiu da sala.

Lupin se virou para Revan. “Você se sentiu melhor depois do chocolate?” perguntou gentilmente, trancando o bicho papão no armário.

“Sim, professor” respondeu o menino. “Mas eles me afetam mais do que deveriam, certo?”

O lobisomem inclinou a cabeça, concordando. De fato, assim como no jovem Nicholas Potter, seu sobrinho. “Não fique ansioso” pediu, levando-o até a saída. “Em algumas horas aprenderemos como nos defender de um bicho papão. Aproveite essa bela manhã para se divertir com os seus amigos.”

“Perderei pontos para Slytherin?” sussurrou o herdeiro Black. Ele não havia pensado nisso antes.

Lupin balançou a cabeça. “Por ser curioso? Não. Agora, vá tomar café da manhã. Nos vemos daqui a pouco.”

_

A classe pulava com excitação quando a hora de enfrentarem um bicho papão finalmente chegou. Todos já tinham tido um bicho papão em casa, mas era sempre um adulto o escolhido para lidar com a situação. Agora era a vez deles mostrarem para os colegas que eram os melhores da turma.

Lupin piscou discretamente para Revan quando o viu na frente de fila de estudantes ansiosos, conversando animadamente com Goyle, que mais grunhia do que falava. O que quer que estavam conversando, pararam ao ver o professor.

“Bom, vamos lá” sorriu Lupin, indicando o caminho. “Para a sala dos professores. Tenho que dizer, vocês estão com sorte. Tivemos um intervalo entre as aulas e o bicho papão está, bem, com fome. É bem mais emocionante assim, não acha, senhor Malfoy?”

Draco pulou em seu lugar onde conversava com Pansy e o olhar de Lupin dizia que ele sabia exatamente o que estava acontecendo entre eles. A classe riu ao ver o loiro fazer uma cara de nojo da cara de pug de Pansy quando ela não estava mais olhando. Sem mais interrupções, eles seguiram para a sala dos professores.

Snape tomava chá quando entravam. “Severus” cumprimentou Lupin. Seu sorriso parecia estar congelado na cara. “Temo que vou ter que pedir licença outra vez.”

“E eu temo que eu vá interromper sua aula, lobo.” Snape indicou a situação caótica que estava a sala. “Depois do que aconteceu com os estudantes de Gryffindor, eu prefiro ficar aqui para supervisionar tudo.”

Susan Bones cutucou o professor. “O que aconteceu com os estudantes de Gryffindor, professor Lupin?”

O mestre de poções respondeu para ela: “Nosso lobisomem favorito teve a ideia de Nicholas Potter enfrentar seu maior medo na frente de todos. Acontece que o medo dele é bem... aterrorizante para outras pessoas.” A sala o encarou, exigindo uma explicação. “Ele viu um dementador que se transformou em um jovem bruxo das trevas carregando o esqueleto de um bebê nos braços. O bebê de alguma forma lançou uma maldição da morte que voou na direção de Potter.”

“Potter tem medo de um bebê!” exclamou Draco para todos ouvirem. “De um bebê!” Alguns alunos riram educadamente.

Lupin se enfureceu com isso. “Que tal vermos do que você tem medo, senhor Malfoy? Do próprio senhor Potter, talvez.” A classe começou a imitar a arrogância de Nicholas Potter de um modo que eles pensavam ser assustador. “E cada pessoa que zombar o medo de outro estudante terá que enfrentar o bicho papão duas vezes.”

O lobisomem deu instruções para todos de como pronunciar o feitiço corretamente. Riddikulus, repetiu a sala obediente, tentando espiar o que havia dentro do armário.

“Uma lembrança engraçada” concluiu o professor Lupin. “Quem quer ir primeiro?”

Metade das mãos foram levantadas. Os olhos amarelos do professor pararam em uma mão que deslizava pelo cabelo loiro. “Ah, senhor Malfoy.” Draco pulou no lugar. “Se prepare. Eu vou contar até três—

“Não!” ele protestou. “Eu não levantei a mão.”

“Mas eu te escolhi” retrucou Lupin. Ele apontou para a porta do armário e relutantemente Draco caminhou até lá, com a frase ‘eu vou contar para o meu pai’ na ponta da língua. “Um, dois, três!”

A classe deu um passo para trás. As portas do armário se abriram com um estrondo, e de dentro dele saiu uma versão idosa de Draco, com cabelos e barbas desarrumados, roupas rasgadas e uma carta de demissão na mão. Ele tirou uma garrafa do bolso e a tomou de uma vez. Em seguida, deitou-se em um papelão e caiu no sono na frente de todos.

“Como posso deixar essa cena engraçada?” ele reclamou, sua voz se afinando. Ele apontou para a figura que roncava. “Não tem nada de engraçado aqui.”

Lupin não fez nenhum movimento para ajudar o estudante. Revan estreitou os olhos e caminhou para a frente. Em sua voz mais baixa, ele sussurrou algo para Draco, que começou a dizer que não, mas finalmente suspirou e fez que sim com a cabeça. Satisfeito, o herdeiro Black voltou para o seu lugar.

“Riddikulus!”

Velho Draco acordou e sua barba cresceu até atingir seus pés. “Merlin!” ele berrou, pegando outra garrafa. “Eu sou Merlin!”

Alguns alunos conseguiram rir o suficiente para fazer o bicho papão voltar para o armário, mas Draco ainda parecia um tanto assustado quanto a perspectiva de se tornar alguém pobre e sem sucesso. Os estudantes fizeram uma fila indiana e, um por um, se aproximaram do armário.

O bicho papão de Goyle se transformou em um banshee berrante que fez com que todos na sala tapassem os ouvidos. O Slytherin conseguiu ser esperto pelo menos uma vez na vida. Se lembrando da voz da mãe, ele fez com que a criatura começasse a cantar ópera em uma voz extremamente desafinada.

O de Crabbe acabou por se transformar em um monstruoso troll que tropeçou nos próprios pés e caiu, o bastão entrando em seu peito. Lupin não aprovou o humor negro do menino, mas deixou passar. A sala riu, apesar de tudo.

Susan Bones foi a próxima. O bicho papão tomou a forma de sua tia, Amelia Bones, morta no chão. Ela encarou a cena horrorizada, respirou fundo e fechou os olhos, pensando. Finalmente, ela proferiu Riddikulus, e sua tia se levantou, colocando as mãos na cabeça e gritando desesperada: “Não posso morrer ainda, tenho arquivos para examinar!”

Hannah Abott não era uma grande fã de aranhas, aparentemente. Quando uma tarântula do tamanho de um caldeirão se aproximou dela, ela parecia prestes a desmaiar. Pelo menos teve tempo o suficiente para criar a cena de uma aranha enrolada na teia ao redor dela, se debatendo para sair e só ficando mais presa ainda, desse modo, longe de Hannah.

Nott viu o pai lançando uma maldição para ele. Antes que o feitiço o atingisse, o jato de luz voou para todas as direções na forma de fogos de artifício multicoloridos que contavam as mais famosas piadas bruxas.

Megan Jones fez com que sua cobra engolisse o próprio rabo. Leanne Moon fez com que um meteoro que vinha até ela quicasse no chão como uma bola de futebol. Ernie McMillan fez com que ele mesmo caindo da vassoura criasse asas cor de rosa.

Daphne Greengrass fez uma careta, mas sua vez chegou e ela não teve escolha senão dar um passo para a frente. O bicho papão tomou a forma de sua irmãzinha Astoria, amarrada a um poste e com um pano na boca. Ela se debatia, tentando falar alguma coisa. Ao seu lado, o que Revan assumiu serem o pai e mãe de Daphne jaziam mortos.

“Riddikulus!” ela berrou, sua voz mais fria do que nunca. Os corpos e a menininha viraram balões que flutuaram para o ar e explodiram com um suave pop.

Blaise, inspirado por Susan, fez com que seu quinto padrasto se levantasse do túmulo, proferindo: “Agora eu pego aquela velha desgraçada!”

Antes que Revan percebesse, era a vez dele. O herdeiro Black engoliu em seco. O bicho papão tomou a forma de um dementador que, conforme se aproximava, se modificou até que se parecesse com um menininho moreno que Revan conhecia muito bem.

A classe soltou um “aw” geral. O menininho era adorável. Pequeno Harry, no entanto, se sentou em posição fetal e começou a chorar. “Não me deixe aqui” ele implorou, olhando diretamente para Revan. “Por favor. Eu vou ser bonzinho.”

Oh, Harry, pensou o menino, inconscientemente dando um passo na direção da imagem. Não chore, ele queria dizer. Eu não posso abandonar a mim mesmo. “Riddikulus!” O menino deu um sorriso para ele, acenou como despedida e entrou dentro do armário.

E agora era Harry quem abandonava Revan.

“Revan” chamou Draco. “Você pode ir para trás agora.”

“É” concordou Nott. “E depois você vai compartilhar por que você tem medo de abandonar seu irmão. Eu nem sabia que você tinha irmão!”

O herdeiro Black murmurou alguma coisa e se sentou em seu devido lugar. O resto da aula passou como um borrão para ele. Os medos de Tracey, Pansy e Millicent foram anotados em algum lugar de sua cabeça. Ele não se importou com os Hufflepuffs. Susan Bones temia a morte de sua tia, e os Bones eram uma família influente o suficiente.

Quando os alunos foram dispensados com a tarefa de casa de pesquisar sobre Patronos, Lupin pediu para Revan ficar.

“Professor.”

“Revan. Eu esperava ver um dementador.”

O menino deu de ombros. “Era um dementador. Ele assumiu a forma de uma criança porque eu odeio crianças.”

“Você já foi uma criança” apontou Lupin, lhe dando um leve sorriso. Ele sentia falta da sua infância sem a mancha da licantropia.

“Muito tempo atrás” ele pausou e criou uma mentira rápida. “Crianças me lembram de quando minha mãe morreu.”

O lobisomem assentiu. Aquilo fazia sentido. Ada havia morrido muito tempo atrás.

“Posso ir?” pediu Revan.

Lupin franziu a testa. “Tanta ansiedade hoje de manhã e você mal pode esperar para sair da sala” comentou, assistindo a reação do estudante. “Me pergunto por quê.”

“Sabe como é” sorriu o herdeiro Black. “É hora do almoço, estou com fome e tenho sua redação para fazer.” Virando as costas, ele saiu e fechou a porta, esperando nunca mais ter que ver o dementador de sua infância novamente.

_

É claro, ele esperou, e torceu muito para que aquela fosse a única aula prática que Lupin daria para eles. Mas desde quando o destino estava a favor dele? Na próxima aula, depois de entregarem as redações, os alunos foram informados que aprenderiam a fazer um patrono, ou pelo menos a essência de um para poderem se proteger contra os dementadores que rondavam a escola.

Para isso, eles foram levados até a extremidade de Hogwarts, onde eles começavam a sentir o desconforto gerado pelas criaturas. Revan desejou que ele tivesse trazido uma jaqueta. Era setembro, mas estava frio.

“A teoria de um patrono só deveria ser ensinada no sétimo ano” disse Susan Bones, tremendo. “Porque envolve criaturas de perigo nível XXXXX.”

Atrás de Revan, Draco bufou. “Como se não conseguíssemos passar por eles. Meu pai...”

O herdeiro Black e Theo compartilharam um olhar. O professor, ignorando a conversa paralela, lançou seu patrono, um grande lobo branco que cercou o dementador, afastando-o dos estudantes. Lupin fazia parecer que criar um patrono era moleza.

Hannah Abbot se adiantou. “Quanto tempo até aprendermos a fazer um desses?”

“Toda a sua vida, srta. Abbot.” O lobisomem sorriu ao ver o desânimo da classe ao ouvir aquilo. “Aqui só vou ensinar o princípio. Alguém pode me dizer o feitiço, sr. Black, talvez?”

Educadamente Revan deu a resposta certa, ganhando cinco pontos para Slytherin e uma piscada de olho de Lupin que o irritou profundamente.

“Hoje vamos nos focar no principal, crianças. E o que é o principal?”

Blaise levantou a mão e respondeu: “Uma memória feliz.”

“Não qualquer memória feliz, senhor Zabini” o professor o corrigiu. “E sim a memória mais feliz que você tiver. É isso que eu quero que vocês façam. Sozinhos ou em grupos, pensem em seus passados e tentem descobrir qual coisa fez aquele dia o mais especial de todos.”

Os Hufflepuffs fizeram todos uma grande roda, mas no caso dos Slytherins, os grupinhos começaram a se formar. Ainda não confortável em compartilhar suas memórias com ninguém, Revan se encostou em uma árvore sozinho. Ao redor dele, Crabble o Goyle se sentaram próximos de Draco. Theo também preferiu a solidão, enquanto Blaise formou um trio com Daphne e Tracey. Pansy e Millicent fecharam o grupo de Slytherins.

Não importava para onde o herdeiro Black olhasse, ele podia sentir os olhos do professor queimando contra sua pele. Lupin discretamente o vigiava, dando exemplos de memórias felizes para os estudantes, como a primeira vez em que segurou seu afilhado. Os texugos pareceram maravilhados com a história que convenientemente deixou de fora Harry Potter.

A pena na mão de Revan apenas rabiscava o pergaminho. Ele não sabia o que considerar uma memória feliz. O que era felicidade, no final das contas? O que, em toda a sua vida, havia sido feito por amor e não apenas por dever? A felicidade parecia ser apenas a ausência da tristeza, e Revan não conseguia se lembrar de nem um único dia em sua vida em que a memória sombria dos pais não havia cruzado a sua mente, ou que suas noites não fossem preenchidas com pesadelos.

Ele grunhiu e fincou a pena com força no pergaminho. O que o fazia feliz, o que o fazia derrubar a máscara fria que carregava para todos os lados... Nagini, Regulus, Voldemort, Hogwarts, de certo modo... O encontro com cada um deles afastava a solidão do coração do menino, mas como podia Voldemort, as trevas em pessoa, trazer luz para Revan?

A mansão Black, sua nova casa. Theo, conversando com ele no dia seguinte à grande revelação de sua identidade de Nemesis. Regulus e ele, rindo juntos no último verão, compartilhando uma cerveja amanteigada como comemoração ao retorno do grande Lorde Voldemort.

Lupin disse algo para eles e a classe se levantou, pegando suas coisas e voltando para o castelo. A maioria deles conversava animadamente sobre o que consideravam ser a lembrança mais feliz de suas vidas. Dentro de Revan, a inveja ardia.

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“Um patrono?” riu Voldemort, se sentando em sua cadeira flutuante nos sonhos que aprendera a compartilhar com o herdeiro Black. “Que ironia!”

“Ainda acho que você tem algo a ver com isso” reclamou Revan, rabugento, criando sua própria cadeira. “Bones está certa. Não deveríamos aprender algo tão complexo.”

O bruxo das trevas levantou uma sobrancelha negra para o menino. “E desde quando algo complexo te impediu?”

“Mais do que complexo” frisou ele. “Impossível. Eu simplesmente não tenho recursos para criar um patrono.”

“Ninguém está te pedindo para criar um patrono. O lobo só quer uma memória feliz.”

“Esse é o ponto!” exclamou Revan. Um trovão soou em algum lugar do sonho. Ele cruzou os braços, não deixando de se sentir como uma criança ao realizar o ato, mas incapaz de se impedir.

Voldemort franziu a testa. “Sinto que não estamos indo a lugar algum com essa conversa.”

Oh, sério mesmo? Nem parece que estamos discutindo a mesma coisa desde julho.

“Não há nenhum comensal naquele circo que temos em casa que possa me ajudar?” pediu o menino com a voz baixa. Eles deveriam estar hospedando pelo menos cinquenta pessoas lá. Certamente alguma...

A resposta que chegou cortou suas esperanças pela raiz. “Não. Se comensais conseguissem criar patronos, nosso trabalho em Azkaban teria sido bem mais fácil.”

“Ninguém?”

“Nem uma única alma naquela casa” frisou ele. “Nem mesmo eu.”

Os olhos de Revan se arregalaram. “Você!?” Ele não podia acreditar. Inquieto, ele se remexeu na cadeira. “Mas você pode tudo!”

O Lorde das Trevas suspirou. “Eu não tenho nenhuma lembrança puramente feliz, garoto. O que me moveu durante os primeiros onze anos da minha vida foi a necessidade de sobreviver. Depois disso, foi a vingança. Desespero não se mistura com felicidade” ele parou para pensar. “Você sabe qual é a lembrança feliz de Severus?”

“Lily” respondeu Revan imediatamente. “Só pode ser.”

Seu mestre assentiu. “O simples fato de estar perto de Lily Potter fazia Severus a pessoa mais feliz desse mundo. Ele não queria nada, apenas ficar perto dela.”

Amor platônico? Definitivamente não era a praia do herdeiro Black. “O que está dizendo? Que eu deveria me apaixonar por alguém?”

“Merlin nos ajude se isso acontecer” riu Voldemort. Ao redor dele, o sonho começou a desmoronar. “Não. Estou dizendo que a pessoa mais próxima de nós que pode te ajudar é Severus. Deixe o orgulho de lado e peça ajuda. E Revan?”

O menino levantou uma sobrancelha.

“Tome cuidado.”

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“Que memória você usa?” perguntou Revan para Theo quando se encontraram na manhã depois do sonho. Ele se serviu de panquecas com caldo e uma porção de frutas.

Draco, sentado ao lado de Theo, riu. “Ainda não conseguiu uma?” ele estufou o peito. “Eu arrumei a minha logo no primeiro dia.”

Blaise se virou em defesa de Revan. “E funcionou?” A velocidade que Draco corou deu a resposta para ele. “Foi o que eu pensei.”

“Como se você tivesse uma lembrança melhor.”

“Na verdade, eu tenho” replicou o menino. “Meu primeiro padrasto se mudando para a nossa casa.”

O loiro bufou, como se aquilo não fosse nada, mas Revan sabia melhor: O pai de Blaise quando bebia adorava atingir senhora Zabini. Um dia, ela reagiu, e misturou em seu Whisky cianeto, substância não detectável por magia. O primeiro padrasto de Blaise foi uma rajada de ar fresco. Pena que senhora Zabini ficou paranoica quanto aos seus parceiros, matando-o oito meses depois com o que todos chamavam de “acidente de trabalho”.

“Dinheiro não traz felicidade, Draco” disse Tracey do outro lado da mesa. Ela estendeu a mão para pegar suco de abóbora e revirou os olhos quando Draco revirou os olhos ao ouvir a frase.

“Eu discordo” para provar seu ponto, ele indicou os copos de cristal e os talheres em ouro que usavam.

“Se você é rico e feliz, Draco, deveria ter feito um patrono na aula passada” comentou Revan com o humor negro. Que Merlin o ouvisse e não deixasse Draco criar um patrono antes dele.

O loiro voltou a corar. “Mas ninguém conseguiu! Lupin disse que teríamos que esperar vários anos até criarmos um...”

Daphne o encarou com seus frios olhos azuis. “É melhor conseguirmos antes dos Gryffindors.”

Aquilo não ajudou o humor de Revan.

Na semana seguinte, quando Slytherins e Hufflepuffs se reuniram para treinar a criação do patrono, o herdeiro Black ainda rangia os dentes de raiva. Volta e meia ele se aproximava das extremidades de Hogwarts, checando sua resistência contra dementadores e tentando com todas as suas forças criar um patrono forte o suficiente para afastar as criaturas.

Voldemort ainda não parecia tê-lo perdoado pelo fiasco de Azkaban. Os comensais, de acordo com ele, não o respeitavam e continuavam caçoando Revan, chamando-o de pequeno lorde, aquele com pouco talento, pouca coragem e pouca capacidade. Regulus tinha tomado o posto de segundo em comando, treinando os comensais dispostos e se livrando daqueles que não podiam ser ajudados.

Quando seu lorde não aparecia em seus sonhos mágicos, Revan sonhava com sua infância. Lily ainda não colocava os olhos verdes nele, preferindo das toda a sua atenção para o pequeno Nick. James, quando conseguia sair do trabalho, tinha coisas para fazer em casa. Padfoot parecia esquecer que Revan era o seu afilhado, ou ficando com mulheres que conhecia ou treinando Nick, indo e voltando em sua forma animaga apenas para fazê-lo rir.

Moony era, bom, Moony. Ele perdia uma semana por mês se recuperando dos ferimentos que causava a si mesmo quando Prongs e Padfoot não estavam lá para impedi-lo. Na semana de lua nova o lobo dava depoimentos para os jornais bruxos sobre seus sentimentos em relação à licantropia. Ele só comparecia aos encontros da família quando era necessário.

Agora, o mesmo Moony que tomava conta do pequeno Harry sempre que podia, preferia ensinar Nick e olhar para Revan como se ele fosse um rato de laboratório. Não se passava um dia sem que o menino encontrasse os olhos amarelos do professor o encarando.

“Tudo bem, classe, fizeram o dever de casa?”

A classe fez que sim com a cabeça.

“E já testaram contra um dementador?” A atenção de todos foi para um baú que Lupin havia trazido para a classe. Ao seu lado, Nicholas Potter estava de pé, lançando sorrisos charmosos para todos. “É claro que não podemos usar um dementador, mas e um bicho papão? Sr. Potter será nossa cobaia.”

Os Slytherins trocaram sorrisos entre si. Ah, como eles queriam que aquela fosse uma situação diferente onde o menino que sobreviveu fosse submetido a várias maldições escolhidas por eles...

“Senhor Potter teme dementadores” explicou Lupin. “Os efeitos do bicho papão não serão tão fortes, apenas o suficiente para treinarem. Afastem as carteiras e se acomodem atrás dessa linha.” Ele indicou uma linha branca que marcava o limite que deixava Nicholas Potter sendo a vítima do bicho papão. Os alunos o obedeceram.

3, 2, 1... O bicho papão saiu do baú, instantaneamente se transformando em um dementador. A classe deu um passo para trás. Revan deu dois, sentindo os efeitos da criatura. Seu coração começou a bater mais rápido, sua respiração se acelerou, mas o oxigênio não parecia vir.

“Expecto Patronum!” gritaram os estudantes, apontando a varinha para o monstro. Nicholas se uniu a eles. O herdeiro Black fez uma tentativa, mas nada saiu da sua varinha. Ele não deveria estender os braços daquele jeito, estava frio demais...

Alguém o cutucou. “Revan?” Tracey balançou sua mão na frente dele. “Está tudo bem?”

Não.

“Revan!” sussurrou Theo se aproximando. “O que está acontecendo? Quer que eu chame o professor?”

“Não” o herdeiro Black sibilou para eles. Ele iria conseguir. Ele tinha que conseguir. “Expecto Patronum! Expecto...”

Voldemort, Regulus, Theo, Blaise, a mansão, os comensais, Nagini...

Subitamente o frio se foi. Nicholas Potter tinha dado um passo para trás, e naquele momento ele parecia mais pálido do que nunca. Ele retirou o suor da testa e se jogou em uma cadeira para descansar.

“Isso mesmo. Vocês foram muito bem, classe.” Ele fez com que a lua cheia desaparecesse. “Para a próxima aula, eu quero que vocês escrevam por que a lembrança escolhida é a correta. Isso esclarecerá que você deve procurar uma nova. Dispensados. Senhor Black, se você puder ficar mais um instante...”

Theo sussurrou que todos iriam esperar por ele do lado de fora e que se ele não saísse da sala de aula em dez minutos, eles iriam entrar para ver o que estava errado. Revan concordou com ele e se afastou, disposto a ouvir o que o professor queria para sair de lá o mais rápido possível.

“Quer um chocolate?” ofereceu Lupin.

O herdeiro Black fez que não com a cabeça.

“Eu vi como você se sentiu. Não é normal, Revan. Um bicho papão mal tem poderes.”

Ele cerrou os dentes. “Eu sinto muito, professor.”

“Não estou pedindo para você se desculpar” o lobisomem se apressou a dizer. “Quero te oferecer aulas extras para descobrir o que está errado, para que você possa treinar junto com o restante da turma.”

Não há nada de errado comigo, Revan queria dizer, mas ele se viu assentindo. Aquela era uma boa oportunidade para descobrir mais sobre a Ordem e o lado da luz. “Eu aprecio isso, professor.”

Lupin sorriu. “Ótimo! Nos vemos amanhã a noite, aqui, às seis.”

Revan retribuiu o sorriso e se afastou. Ele precisava ficar longe daquele bicho papão.

_

No meio da noite, quando Remus já estava tendo seu quarto ou quinto sonho, algo o acordou. Ele respirou profundamente para tentar descobrir o que era. Uma ave. Uma coruja?

Grunhindo, ele se levantou e foi até a janela. Uma coruja negra (porque Revan não era estúpido o suficiente para usar Eyphah) batia o bico insistentemente contra o vidro. Ela carregava algo amarrado na pata e estendeu o embrulho para Lupin.

Não pesava nada, era simplesmente papel. Ainda com a visão prejudicada pelo sono, o lobisomem fez com que luz iluminasse o quarto e tirou o envelope do embrulho, tentando ler o que estava escrito nele.

Antes de ler as palavras, ele reconheceu o papel. Como não poderia? O responsável por tudo aquilo... A outra metade do cartão de Agrippa descansava em sua mão depois de todos aqueles anos. Lupin começou a tremer. Harry estava morto, Dumbledore tinha certeza disso. Todos os rastreadores ao redor do garoto tinham desaparecido muito tempo atrás.

Finalmente, sua visão se adequou à luz e Lupin precisou se sentar depois de ler as palavras.

É difícil esquecer o que você fez comigo. Lembra de mim, Moony?


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Notas finais do capítulo

Capítulo grande, com conteúdo e um final inesperado. Quem gostou comenta!

O que eu queria dizer é que agora Revan começa a usar a tortura psicológica ao invés da física (não que isso diminua a tortura em geral :P ) por se tratar de algo mais discreto e que fere igualmente. Ele já fez isso antes, perceberam? Nos pesadelos de Nicholas e quando usa sua personalidade Nemesis.

Comentem, por favor. Iluminem meu coração com suas palavras... Ok, não colou. Mas sério, deixem suas opiniões e o que esperam desse terceiro ano.

—Lady Slytherin (que vai mudar o nome assim que possível).