Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 23
Lumos


Notas iniciais do capítulo

Okay, sweeties, eu estou de volta :)

Obrigada pelos reviews e recomendações. Informações sobre minha nova história estarão nas notas finais.

Deixo com vocês um capítulo que eu considero muito especial. Modéstia a parte, gostei muito do meu próprio estilo de escrita (também, levei tipo 3 semanas para escrever esse capítulo). Espero que vocês gostem dele tanto quanto eu.



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CAPÍTULO 23

LUMOS

“Isso não poderia ter acontecido.”

Nicholas olhou para o pai, que caminhava sem parar ao redor da sala que Dumbledore havia reservado para eles naquele dia. O ruivo tinha acabado de acordar, no meio da noite, com gritos. Sempre alguém gritava. Dessa vez foi por uma boa razão, pelo menos, não por uma simples cobra encontrada nos jardins ou uma sombra particularmente grande. Mesmo assim, ele queria estar dormindo, sonhando com... coisas boas.

“Papai, eu juro que não fiz nada.”

“Sabemos que você não fez nada, bebê” Lily sorriu para ele, mas Nicholas franziu a testa. Ele odiava quando a mãe o chamava de bebê; o fazia sentir como se tivesse cinco anos novamente. “Você é uma criança exemplar.”

Sirius latiu uma risada para aquilo e voltou sua atenção para os papéis na sua frente. Ele estava cruzando os dados da última vez que a Câmara Secreta havia sido aberta para ver se conseguia alguma coisa em comum. Coma? Não. O menino encontrado iria morrer, com certeza, mas a imprensa não precisava saber disso naquele momento. Talvez eles ainda achassem a cura.

“Por que me chamaram?”

Dumbledore entrou na sala em vestes rosa chiclete. Sua barba estava trançada até a cintura, seu cabelo rebelde. Ele também havia sido retirado da cama. “Boa noite, Lily, James, Sirius, Remus, Nick.”

O lobisomem olhou para ele, deu um fraco sorriso e se uniu a Sirius.

Vendo o cansaço de todos, o velho bruxo se adiantou: “Nicholas, como celebridade você precisa estar por dentro de tudo. Se a notícia do garoto Flint vazar, ou melhor, quando vazar, depois dos professores os jornalistas vão se virar para você. Precisamos de uma resposta pronta que acalme a população e não faça com que percamos parte dos nossos estudantes.”

“Ok” o ruivo deu de ombros. “O que mais?”

Todos se sentaram em uma mesa circular para ficarem face a face. “Como criança exemplar, você deve ter notado alguma coisa. Quem pode ter aberto a Câmara Secreta?”

Sirius pulou em seu assento. “Slytherins!”

“Sirius, quieto” disse Remus, sem paciência com o amigo. “Há alguém em especial, Nick?”

Ele pensou no assunto. “Draco Malfoy não tem nada a perder. Revan Black foi quem conjurou aquela maldita cobra...”

“Não” interrompeu Lily. “A vítima é Slytherin. Podemos descartar a casa de Severus. Ravenclaw, talvez?”

Ravenclaw? James começou a rir sem se preocupar com o barulho. Coisas estúpidas como essa faziam da vida um lugar tolerável. Vendo os olhares que estava recebendo, o moreno explicou, passando uma mão em seus cabelos: “O monstro é de Slytherin, flor. Ravenclaw nenhum conseguiria abrir a Câmara.”

“Mas não há Câmara Secreta. É uma lenda.”

Remus parou de olhar a papelada e colocou uma mão no ombro do menino. “Toda a realidade vem de lendas. Há quatro mil anos atrás a ideia de que um graveto pontudo pudesse ampliar nossa magia era absurda. Hoje somos dependentes de varinhas. Você é um bruxo, Nick, lendas são verdadeiras.”

“Mas...”

“Uma garota morreu da última vez que a Câmara foi aberta. Encontramos a pobrezinha no banheiro, tinha apenas treze anos, Ravenclaw” Dumbledore enxugou uma lágrima que escapava pelo olho.

Eles ficaram em silêncio. Ninguém ousava falar, para não perturbar os pensamentos dos outros, mas a verdade é que ninguém pensava nada de especial. Era um ciclo que só foi quebrado por Remus, quando o lobisomem desabotoou as vestes de Nicholas para encontrar uma cicatriz em seu ombro, quase invisível.

“O que?”

“É um raio” apontou Moony. “A que originou essa” ele indicou a cicatriz que cobria as costas do ruivo, fechada por uma fina camada de pele e incontáveis poções. 

“Nemesis? James, você acha que...”

“Lily, o pequeno psicopata não tinha como saber e por que saberia?” o moreno fez um som de desdém. “Lascas de madeira de um brinquedo, só isso.”

A ruiva ficou em silêncio porque não queria contrariar o marido. Ela já havia perdido demais na história. Sua irmã, melhor amigo, filho mais velho, e o que ela ganhara de volta? Fama amarga, que enxia o coração do filho de alegria (ou aquilo era arrogância?) e a fazia querer se recuar para dentro de casa e chamar por Sev e Tuny.

Lily fechou os olhos e tentou se lembrar de Harry. Fazia muito tempo desde a última vez que haviam estado juntos. Em sete anos coisas mudaram radicalmente. A pequena face morena do filho, que quando recém nascido ocupava seus pensamentos dia e noite, enquanto dormia ou acordava, se tornara nada mais do que uma figura desfocada. Também não era assim. Ela conseguiria se lembrar, com certeza. Sua visão sempre havia sido excelente. Um mini James, com olhos verdes que se assemelhavam ao caule de uma planta bela como o lírio. Óculos, também. Cabelo negro. Olheiras.

“Temos alguma foto de Harry?” ela perguntou sem se importar muito com a resposta. Lily iria conseguir se lembrar por que Harry aparecera tão de repente em seus pensamentos. James balançou a cabeça. “Moony, você tem alguma?”

Lupin adquiriu uma feição culpada. “Eu as queimei.”

Ela não se incomodou a perguntar para Sirius. Seus longos dedos deslizaram suavemente pela cicatriz do filho. Ela queria cobrir aquela superfície de beijos, mas não agora, não na frente de todos. Seu pequeno Nick iria ficar embaraçado demais com aquilo. Inconscientemente ela traçou a cicatriz que significava tudo o que haviam construído. Aquela mordida com rastros da maldição da morte deveria ter aumentado conforme o tempo passava, mas permanecera intocada, com os exatos 3,2 centímetros de distância entre as presas.

“Por que você queimaria as fotos de um menino que você clamava amar?” Aquela era a voz de Dumbledore.

“Para me desapegar. Funcionou.”

Quando Harry fora deixado no orfanato Woodsmith, naquela noite fria de novembro, a explicação dada para aqueles que perguntaram foi que Harry estava passando algum tempo com amigos da família no País de Gales. A mentira durou alguns meses, quando a curiosidade foi demais e os jornalistas voltaram a se questionar sobre o paradeiro do menino esquio que raramente aparecia nas fotos, mas sempre estava lá. Viajando, responderam os Potter, com amiguinhos trouxas de Godrics Hollow.

As mentiras fluíam da boca da família como água fluía de um córrego. Depois da viagem, Harry decidiu passar algum tempo na França, estudar os costumes e evitar inveja do irmão. Ficara lá por um ano, depois voltara para casa, mas um Scrofungulo o impediu de sair de casa. Quando melhorou, era hora de ficar com a família longe das câmeras. Então, uma escolinha bruxa na Austrália, para melhorar sua dependência em relação aos pais. Ficou lá até os nove.

O irmão do menino que sobreviveu foi sendo colocado em um lugar cada vez mais fundo na mente dos jornalistas, até um ponto em que a profundidade era tamanha que as memórias não mais alcançavam a informação. Afinal, do que adiantava o irmão de uma pessoa famosa quando se tinha a própria celebridade disponível, sorrindo e dando entrevistas?

Não passou pela cabeça de nenhum deles se preocupar quando o nome de Harry não apareceu na lista de alunos de Hogwarts do ano de 1991. Bonito como costumava ser (orgulhosa, Lily criou uma imagem de como o filho se pareceria aos onze anos), e com a inocência de um Obliviate bem colocado, os pais não iriam resistir. James esperava que ele fosse para um lar autoritário de modo que nunca colocasse a vida de mais ninguém em risco, mas Lily preferia algum lugar onde Harry desaparecesse do mundo.

Não que Lily não gostasse de Harry.

O problema não era com Lily ou qualquer um naquela sala, que voltara para um pesado silêncio. Todos eles haviam aceitado a decisão. Harry era a apenas o segredinho sujo de todos eles, aquele segredo que ninguém ousa nem pensar a respeito para não se constranger. A parte mais amarga de Lily, a que sentia falta do marido em casa e da atenção do filho, se perguntava por que Harry até mesmo nascera. Ele não era um personagem importante na história dos Potter. A ausência dele até agora não havia causado nenhum problema.

“Até agora...” ela repetiu para si mesma.

Os outros levantaram a cabeça ao ouvir sua voz. “O que até agora?”

“Harry.”

James corou como se a esposa tivesse acabado de falar algo terrível. Ao seu lado, Sirius lançou um olhar incrédulo para ela que parecia dizer “não vamos conversar sobre isso” e Remus enrijeceu no lugar onde estava. Nicholas não entendia aquelas emoções que pareciam correr entre os adultos. Harry era seu irmão. Só isso.

Não devo falar de Harry.

Aquela era a primeira regra da casa, desde quando Nicholas se entendia por gente, e como quem cresce sob uma determinada regra, ele a obedecia sem questionar, do mesmo jeito que você sabia que matar ou machucar era errado e que não deveria fazer isso.

Não devo falar de Harry. Eu não tenho irmãos.

A segunda regra era cruel, mas novamente, era obedecida desde a infância. As palavras ainda viviam nas memórias de Nicholas, no espaço reservado para seu irmão, enterrado junto com uma grande porção de inveja e raiva. O ruivo não se arrependia daqueles sentimentos , eram naturais para ele.

Harry foi estudar na Austrália porque gostava demais do papai e da mamãe e precisava se virar sozinho. Ele está feliz, fez novos amigos e não quer voltar tão cedo. Vou sentir saudades do meu irmão. Eu amo Harry e sempre vou amar.

Aos cinco anos de idade ele não tinha ideia o que algumas daquelas palavras significavam, mas Nicholas era esperto o suficiente para sorrir e repetir aquilo na frente de todos que perguntavam. Atuar era uma arte na qual ele tinha talento, pensou ele orgulhoso, ao se lembrar de como atuava bem na mais tenra idade.

“Por que está pensando nele, mamãe?” Nicholas perguntou com um tom de desdém. Havia coisas mais importantes a serem discutidas. Se seu irmão não estivesse morto, estava longe dele, que era o que importava.  

Lily deu de ombros. “O raio. Harry sabia do raio. Ele dizia que era uma marca idêntica que ele e Nick carregavam como gêmeos.”

James tentou se lembrar. Harry tinha alguma marca de raio no corpo? Era difícil distinguir uma verdadeira marca dos machucados que o moreno conseguia constantemente de quedas e magias acidentais. Padfoot nunca era cuidadoso com suas patas ao redor dos gêmeos, de qualquer maneira. Prongs até conseguia se recordar de uma ocasião ou duas onde Nick tinha levado unhadas não intencionais em alguma parte do corpo. Por que não Harry?

Mas...

“Não vejo onde essa conversa quer chegar” constatou James cruzando os braços. Ele teria que visitar a França na manhã do dia seguinte e não estava ali para besteiras. “Se há algo que queira falar, Lily, fale agora.”

Foi Remus quem conectou os pontos: “Essa cicatriz é antiga. Quem quer que seja Nemesis, é alguém que conheceu Nick na infância.”

James se levantou e começou a andar ao redor da sala, ordenando: “Padfoot, me consiga uma lista de todos os moradores de Godric’s Hollow do início da década de 80. Frise os que tiveram filhos na mesma época. Destaque ainda os mágicos, estando em Hogwarts ou não. Vamos descobrir quem é Nemesis.”

“Não é para isso que estamos aqui” disse Dumbledore, sua voz sempre suave dessa vez em um tom autoritário que ele costumava usar com alunos quando ensinava transfiguração. “Nemesis não é importante. Precisamos saber do herdeiro.”

“A única característica que os descendentes de Slytherin carregavam são a ofidioglossia e olhos verdes. Infelizmente, o segundo é um tanto comum” Sirius olhou para os olhos de Lily e latiu uma risada. “Nossa amiguinha trouxa aqui...”

“Silêncio, Padfoot.”

“E mais cem estudantes de Hogwarts têm olhos verdes” completou Dumbledore, suspirando. “A maioria em Slytherin.”

Alguém bateu na porta e murmurou a senha em uma voz severa e ríspida. McGonagall entrou com olheiras e vestes casuais amassadas, seus cabelos soltos. Os marotos abriram a boca para aquilo: Era a primeira vez que viam a professora sem o famoso coque apertado.

“Abram mais um pouco” resmungou ela, pegando um assento ao lado do velho mago. “E duendes poderão procurar ouro em suas gargantas.”

Aquilo foi o suficiente. A severidade de McGonagall não deixaria que nada divertido acontecesse, os marotos sabiam muito bem. Mesmo se ela não estivesse ali, provavelmente não haveria farra. Fazia um bom tempo desde a última vez em que os três não paravam na sorveteria para levitar bolas e acertar os consumidores ou soltar todas as corujas para ver a sujeira que faziam. O dever tomava conta da vida de cada um.

James, já se sabe. Auror chefe, carga horária de doze horas diárias, lutador da Ordem no tempo livre e pai no tempinho que restava. Aos trinta e dois anos de idade, parte de seus cabelos negros como a penugem de um corvo já nasciam brancos. Os feitiços escondiam, é claro, mas ele sabia. Lily sabia. Os dois sabiam que James estava exausto.

Sirius não estava muito melhor. Braço direito do auror chefe, passava dez horas por dia no departamento, dormia outras dez e as quatro restantes eram usadas em paqueras no balcão de um bar, quando ele não era necessário para a Ordem.

Pelas horas diárias de Remus dava-se a entender que ele estaria melhor preservado que os outros. Talvez, se a licantropia não estivesse no jogo. Sem trabalho fixo, rodava o mundo em nome dos lobisomens para negociar a paz. Ganhava o suficiente para manter a casa. Sirius completava com a quantia necessária se preciso. Suas olheiras e fios brancos envelheciam lhe pelo menos dez anos. As cicatrizes de infância não ajudavam. Alguém que olhasse para ele sem saber da licantropia com certeza o julgaria por um depressivo crônico.

Lily, com a ajuda da maquiagem, ainda se passava por uma garota em seus vinte. Seu cabelo ruivo estava sempre solto (a pedido de James) destacando a face rosada e os olhos incrivelmente verdes. As poções foram um modo dela se encontrar no mundo – salvando no pós guerra filhos dos que não puderam ser salvos durante a batalha. As oito horas que passava no hospital eram dedicadas às poções, e apenas às poções.

 “Bom” Dumbledore bateu as mãos em um gesto para atrair a atenção de todos. “Sugiro que esqueçamos sobre Harry. Vamos nos focar no herdeiro.”

“Estamos tentando, professor.”

Nicholas deu um bufo irritado. “Seria mais fácil se meus pais parassem de trazer meu estúpido irmão à tona. Não podemos fingir que ele está morto?”

“Nicholas!”

Remus havia se levantado da cadeira, os punhos fechados e um rosnado ameaçador saindo do fundo de sua garganta. Ao ver que todos olhavam para ele, Remus ganiu e voltou a se sentar. Harry era parte da matilha. Membros de uma matilha ficavam juntos até o fim. Pelo menos era isso que o lobisomem esperava; os marotos raramente corriam juntos nas noites de lua cheia. Uma, duas vezes ao ano, no máximo, porque todos tinham coisas “melhores” para fazer. As constantes tentativas de Nicholas de se fazer alfa irritavam Remus.

“É verdade. O herdeiro. Podemos assumir que ele é um estudante.”

“Fácil” falou Sirius frustrado. “Peça para cada um dos mil estudantes de Hogwarts fazerem uma fila, coloque uma cobra na frente de cada um deles e peça para a cobra começar uma conversa.”

Contra a sua vontade, James riu. McGonagall não. Ela comprimiu os lábios. “Você sabe que não podemos fazer isso, senhor Black.”

James suspirou. “Era uma brincadeira, professora.”

“Harry...”

“Isso é o suficiente! Sem Harry!”

“Você está certo. Estamos sem Harry.”

Sirius grunhiu. Por que não eles não conseguiam ficar sem falar do afilhado naquele dia em especial? Eles tinham conseguido por anos, que tal mais um dia? “Moony, achei que você tivesse seguido em frente.”

“Eu segui, mas isso não significa que não penso nele de vez em quando. Duvido que alguém aqui não faça a mesma coisa.”

Todos coraram.

McGonagall foi quem veio com a sugestão: “Vamos vê-lo então. Albus, qual foi a última vez que alguém checou Harry?”

“Perdi minha informante poucos meses depois que o jovem Harry foi deixado lá.”

“Albus!” replicou Minerva, indignada com aquilo. Uma criança tão adorável... “Está me dizendo que ninguém checa o pobre garoto em sete anos?”

 Dumbledore levantou as mãos em sua defesa. Ele não queria dizer a verdade. De acordo com a sua informante, Harry era uma criança adorável, não o pirralho que todos esperavam. Isso iria cair mal para a imagem da família se viesse à tona... “É melhor assim.”

“Você acha que é melhor assim” acusou McGonagall. “Albus, cancele as minhas classes de amanhã. Vou estar no orfanato Woodsmith.”

_

Ela não fora a única que acabara indo ao orfanato. Lily, James, Nicholas, Sirius, Remus e Dumbledore foram com ela, hesitantes, mas determinados a descobrir o que realmente acontecera com o garoto.

Os portões de ferro da frente não haviam mudado nada em sete anos. Quando Remus se aproximou, ele localizou o local onde Harry ficou dormindo, sem noção de quem era ou do que estava fazendo ali. Ele achava que, se se esforçasse bastante, conseguiria até sentir o cheiro do garoto, um cheiro fresco como o de uma planta pela manhã.

Ao verem todas aquelas pessoas, crianças que brincavam no gramado se aproximaram, curiosas. Pais que pudessem adotá-las, talvez? Cerca de cinco ou seis deram um passo a mais, examinando a bela mulher ruiva e o galante moreno. Eles não pareciam ser muito felizes, decidiram eles, mas mesmo com as vestes estranhas pareciam ser gente rica. E tinha uma criança com eles.

“Olá” Dumbledore deu seu sorriso mais amável para as crianças, que sorriram timidamente de volta. “Eu estou procurando por um garoto...”

“Seu nome é Harry” ajudou McGonagall, procurando nos arredores alguém que batia com a descrição mental que ela criara do garoto. O lugar estava pintado com cores neutras; balanços e gira-giras foram implantados, flores plantadas nas extremidades. Um lugar adorável, concluiu. Ela se sentiu menos culpada por não ter lutado contra a decisão de Dumbledore.

Uma menina que não podia ter mais que sete anos falou: “Harry quem? Nós temos três Harrys.”

Remus olhou para os próprios pés. “Temo que esse garoto não tinha um sobrenome.”

“Ah. Harry Louco.”

Quem falara estava atrás da garota, um rapaz de quinze anos que carregava uma marca de queimadura no braço. Os bruxos olharam para ele com expectativa, apesar de um pouco ofendidos pela colocação. Eles não eram loucos. Loucos eram os não loucos.

“Ele está aqui?” perguntou Lily, seus olhos verdes brilhando. “Ou foi adotado?”

A menina que falara anteriormente voltou a assumir a liderança: “Se é Harry Louco que vocês estão procurando...”

“Cale a boca, Lucy!” disse o rapaz com a queimadura. “Você não sabe como ele era. Por que você quer saber sobre Harry Louco?”

 Sirius tinha uma expressão neutra quando deu de ombros. “Nós conhecemos os pais dele.”

Lucy não se conteve de curiosidade. Talvez fosse por isso que aquelas pessoas vestissem roupas tão estranhas: Eram loucos também! Ela não sabia como Harry costumava ser, mas todos lembravam dos olhos verdes que pareciam brilhar a noite. Eram idênticos aos daquela mulher ruiva. “Eles eram loucos como Harry Louco?”

“Lucy!”

“O que? Eu quero saber!”

“CRIANÇAS!” A voz da matrona veio da porta do orfanato. “O que estão fazendo aí? Já para dentro!”

A ordem foi recebida imediatamente pelas crianças. Uma a uma, elas foram para seus quartos, deixando os adultos sozinhos. Quem havia gritado era uma mulher, cinquenta ou sessenta anos, que mancou ligeiramente até os portões. Ela deu um sorriso bondoso para eles: “Me desculpe a demora. Como posso ajudá-los?”

“Alguns anos atrás, um menino chamado Harry morava aqui” explicou Dumbledore. “Estamos procurando por ele.”

“Ah!” Seus olhos percorreram a família. Vestidos anormalmente, como o menino Harry. O homem com vestes sérias era uma idêntica cópia do órfão que haviam criado por alguns meses. Subitamente, um frio percorreu seu corpo. Aquele Harry. O que haviam mandado embora. Sua voz apresentava uma ponta de histeria quando perguntou: “Vocês são parentes?” 

O menino ruivo fez menção de falar alguma coisa, mas um aperto firme do pai o impediu. “Sim. Gostaríamos de falar com ele. Como posso te chamar?”

“Me chamo Catherine Wilson” ela olhou para os lados, se certificando que ninguém estava ao redor, e abriu os portões de ferro. Aquela conversa não poderia ser discutida ali, onde todos pudessem ouvir. “Entrem. Melhor conversarmos sobre ele lá dentro.”

Depois que todos estavam confortáveis em cadeiras na sala da coordenação, Catherine se serviu de uma xícara de chá. O peso da idade caía sobre ela. Ela tinha apenas quarenta e oito anos, mas sabia que aparentava bem mais. O modo como mancava, tendo uma das pernas ligeiramente menor do que a outra, não ajudava nem um pouco. E agora a culpa...

“Temo que conversar com Harry não será tão fácil” Catherine tomou um gole do chá verde. “Ele não está mais aqui.”

A reação dos parentes do menino não foi a que ela esperava. Eles apenas deram de ombros e fizeram um gesto para que ela continuasse a falar.

“Harry era um menino especial, ah, tão especial... Especial demais para nós, infelizmente. As crianças estavam com medo dele. Todos estavam com medo dele. Não conseguíamos mais controlá-lo...” Um soluço escapou do seu corpo. “A pobre criança... Sei que fizemos a coisa errada, mas na época, tínhamos Sue, nosso orfanato estava aumentando rápido demais, precisávamos nos livrar de alguns jovens.”

Dumbledore se inclinou para frente, seus olhos agora sérios, em um azul gelado que deu arrepios em todos da sala. “Onde ele está, senhora Wilson? O que vocês fizeram com ele?”

Harry não podia estar morto, podia? Certamente, os aparelhos que monitoravam Harry no escritório de Dumbledore em Hogwarts pararam de funcionar, mas poderia haver outras explicações.

“Sue, oh Deus, Sue não o queria mais aqui, ela, ela, o tirou de Woodsmith. Largou o pobre Harry em outro orfanato, longe daqui, para onde ele não pudesse voltar. Vocês queriam adotá-lo?” Catherine encarou Dumbledore com os olhos cheios de lágrimas.

O velho bruxo coçou a barba, nervoso. “Não temos condições de cuidar dele, mas nos importamos com Harry.”

Catherine olhou as roupas excêntricas dos bruxos. Seda, com certeza, e coisa cara, pelo que ela podia ver. Sem condições uma ova. Ela assoou o nariz em um lenço que sempre carregava consigo. “Morgan era a responsável por Harry. Acho melhor vocês falarem com ela.”

“Na verdade, faz tempo que nós não nos falamos, mas eu conheço Sue Williams. Ela está disponível?”

“Sue?” Catherine riu. Sua voz tinha uma ponta de histeria. “Sue faleceu anos atrás, na verdade, poucos meses depois da coisa com Harry. Câncer, pobrezinha. O tumor fazia com que ela falasse coisas estranhas, magia e bruxos e castelos... Aborto, como ela repetia essa palavra, era como se fosse louca!”

Os Potters empalideceram. Lily e James trocaram um olhar – poderia a informante que Dumbledore tanto falava ser um aborto? Ele deveria saber melhor do que isso. Nicholas estava indignado. Nem mesmo seu irmão psicopata merecia ser espionado por um aborto. Abortos não deveriam ser confiados, afinal, não tinham magia por alguma razão desconhecida. Sem magia, sem honra.

McGonagall se levantou. Seus lábios estavam comprimidos, do mesmo jeito que ela fazia quando queria demonstrar para um estudante que não estava satisfeita com ele. “Onde está Morgan então? Não vamos sair daqui sem falar com alguém.”

Catherine apontou para as escadas e voltou a assoar o nariz.

James liderou o grupo, subindo dois degraus de cada vez para chegar mais rápido. Atrás dele, Sirius e Remus vasculhavam o local à procura de algo. Dumbledore e McGonagall surpreenderam a todos com sua agilidade. Finalmente veio Lily, a mão no ombro de Nicholas o forçando a seguir em frente e não examinar o local, tentando determinar se seu irmãozinho merecia estar lá.

Woodsmith ainda era um orfanato pequeno, no quesito de crianças, mas havia aumentado de tamanho. Investidores tornaram possível que um terreno ao lado do orfanato fosse comprado, e com o auxílio da igreja local, blocos de dormitórios foram construídos. Agora cada quarto continha quatro crianças e um pequeno banheiro. Desenhos cobriam as paredes e era possível ver brinquedos espalhados aqui e ali, onde os mais jovens ficavam.

As crianças paravam para olhar o grupo, afinal não era todo dia que se tinha sete pessoas de uma vez à procura de um garoto em especial (porque crianças eram curiosas e sempre ouviam pelos buracos da fechadura da porta). Alguns se irritavam: Por que não eles? Os adultos não davam um segundo olhar para nenhuma das crianças.

Sra. Morgan estava sentada no chão com gêmeos de dois anos de idade. Ela lia contos trouxas para os bebês quando McGonagall se aproximou dela para conversar. Ela fechou o livro chamou um órfão mais velho, que levou os gêmeos para o quarto deles. Sozinha, ela se levantou, fez um comentário a respeito de sua coluna, que andava doendo demais, e cumprimentou cada um deles com um sorriso bondoso.

“Como posso ajudar?” ela perguntou, depois de apertar a mão de Sirius. “Essa ala é dos órfãos mais jovens, até os três anos de idade. É essa a faixa de idade que procuram?”

Lily corou. “Ah, não, não estamos aqui para adotar. Catherine Wilson falou que você era responsável por um menino chamado Harry, há uns sete ou oito anos.”

Os olhos de Morgan brilharam quando ouviu falar o nome de Harry, mas sua face se contorceu em preocupação. “O que aconteceu com ele?” Poderia Harry ter contado para o serviço social como fora largado de um orfanato no outro porque era diferente dos demais?

“É o que estamos querendo descobrir” explicou Sirius, olhando pela janela. Nenhuma criança estava lá fora, depois das ordens de Catherine. “Somos... Parentes.”

Aquilo foi a pior coisa que ele poderia ter dito.

Morgan enrijeceu onde estava e fechou os pequenos punhos. Seus olhos se estreitaram e seus lábios se comprimiram. Sirius deu um passo para trás, e com razão. Em um instante, Morgan explodiu: “Parentes? Parentes do pobre menino com amnésia deixado na porta de um orfanato durante a noite sem memória, sem indicação de onde vinha? E depois vocês ainda tem a cara de pau de me perguntar sobre Harry?” Ela arfava quando terminou o desabafo.

“Nos deixe explicar...” Dumbledore pediu, tentando colocar uma mão no ombro de Morgan. Ela se esquivou como se tivesse nojo do velho bruxo.

“Não há explicação boa o suficiente para o que vocês fizeram” cuspiu Morgan. “Todos vocês! Sete parentes, nenhum quis ficar com Harry, o deixaram aqui como se fosse um saco de lixo!”

Foi a vez de McGonagall protestar: “Não foi assim que aconteceu, Morgan! Eu amava Harry como se fosse do meu próprio sangue! Dumbledore, Dumbledore pensou, todos nós pensamos, que isso seria melhor para ele.”

Morgan levantou as sobrancelhas. Dumbledore? “Quem de vocês é Dumbledore?” ela perguntou, enxugando lágrimas quentes dos olhos furiosamente.

O velho bruxo levantou a mão.

“Meu Deus, você parece tão louco quanto Sue dizia que você era” Morgan respirou profundamente e se virou. “Tenho que admitir que estou surpresa que você existe. Pensei que fosse apenas uma ilusão da mente de Sue. Ela te deixou uma carta, eu devo tê-la em algum lugar...”

Os sete bruxos a seguiram subindo as escadas e entrando em um quarto minúsculo com apenas cama e armário. Morgan abriu as portas dele e remexeu em suas gavetas, até retirar um papel amarelado do fundo de uma delas. “Vocês têm sorte. Só porque eu prometi para Sue que te daria isso, ou você estaria com um olho roxo nesse momento. Posso não parecer, mas sou bem forte. Aqui.”

Ela lançou a carta no ar com o maior descaso.

Dumbledore a desenrolou:

Caro Dumbledore,

Temo que eu não esteja mais capaz de vigiar o garoto para você. Os anos me desgastaram, e como você já deve ter ouvido de alguma das meninas do orfanato, o tumor me pegou de jeito. Faz pouco tempo que descobri, mas parece que eu tenho uma bola de golfe na cabeça. Me pergunto se isso teria acontecido se eu tivesse nascido com magia.

Bem. Novamente, as meninas já devem ter te dito que Harry não está mais aqui. Você merece um puxão de orelha, Dumbledore. Achei que você fosse inteligente o suficiente para prender a magia do menino junto com suas memórias. Eu estava enganada, e tive que lidar com um menino extremamente talentoso com os poderes fora de controle, porque não tinha ninguém para ensiná-lo como se comportar.

Não pense em mim. Sou um aborto e abortos não se envolvem com magia. Como poderíamos? Magia nos repele. Deveria ter sido sua responsabilidade, ou a dos pais. O menino será importante, até eu posso ver isso. Não sei o que te deu na cabeça para fazer essa atrocidade com ele.

Isso é o suficiente. O garoto tem magia demais para mim, e eu não queria ele aqui. Criaturas de magia não ficam no meu orfanato. Não se encha de esperanças, eu não sou uma bruxa (sem ofensas) sem emoções. Também não vou entregar o menino para vocês. Ninguém merece tamanha miséria, nem mesmo um bruxo.

Fique sabendo que ele está em um lugar melhor, talvez não para ele, mas para todos nós. Um lugar sem a interferência de magia, onde ele crescerá como uma criança normal, ou tão normal quanto uma criatura como ele pode ser.

Esperançosamente, o câncer vai me consumir antes do meu próximo relatório. Viu como o feitiço se volta contra o feiticeiro (ou contra o aborto)? Nenhum de nós ganha. Nem mesmo Harry.

Sue Williams.

Dumbledore baixou a carta e fitou Morgan. Ele suspirou e entregou a carta para James e Lily. De fato, Williams tinha sido o aborto errado para escolher. O velho bruxo deveria ter escolhido Arabella, ela era mais confiável. Outro suspiro. Tarde demais.

“Senhora Morgan, temo que você seja nossa última esperança” ele informou, estranhando o modo como o queixo de Morgan tremia como se ela quisesse chorar. Mas de medo, raiva ou tristeza? “Precisamos saber onde está Harry.”

Ela deu um sorriso amargo para eles e evitou o olhar de Dumbledore, como se soubesse que estava prestes a ter sua mente lida.

“Eu amava Harry tanto, mas tanto. Mais do que vocês jamais vão amá-lo. Por que eu vou entregar a localização dele para vocês? Harry... Harry está tão feliz. Ele não precisa de vocês, mas ele precisa de mim. Um último favor, foram as palavras dele. Oh, Harry” ela não parecia estar mais falando com eles. Sem olhar para ninguém, ela saiu do quarto e foi até a janela do corredor, que dava vista para a árvore onde Harry costumava ler. “Você pode me pedir qualquer coisa, meu querido...”

McGonagall não gostou do rumo da conversa. “Senhora Morgan...”

“...Harry Potter.”

Morgan voltou a sorrir. Lágrimas corriam soltas por seu rosto agora. Os soluços que sacudiam seu corpo tinham intervalos cada vez mais rápido, e ela sugava o ar tentando pegar mais oxigênio. O som que escapava da sua garganta era terrível. Morgan empalideceu cada vez mais; seus joelhos cederam, e ela despencou no chão, se arrastando até a janela. O branco de sua face lentamente se transformava em roxo.

Lily correu para ajudá-la. Sem medo de ser descoberta, ela puxou a varinha das vestes e fez um scam na trouxa. Morgan chorava. Ela descansou a cabeça contra a parede, mas Lily a moveu de modo que a cabeça da mulher ficasse em seu colo.

Ela pensou em seu órfão favorito. A falta de ar não importava. Harry era tudo que corria em sua mente naquele momento, um menino brilhante que merecia coisa melhor do que aqueles canalhas. Um último favor, ele pedira, quando já usava uma nova aparência. “Tão bonito...” suspirou Morgan, morrendo.


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Notas finais do capítulo

Múltiplas notas de capítulo:
1- Sim, eu matei a única trouxa que se importava com Harry :P Antes de perguntarem: Harry, já como Revan, usou alguma engenhoca ativada pelo próprio nome que intoxicou Morgan. Como isso pode acontecer, eu não tenho ideia. Mágica :)
2- Atualmente estou trabalhando no capítulo 35, chamado HIT... penúltimo capítulo do terceiro ano. Pode parecer que estou muito na frente de vocês, mas todos os capítulos entre esse e o que estou escrevendo são reescritos constantemente para deixá-los mais ao gosto de vocês. O que quero dizer é: Os capítulos estão prontos, mas eu posso mudá-los a qualquer momento. Se você quer que alguma coisa aconteça, peça, e vou fazer o possível para que tal coisa aconteça.
3- O capítulo extra vai demorar um pouquinho para sair. Ele se situa no natal de 1993, entre o capítulo 33 e 34, me dando mais tempo para modificar meu estilo de escrita :P

SOBRE A NOVA FANFIC
É uma fic bem diferente. Será postada na quinta feira à noite no ff.n, sob o nome de The Ghost, pairings Harry P x Tom Riddle J (no slash, porém).
Eis a sinopse, em uma tradução rudimentar:
Em 1991, um Harry albino foi visto e os sussurros começaram. Depois de um inferno de primeiro ano, ele encontra o diário de Tom Riddle. Em 1939, Tom fala com um garoto do futuro e em 1953, Voldemort inicia um novo plano: Fazer alguém viajar no tempo por meio de um diário.

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Sei que não estou sendo bacana com vocês, mas reviews são minha inspiração e eu não sou nada sem eles. Comentem para manter a história no ar, ok?

Até!