Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 22
O Mestre das Cobras


Notas iniciais do capítulo

IMPORTANTE:
O capítulo anterior foi simplificado. Luna não sabe tanto então o destino dela será menos cruel.

30 reviews, o capítulo está aqui. Aproveitem!



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CAPÍTULO 22

THE MASTER OF SNAKES

Luna flutuava.

Ela não podia se mover, não sabia onde estava, tudo que via eram grandes olhos amarelos. Não que ela se importasse. A loira não tinha muita noção do tempo que se passara desde seu encontro com Revan Black – quem ela presumia ser realmente Harry Potter, depois do que aconteceu com ela – mas seus pensamentos corriam soltos.

As coisas que os zonzóbulos sussurravam no seu ouvido, o modo como os livros pareciam chamar por ela, tudo lhe direcionava para Harry Potter. Indiretamente, claro. Dois ou três dos livros nas prateleiras continham o nome do garoto. Irmão mais velho. Viagem, Austrália, parentes distantes...

Com o tempo, sua mãe se foi e Harry Potter continuava um mistério. Os livros estavam lá, tantos livros que seu pai comprara para tentar desvendar o que realmente acontecera no 31 de Outubro, chamando seu nome. Harry Potter, cantavam eles, a informação que você precisa está aqui. Eles mentiam, mas o fascínio de Luna crescia.

Sendo uma excelente pintora desde a mais tenra idade, ela começou a criar rascunhos do irmão de Nicholas Potter. De acordo com as fotos dele encontradas no final das biografias do menino que sobreviveu, Harry tinha rosto oval, grandes olhos verdes e cabelo preto rebelde, como os do irmão. Os olhos da mãe, se fossem verdes, tinham que ser da mãe, e cabelos negros do pai. Esguio, magro.

Quando as notícias sobre Harry Potter, as poucas que existiam, pararam, Luna começou a se perguntar o que poderia estar errado. Alguém podia desaparecer completamente? Ela perguntou para o pai, considerando a resposta dele satisfatória o suficiente: Não completamente. Até mesmo as mais estranhas criaturas deixavam traços.

Foi o suficiente para que ela mudasse seus desenhos para qualquer rosto que carregasse olhos verdes e cabelos negros. Seu quarto estava cheio deles. O sussurro dos zonzóbulos não a incomodava tanto conforme Harry Potter ganhava outras funções. Cabelos cacheados e comportados, face quadrada, um ar aristocrático. O oposto do que ele deveria ser. Seu estranho Harry Potter era a razão do seu viver.

Em Hogwarts, ela começou a procurar por ele. A pena mágica de Hogwarts não deixaria um estudante da Grã Bretanha estudar em outro lugar. Ravenclaw ou Slytherin, só podia ser. Arisco, porque ele devia ter crescido sem amigos, assim como ela.

Revan Black era a combinação perfeita de todos os fatores.

Mas não acabou também, acabou?

Cale a boca, ela disse para si mesma. Eu consegui o que eu queria.

E aquilo era o suficiente.                 

__

O que na noite anterior fora motivo de gozação pela parte dos Gryffindors amanheceu pairando sobre suas cabeças na manhã seguinte. Não, Madame Norris ainda estava morta e não estava flutuando, mas o assunto corria como qualquer boa fofoca corria em Hogwarts. Filch achava em cada passo deles uma razão para dar detenções, atrasá-los para as aulas e fazer com que eles perdessem a paciência em uma questão de segundos.

Luna Lovegood havia sido encontrada algumas horas atrás, encostada contra uma parede próxima da Sala Comunal. Ela parecia estar adormecida, se não fosse pelos olhos abertos. Um sorriso enfeitava sua face.

Vendo aquilo, os professores correram para levar a menina à Ala Hospitalar. Petrificada, não morta, não envenenada. Havia apenas uma pequena quantidade de veneno em seu sangue, apontou Madame Pomfrey, nada que pudesse causar dano.  

Por indicação do Ministério, os Ravenclaws que viram a vítima foram obliviados, assim como qualquer pessoa que tinha ouvido da garota. Nicholas Potter e os professores foram informados do assunto, mas para os outros, ou pelo menos Ginny Weasley, a única que se preocupou em perguntar sobre o paradeiro de Luna, a loira havia comido algo que lhe deu alergia e estava se recuperando, sem visitantes. Depois de ser obliviada novamente, Ginny seguiu seu caminho tranquilamente.

Não entendam mal. Dumbledore e o Ministro só estavam fazendo o que achavam ser melhor para o lado da luz. Aquilo era um ponto para as trevas, e as trevas estavam mortas, de acordo com eles. Recuperariam a menina, removeriam o veneno, e tudo voltaria ao normal, sem pânico, sem imprensa.

E os estudantes seguiram em luto por algo que não sabiam, preocupados por causa de uma gata.

Fred e George Weasley anunciaram um dos seus primeiros produtos da Gemialidades Weasley, o sangue falso para matar aulas e assustar criancinhas (motivo pelo qual eles ainda estudavam, diziam as fontes) e apesar de alguns admitirem que era uma ideia brilhante, a maioria achou que aquele era um momento inoportuno. A novidade logo foi esquecida, os gêmeos voltando para seus experimentos e os estudantes mais dedicados, aos estudos.

Ron Weasley encontrou amassada em uma pequena bolinha uma carta um tanto séria de Lily, que dizia basicamente para que ele parasse de agir como o pai e se comportasse pelo menos uma vez na vida. Ele não teve a chance de examinar a carta mais profundamente onde as escritas de duas pessoas diferentes se misturavam; quando Nicholas viu que Ron tinha lido a carta, o ruivo imediatamente a jogou na lareira e observou as chamas lamberem as bordas do papel até que ele enegrecesse e desaparecesse nas cinzas.

Hermione conseguiu um breve resumo da Câmara Secreta com professor Binns, sendo a primeira aluna em séculos a conseguir ficar acordada por tempo suficiente para fazer uma pergunta, recebendo como resposta que Slytherin, ao não concordar com os outros, criou uma câmara escondida de todos os outros e lá deixou um monstro para limpar o castelo daqueles que não mereciam.

Todos aqueles sem sangue puro na família começaram a temer por suas vidas. Sim, Madame Norris era uma gata, mas o monstro podia matar estudantes também...

Em uma conferência “secreta” entre os três Gryffindors, Ron confessou que acreditava seriamente que Malfoy era o herdeiro de Slytherin. Isso fez Nicholas gargalhar, porque tendo estudado as famílias mais importantes de Grã Bretanha, ele sabia que os Malfoy haviam surgido haviam oitocentos anos, de um simples bruxo nascido trouxa. A dúvida pairou na mente de todos: E se o primeiro Malfoy, o bruxo nascido trouxa, fosse filho de um aborto que perdera o sobrenome de Slytherin ao nascer sem magia?

As aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas se tornaram muito mais divertidas agora que Nicholas havia virado o cobaia pessoal de Lockhart, fazendo de tudo para deixá-lo de bom humor. A classe prestava mais atenção em Nicholas do que no professor, do modo como o ruivo uivava e fazia sons de assombração para ajudar nas encenações de Lockhart. Tudo aquilo para conseguir uma autorização para pegar um livro na Sessão Restrita.

A Poção Polissuco já começava a ser preparada quando o primeiro jogo de Quadribol contra Slytherin se aproximou, aumentando o ânimo dos estudantes ainda não recuperados pela morte de Madame Norris. Todos queriam uma derrota de Slytherin. Se as serpentes começassem a competição na liderança, eles provavelmente manteriam o resultado pelo resto do ano e ganhariam a taça, OUTRA VEZ.

Isso nos leva a Revan, que já começara a planejar um modo para fazer Nicholas cair da vassoura. O plano foi mais fácil do que ele pensava. O herdeiro Black ainda não havia tirado da cabeça o elfo doméstico que bloqueou as cartas do irmão. Quando já passava das duas da manhã, Revan trocou sua identidade para Nemesis e correu para um corredor longe da Sala Comunal de Slytherin.

“Elfo” ordenou, em uma voz tão controlada que surpreendeu até mesmo ele. O elfo doméstico não seria tão estúpido; sua magia saberia quando estava sendo chamado, mesmo sem ser pelo nome. Como esperado, houve um pop e, se ajoelhando para ele, estava um elfo doméstico em farrapos. Logo, porém, a criatura se levantou. Aquele não era seu mestre.

“Quem chama Dobby?” perguntou, fixando grandes olhos verdes em Nemesis, que educadamente disse seu nome.

“O que Nemesis quer do Dobby?”

Nemesis sorriu por baixo das vestes perfeitamente cortadas. “O mesmo que você quer, Dobby. Ver Nicholas Potter fora de Hogwarts.”

Dessa vez, Dobby pareceu mais amigável. “Nemesis quer proteger senhor Nicholas Potter!” exclamou, se esquecendo do horário. “Como Dobby pode ajudar Nemesis?”

“Haverá um jogo de Quadribol amanhã” explicou o pequeno comensal. “Faça o seu melhor.”  

“Dobby pensou em encantar os balaços” admitiu a criaturinha, apertando as mãos nervosamente. “Fazê-los atingir senhor Nicholas Potter.” 

O sorriso de Nemesis se ampliou. “Essa é uma ótima ideia, Dobby. De fato, uma ótima ideia...”

__

Com o apito de Hooch, os quatorze jogadores dispararam, cada um a procura de sua respectiva bola, loucos por uma vitória que determinaria a liderança. Nicholas ficou acima de todos, passando pelas arquibancadas com seu sorriso nota dez, tirando as mãos da Nimbus 2000 (já que sua Nimbus 2001 fora confiscada outra vez) para cumprimentar a torcida. Quando sua mão tocou nos pálidos dedos de Ginny Weasley, a ruiva quase teve um infarto.

Satisfeito com a reação que causou, Nicholas começou a procurar o pomo depois de se desviar de um balaço. Gryffindor marcou, Fred Weasley (ou George, ele não sabia a diferença) rebateu o balaço para Malfoy, a nova estrela de Slytherin.

Alguns poderiam pensar que Slytherin estava satisfeita com seu novo apanhador. Não, eles não estavam. O apanhador anterior era muito melhor do que Malfoy, e todos tinham certeza que encontrariam alguém mais apropriado para o serviço. Malfoy era distraído demais para ver uma minúscula bolinha dourada, imagine pegá-la, mas agora o time tinha as vassouras, o que poderiam fazer sobre isso?

Revan estava sentado ao lado de Nott, fingindo ler o livro de Lockhart enquanto espiava os balaços voando atrás de Nicholas e um pomo de ouro mais descontrolado do que o habitual. Sem chances de Gryffindor ganhar aquele jogo. Naquele momento Nicholas quase foi atingido por um balaço na testa, sendo salvo por um dos gêmeos. Ele observou o outro time jogar com as vassouras novas, igualando o placar, com um suspiro. O ruivo queria sua Nimbus 2001 de volta.

“Slytherin marca!” berrou Jordan com ódio. “Os filhinhos do papai com suas vassouras compradas viram o jogo de modo injusto por 20 a 10!”

 “Jordan...” rosnou McGonagall arregaçando as mangas.

Engolindo em seco, Jordan voltou a narrar o jogo. O time de Gryffindor era melhor, mas as vassouras de Slytherin eram bem mais rápidas, deixando o jogo equilibrado. Por um momento pareceu que Draco Malfoy iria pegar o pomo que pairava sobre sua cabeça, mas tão cego pelo próprio ego, Malfoy se distanciou da bolinha. Nicholas, porém, a viu.

“Nicholas Potter vê o pomo!” Jordan gritou, se levantando junto com todos os Gryffindors. “Ele se desvia de um balaço, outro balaço, Fred, George, onde vocês estão? O balaço volta para ele, oh não!” o balaço havia acertado o peito de Nicholas, fazendo-o cambalear na vassoura. “Ele está de volta, minha gente, atrás do pomo de ouro que traz a vitória para Gryffindor, lá vai ele, mais um balaço, Weasley, deem um jeito nos balaços!”

George Weasley rebateu o balaço com toda a sua força, mas a bola apenas fez um desvio e voltou a perseguir Nicholas. “O pomo, Nick!” avisou Fred, se colocando atrás dele. “Pegue o pomo, vamos tomar conta desses desgraçados!” A força com a qual o segundo balaço foi rebatido quase quebrou a bola.

Nicholas inclinou a vassoura. Por que o pomo voava tão depressa? Era mais rápido do que os profissionais que tinha em casa. Ele deveria encurralá-lo, decidiu o ruivo, fazendo com que o pomo virasse para a esquerda. O plano funcionou, até certo ponto. Sem ter para onde ir, o pomo de ouro descontrolado continuou na direção da parede. Os dois balaços atingiram Nicholas de uma vez, um na costela e o outro no braço direito. O ruivo arregalou os olhos quando se deu conta de como a arquibancada estava próxima. Ele estava indo rápido demais.

Com um puff, Nicholas Potter se chocou contra a arquibancada e ele deslizou até o chão lentamente, mal ouvindo os ooohs da torcida. Ele encarou o céu azul, tonto. Mesmo com o céu limpo, um único raio foi visto, seguido de um balaço certeiro na cara de Nicholas. Já inconsciente, ele não foi capaz de perceber, quando foi levantando, que havia prendido o pomo debaixo do seu corpo.

O apito de Madame Hooch mal pôde ser ouvido, tamanhos eram os gritos da torcida.    

_

Revan teve a impressão que já havia passado por aquela cena antes. Sentado na Ala Hospitalar, esperando um Nicholas quebrado acordar, Lily e James Potter discutindo com Madame Pomfrey sobre a segurança de Hogwarts, Hermione com os olhos vermelhos de tanto chorar e Ron, bom, Ron estava comendo.

“O que está fazendo aqui?” rosnou James para ele. Revan levantou seus frios olhos verdes do livro sobre Salazar Slytherin que lia.

“O mesmo que você” respondeu polidamente. “Esperando o Menino que Sobreviveu acordar.”

James lutou contra o impulso de pegar a varinha e enfiá-la na garganta do moleque. “Não pelas mesmas razões. Quem encantou as bolas?”

O herdeiro Black piscou. “Provavelmente quem as criou.”

“Não banque o engraçadinho comigo” ameaçou Potter. Lily se aproximou para ver quem estava deixando o marido tão chateado e checou o filho. Nada ainda. Pelo menos seu bebê não tinha piorado.

“Não estou” replicou Revan. Ele colocou o livro ao lado da cama de Nicholas e encarou os pais com um olhar entediado. “Conheço os inimigos de Nicholas. Nenhum deles fez isso.”

Era verdade. Nenhum Slytherin seria estúpido o suficiente para encantar as bolas no meio de um jogo assistido pelos professores. Fora por isso que Revan havia pedido que Dobby fizesse todo o trabalho. Tudo o que o herdeiro Black fez foi gargalhar junto com os outros Slytherins quando os balaços acertaram Nicholas.

Ron cuspiu um xingamento para um Slytherin qualquer. Hermione assuou o nariz.

“Houve um raio” a morena se lembrou. Os outros olharam para ela curiosos. “Você acha que pode ter sido Nemesis?”

James franziu a testa. “Um Slytherin não faria isso, mas Nemesis faria? Isso faria de Nemesis mais estúpido do que o resto dos Slytherins.” Revan mandou um olhar mortal na direção dele.

“Já tentamos rastrear o raio?” perguntou Lily, alisando os cabelos bagunçados do filho. “James, faça isso.”

“Padfoot está fazendo isso nesse instante.” Prongs olhou a hora e se levantou. Ele estava atrasado. Com um rápido pedido de desculpas para os Gryffindors da sala, ele foi usar o flu de Dumbledore. Lily suspirou e se ajeitou ao lado da cama do filho. Quando as crianças fizeram menção de sair, Nicholas abriu os olhos, ou melhor, o olho que não estava inchado demais para ser aberto.

Revan imediatamente colocou um sorriso na cara. “Oi Nick, como se sente?” Nicholas murmurou algo. “Uma droga, é isso que está dizendo?”

“Você está uma droga, cara” concordou Ron ao terminar de engolir seu chocolate. “Mas você pegou o pomo! Nós ganhamos dos Slytherins nojentos!” Ele convenientemente ignorou Revan.

A mão de Nicholas se contorceu em ódio ao ouvir de Slytherins. É claro que tinha sido um Slytherin. Era sempre um Slytherin. O ruivo estendeu a mão para o copo de água, deu um gole com a ajuda da mãe e encarou o teto branco e perfeitamente limpo da Ala Hospitalar. “Descobriram quem fez isso comigo?” perguntou.

Lily fez que não com a cabeça.

“Então descubram. Eu quero essa pessoa expulsa de Hogwarts, expulsa. Slytherin ou não, acabe com a vida dela” rosnou, sua voz se elevando até poder ser ouvida do lado de fora da Ala Hospitalar.

As fangirls que faziam ronda na porta ouviram, mas não deram muita atenção. Rumores já circulavam a escola sobre quem havia encantado as bolas. De brincadeira, a maioria dos Slytherins “assumiu” a culpa, sabendo que não haveriam consequências, já que não foram eles. E nada aconteceu por alguns dias, realmente.

Até que, pouco antes das férias de Natal, rastros de sangue começaram a levar os professores para os dormitórios de Gryffindor, junto com gritos finos que destruíam os vidros dos corredores.

As pessoas começaram a falar. Nicholas Potter, pelo que diziam, estava lendo um livro sobre Salazar Slytherin depois de ser atacado. Ele também tinha sido encontrado junto com a escrita na parede, o que o colocava no local do crime, com algo incriminador. O que faltava era o motivo: Nicholas treinava diariamente desde a infância para lutar contra as artes das trevas, ele ser o herdeiro de Slytherin não fazia nenhum sentido!

Ravenclaws olharam livros de árvores genealógicas na biblioteca, procurando o sobrenome Potter. Ele havia surgido do nada novecentos anos atrás. Os autógrafos que Nicholas dava para os estudantes começaram a se tornar espaçados; ninguém queria ficar perto com um possível herdeiro de um bruxo das trevas. O ruivo chegou a dar uma entrevista no Profeta Diário, afirmando que ele não havia feito nada do que estava sendo acusado, mas as pessoas continuavam a evitar ficarem no mesmo corredor que ele.

Consequentemente, quando Gilderoy Lockhart anunciou que as aulas de duelo seriam ensinadas novamente por conta do perigo, todos da escola se matricularam na esperança de serem capaz de se defenderem quando o dia chegasse. Alguns desanimaram quando perceberam que não seria Flitiwick ou Dumbledore quem os ensinaria, mas se pelo menos um pouco de tudo que Lockhart clamava fazer fosse verdade, ele seria um melhor professor de duelos do que de Defesa Contra as Artes das Trevas.

“Me diga outra vez o que estamos fazendo aqui” ganiu Nott, tentando conseguir uma boa pista do palco de duelos levantado no Salão Principal. “Você sabe duelar. Eu sei duelar.”

“Essa pode ser nossa única oportunidade de ver as habilidades dos outros” respondeu Revan mal mexendo os lábios. Ele observou Snape subindo no palco de duelos do outro lado de Lockhart, que apresentou as regras mais simples. Bastaram poucos segundos para que a varinha do loiro saísse voando, caindo na frente de Lavander Brown, que deixou um gritinho animado escapar ao perceber que estava realmente segurando a varinha do grande Gilderoy Lockhart.

Os estudantes foram divididos em grupos por casa e idade. Primeiro, estudantes do sétimo ano duelaram, mostrando como se fazia. Gemma Farley ganhou de Jake Flinton. Cyril Meakin lutou bravamente contra Terry Strickland, e finalmente, os alunos mais novos assistiram Lockhart escolher Nicholas Potter da multidão para representa-lo.

Snape olhou para Draco, mas tirou seus olhos dele quase imediatamente. Seu pálido dedo indicador apontou para onde Revan estava. O herdeiro Black piscou, surpreso, mas deu um passo a frente com a varinha na mão.

“Conhece o feitiço Serpensortia?” sussurrou o professor de poções em seu ouvido.

“Sim, senhor” respondeu Revan. “Há mais algum feitiço que o senhor gostaria que eu usasse em Potter?”

Snape pareceu pensar. “Traga orgulho para a nossa casa” decidiu. Ele desceu do palco e ficou ao lado de McGonagall, com os lábios comprimidos e olhos cerrados.

Nicholas já não mancava ou tremia, mas em seu rosto parte da pele ainda estava amarelada do balaço. Ele deu um sorriso para Revan que não parecia tão brilhante quanto o seu usual. Se o Slytherin não o conhecesse melhor, diria que o Menino que Sobreviveu estava com medo do duelo.

“Reverência!” disse Lockhart. Nicholas deu uma elegante reverência para Revan, que não tirou os olhos dele enquanto se inclinava. “Vou contar até três. Nicholas, tente não machucar seu coleguinha.”

Nicholas assentiu.

“Um... Dois... Três!”

Revan pulou para o lado e se desviou de todos os feitiços que o irmão mandava em sua direção. Sua estratégia era clara: Cansar Nicholas antes de atacá-lo. Nicholas ficou vermelho e ofegante quando percebeu que o Slytherin era mais rápido do que seus feitiços, preferindo então jogá-los sem mirar em Revan, mas em toda a plataforma.

“Protego” O herdeiro Black falou ao levantar um escudo um segundo antes do jato vermelho atingi-lo. O escudo transparente refletiu o feitiço, que ricocheteou para os lados até atingir o chão. Ele olhou para Snape, que parecia entediado. Seus olhos pretos encararam Revan. “Estupefaça! Expelliarmus!”

Nicholas desviou, dizendo: “Impedimenta! Petrificus Totalus! Taranta-”

“Serpensortia!”

Uma imensa cobra saiu da varinha de Revan, partindo para Nicholas rapidamente com as presas à mostra. O ruivo deu um passo para trás e gritou “Impedimenta!”.  O feitiço seria eficaz se o Slytherin não tivesse colocado um simples Protego ao redor da cobra. O Impedimenta apenas fez com que ela se desviasse e fosse na direção da multidão que começara a gritar.

“Mestre?” ela sibilou. Revan sabia que ele era o único que podia falar com ela. “Devo satisfazer meu mestre, assustar os estudantes...” Ela se levantou, pronta para atacar. Justin Finch-Fletchley seria sua vítima. “Sangue ruim” anunciou.

“Pare!” berrou Nicholas, se aproximando da cobra. “Pare com isso, agora! Não destrua o meu duelo!”

A cobra parou e o encarou. Ao mesmo tempo, os estudantes haviam parado de gritar. Agora todos encaravam Nicholas incrédulos.

“Monstro!” acusou Justin, apontando para Nicholas parecendo prestes a desmaiar. “Você acha que isso é engraçado! Seu monstro! Vá para junto de Morgana!” E saiu correndo do hall.

A cobra de Revan desapareceu. Gilderoy correu para Nicholas, verificando se tudo estava certo com ele. Ron se aproximou junto com Hermione, e todos podiam ver a repulsa na face do ruivo. Slytherin, ele pensava revoltado. Seu melhor amigo era mesmo o herdeiro de Slytherin... Era melhor Dumbledore lhe pagar o dobro para continuar apoiando o Menino que Sobreviveu!

Vendo a oportunidade, Revan escapou junto com Nott e os outros Slytherins para a Sala Comunal. Lá dentro, parecia que alguém havia morrido. Se fosse outra pessoa, todos estariam eufóricos com a possibilidade de encontrar o herdeiro daquele que havia criado sua Casa, mas Nicholas Potter, aquele que fazia com que qualquer Slytherin tivesse pensamentos homicidas? Não. Simplesmente não.

Do outro lado do castelo, Nicholas escrevia uma carta para o padrinho.

Se essa é a sua ideia de brincadeira, Padfoot, estou muito desapontado. Pegue o espelho para conversar comigo. Tem algo que eu preciso te contar.

Hedwig voou, levando a carta para Sirius. Nicholas checou duas vezes se as alas de proteção ao redor de sua cama estavam bem colocadas. No espelho de duas vias apareceu a cara do padrinho. O ruivo sorriu. Fazia meses que não via Padfoot.

“Qual é o problema, filhote?” perguntou Sirius.

“Eu sou um ofidioglota” anunciou Nicholas cruzando os braços. “Um maldito ofidioglota!” Ele bateu o punho contra a cama.

Sirius piscou e gritou algo. Logo, James e Lily também se apertavam para caber no raio de visão do filho. Prongs usava as roupas de trabalho, sem dúvida tinha acabado de voltar para casa.

“Nenhum Potter é ofidioglota, filho” James afirmou. “Acredite, eu já tentei.”

“Prongs no primeiro ano sibilava para as cobras para assustar os estudantes” explicou Sirius. “Um dia a serpente se cansou e o mordeu.”

Aquilo não fez com que Nicholas sorrisse. Ao contrário, ele estava prestes a chorar. “A escola toda viu, Padfoot. Eu falei com a cobra que Revan criou.” O ruivo enviou pensamentos de ódio na direção daquele que considerava um amigo. Se não fosse por Black, ninguém saberia do dom. Nem mesmo ele.

“Só porque você é um ofidioglota não significa que você soltou o monstro” sorriu Lily. “Nós sabemos que você nunca faria uma coisa dessas.”

“A escola inteira” repetiu Nicholas. “Já suspeitavam de mim por causa do sangue e os gritos, agora...”ele deixou um gemido escapar. “Vou ser expulso, mamãe.”

Sirius parou para pensar. Todos ficaram em silêncio por alguns minutos, tentando achar uma alternativa viável para escaparem do problema. Lily começou a roer as unhas. James ajeitou o cabelo.

“Onde você estava quando a escrita na parede foi encontrada?” perguntou James.

“Do lado da gata morta.”

“E o sangue leva para os dormitórios de Gryffindor, você disse?” confirmou Lily. Nicholas assentiu, percebendo onde a mãe queria chegar. “Alguém está armando contra você, bebê.”

O ruivo revirou os olhos. Isso ele já sabia.

“Tome cuidado” pediu Lily com a garganta apertada. “Não confie em ninguém, e por Merlin, fique longe de problemas.”

Do que adiantavam aquelas palavras? Nicholas certamente tentou. Só ficou perto de Hermione, já que Ron não estava disposto a ter um amigo Slytherin, evitou as serpentes a qualquer custo, deu duas entrevistas para o Profeta Diário e disse não para uma estilista que queria uma foto de Nicholas com uma cobra enrolada no pescoço.

Nada daquilo foi o suficiente.

Dois dias depois, Flint, de uma conhecida casa de sangue puro, que adorava sibilar para Nicholas quando se encontravam nos corredores, foi encontrado de olhos fechados, jazendo no meio do corredor. Seus olhos não se abriram quando o monitor o cutucou. Como poderiam? Ninguém acordava de um coma bruxo.


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Notas finais do capítulo

1- Sim, Nicholas é ofidioglota. Harry/Revan também. Deixo isso para vocês pensarem quando não conseguirem dormir.

2- Percebi que quando estabeleço uma data para postar, os reviews diminuem. Então, a partir de agora, não há mais data física, apesar de eu prometer que ou será em uma terça, ou em uma quinta. Só não garanto a semana.

3- Comecei uma nova história (que não será postada nesse site, porque eu estou escrevendo diretamente em inglês) e não sei onde estou indo com ela. Assim, terei menos tempo para escrever Cinzas.

4- Não acho que exista um número 4. Ah, é claro. Reviews são muito apreciados!

Até!