Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 21
O Fantoche e seu Mestre


Notas iniciais do capítulo

602 reviews e 20 recomendações, oh my! Amo vocês.

Teria postado ontem, mas a net caiu até agora pouco. Notas no fim do capítulo.

Boa leitura!

EDITADO (devido incompreensão.)



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CAPÍTULO 21

THE PUPPET AND ITS MASTER

Eu deveria estar estudando, escreveu Sally-Anne Perks para seu mais novo e único amigo. Ela caminhava sozinha pelos corredores frios do castelo, tendo seu período livre acabado de começar. Todos os outros Hufflepuffs estavam se divertindo, aproveitando o fato de não terem que estudar por aqueles noventa minutos, porém sem amigos, Sally não tinha nada melhor para fazer do que conversar com Tom. A loira se lembrou de Henry com um sorriso no rosto. Aquele estranho havia sido tão gentil com ela!

Ainda assim você está falando comigo, foi a resposta dada em uma caligrafia magicamente magnífica. O coração de Sally se encheu de alegria ao ver a resposta. Ela ainda não estava sendo ignorada. Como você está hoje, Sally?

Ela deu de ombros, mesmo sabendo que Tom não poderia ver o gesto. O dia está como habitual, pessoas me odiando, holofotes em Nicholas Potter e toneladas de tarefa de casa.

É só o primeiro dia de aula, apontou Tom. Sally deu uma risadinha e se sentou contra as pedras frias da parede. Escrever caminhando não era uma tarefa fácil. Sua tinta logo iria acabar, se a loira continuasse a escrever tanto. Ela não se importava. Nada importava quando se tratava de Tom Riddle. Ele era dela.

Com entusiasmo, ela escreveu o que estava aprendendo em Transfiguração e Poções, como eram as crianças novas do primeiro ano e seu desejo de ajudar os pequenos com a tarefa de casa. Quando se deu conta, seus noventa minutos haviam acabado e ela não havia se movido. Já era hora do almoço, percebeu, mas ela não sentia fome.

Deve ser o nervosismo, disse Tom, sugando a força vital da menina pouco a pouco. Coma mesmo se não sentir fome. Você precisa ficar forte.

Sally se sentiu tonta quando se levantou, tendo que se apoiar nas paredes para caminhar até o Salão Principal. Devia ser fome, sim, devia ser fome. Ela precisava comer rapidamente para conversar mais com Tom. Talvez até mesmo perder uma aula ou duas. Tom parecia gostar da atenção que recebia, e aquilo era o suficiente.

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“Revan!” berrou Nicholas, correndo atrás dele e tentando equilibrar todos os livros que precisariam para as aulas de hoje. “Vai me ignorar o ano todo?”

“Deixe-me pensar” replicou Black, por alguns instantes fazendo uma cara pensativa. “Vou, vou sim.” Ele deu as costas para o ruivo e entrou no Salão Principal para tomar café da manhã. Algo muito mais interessante do que Nicholas o esperava lá. James Potter em pessoa, sentado na mesa dos professores com os braços cruzados, mandíbula rígida e fúria controlada. O olhar que o auror deu para Nicholas quando o ruivo entrou no salão era inimaginável.

Nicholas por sua vez empalideceu instantaneamente e olhou para trás, checando suas possibilidades de escape, mas seu pai já caminhava até ele de um modo que deixava claro para todos a pessoa séria que James Potter havia se tornado. O ruivo engoliu em seco e foi até o pai.

“O que está fazendo aqui?” perguntou com o resto de coragem que tinha. Sua voz tremia e ele procurou por apoio da parte de Ron e Hermione. O outro ruivo estava naquele momento ouvindo um berrador da mãe, prestes a entrar debaixo da mesa de Gryffindor para se esconder dos olhares dos colegas.

Revan apurou os ouvidos para ouvir o que Potter estava dizendo para o filho depois de enfiar um exemplar do Profeta Diário embaixo do seu nariz. “... Comportamento inaceitável... Criado para ser melhor do que isso... 2001 confiscada até o ano que vem... Vergonha para o país...” James finalmente percebeu que estava sendo observado pelos mil estudantes de Hogwarts e foi com o filho até a sala de troféus, puxando Nicholas atrás dele e fechando a porta com um estrondo.

O herdeiro Black lamentou não poder ouvir a conversa, mas de acordo com o rumor que se espalhou poucos minutos depois, o que aconteceu foi o seguinte:

“O que você pensou que estava fazendo?” rosnou James com os olhos castanhos arregalados em fúria. “Trouxas te viram, a matéria está sendo comentada no mundo inteiro... Você tem sorte, moleque, tanta sorte que Dumbledore está do nosso lado! Você poderia ter arruinado tudo!”

Nicholas deu um passo para trás sentindo a força das palavras do pai. “Foi o elfo doméstico!” tentou se defender antes de perceber como essas palavras soavam falsas. O elfo doméstico? Desculpa mais antiga do mundo. James claramente não acreditava nele. “Eu juro, pai! O mesmo que bloqueou minha correspondência e abriu a ferida, ele fechou a passagem para a plataforma!”

“Não vou tolerar essa coisa sem sentido!” cuspiu James, fechando os punhos e segurando a varinha tão forte que os nós de seus dedos ficaram brancos. Sua voz se elevava cada vez mais. “Você ficará sem sua Nimbus 2001, não dará entrevistas, e vou me certificar que cartas e presentes de fãs sejam bloqueados. Vamos ver se uma vida mais restrita vai te ensinar a se comportar melhor!”

“Mas pai...”

“Sem mais, ouviu, Nicholas? Você não voltará para casa no Natal, ou Páscoa, ou em qualquer outra ocasião que possa surgir. Quero O’s em todas as matérias e ai de você se eu ouvir outra reclamação dos professores!”

Nicholas parecia prestes a chorar. James, ao ver o filho daquele jeito, sorriu e movimentou a boca formando as seguintes palavras: Você acha que estamos sendo observados?

O ruivo deu de ombros. James deu um abraço apertado e sussurrou em seu ouvido: “Muito bem Nick. Você mostrou para todos quem você realmente é. Continue assim. Estou orgulhoso de você.”

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O herdeiro Black quase correu na direção das masmorras. Sim, ele estava irritado. Muito irritado. Melhor se manter longe de problemas até que Slytherin ganhasse os duzentos pontos para deixar a competição justa. Seus dentes estavam cerrados, sua respiração curta. James Potter estava relaxado demais quando saiu da Sala de Troféus, denunciando para os cuidadosos que não havia ficado realmente bravo. O moreno estava cheio daquela estupidez sobre o Menino que Sobreviveu!

Revan se sentou pesadamente ao lado de Nott e abriu o livro de poções para dar uma segunda lida antes de Snape chegar. A aula de Poções era a melhor oportunidade para ganhar pontos e fazer com que Gryffindor perdesse pontos. Ele quase esfregou as mãos em antecipação, analisando a classe. Malfoy tinha alguma coisa escondida em sua mão. Blaise estava com os olhos cerrados e carregava sua varinha. Parkinson estava passando várias vezes pelo caldeirão de Neville, convenientemente derrubando ingredientes em pó dentro dele.

Ele viu Greengrass sentada sozinha na carteira da frente. Com um pequeno sorriso, ele deu um sinal de adeus para Nott e caminhou até a loira.

“Olá” seu sorriso era amplo agora. “Posso sentar?”

Seu olhar frio dizia que não. “Pansy vai sentar aqui.”

“Bom, quando ela chegar, vou garantir que ela fique nesse lugar. Enquanto isso, acho que não tem problema eu ficar aqui.”

Hmmm. Greengrass não fez tentativa alguma para conversar, mas Revan não iria desistir tão facilmente. Horas difíceis estavam chegando, os Greengrass representavam o Ministério e tinham uma pequena fortuna guardada no banco.

“Não te vi muito ano passado.”

“Deve ser porque você passou cada dia de 1991 com Potter e seus capangas.”

Ouch. Nicholas o fulminava do outro lado da classe onde estava sentado com Weasley. Hermione estava com os olhos vermelhos atrás deles, sem dúvidas ainda chorando por ter feito algo errado. Revan esperava que a culpa a destruísse por dentro. Nunca uma sangue ruim como ela deveria ganhar tantos pontos apenas por estar junto com uma pessoa famosa ao fazer algo proibido.

“Ou porque você evita outras pessoas como se fossem a sua perdição.”

O herdeiro Black nunca tinha visto olhos azuis tão gelados. “Você veio aqui para me incomodar, Black?”

“Não. Sei que não funcionaria.” Ele viu Pansy entrar correndo e cruzar os braços na frente dele, esperando o lugar. “Essa foi uma tentativa de conversa amigável entre nós.”

Revan deslizou para a carteira de trás. Para a sua surpresa, Greengrass se virou. “Uma tentativa? Como a primeira de várias?”

Ele deu seu sorriso mais charmoso. “Até a próxima.”

Snape entrou na sala de aula sem cerimônias e fez com que os ingredientes da poção que aprenderiam aparecessem na lousa. Não disse nada, mas distribuiu os ingredientes e esperou, respirando no pescoço dos Gryffindors e dando pontos para Slytherins para cada pequena vitória deles. Não derrubou uma gota de água? Dez pontos. Adicionou a quantia certa de Wolfsbane? Quinze pontos.

Logo os caldeirões começaram a derreter. Nicholas foi a primeira vítima, tendo seu caldeirão não só derretido, mas explodido também. Naquele momento todos os estudantes de Slytherin poderiam ser vistos mordendo os lábios para não rir. Neville, Dean, Seamus e até mesmo Hermione tiveram pontos perdidos até o final da aula.

Quem passasse pelo Salão Principal durante a aula poderia ver, curiosamente, os rubis caindo e as esmeraldas subindo cada vez mais.

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No dia seguinte, Gilderoy Lockhart se provou uma piada. Todos os meninos da classe já o odiavam pela reação que as meninas tinham ao redor dele. Lockhart parecia ter um talento natural para irritar pessoas. Nicholas havia confessado para todos que só naquele dia, ele havia encontrado o professor duas vezes, onde teve que tolerar conselhos idiotas de um homem igualmente idiota. Ele saiu da sala de aula assim que descobriu que era Lockhart quem estava indo para lá. Ele tinha aulas de Transfiguração, de qualquer maneira.

Lockhart entrou na sala de aula quase dançando, usando vestes tão bregas que quase faziam Revan e os demais Slytherins chorarem. Seu sorriso brilhava tanto que Nott colocou a mão na face como que ocultando a luz, fazendo os Slytherins ao redor dele sorrirem. Sem risadas. As meninas quase pularam para cima de Lockhart. De Hufflepuff, apenas Sally-Anne Perks não parecia incomodada com o professor galante. Ela estava muito ocupada escrevendo em seu diário. A cara de pug de Pansy estava contorcida em um olhar de admiração. Tracey havia se sentado na primeira fileira para conseguir um autógrafo.

“Eu” disse ele apontando para si mesmo. “Gilderoy Lockhart, Ordem de Merlin, Terceira Classe, Honorário Membro da Liga de Defesa das Forças das Trevas, cinco vezes campeão do prêmio de sorriso mais charmoso da revista Bruxa Semanal, mas não vamos falar disso. Meu sorriso pode ganhar muitas coisas, mas foram as minhas habilidades que me fizeram um dos bruxos mais poderosos da Inglaterra!”

Pansy Parkinson quase babava com a boca aberta.

Gilderoy Lockhart fez com que pergaminhos com perguntas voassem para cada carteira da sala, explicando que aquilo era um pequeno quiz para ter certeza que a classe havia lido seus livros e para checar o conhecimento dos estudantes. Eles tinham trinta minutos para responder o máximo de questões possível. Revan olhou para elas e começou a responder:

Qual é a cor favorita de Gilderoy Lockhart? Rosa brilhante com corações.

Qual é a secreta ambição de Gilderoy Lockhart? Se tornar a Drag Queen do casamento de Nicholas Potter.

O que, na sua opinião, foi a maior conquista de Gilderoy Lockhart? Aprender a usar o penico.

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54. Quando é o aniversário de Gilderoy Lockhart e qual seria seu presente ideal? Dia das mulheres, um espelho para admirar a si mesmo.

Meia hora depois, os pergaminhos voltaram magicamente para Lockhart, que leu as respostas com desprezo até chegar no pergaminho de Revan. Ele corou profundamente, mas continuou e explicou onde poderiam achar as respostas. Em “Um Ano com o Yeti” eles aprenderiam que a cor favorita dele era lilás, não rosa, frisou ele. “Passeando com Lobisomens” dizia que o presente ideal para ele seria a harmonia do mundo mágico, mas que uma garrafa de Firewhisky também o faria muito feliz. Ninguém daquela classe havia acertado as questões, apesar de Revan Black ganhar um ponto para Slytherin pela criatividade.

Lockhart foi à sua mesa e indicou a gaiola para todos, recebendo olhares entediados. O último professor de Defesa Contra as Artes das Trevas ERA um bruxo das trevas, o que podia ser mais assustador do que isso? No fundo da sala, alguém começou a roncar. Revan suspeitava que era um dos capangas de Malfoy. Lockhart não pareceu se importar, pelo jeito que ajeitava o cabelo e alisava as vestes medonhas.

“Como tivemos alguns problemas na aula passada” explicou, escrevendo um autógrafo e o dando para Greengrass. “Não soltarei as criaturas. Vocês devem saber, porém, que só não farei isso por causa do perigo delas. Vejam!” ele removeu o pano que cobria a gaiola. Se possível, a classe ficara ainda mais entediada. Todos esperavam pelo menos um morcego vampiro.

Michael Corner não aguentou e começou a rir ao ver os diabretes balançando seus minúsculos punhos para Lockhart. Mais estudantes se uniram a ele. O professor voltou a corar de vergonha; ele mostraria para aqueles estudantes imprestáveis. Se diziam inteligentes, mas não reconheciam o perigo de diabretes! Lockhart apontou a varinha para a gaiola e ordenou mentalmente: Ataque-os.

Não correu como ele esperava. Aparentemente as criaturinhas azuis estavam irritadas demais com ele para seguir suas ordens. De uma vez, todas pularam no professor, esmurrando e mordendo para a diversão da classe. “Não me ajudem!” pediu Lockhart tentando se levantar, mas sendo impedido por cerca de uma dúzia de diabretes. “Sei lidar com eles. Peskipiksi Pesternomi!”

Anões irritantes parem de me irritar? Revan pensou em corrigir o professor afirmando que aquele feitiço não existia, mas decidiu ficar quieto. Os diabretes estavam deixando ele em paz, por que atrapalhar o fluxo natural das coisas? Tracey Davis finalmente teve pena do professor e o ajudou a ficar de pé, pedindo gentilmente para os diabretes voltarem para a gaiola em troca de um dedo de Lockhart. A promessa não seria cumprida, é claro, mas as criaturinhas azuis não precisavam saber disso. Isso deu a Slytherin cinco pontos.

A classe acabou sendo dispensada mais cedo. Risadas eram ouvidas nos corredores, saindo das bocas de até mesmo os mais sérios Slytherins. Os sangue ruins passariam um ano sem aprender nada, tornando-os assim mais vulneráveis para eles. Malfoy estava especialmente feliz. Naquele dia nem mesmo Revan conseguiu remover o sorriso arrogante da cara do loiro.

__

Alguns dias depois, todos descobriram por que Malfoy andava tão sorridente. Seu pai havia comprado um lugar para ele no time de Quadribol de Slytherin ao doar vassouras Nimbus 2001 para todos do time. Se a relação entre leões e serpentes sempre foi tensa, agora os professores eram obrigados a separar brigas a cada poucos segundos. Nicholas Potter parecia estar prestes a chorar sempre que via um modelo da sua vassoura nova. A bronca podia não ter sido de verdade, mas o castigo era.

Weasley parecia incapaz de formar uma frase sem que lesmas deixassem sua boca. Durante todo o dia, ele foi visto com um balde nas classes e corredores. Para a sua indignação, ele foi proibido no Salão Principal durante as refeições. Só depois do jantar ele foi capaz de manter a cabeça fora do balde por tempo suficiente para comer um pouco.

Hermione tentava parecer forte, mas todos sabiam que o xingamento de Malfoy havia machucado seu orgulho. Colin Creevey, o novo namorado de Nicholas, contou para Revan (na esperança de conseguir mais informações sobre o Menino que Sobreviveu, que parecia evitá-lo mais do que a morte) que Malfoy havia a chamado de sangue ruim. O herdeiro Black não entendia por que ela estava tão ofendida. Os Slytherins a xingavam desde o primeiro ano.

Rumores diziam que Lockhart só havia conseguido o trabalho de professor porque ninguém mais queria o cargo. Depois do final que Quirrell levou, não houve muitos candidatos dispostos a correr o risco. Os estudantes aguardavam ansiosamente o fim do ano letivo.

“O que você acha que vai acontecer esse ano?” perguntou Nott para Revan quando ambos se arrumavam para a festa de Halloween. Nott tinha cortado seu cabelo com uma navalha em luto da queda de Lord Voldemort.

Revan o encarou, sem entender. Nott explicou: “Em 1981, o Lorde das Trevas foi destruído. Em 1991, um troll entrou na escola. E esse ano, o que vai acontecer?”

“A morte do Menino que Sobreviveu” sugeriu o herdeiro Black ajeitando um anel negro no dedo, arrancando risadas de Malfoy e Nott. Os capangas do loiro nunca faziam nenhum som, e Blaise parecia achar sábio ignorá-los quando falavam de um assunto que não lhe dizia respeito. Se Revan não o conhecesse melhor, ele ousaria dizer que Blaise estava com medo. “Ou de Lockhart.”

Os seis desceram as escadas do dormitório e esperaram na Sala Comunal. Eles estavam adiantados. Quase todas as serpentes do castelo estavam lá, observando o Lado Negro, conversando com um dos quadros ou se aquecendo próximo à lareira. Revan se preparou para sentar quando viu algo que atraiu sua atenção: No quadro de Merlin, havia uma cobra que não estava lá da última vez. Curioso, ele se aproximou.

“Eu precisava atrair sua atenção de algum jeito” se justificou Merlin, fazendo a cobra desaparecer. “Eu consigo ouvir os sibilos, garoto. Você deveria ter certeza que aquela era uma ideia sábia antes de realizá-la.”

É apenas um quadro, pensou Revan. Dumbledore não acreditaria em um quadro, e de qualquer maneira, Merlin era leal à Slytherin. “O basilisco obedecerá somente a mim” respondeu apenas movendo os lábios para não ser ouvido.

“O basilisco” corrigiu Merlin, “obedecerá a qualquer ofidioglota.”

“E eu sou o único da escola” constatou o herdeiro Black cruzando os braços.

Merlin parecia divertido por alguma razão. Seus olhos azuis que tão comumente mostravam os séculos de idade pareceram se iluminar. Não era todo dia que ele podia falar com um estudante. “As paredes contam histórias, garoto. Apenas pare para ouvi-las e entenderá o que eu digo.”

Quando terminou de dizer essas palavras, o bruxo mais poderoso de todos os tempos deu as costas para Revan e caminhou para o lago de Avalon, ficando mais distante até desaparecer. O herdeiro Black o observou ir sem dizer nada; ao perceber que não havia o que fazer ali, ele se virou para Nott e, pegando um papel de chiclete do chão, os dois tentaram levitar a embalagem sem pronunciar nenhuma palavra. Foi assim que ficaram até o prefeito os chamar para o banquete.

Todos foram em fila indiana até a mesa das serpentes, se sentaram educadamente e pegaram pequenas porções de comida, observando os arredores. Abóboras com caras desenhadas voavam, tentando morder estudantes que chegassem perto demais. Os alunos do primeiro ano se escondiam atrás dos mais velhos, com medo dos dentes. Fantasmas de fora de Hogwarts haviam sido convidados para a ocasião. Dezenas, centenas deles caminhavam, tentando obter um gosto da comida, assustando estudantes ao passar por eles. Morcegos voavam, chegando a encostar no cabelo das meninas, roubavam comida e iam embora. O mais surpreendente de tudo, porém, era um fantasma feminino que imitava Morgana morta na mesa dos professores.

O Barão Sangrento parecia mais rabugento e sangrento do que o normal. Suas correntes faziam mais barulho ao passar. Frei Gorducho era o único que não conseguia assustar ninguém. O fantasma de Ravenclaw estava na típica posição de morte na entrada do Salão Principal, e todos que passavam por ela desviavam mesmo sabendo que não se passava de fingimento.

Não foi nada disso que deixou Revan tão feliz com a data, foi o fato de que Nicholas Potter não estava lá. Ele tinha conseguido conversar com Nott por cinco minutos e agora discutia política com Greengrass e Parkinson.

Quando seu anel já pesava em seu dedo, algumas horas depois, em algum lugar do castelo, alguém gritou. Filch foi atrás do estudante, determinado a lhe dar uma boa detenção por perturbar a “paz”, quando ele mesmo gritou, de surpresa ou medo, Revan não pôde dizer. Dumbledore se levantou e seguiu o som, em uma velocidade surpreendente para a sua idade, seguido de vários professores. Um a um, os estudantes também saíram do Salão Principal.

Não demorou muito para aqueles que chegaram na frente começarem a falar sobre a Câmara Secreta e uma gata morta. Os professores impediram o acesso próximo demais, formando uma barreira para que a “cena do crime” não fosse contaminada. Dumbledore parecia estranhamente animado com a perspectiva de um novo desafio para Nicholas.

Revan se misturou à multidão para tentar capturar um breve olhar da gata morta e da escrita na parede. Juntos, deveriam haver cerca de duzentos estudantes empurrando uns aos outros para ver se aquilo era mais uma peça dos gêmeos Weasley ou uma tentativa de chamar a atenção da parte de Nicholas. Quem saia de perto, porém, saía ou pálido, ou verde.

As paredes contam histórias...

O cheiro de sangue invadiu suas narinas antes que Revan pudesse ver a parede. O que normalmente significaria o fim de uma luta naquele momento mostrava que os problemas apenas começavam. Nott, um dos mais altos do segundo ano, viu do que se tratava, virou as costas e foi para o dormitório. Lentamente a multidão foi se dispersando; agora, deveria haver cinquenta ou sessenta estudantes, a maioria deles Gryffindors.

“Minha gata...” se lamentava Filch, acariciando Madame Norris presa na parede. “Correntes, Dumbledore, estou te dizendo, só corrente para educar esse moleque!” Ele fez uma tentativa de acertar Nicholas, que se desviou habilmente do golpe.

A CÂMARA SECRETA FOI ABERTA. INIMIGOS DO HERDEIRO CUIDADO.

Revan empalideceu e se aproximou mais. Não havia um pingo de sangue em Madame Norris, e ainda assim, as grandes letras vermelhas precisavam de, no mínimo, um litro de sangue. Nicholas pareceu vê-lo e o chamou com a mão, parecendo desesperado. O herdeiro Black conseguiu acesso até a área proibida. Nada que um Menino que Sobreviveu não resolvesse.

“Revan estava comigo!” insistiu Nicholas. “Pergunte para ele, professor, pergunte para ele! Ele ficou comigo o tempo todo!” Seus olhos castanhos imploravam que Revan mentisse junto com ele.

“Potter está mentindo!” disse Greengrass friamente atrás dele. “Black não saiu da mesa de Slytherin.” Todos pularam, incluindo os professores. Ninguém tinha visto a loira chegar. Seu olhar naquele momento era capaz de matar, e dizia claramente: Não vou te deixar entrar em outra enrascada.

Revan engoliu em seco. Greengrass não tinha o título de rainha do gelo por nada. Submisso, ele deu um passo para trás e esperou. McGonagall imediatamente tirou pontos de Nicholas por mentir. Dumbledore examinou a gata e constatou que ela estava de fato, morta, mas ele não podia explicar a razão. Sem se importar muito com isso, ele checou pálpebras e temperatura do corpo de Madame Norris. Ele deixou escapar um suspiro: se a Maldição da Morte não tivesse sido usada, ele não tinha ideia do que havia a matado.

Eles foram escoltados de volta para seus dormitórios por Snape, e nenhum estudante proferiu uma palavra até que todos estavam devidamente acomodados na Sala Comunal. Os estudantes mais jovens estavam próximos uns dos outros, com medo de o que quer que tenha matado Madame Norris os matasse também. Incerto, Revan se aproximou de Greengrass.

“Obrigado” disse ele, sorrindo. Ele culpava Regulus por não lhe ensinar como flertar melhor com garotas. Ele era pior nisso do que em Oclumência. A loira levantou os frios olhos azuis para ele e piscou. “Por me ajudar. Potter definitivamente iria culpar um Slytherin qualquer.”

Para a sua surpresa, Greengrass retribuiu seu sorriso. Sua voz, porém, estava fria como nunca. “Um companheiro Slytherin protege um companheiro Slytherin.” Lá, lá estava a careta usual. “Acho que você tem uma nova fã.”

Luna Lovegood o encarava, os lábios semi abertos, seus olhos azuis mais arregalados do que Revan pensou ser possível.

“Com licença, senhorita Greengrass” disse ele, se afastando e se dirigindo para outra loira, muito menos atraente do que a anterior, apesar de que exótica em seu próprio jeito de ser. Ele estava tranquilo, mas girava o anel negro para manter as mãos ocupadas. Ele não podia mais roer as unhas em público. “Olá. Não pude deixar de notar seu olhar.”

Como todos naquela área.

Luna não pareceu notar o humor negro em sua voz. “Os zonzóbulos me disseram para fazer isso” explicou, levando a mão para a cabeça e a abanando como se tentasse tirar alguma coisa de lá. “Nem mesmo meu colar de rolhas consegue mantê-los longe de mim. Eles continuam falando, falando e falando, repetindo seu nome e pedindo que eu fosse falar com você, então pensei, que melhor oportunidade do que essa?”

“Alguém acabou de ser atacado” apontou o herdeiro Black. “Poderia ter sido um estudante.”

A loira deu um sorriso vago. “Mas não foi. Viu como as coisas se encaixam como minúsculos quebra cabeças no mundo? A vida é bela.”

Não a minha. “Bom, o que você quer?”

“Eu?” Luna deu um risinho secreto. “Eu não quero nada, mas se você conversar comigo, eu agradeceria. Ando muito solitária." 

Posso ver. "Claro" ele sorriu, e começou a caminhar. Se virando, disse: “Você não vem? Não consegui terminar meu jantar. Tenho certeza que os elfos têm alguma coisa nas cozinhas.”

“Pudim?”

“Sim, pudim com certeza. Vários tipos de pudim.”

Ela não parecia convencida. “Vários?" 

“Vários. Vamos.”

Revan deixou que ela caminhasse na frente dele durante todo o percurso até o quadro que levava às cozinhas. Depois de fazer cócegas no quadro (o que ele achava ser uma coisa ridícula) eles desceram as escadas até um espaço amplo como o salão principal, porém cheio de criaturinhas que ele conhecia muito bem.

“Elfo!” chamou. “Perdemos o banquete. Pode nos preparar alguma coisa?” O elfo mais próximo fez uma longa reverência e aparatou para o fogão.

Sem nada para fazer, o herdeiro Black foi pegar as bebidas para os dois, se dirigindo para onde suco era extraído de grandes abóboras e misturado com diversos ingredientes para ficar com um sabor mais acentuado. Revan pegou dois copos e, usando seu corpo para se proteger, removeu o anel do dedo e usou as unhas para arrancar a pedra dele. Era apenas um tranquilizante. Com um miligrama, alguém relaxaria. Com três, se conseguia uma boa noite de sono. Com os cinco miligramas da pedra, você dormiria, e não se lembraria nada da noite anterior. Ele depositou a pedra no suco de Luna, e observou que o ingrediente prontamente se desfez.

“Aqui, Luna. E aqui, nossa comida.”

A loira olhou para sua taça, piscou e a tomou de uma vez. O sorriso que deu para Revan em seguida já não era o mesmo. 

"E então, sobre o que quer conversar?"

Luna bocejou. "Que tal Harry Potter?" 

Revan enrijeceu. Sua mão foi para o coldre da varinha, mas sua voz não se alterou. “O que sobre ele?" 

"Você não acha Harry Potter fascinante?" 

O sorriso dele era fixo. "Ele está morto." 

"Não!" e ela se pôs a explicar todas as teorias que tinha sobre Harry Potter. Revan foi ficando cada vez mais pálido conforme o tempo passava. Logo ele estava grato pelos cinco miligramas que havia depositado no suco de Luna. Ele esperou a menina bocejar mais duas vezes antes de perguntar se estava tudo bem.

Luna se levantou, cambaleando. “Sim, só... Sono... Melhor dormir.” Ela se apoiou nele para subir as escadas e caminhar até o corredor que dava na Sala Comunal de Ravenclaw. Revan não ousou ir mais além: Alguém poderia vê-los juntos. “Obrigada pela conversa. Foi bom ter alguém para conversar, pelo menos uma vez...” Bocejo.

“Foi um prazer te conhecer” mentiu Revan, indo na direção oposta. Ele imaginou o basilisco em sua cabeça:

Servo... Eis para você, uma vítima.


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Notas finais do capítulo

Melhor?

Ok.
1- Não me matem. Eu só não queria a Luna no caminho.

2- Algumas pessoas (plural) estão pedindo slash nessa fic. Como sei que alguns não gostam, eu estou escrevendo um único capítulo yaoi Harry/Voldemort para os que gostam.
Problem: Eu não tenho a mínima ideia de como desenvolver A cena. Já tá tudo escrito, menos isso. Dicas? (Outras fanfics, por exemplo?).

3- Estou de mudança para Goiânia e não sei quando vou conseguir internet. Acho que vai dar para postar terça... Com a colaboração de vocês.

Obrigada por lerem, não deixem de escrever suas opiniões tanto desse capítulo quanto da fanfic como um todo!

Até!