Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 16
Nemesis


Notas iniciais do capítulo

Vocês cumpriram a parte de vocês, eu cumpro a minha.

Obrigada a todos que comentaram até essa fanfic passar dos 400 reviews. Eu amo vocês.

Eis meu capítulo favorito:



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CAPÍTULO 16

NEMESIS

Revan não se mexeu. Ele sentiu o vento ser “quebrado” ao redor dele, se aproximando, e com a varinha ainda em sua mão, ele lançou um feitiço de proteção que o envolveu como uma segunda pele, invisível aos olhos. O impacto foi suave como um acariciar, apesar de parecer bem brutal exteriormente. O herdeiro Black desabou no chão com os olhos fechados. Ele apurou os ouvidos. Alguém estava chorando... Hermione? Nenhum som veio de onde Nicholas e Ron estavam. O moreno esperou.

“Nos livramos de um obstáculo” falou Nicholas sem dar a menor importância. “Agora só falta o de Quirrell, Snape e Dumbledore.”

“Nick!” replicou Hermione, com o que Revan imaginou serem olhos arregalados. “Ele é nosso amigo!”

Ron ficou do lado bom de Nicholas, como sempre. Hermione podia ter a melhor cabeça, mas Nicholas era o Menino que Sobreviveu. Ele sempre teria a palavra final. “Ele é um Slytherin” cuspiu. “Não fazemos amizade com Slytherins.”

“Um Slytherin salvando a Pedra Filosofal” completou Nicholas. “Não combina. Nos ofuscaria. Melhor deixa-lo aí como o covarde que é.”

Revan usou sua magia para rodear os restos das peças de xadrez quebradas, como se fossem um só, e pensou fortemente na palavra que ativaria a chave de portal que residia em seu pescoço como a corrente que havia ganhado de Voldemort no Natal. Harry Potter. Harry Potter. Harry Potter. Aqueles que olhassem para Revan naquele momento o veriam oscilar na luz, junto com as peças quebradas. Ele estava lá, e de repente, não estava mais.

Nicholas foi quem notou a sua ausência, apontando com a boca aberta. Ele queria o menino desacordado, não morto! Que outro motivo haveria para ele ter desaparecido junto com o lixo? Jogado em algum lugar, desaparecendo junto com cerâmica... Sua reputação, oh Merlin, o que seus pais pensariam daquilo. Amiguinho Slytherin do Menino que Sobreviveu desaparece. Nada bom. Ele precisaria criar alguma história com o Professor Dumbledore para explicarem o sumiço de Revan.

Agora os três Gryffindors olhavam para onde Revan estava alguns instantes atrás. Hermione conseguiu sussurrar: “Onde... Onde ele está?”

Também chocados, os ruivos não puderam lhe responder. Logo se viraram e continuaram o jogo. Revan não era o assunto de maior importância. Eles precisavam ganhar.

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Revan se levantou rapidamente ao ouvir o rugido do troll. Ele não tinha tempo de testar os músculos; mal teve tempo de se desviar do bastão que vinha em sua direção. A sala era grande, porém não possuía lugar algum para se esconder do troll. No pescoço do gigante, havia uma chave dourada que Revan podia apostar, abriria a porta. O gigante rugiu, fazendo o herdeiro Black parar de respirar por um momento. Talvez essa fosse uma das brincadeiras doentes de Voldemort, fazer o ladrão se intoxicar com o bafo do troll.

Ele pulou para o lado e usou as peças de xadrez para criar um escudo na sua frente que foi prontamente quebrado com o bastão do troll. Sem tempo para bobagens, certo? Ele precisava chegar ao teste de Snape antes que o desafio do xadrez acabasse. “Impedimenta!” brandiu Revan, lançando sucessivos raios verdes em direção ao troll, que cambaleou, chocado, e caiu para trás.

Problema resolvido. Enigma de Snape, lá vamos nós.

Revan entrou na sala, e a porta por onde havia entrado se encheu de chamas. A porta pela qual deveria passar também brilhava com chamas azuis. Revan examinou a pequena sala:  Sete poções estavam em cima de uma mesa, o único móvel do ambiente. Se aproximando, o herdeiro Black percebeu que havia um pergaminho já escrito. Ele se inclinou para ler o que o pergaminho dizia:

O perigo o aguarda à frente, a segurança ficou atrás,

Duas de nós o ajudaremos no que quer encontrar,

Uma das sete o deixará prosseguir,

A outra levará de volta a quem beber,

Duas de nós conterão vinho de urtigas,

Três de nós aguardam em fila para matar,

Escolha, ou ficará aqui para sempre,

E para ajuda-lo, lhe damos quatro pistas:

Primeira, por mais dissimulado que esteja o veneno,

Você sempre encontrará um à esquerda do vinho de urtigas;

Segunda, são diferentes as garrafas de cada lado,

Mas se você quiser avançar, nenhuma é sua amiga;

Terceira, é visível que temos tamanhos diferentes.

Nem anã nem giganta leva a morte no bojo;

Quarta, a segunda à esquerda e a segunda à direita

São gêmeas ao paladar, embora diferentes à vista.

Revan leu as informações várias vezes, fez rascunhos no pergaminho e na própria mesa, eliminando os venenos e inimigos, e chegou na terceira garrafa, que curiosamente, possuía menos conteúdo do que a menor garrafa. Óbvio. Tão óbvio. Certo que havia feito a decisão certa, ele engoliu o conteúdo e caminhou para as chamas azuis. O interior do seu corpo parecia gelado e como esperado, ele não se queimou, ou morreu instantaneamente.

Do outro lado, estava o Espelho de Ojesed. E na frente dele, uma figura o encarava, translúcido.

O coração de Revan pareceu parar de bater. Ele correu para a forma, por onde era possível ver o espelho. “Senhor? Meu senhor, o quê...” o resto da pergunta pairou no ar. Ele não estava morto, estava? Não quando Revan havia chegado tão perto de dar a ele a força que seu mestre precisava para voltar com toda a força que tinha.

Voldemort deu um triste olhar para ele, e Revan percebeu que os olhos de Quirrell estavam vermelhos. “O sangue de unicórnio não foi o suficiente” suspirou. “Eu conversei com Regulus. Ele está em posse de um objeto muito especial” Revan abriu a boca para falar, mas Voldemort continuou: “Fui estúpido. Tomei posse de um corpo quando o que deveria ter feito era partilhá-lo. Vou morrer... Precisamos ser rápidos, garoto. A Pedra Filosofal está dentro do espelho, mas tudo o que vejo sou eu, em um mundo mágico e puro. A pedra está em minhas mãos, mas como vou retirá-la daí? Quebrar o espelho, talvez.”

Revan olhou seu reflexo. Lá estavam, Regulus e Voldemort, sorrindo para ele. Harry Potter acenou em cumprimento e, se ajoelhando, deu a Pedra Filosofal para o seu mestre. Mesmo sabendo que aquilo era uma mera ilusão, Revan estendeu a mão para o espelho. Tão real e profundo... Algo brilhou no canto direito do seu olho. Curioso como sempre foi, ele se aproximou para ver o que era.

Um manto, em um negro que faria claro qualquer outro negro, com uma capa rasgada que, Revan descobriu, fazia o seu rosto tão enegrecido quanto a capa. Com pressa, ele o vestiu e caminhou para o espelho novamente. Voldemort era definitivamente inteligente. Nicholas Potter apareceria por aquela porta a qualquer momento, e não poderia ver um aluno, um amigo, conciliando com o inimigo. Apenas os seus olhos estavam visíveis. Olhos de um verde tão brilhante que Revan sabia que havia alguma magia neles. O reflexo parecia ainda mais perigoso e impotente com o manto.

Sua varinha também se alongou e foi revestida por uma cobra de prata, ocultando a varinha de estranhos. Uma pena que Revan não conseguiu trazer a sua varinha ilegal para Hogwarts, isso faria as coisas mais simples. Por enquanto, aquilo seria o suficiente.

“Você vê algo?” questionou Voldemort.

“Eu” sussurrou Revan de volta. “Eu, você, Regulus. Nós temos a Pedra Filosofal. Também não sei como tirá-la daí.”

Eles ouviram passos do outro lado da porta e Revan se apressou em ficar atrás de uma das colunas. Melhor não se revelar agora... Um ataque surpresa para Nicholas poderia ser mais eficiente. Sim, pelas costas, como um Slytherin faria. Injusto, mas mais rápido e com maiores chances de vitória. Ele esperou.

A porta se abriu. Os dois bruxos das trevas se viraram para ver o invasor. É claro, quem mais poderia ser? Os dois encararam friamente Nicholas Potter, que entrou na sala com a maior determinação do mundo.

Nicholas Potter tinha acabado de ver o melhor amigo se sacrificando para que ganhassem o jogo. O Slytherin Black ainda não havia reaparecido, mas graças a Merlin, o corpo de Ron continuou lá depois de um tempo. Hermione havia voltado para a sala do xadrez apenas para se certificar disso. Ao ver a poção certa praticamente vazia, ele sabia que alguém já havia passado por lá. O troll, que ainda se recuperava, era outra prova disso.

Ele se deparou não com uma pessoa conhecida que definitivamente não era Snape. Era Professor Quirrell. Aquele que ensinava as coisas mais legais da escola, competindo até mesmo com Professora McGonagall. Suas aulas eram fantásticas. Ele havia sido um professor vindo de Hufflepuff, a casa mais zen da escola. Todos os fatores estavam contra ele. Não havia motivo nenhum para um professor roubar a pedra quando ele mesmo havia ajudado a protegê-la.

“Professor?” tentou, tirando a varinha do coldre. “O que está fazendo aqui?”

Voldemort levantou os olhos para ele. Quase não havia mais Quirrell em sua expressão. A pele extremamente pálida, olhos vermelhos e cabelos cacheados ocupavam os olhos e cabelos castanhos de Quirrell. “O que você acha que estou fazendo aqui, moleque?”

Nicholas assumiu uma feição preocupada. “Você está sob a maldição Imperius, não está? Quem te amaldiçoou?”

Um movimento de varinha e o ruivo caiu no chão, as mãos ao redor da garganta. Ele não conseguia respirar, não conseguia... Ele não podia acreditar; Nicholas achava que Professor Quirrell fosse forte o suficiente para resistir a uma maldição. Alguém realmente poderoso devia ter lançado Imperius nele. “Professor, vamos conversar com Dumbledore” falou quando a pressão em sua garganta foi liberada. “Ele vai descobrir um jeito de tirar a maldição.”

“Tolo!” berrou Voldemort. “Não estou sob maldição nenhuma! Quirrell é quem deveria ser ajudado, não eu! Quirrell me deu um corpo tão ruim, tão frágil, que ninguém iria suspeitar de mim. O professor super bacana de Hogwarts, vindo de Hufflepuff! Ninguém é mau em Hufflepuff! Vamos lá! Poupe-me! Lord Voldemort tem seguidores em cada lugar que se possa imaginar!”

O ruivo parecia chocado. Seus dedos se apertaram mais firmemente contra a varinha e seu queixo tremeu. “Não pode ser você. Você-Sabe-Quem está morto. Eu matei Você-Sabe-Quem. Ele me deu isso!” gaguejou, apontando para os dois cortes paralelos na bochecha. “Madame Promfrey disse que era resultado de magia negra!” ele parecia ficar mais e mais desesperado. “E eu tinha vestígios da maldição da morte! Não pode ser você. Você está morto, MORTO!”

No canto da sala, Revan mordeu os lábios para não rir.

O discurso parecia ter acabado, porque Nicholas lançou um feixe de luz branca na direção de Voldemort. Sem forças para lançar um feitiço, ele se inclinou para o lado. O duelo de uma via só continuou por mais alguns segundos, Nicholas atacando e Voldemort desviando. O padrão repetitivo começou a deixar Revan entediado, e ele se encostou contra a coluna onde estava escondido e fechou os olhos. Seu mestre era poderoso. Com certeza ele conseguiria aguentar a magia de um menino de onze anos.

Ele estava errado. Nicholas poderia ser estúpido na maioria das vezes, mas ele sabia como lançar feitiços rapidamente. Voldemort começou a se desesperar; ele olhou para onde Revan estava escondido, porém permaneceu quieto. O inevitável aconteceu. Um dos feitiços atingiu Voldemort, e ele gritou em agonia. A luz branca que Nicholas havia lançado para ele (que deveria apenas desacordá-lo por um longo tempo) rodeou o seu corpo, e ele estava queimando, cada centímetro de sua pele queimando...

Seus pensamentos se voltaram para os unicórnios que havia matado. Talvez o que fora salvo não havia sido o suficiente. Ele sabia muito bem que o sangue de um unicórnio era amaldiçoado, mas tinha ignorado isso em sua sede pelo poder. Ele olhou para a sua mão; carbonizada, ficando mais negra a cada minuto que se passava. Ele sentiu sua alma deixar seu corpo mais uma vez. Não! Não outra vez!

Seus pedidos foram em vão. Sem o controle das pernas, o corpo de Quirrell desabou no chão, e se você prestasse bem atenção, veria algo negro, mas quase transparente, sair do corpo e flutuar para longe dali, para sua casa abandonada onde poderia se recompor.

Hora para aparecer, pensou Revan. Com um passo, ele não estava mais escondido, mas ainda assim nas sombras.

Nicholas levou um tempo para vê-lo, mas quando o viu, deu um passo para trás. A figura que via estava tão imersa em escuridão que ficava difícil para Nicholas descobrir onde ela começava e acabava. O mais surpreendente porém era a altura da figura: 1,50, 1,60 no máximo? Aquilo era uma criança que havia assistido a conversa e o duelo sem ajudar Nicholas.

Isso o irritou. Ele era o Menino que Sobreviveu, Merlin, qualquer pessoa tinha a OBRIGAÇÃO de ajuda-lo quando precisasse. Não que ele precisasse de ajuda; claramente, ele havia derrotado o Lorde das Trevas mais uma vez.

Ele pensou em cumprimentar a figura, mas decidiu pelo oposto, dando mais um passo para trás. “Quem é você?” perguntou, a varinha tremendo entre seus dedos.

Revan piscou. Ele não esperava aquela pergunta. Quando se via alguém tão assustador quanto ele devia parecer agora, não se perguntava o nome. Se corria. Era isso que o estúpido Gryffindor deveria estar fazendo naquele momento. Seu cérebro começou a funcionar, voltando para as aulas que teve na infância, nos livros que havia lido e anagramas que havia criado para si mesmo. Logo decidiu seu nome.

“Sou Nemesis.”

“Nemesis de quem?”

“Sua. De todos nesse castelo. De todos que mexerem comigo.” Sua voz era fria e sem emoções. Aquele era Revan Black, ou Harry Potter, o que você preferisse, sem máscara alguma. Aquela era a criatura que os Potters haviam criado. “Saia daqui enquanto pode” avisou. “Antes que eu decida que eu prefiro ter sua cabeça em cima da minha lareira.”

Nicholas não sabia se aquela era uma ameaça real ou não, mas engoliu em seco. Aquela era a primeira pessoa que o ameaçava tão diretamente. “Você não vai me matar...” murmurou. “Eu sou o Menino que Sobreviveu.”

“Status” falou Revan lentamente. “Não significa nada na guerra. Você acha que alguém te poupará por causa de um apelido? Deixe me te dizer, Potter, em uma batalha, você não tem tempo para alertar a todos que você é o Menino que Sobreviveu, e eu te garanto, se você tentar, Potter, seu status deixará de ser válido, pois você não sobreviverá.” Com um estalar de dedos, correntes de metal cercaram Nicholas e o apertaram o máximo possível sem causar danos reais.

Revan olhou o espelho. Lá estava Regulus, sorrindo para Harry Potter, que estava na frente de Voldemort e o que Revan imaginava ser Tom Riddle. Cada um deles tinha um cálice de cristal em mãos; dentro de cada cálice, havia um brilhante mas claro líquido vermelho. Pela força demonstrada pelos quatro reflexos que Revan via, o herdeiro Black percebeu o que o líquido era.

Aquilo não era tudo. No pescoço de cada um, havia uma pequena pedra vermelha que parecia ser um pedaço de uma pedra maior. Revan estava maravilhado; eles dividiriam a pedra, então.

Ele cruzou os braços em frustração. Não importava o quanto ele pensasse em como recuperar a Pedra Filosofal, nada lhe vinha à mente. Ele se virou para Nicholas, o levitou e o colocou na frente do espelho. “O que você vê?” perguntou. “Dumbledore armou tudo isso para você. Você é provavelmente a única pessoa que consegue desvendar esse enigma.”

Nicholas olhou para o espelho com lágrimas nos olhos. Sua visão estava embaçada, mas ele percebeu que estava sozinho no reflexo. Sem jornalistas, família ou as garotas ruivas que ele gostava tanto de dar em cima; apenas ele, indiferente, encarando o real Nicholas. Onde estava a Pedra Filosofal? De acordo com Nemesis, ela deveria estar dentro do espelho. Não podia estar em outro lugar da sala.

“Meu reflexo” respondeu com a cabeça baixa. “Apenas meu reflexo.”

O ruivo gritou quando as correntes se esquentaram subitamente, derretendo suas vestes e entrando em contato com a sua pele, queimando-a. Aquamenti, aquamenti, sua mente repetia, porém ele não conseguia pronunciar as palavras ou usar a varinha que estava bem na sua frente. Sua garganta estava muito ocupada com os gritos agoniados. A varinha estava longe demais.

“Não minta para mim” rosnou Nemesis, aumentando ainda mais a temperatura das correntes de ferro. “O. Que. Você. Vê?”

“Eu juro! Sou só eu! Não sei como tirar a Pedra Filosofal de lá, eu não sei, por favor...” Nicholas começou a soluçar. Não era assim que uma pessoa tão importante quanto ele deveria morrer. Ele queria sua mãe, seu pai, alguém para salvá-lo. Por que Dumbledore tinha que estar fora de Hogwarts? Se o que Nemesis havia dito era verdade, Professor Dumbledore deveria ficar lá para ter certeza que Nicholas conseguisse recuperar a Pedra Filosofal.

Pense, Revan, pense. Se a Pedra Filosofal saísse do espelho, onde ela apareceria? O herdeiro Black apalpou os bolsos do irmão freneticamente, tentando sentir o volume da Pedra. Nada. Ele soltou as correntes depois de permitir que elas voltassem à temperatura normal, fazendo Nicholas suspirar, aliviado.

Revan voltou a olhar no espelho, Nicholas ao seu lado. Quando os dois encararam o espelho juntos, a imagem que Revan viu mudou. Ele era Harry Potter, um menininho de cinco anos, brincando com um menino ruivo de igualmente cinco anos, extremamente parecido com o moreno. O pequeno Nick sorriu para o irmão e lhe entregou algo; uma pedra. Não uma pedra qualquer, A Pedra.

E para a sua surpresa, Revan sentiu seu colar de cobra ficar mais pesado, e seu peito se aqueceu com o contato de algo que parecia estar vivo.

Seu choque deve ter sido demonstrado em suas feições, porque Nicholas, agora liberto, pulou para cima dele. O ruivo não era bobo. Ele sabia que Nemesis era mais poderoso do que ele e não tinha misericórdia. Talvez, havia uma pequena possibilidade, que Nemesis fosse um sangue puro e assim, não soubesse lutar como um trouxa.

Esse pensamento não foi concretizado. Revan sabia lutar e sabia lutar muito bem, usando seu corpo pequeno como vantagem, os quilinhos a mais de Nicholas contra o ruivo e sua velocidade a seu favor. Pena que ele não tinha muita força física, apesar dos anos de treinamento intensificado que havia feito com Regulus. O período de socos e chutes, assim como o de fome, sempre deixaria Revan mais fraco do que outros meninos da sua idade.

Os dois rolaram pelo chão, tentando imobilizar o outro. Suas varinhas estavam esquecidas; naquele momento, nenhum dos dois eram bruxos, apenas crianças brigando por algo que julgavam importante. Nicholas tentou ver o que estava debaixo do capuz; cor de cabelo, verdadeira cor dos olhos, formato do rosto, qualquer coisa para conseguir identificar Nemesis, mas o capuz não caía.

Em um determinado ponto da luta, Revan assumiu o poder, sucessivamente colocando Nicholas no chão. Ele encarou o irmão, ofegante. “Não pense que você é melhor do que eu” sussurrou perigosamente. “Não aja como um estúpido Gryffindor. Você está longe, muito longe, de se tornar alguém digno de se comparar comigo. Eu sou melhor do que você, em todos os aspectos, Potter.”

Um restinho de dignidade fez Nicholas cuspir: “Palavras de um Slytherin. Uma pessoa que carrega esse nome não é melhor do que um maltrapilho que vemos por aí. Qualquer pessoa é melhor do que você, Nemesis. Você não é nada.”

Revan rolou e pegou sua varinha. Seu irmão não ousaria falar aquilo para ele. O herdeiro Black teria que ensinar a Nicholas uma lição que ele jamais fosse esquecer. Encarando os olhos castanhos do irmão, Revan entrou em sua mente e rapidamente lançou feitiços de explosão. Dor, dor bem dentro dele. Talvez agora Nicholas tivesse uma ideia do que era ser bombardeado com xingamentos todos os dias.

O ruivo colocou as mãos na lateral da cabeça. O que estava acontecendo? Seus neurônios pareciam estar explodindo. Ele se perguntou se Nemesis tinha um limite e qual seria. Uma pessoa tão jovem não podia conter tanto ódio contra um desconhecido. Quem era Nemesis, por que ele estava fazendo isso, por que escondia sua face, e quais eram seus motivos para roubar a pedra?

“Dumbledore está vindo” mentiu, já quase sem voz. “Ele vai te encontrar. Nem mesmo Você-Sabe-Quem pode derrotar Dumbledore. Você, Nemesis, vai para Azkaban pelo resto da sua vida. Fuja enquanto pode.”

“Não caio em conversa de Gryffindors. Dumbledore está longe daqui, nós dois sabemos disso. Por que acha que eu escolhi hoje para roubar a Pedra? Você consegue ser tão inteligente às vezes, mas tão estúpido na maioria do tempo! Uma palavrinha de consolação. Se eu quisesse te matar, eu teria feito isso muito tempo atrás. Não, Potter, eu tenho algo muito pior reservado para você, mas isso terá que esperar. O melhor é a antecipação, o medo das vítimas, antes do ato. Lembre-se de mim.”

Nicholas virou as costas para ele, e aquela foi a oportunidade que Revan estava esperando. “Eudict!” sibilou, fazendo o movimento de um N curvado no ar. No exato instante, um longo corte foi aberto nas costas de Nicholas, de fora a fora. Ele não gritou; ele não tinha mais voz para gritar.

“Apenas um lembrete” avisou Nemesis em seu ouvido, antes de dizer algo irreconhecível e desaparecer.

Quando Dumbledore chegou na sala, alguns momentos depois, a cena que viu foi uma sala quase vazia, exceto por um espelho e uma criança ruiva deitada de bruços no centro. Desenhado em suas costas, havia um N sangrento.

 __

“Nick... Nick, acorda cara” disse uma voz conhecida, o cutucando levemente. Nicholas gemeu e tentou fechar os olhos mais ainda, lutando contra a claridade que invadia seus sentidos. “Você está dormindo faz dois dias. Metade de Hogwarts está tentando entrar na Ala Hospitalar para te ver e a outra metade está na sala do diretor porque tentou entrar sem permissão.”

Ele gemeu novamente e abriu um olho. Ron olhava para ele com expectativa, assim como Revan e Hermione, inclinados na cama com lençóis brancos. Claro demais, decidiu, fechando o olho e tentando voltar a dormir. Todo o seu corpo doía... Como era possível cada parte do seu corpo doer tanto? Ele não se lembrava de ter caído da vassoura. Vassoura, Voldemort... A Pedra!

Nicholas pulou da cama, se arrependendo imediatamente ao sentir uma dor excruciante nas costas. Ele levou uma das mãos para as costas, vendo as marcas vermelhas de corrente que estavam lá. “Minhas costas” reclamou. “O que aconteceu com as minhas costas?”

Madame Pomfrey entrou em cena junto com Dumbledore. Ela executou um feitiço diagnóstico básico no corpo e franziu. O garoto não deveria estar com dor agora. “Esperávamos que nos dissesse, Sr. Potter. O ferimento em suas costas é resultado de magia negra poderosa; nós tentamos de tudo, mas você carregará uma cicatriz para sempre.”

Dumbledore completou suavemente: “Sua primeira ferida de batalha. Pode nos contar como a conseguiu?”

Nicholas assentiu e abriu a boca, quando as portas da Ala Hospitalar “explodiram”, revelando Lily e James Potter. Lily correu para a cama, se ajoelhando ao lado de Revan, fazendo-o enrijecer. Revan não conseguia se lembrar de alguma vez em que a mãe havia tocado nele de um jeito gentil.

“Meu bebê!” ela falou com açúcar na voz, acariciando a testa do filho. “O que fizeram com você? Dumbledore, eu achei que essa escola fosse segura! Olhe o que fizeram com Nick!” ela gesticulou furiosamente para as queimaduras e gaze envolta no corpo do filho.

“Mãe...” gemeu Nicholas, escondendo a face em um travesseiro. “Eu não sou o seu bebê.”

James se sentou ao lado dele na cama. “Você sempre será o nosso filhinho, não importa a sua idade. Eu já acionei um time de aurores que vasculhou a cena; a Pedra Filosofal desapareceu.”

O pouco de luz que havia no ruivo desapareceu. Ele havia falhado. Depois de anos estudando, meses atrás da Pedra Filosofal, ele a perdera para um estranho. Um estranho muito poderoso, sim, mas Nemesis era uma criança assim como ele. Nemesis! “Papai, mamãe... Tinha alguém lá.”

O auror deu um sorriso triste para o filho. “Já sabemos de Quirrell, querido. Seu amigo aqui” ele apontou para Revan “nos contou sobre ele. Sirius achou os restos mortais do verdadeiro Quirrell em um lago na Albânia. Ele me enganou.”

“Ele enganou a todos nós” corrigiu Dumbledore. “Pelos relatos do jovem Sirius, o corpo já estava em uma fase avançada de decomposição. Ele estava morto por pelo menos quinze meses.” O velho deu um sorriso tolo. “Não acredito que dei o emprego de Defesa Contra as Artes das Trevas para o bruxo mais temido que a Grã Bretanha já viu.”

Todos ao redor da cama compartilharam uma risada nervosa.

Madame Pomfrey pareceu se dar conta de quantas pessoas haviam na Ala Hospitalar, porque apontou para Ron, Revan e Hermione e depois, apontou a porta. Nicholas fez que não com a cabeça quando Revan fez menção de se mover. “Fique” ele pediu. “Eu posso precisar da sua ajuda.”

Ron parecia particularmente ofendido que Nicholas não precisaria da ajuda dele, mas saiu junto com Hermione, louco pelo jantar.

“Papai, eu não estava falando de Quirrell. Tinha mais alguém lá” insistiu Nicholas.

Lily ia ficando mais vermelha a cada minuto que passava. “Quem? Alguém dessa escola? Quem estava conspirando contra meu bebê?”

O ruivo deu de ombros e estremeceu com a dor. “Eu não sei. Não consegui ver a cara dele.”

A velha enfermeira fez com que Nicholas se sentasse, tirou a camiseta dele e olhou as costas machucadas. A ferida ainda estava fresca. Movimentando a varinha rapidamente, uma agulha começou a costurar o corte. Era a terceira vez que ela tentava isso, mas Madame Promfrey não perderia a esperança tão cedo, não quando as poções não haviam funcionado. “Foi ele quem te deu esse machucado?”

“Ele era poderoso” concordou Nicholas. “Muito poderoso, mas não era muito velho. Parecia ter a minha idade.” Os adultos ao redor da cama pareceram surpresos. O ruivo continuou: “Ele disse que seu nome era Nemesis.”

Dumbledore balançou a cabeça, desejando ter uma gota de limão para pensar melhor. Nemesis... Nunca havia ouvido falar de alguém chamado Nemesis. Um nome um tanto incomum. “Foi esse Nemesis quem pegou a Pedra Filosofal, então” afirmou.

Seu teste para o Menino que Sobreviveu havia falhado. Se Nicholas não conseguia passar por obstáculos tão fáceis quanto aqueles, o que esperar quando a Grande Batalha finalmente chegasse? O futuro do mundo bruxo estava nas mãos dele. Dumbledore iria intensificar o treinamento do menino no verão. Talvez dar aulas ele mesmo. Feitiços mais poderosos, preparação animaga, qualquer coisa para estimular a magia do jovem.

“Ele pareceu familiar?” tentou James. “Reconheceu alguma coisa nele? Nem mesmo o jeito que andava ou falava? Tente se lembrar. Você deve ter encontrado metade do mundo bruxo antes de vir para Hogwarts.”

“Papai” insistiu Nicholas. “Eu não sei. Ele apareceu do nada, e me deu essas queimaduras. Não tive tempo para notar o jeito que ele andava ou falava. Eu estava muito ocupado gritando.”

Um soluço escapou de Lily. James colocou uma mão nas costas da esposa como conforto, mas vendo que não estava funcionando, ele a abraçou. A ruiva continuou a soluçar no peito do marido.

“E essa marca?” perguntou Dumbledore. “Você se lembra se ganhar essa marca?”

Nicholas pareceu confuso. “Que marca? Eu tenho alguma marca agora?”

“Suas costas” apontou Revan.

“É uma tradição muito antiga” explicou Dumbledore, vendo os olhares confusos das crianças. “Guerreiros deixavam lembretes para assustar inimigos. Inicialmente inocentes, eles ficaram mais e mais violentos ao decorrer dos anos. Acredito que quem quer que tenha deixado esse lembrete nas suas costas, caro Nicholas, não quer que você se esqueça dele. Marcas como essa sempre têm algum significado e são difíceis de desaparecer; a constante dor manterá a pessoa em questão fresca em sua mente.”

Lily olhou o que Madame Pomfrey estava costurando e soltou um grito estrangulado. “O que esse N está fazendo aí? Madame Pomfrey, conserte isso. Meu bebê não vai ter uma cicatriz desse tamanho nas costas.”

Aproveitando a oportunidade e inconformado com a estupidez daquelas pessoas, Revan fingiu olhar o corte com interesse e comentou, despreocupado. “Senhora Potter, isso não é um N. É um raio.”


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Notas finais do capítulo

E então... Gostaram?

*aponta o dedo para vocês* Só porque é sexta feira não significa que os reviews vão diminuir, vão? O recorde de 32 reviews ainda está de pé. Será que quebraremos esse recorde hoje?

Reviews me fazem escrever e postar mais depressa :)