Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 12
Com todo o meu coração


Notas iniciais do capítulo

Uma semana, contadinha!
Obrigada por todos os reviews, amo vocês!



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CAPÍTULO 12

WITH ALL MY HEART

Revan pensava que a casa onde ficara escondido todos aqueles anos era fria. Ele só pensava isso porque nunca havia estado em um inverno na Escócia. Mesmo com todos os casacos, feitiços de aquecimento e corridas desesperadas ao redor do castelo para não chegar atrasado nas aulas porque havia dormido demais de manhã, ele ainda sentia os dentes baterem uns contra os outros com o frio.

Dia a dia, a temporada de Quadribol ficava mais próxima. Para a sua alegria, Nicholas Potter quase desapareceu da vida dele, pois Wood decidira treinar em todo o tempo livre dos estudantes. Ainda assim, ele tinha que aturar uma sangue ruim e um Weasley. Revan não conseguia decidir qual dos dois era pior. De um lado era Granger, corrigindo cada erro dele (apesar de não haver muitos) e do outro, Weasley, rebatendo com Granger cada erro que ela corrigia, além de se entupir de comida em todas as refeições e dar sempre um jeito indiscreto de dizer que Slytherins eram do mal e que todos eram mini comensais.

Não houve mais oportunidades para roubar a pedra. Sempre havia um Gryffindor irritante colado a ele, nas aulas e durante as refeições. Ele estava sendo forçado até a comer na mesa de Gryffindor, o que lhe resultava vários xingamentos lançados através da mesa. Quando finalmente uma das aulas que ele tinha não batia com a dos leões, todos os dedos eram apontados para ele, pois Revan Black era, oooh, o Slytherin que fez amizade com o menino que sobreviveu.

Revan ainda ouvia xingamentos contra seu irmão quando caminhou para a classe de Defesa Contra as Artes das Trevas. Não era justo, diziam, só porque Nicholas Potter era o queridinho do mundo bruxo, ele não deveria quebrar uma regra que valia há mais de um século em Hogwarts. Apanhador, que piada. A vassoura conseguiria aguentar os quilinhos a mais de Nick, mas ele seria o alvo de todos os balaços do jogo com certeza. E Revan se divertiria assistindo o irmão tendo alguns ossos quebrados. A dor que ele sentiria ao cair não se comparava à dor que Revan sentiu durante todos os anos em que fora ignorado.

“Você voa muito melhor do que ele” comentou Zabini, achando que a cara fechada de Revan era de inveja, ao abrir a porta da sala de Defesa Contra as Artes das Trevas. Voldemort sorriu para Revan amigavelmente de uma forma que nunca havia feito antes; um show para a classe, sem dúvida. Os Slytherins se sentaram lado a lado e esperaram o professor começar a dar aulas.

O Lorde das Trevas mais temido do mundo, dando aulas de Defesa... Revan reprimiu uma risada e prestou atenção em Voldemort:

“Abram seus livros na página 23. Esse feitiço, chamado Lacarnum Inflamare, é muito útil, pois além de providenciar calor, pode ser usado para queimar as vestes de alguém” ele pausou, e fingiu parecer arrependido. “Eu não deveria ter contado isso para vocês.”

A classe gargalhou.

“Não é difícil. Vamos, peguem as garrafas do lado de vocês.”

E com uma facilidade surpreendente, Voldemort ensinou estudantes do primeiro ano como pronunciar o feitiço corretamente, realizar o movimento de varinha e fazer com que uma minúscula chama azul saísse da ponta da varinha, indo tranquilamente para dentro da garrafa que foi fechada e providenciando uma fonte de calor que durava horas para os alunos.

Quando Revan saiu da sala, ele estava sorrindo. Um verdadeiro, honesto sorriso. Seu mestre era um grande professor.

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“Coma” ordenou Granger, empurrando uma pilha de comida para Nicholas. Revan ainda recebia olhares estranhos quando se sentava na mesa de Gryffindor e tinha que se desviar de um feitiço ou dois, mas os leões estavam lentamente se acostumando com a sua presença. Ele pressionou o agasalho com mais firmeza contra o corpo, tentando reter o calor, e se inclinou para ouvir a sangue ruim dizer: “Coma tudo isso agora.”

Nicholas parecia um pouco verde, mas balançou a cabeça e pegou uma garfada da comida servida. Ele a engoliu forçosamente, e voltou a encarar o prato.

Weasley tentou encorajá-lo: “Você é muito melhor do que aquelas cobras nojentas. São apenas filhinhos do papai que pagaram para entrar no time. Não deixe os pequenos comensais ganharem” ele agarrou os ombros de Nicholas. “Ouviu? Não deixe os comensais ganharem!”

Revan enviou adagas com o olhar para Weasley que foram prontamente retribuídas. A troca de olhares não durou mais do que alguns segundos; um garoto fraco como Weasley nunca conseguiria encarar os frios olhos verdes de Revan Black sem ter a impressão de que o outro soubesse tudo sobre ele.

O herdeiro Black deu um sorriso forçado e usou uma mínima manipulação para conseguir com que Nicholas comesse: “Melhor comer. Seria uma vergonha se o menino que sobreviveu desmaiasse durante o jogo-”

Ou se machucasse de alguma forma, ele completou em sua mente, tendo que esconder um sorrisinho e se focar na comida para que seu plano não fosse revelado para todos que estavam ao redor dele. Estava na hora de Revan Black mostrar do que era capaz.

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Revan não podia acreditar nisso. De algum jeito, Nicholas havia convencido os professores a deixar com que ele se sentasse junto com os torcedores de Gryffindor durante a partida. O que ele já havia recebido de empurrões e pisões no pé na última hora já ultrapassava as marcas roxas que havia ganhado de maneira trouxa do ano todo. E ainda havia muito tempo para Revan servir de alvo para as varinhas do time vermelho.

Ao redor dele estavam Neville, Seamus e Dean. Na mesma medida que os dois últimos trataram Revan com extrema rudeza, Neville pareceu até... gentil com ele, perguntando como Revan estava naquele dia e ousando perguntar para que time torceria. É claro, Revan mentiu, usando uma elaborada história de como ele era maltratado pelo resto de Slytherin e que ele desejava com todo o seu coração que Gryffindor ganhasse aquela partia de lavada; de acordo com ele, nada faria Revan mais feliz do que ver a própria casa infeliz.

A atenção de todos foi desviada para Madame Hooch que se posicionava no exato centro do campo de Quadribol com um apito na boca. Os jogadores montaram nas vassouras e esperaram, tensos. O som que iniciou a partida não demorou a ser ouvido, fazendo com que todos os jogadores decolassem e a plateia se levantasse, emocionada.

“E a goles é imediatamente pega por Angelina Johnson de Gryffindor! Que artilheira excelente ela é, e também bastante atraente...”

“Jordan!”

“Me desculpe, professora.”

O Gryffindor Lee Jordan, amigo dos irmãos não tão estúpidos de Ron, era quem narrava o jogo, e desde o primeiro instante ele deixou clara o seu time do coração. Revan não aprovava; em sua opinião o narrador deveria ser alguém imparcial.

“E ela está indo muito bem, um passe limpo para Alicia Spinnet, uma boa descoberta de Oliver Wood, ano passado era apenas uma reserva – de volta para Johnson, e... NÃO! Os Slytherins estão em posse da goles, pega pelo capitão do time Marcus Flint e lá vai ele, voando como uma águia. Ele vai marc... não, impedido por uma defesa excelente do goleiro Wood e os Gryffindors pegam a goles – aquela é a artilheira Katie Bell de Gryffindor, belo mergulho ao redor de Flint, fora do campo e AI, aquilo deve ter doído, acertada na nuca por um balaço... A goles é pega pelos Slytherins, aquele é Adrian Pucey avançando na direção das balizas, mas é bloqueado por um segundo balaço enviado por Fred ou George Weasley, não sei te dizer qual dos dois. Bela jogada do batedor de Gryffindor, de qualquer jeito, e Johnson volta a ter a goles em sua posse, um campo limpo a sua frente e lá vai ela, literalmente voando – desvia de um balaço, as balizas estão logo a frente, vamos, Angelina, goleiro Bletchley mergulha, erra, PONTO PARA GRYFFINDOR!”

Ao redor de Revan, todos se levantaram e Revan se viu forçado a se levantar também, gritando incentivos falsos para o time. Do outro lado do campo, Slytherins urravam e xingavam.

“Com licença, com licença...”

“HAGRID!” gritou Granger, empurrando Revan e Weasley bruscamente para o lado de modo que o gigante pudesse se sentar. O pequeno espaço que Revan havia lutado para conseguir foi ocupado pela bunda gigante de Hagrid.

“Tava assistindo de casa” disse ele com o pesado sotaque, dando um tapinha em imensos binóculos ao redor do pescoço. “Mas não é a mema coisa que ficar na multidão. Nenhum sinal do pomo?”

Revan balançou a cabeça, apesar de seus olhos bem treinados já terem visto o pomo há muito tempo. A pequena bolinha dourada que fora motivo de tantas brigas na infância não parecia se desgrudar de Nicholas, fazendo Revan se perguntar se havia algum tipo de feitiço no objeto; pomos deveriam fugir de jogadores, não segui-los. O ruivo só poderia ser cego, não vendo o pomo na frente dele.

Pelo menos ele estava andando ao redor do campo a procura do pomo agora, ao invés de ficar parado em um lugar só como tinha feito nos primeiros minutos do jogo. O pomo o seguia obedientemente sem ser visto.

“Slytherin na posse” ia dizendo Lee Jordan. “Artilheiro Pucey desvia de dois balaços, dois Weasleys e artilheira Bell e vai para - espere um momento - aquilo é o pomo?”

Um murmuro correu a multidão quando Adrian Pucey derrubou a goles, distraído demais ao olhar para trás ao ver o flash dourado que havia passado perto de sua orelha esquerda. Bom. Pelo menos o pomo estava se movendo agora.

Nicholas viu o pomo também. Parecendo confiante de suas habilidades, ele partiu atrás do flash dourado, seguido por Terence Higgs, o apanhador de Slytherin. Eles ficaram lado a lado atrás do pomo, e todos os artilheiros pareciam ter esquecido o que deveriam fazer ao pararem de jogar para assistir os dois apanhadores batalhando pela bolinha dourada que daria um fim ao jogo.

Com a vassoura superior, Nicholas Potter era mais rápido, porém para o alívio de Revan, Marcus Flint entrou no caminho do ruivo, fazendo com que ele fosse para todas as direções arriscando sua vida.

“FALTA!” gritaram os Gryffindors em uníssono.

Madame Hooch começou uma discussão com Flint e ordenou um tiro livre para Gryffindor, mas durante a confusão, o pomo de ouro desapareceu novamente, ficando atrás de Nicholas sem que ninguém o visse.

Ao seu lado, Dean Tomas estava quase deixando Revan surdo ao gritar com toda a sua força: “Cartão vermelho!”

Ron virou para ele como se ele houvesse falado uma monstruosidade, e Dean teve que explicar para Ron a regra básica do cartão vermelho em jogos de futebol. Ao invés de ficar agradecido, Ron parecia irritado com a comparação. Em sua opinião Quadribol era o melhor esporte do mundo, muito melhor do que qualquer jogo trouxa.

Lee Jordan era o mais furioso do campo.

“Então... Depois daquela nojenta e óbvia trapaça...”

“Jordan...” grunhiu professora McGonagall.

“Quero dizer, depois daquela clara e revoltante falta...”

“Jordan, estou te avisando...”

“Tudo bem, tudo bem. Flint quase mata o menino que sobreviveu, que a propósito está jogando muito bem, e há uma penalidade para Gryffindor. Spinnet, sem problemas, continua a jogar, Gryffindor ainda com a posse.”

Foi aí que Revan percebeu que aquela falta não seria o suficiente para satisfazer seu ódio contra o irmão. Ele não sabia por que aconteceu naquele momento; mais tarde decidiu que era a emoção, mais as memórias associadas ao Quadribol, e a adoração óbvia de todos pelo irmão, mas ele queria Nicholas... machucado. Revan queria que o ruivo sentisse nem que fosse um pouquinho da dor que sentira todas as vezes que fora beliscado por James ou deixado sem comida, tanto em casa quanto no orfanato, ou espancado até desmaiar por ser uma aberração.

Depois de verificar que ninguém estava olhando, Revan fixou o olhar em Nicholas e começou a cantar mentalmente um encantamento que Regulus havia o ensinado no ano anterior. Imediatamente, a vassoura de Nicholas deu uma virada brusca. Ele soltou um grito e se agarrou mais firmemente no cabo da vassoura.

Lee Jordan continuava a comentar o jogo, porém Revan não ouvia mais as palavras que eram ditas ao redor dele. O encantamento... Precisava ser feito. Dor, causar dor no irmão. A vassoura de Nicholas começou a rodopiar, e com mais um grito do ruivo, todos os olhares estavam nele.

Estava indo tudo bem... Até Snape decidir cantar o contra feitiço, causando uma batalha mental entre Revan e ele. O herdeiro Black cantou com mais força, quase visualizando as palavras na frente dele ao pensar nelas. Snape começou a murmura-las. Por instantes, a vassoura parava, e em outros, ela disparava fora de controle outra vez. A boca de Nicholas não se fechou mais, em um grito que morreu em sua garganta.

Ao seu lado, Hermione viu Snape murmurando as palavras e apontou para Ron. “Tem que ser ele... Professor Snape nunca gostou de Nick” ela sacou a varinha e se lembrou do feitiço que havia aprendido no dia anterior, fazendo com que as vestes do professor se enchessem de chamas azuis: “Lacarnum Inflamare!”

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Nicholas não percebeu quando a vassoura parou de responder. Primeiro ela parecia contrariar suas ordens, indo para a direção oposta, e de repente... Ele estava segurando a vassoura e ao mesmo tempo segurando sua vida. O menino que sobreviveu queria gritar, chorar, mas o choque era tanto que a única coisa que pôde fazer foi se segurar firme.

Os movimentos bruscos de repente ficaram mais leves, e ele se permitiu relaxar. Grande erro. A vassoura deu uma guinada para a frente e as mãos de Nicholas não acompanharam a vassoura. Em câmera lenta, ele se sentiu escorregar, lentamente, pelo cabo da vassoura, e como que em um sonho, ele estava caindo, caindo do céu.

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“Nicholas Flamel!” contou Hermione para Nicholas na Ala Hospitalar alguns dias depois. Eles haviam ido visitar Hagrid depois do acidente, e o gigante deixou escapar que o que quer que estivesse escondido em Hogwarts (eles haviam compartilhado a história do Cérbero com Hermione) era assunto de Nicholas Flamel com o velho tolo Dumbledore. “Você sabe onde já ouvimos esse nome?”

Revan repetiu o que Hermione disse, porque Nicholas e Ron haviam decidido ignorar Hermione até que ela recuperasse os cinquenta pontos perdidos por incendiar as vestes de um professor que na verdade estava tentando salvar um aluno. Nicholas balançou a cabeça estremecendo de dor. Seu corpo doía em partes que ele não achava possível doerem, ele havia caído de uma vassoura e pior, vários jornalistas haviam tirado fotos dele dopado por causa das poções fortes que havia tomado para ajudar com a dor.

“Vamos pesquisar” prometeu Ron, apesar de ele mesmo saber que não cumpriria a promessa. Ron e Biblioteca não combinavam nem um pouco. Todos sorriram uns para os outros. “Até você sair da Ala Hospitalar, vamos descobrir quem Nicholas Flamel é.”

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Ron e Hermione não descobriram quem Nicholas Flamel era até o próximo ano. O Natal chegou, trazendo ainda mais frio para os estudantes e as tão desejadas férias (pequenas, mas eram férias). Revan esperava ser capaz de roubar a pedra enquanto todos os Gryffindors iam para casa comemorar o feriado, mas para a sua surpresa, apenas Hermione não ficaria em Hogwarts.

Os Potter haviam decidido que seria bom para a reputação de Nicholas se o filho permanecesse na escola durante o feriado como o bom estudante. Os pais de Ron estavam indo para a Romênia visitar um dos inúmeros irmãos de Ron, assim todos os ruivos estudantes ficariam em Hogwarts para aterrorizar Revan. O que significava que ele não teria tempo, outra vez, de roubar a pedra.

Os três se esqueceram de Nicholas Flamel quando os feriados finalmente chegaram. Revan acordou tarde pela primeira vez em anos no dia de Natal, quando a sala comunal já estava totalmente iluminava pela água do lado que refletia a luz do sol, e em sua cama havia poucos presentes, mas que encheram o coração de Revan de alegria. Alguém se importava com ele. Poucas pessoas, sim, mas pessoas se importavam com ele!

Ele se esticou para pegar o presente mais próximo. Estava sozinho no dormitório, por isso não se preocupou em esconder sua empolgação. Ele realmente parecia alguém de apenas onze anos naquele momento, não alguém que fora obrigado a crescer rápido demais por causa de negligência. Ninguém para ver sua máscara. Ele não precisava se esconder!

O primeiro presente que ele abriu estava embrulhado em papel negro e havia seu nome escrito em uma caligrafia que mal se passava de uma rasura. Revan sorriu; Regulus nunca teria uma boa letra. Seu sorriso apenas aumentou ao ver o que era: Um dos livros dos Black, contendo informações sobre a família que nunca eram reveladas ao público. Uma leitura interessante, no mínimo.

O próximo presente era de Voldemort, um pendente prateado com um elaborado S que, quando Revan realmente olhava para ele, parecia se tornar a Marca Negra. Em uma nota separada, Revan descobriu que o pendente era uma chave de portal pré programada para voltar para casa, além de absorver feitiços mais básicos, que era o que ele precisaria naqueles primeiros anos em Hogwarts. Sempre prático, pensou, esperando que seu mestre gostasse do presente que ele havia lhe enviado.

Seu sorriso continuava no rosto quando ele abriu o terceiro presente, mas logo desapareceu quando Revan descobriu quem havia lhe enviado aquele ali. Nicholas Potter, de todas as pessoas. Chocolates de todos os tipos, principalmente sapos de chocolate. Bem que convinha para Nicholas, uma desculpa para ir a loja de doces para acrescentar ainda mais quilinhos na barriga.

O último presente era de Hermione, um livro vermelho chamado “Duelos: A História”, que incluía uma lista de punições caso um aluno fosse pego duelando em Hogwarts fora das aulas. Mensagem dada, Hermione.

Para os três (pois ele havia mandado um presente para Ron também), Revan havia enviado doces que continham lavanda, para “uma boa noite de sono” que serviria tanto para eles quanto para Revan. Ele teria paz e tempo para procurar a pedra; os Gryffindors teriam a melhor noite de sono da vida deles e acordariam na manhã seguinte sem danos que Revan gostaria de ver neles.

“Revan! Feliz Natal!” disse Nicholas, que vestia um horrível suéter vermelho com um N bordado em amarelo. Para a diversão de Revan, Ron vestia um marrom que conseguia ser pior do que o de Nicholas. Eles caminharam até a mesa de Gryffindor e puderam se sentar confortavelmente. A mesa de Slytherin estava quase vazia, então Revan se permitiu relaxar um pouco mais. A reputação de Revan Black não importava agora. Fazer amizade com o menino que sobreviveu era mais importante.

Eles se divertiram. Sem aulas, tiveram uma grande refeição sem terem que se preocupar com o horário. O café da manhã mal havia sido digerido e já era a hora do almoço; Ron particularmente adorou essa parte. Depois de terminarem os ensaios, tiveram uma guerra de bolas de neve com os gêmeos, que também os ensinaram como aproveitar a água deixada no caminho para fazer com que outras pessoas caíssem. Um simples feitiço e pronto, sabão ou gelo, pronto para derrubar estudantes desavisados.

“Por que não está vestindo seu suéter Weasley, Revan?” perguntou Nicholas, depois da guerra de bolas de neve. Tinha sido divertido, verdade, mas eles estavam congelando ainda mais agora. Revan estava cercado de flamas azuis que ajudavam a manter o calor, mas a brisa fria que vinha de fora do castelo fazia com que o efeito das flamas fosse quase nulo.

“Não ganhei um, Nick” Revan se limitou a responder, fazendo questão de dar um olhar para Ron do tipo ‘deveria ter dado’. Não que ele se importasse, ele apreciava bem mais presentes sentimentais do que presentes dados por um motivo se não sentimentos honestos. Ele admitiu para si mesmo que, se ganhasse um suéter Weasley, o usaria para manter o fogo da lareira aceso.

Naquela noite, Revan despencou na cama e levou poucos segundos para dormir. Ele estava exausto das brincadeiras e fugas de Filch, que com a ausência dos outros alunos, parecia fazer sua missão diária segui-los para encontrá-los fazendo alguma coisa errada. Seus sonhos foram cheios de aprovação, orgulho e felicidade.

__

“Um espelho que vê o futuro?” repetiu Revan incrédulo. Aquele tipo de coisa não existia. “O que exatamente você viu?”

E Nicholas se pôs a descrever tudo o que vira no espelho que via o futuro. Ele, adulto, como primeiro ministro, famoso, bonito e com uma linda morena ao lado dele. Flashes fotográficos ao redor deles, e uma Ordem de Merlin: Primeira Classe colocada na parede.

“Tem certeza que não estava sonhando?” questionou Revan. Ou Nicholas seria o homem mais sortudo do mundo, ou tudo aquilo não se passava de um sonho.

O ruivo balançou a cabeça como se a ideia fosse impossível, e naquela noite, os três entraram debaixo da capa da invisibilidade de Nicholas que ele havia ganhado no Natal (e exibido para todos que não haviam ido para casa) até o lugar onde o espelho ficava.

Eles levaram quase uma hora para chegar na sala vazia, porque tinham que andar devagar para evitar Filch e Madame Norris, e porque Nicholas não se lembrava do caminho. Quando finalmente o ruivo reconheceu a armadura da noite passada, Revan e Ron tremiam de frio e mal conseguiam manter os olhos abertos.

O espelho estava em uma sala de aula em desuso, vazia exceto por ele. Era alto, atingia o teto, com as bordas douradas incrustadas com desenhos magníficos e palavras mágicas. No topo do espelho, estava escrito: Erised stra ehru oyt ube cafru oyt on wohsi. Não levou muito tempo para que Revan quebrasse o código, mas antes ele fechou os olhos e estendeu a mão para o vidro, sentindo a magia emanar dele. Fazia meses que ele não sentia algo tão poderoso. Ele suspirou e abriu os olhos depois de ouvir Nick descrevendo o que ele via em detalhes para que ele pudesse ver melhor.

Revan congelou.

Em sua frente estava uma imagem que sua mente havia criado de Tom Riddle muitos anos atrás. Alto, aristocrático, com os belos olhos verdes de Revan. Tom tinha uma mão no ombro de Harry, o verdadeiro Harry. Harry Potter, não Revan Black. Cabelos bagunçados, baixo, magricela. Ele sorriu para o verdadeiro Revan e abraçou Tom.

Tom. Tantos anos haviam se passado desde que Revan precisara dos conselhos do diário. Ele mudou a opinião de Revan em tudo, fez Revan uma pessoa melhor. O herdeiro Black sentiu os olhos se encherem de lágrimas. É claro que Tom estaria lá, por anos Revan sonhava em encontrá-lo. Ele era lindo, lindo, e se parecia com Revan. Como se fossem família.

Mas ele não estava sozinho. Ao lado de Tom estavam Regulus e Voldemort, ambos sorrindo demonstrando aprovação para o garoto. Voldemort não era o fantasma que Revan havia primeiramente conhecido nem Quirrell, ele era o fantasma... com um corpo. Muito parecido com Tom Riddle e Revan, o Slytherin notou. Uma família de pessoas com olhos verdes brilhantes.

Atrás deles haviam outras pessoas. Demorou um tempo para Revan reconhecer todas, mas ele conseguiu. Sirius, Remus, James e Lily, próximos dos bruxos das trevas sem se importarem com a diferença de opiniões de guerra. Não havia Nicholas no plano principal, Revan notou, mas ele estava lá, bem atrás de todos. Um menino extremamente parecido com Revan Potter, a mesma estrutura magra e cabelos bagunçados. Todos os bruxos da luz tinham a face enegrecida e pareciam extremamente infelizes. Justiça havia sido feita.

Revan moveu a mão para onde eles deveriam estar e tentou sentir algo. O fantasma da carne de um deles, o doce cheiro de lavanda que Lily costumava ter, uma pequena demonstração da voz de Tom. Não havia nada.  Ele sorriu, e as figuras sorriram de volta. As unhas da mão direita de Revan arranharam o espelho, tentando se aproximar daquelas pessoas, Tom, Regulus, Voldmort...

“Minha vez!” gritou Ron, o empurrando para o lado. O encantamento foi quebrado. Revan caiu e resistiu contra a tentação de matar Ron ali mesmo. Como ele ousava, um traidor de sangue como ele, empurrar alguém que agora carregava o nobre sangue dos Black e a dignidade maior do que metade dos Gryffindors juntos? “Maldição...”

“O que você vê?” perguntou Nicholas, tentando capturar um pouco da imagem que Ron via. “Você está me vendo? Eu vou ser brilhante!”

Ron balançou a cabeça. “Eu me vejo. Sou monitor chefe, capitão do time de quadribol... Estou segurando a taça das casas...” ele se virou para Nicholas. “Você acha que esse é o meu futuro?”

Nicholas revirou os olhos. “Não. Eu vou ser o capitão de Quadribol e monitor chefe. Eu vi isso.”

“Mas eu vi isso também.”

O Potter ruivo fez um sinal para que Ron parasse de falar. “Você não vê o que esse espelho faz? Ele quer nos colocar uns contra os outros! Aposto que Revan viu a mesma coisa no espelho, não é, Revan?”

Revan se apressou em concordar.

“Viu?”

“Tem razão” admitiu Ron contrariado. “Aposto que esse espelho foi colocado aqui por um Slytherin! Só pode ser um Slytherin! Comensais, ah, eles são comensais...”

Revan foi o primeiro a entrar debaixo da capa para irem embora. Quanto mais cedo eles saíssem, mais rápido ele poderia voltar para ver aquela preciosa imagem novamente. Logo, ele prometeu para si mesmo. Na noite seguinte, ele voltaria, sozinho, e não sairia de lá até que ficasse com aquela imagem gravada na cabeça pelo resto da vida.

_

“Olá” cumprimentou Revan, olhando para a sua família. Naquela noite, os Potter eram meras sombras no espelho, enquanto os bruxos das trevas quase pareciam sair da imagem para o contentamento de Revan. As figuras sorriram em resposta, e a mão de Revan descansou onde a face de Tom ficava. “Sei que não deveria ter voltado, mas eu precisava ver vocês.”

Ele suspirou e se aproximou ainda mais do espelho. “É difícil acreditar que vocês não são reais. Apenas uma ilusão... Queria que fossem de verdade.”

Uma voz atrás dele o surpreendeu. “Todos que veem esse espelho desejam que o que é refletido seja realidade, senhor Black.”

Revan se virou para se dar de cara com o diretor. Isso que dá não verificar se a sala está vazia, pensou, se repreendendo. Ele sorriu para Dumbledore apesar de estar nervoso;  aquela era a primeira vez que ficava cara a cara com o líder da luz. “Boa noite, diretor Dumbledore”

“Uma excelente noite de fato” concordou Dumbledore, se aproximando do espelho e de Revan. “Diga-me, Revan, você sabe como o espelho funciona?”

Revan apontou para as palavras no topo do espelho. Eu não mostro seu rosto, mas o desejo do seu coração. Dumbledore parecia satisfeito que ele sabia o que as palavras significavam, e partiu para a próxima pergunta, que mais era um comentário:

“Então acredito que sabe por que não devemos encará-lo por muito tempo.”

Ele assentiu, tendo percebido na noite passada o quanto ficara obcecado com as figuras que via no espelho. Ele não conseguia dormir ou comer; tudo o que queria era voltar para a frente do espelho e ver seus mentores novamente. O espelho facilmente levava homens à loucura, ou fazia com que perecessem na frente dele. A imagem mostrada era tão bela que alguns passavam o resto do seus dias tentando descobrir como trazer vida ao que era visto, outros, achando que o que mostrava era o futuro, faziam de tudo para atingir seus objetivos por mais macabros que fossem.

Dumbledore confirmou sua teoria. “É por isso que você não verá mais o espelho, Revan. Amanhã ele será movido para um lugar seguro e eu lhe peço para que não procure por ele novamente.”

Revan franziu a testa, mas voltou a assentir. “É claro, diretor.” E voltou a encarar o espelho, começando a se despedir das figuras.

Havia ainda uma última pergunta a ser feita da parte de Dumbledore:

“O que você vê no espelho?”

“Minha família” respondeu Revan imediatamente, olhando amavelmente para os bruxos que apareciam no espelho. Aquela era uma chance de contra atacar Dumbledore. “E você, diretor?”

O líder da luz pareceu surpreso com a pergunta, mas mesmo assim respondeu com os olhos azuis cintilantes brilhando mais do que o normal. “Meias de lã. Eu sempre ganho livros de presente, mas ninguém nunca pensou em me dar meias de lã” ele parecia desconfortável com o assunto. “Ora, já está tarde, Revan. Melhor irmos dormir. Teremos um longo dia pela frente!”

E ambos saíram da sala, deixando o sonho de Revan para trás.


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Notas finais do capítulo

1- Ainda não li todos os reviews sobre como machucar Nicholas no final do segundo ano, então ainda estou aberta a sugestões.
2- Se os REVIEWS forem mantidos, o próximo capítulo sai semana que vem.
3- APROVEITEM O FERIADO!

Beijos, até a próxima!
—Lady S.