Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 10
Amigo ou Inimigo?


Notas iniciais do capítulo

Perdoem-me , mas olhem o tamanho do capítulo! Não é imenso?

Obrigada pelos reviews. Nós ainda não batemos o recorde dos 34 reviews, espero que esse final de capítulo estimulem todos vocês a deixar um comentário.

Boa leitura.



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CAPÍTULO 10

FRIENEMIES

Hogwarts era... intrigante, para dizer o mínimo. Tendo uma infância problemática e crescendo escondido da população, Revan nunca havia tido muita liberdade. Claro, ele estava em uma escola e não podia sair dela, mas a escola em si já era maior do que qualquer outro lugar que ele já havia vivido. Até mesmo a mansão dos Black, sempre tão impressionante, não se comparava à beleza de Hogwarts. Revan nunca se cansaria de caminhar nos corredores escuros e acolhedores, se misturando nas centenas de estudantes que corriam para chegar às classes a tempo. Nenhum estudante do primeiro ano foi poupado: No primeiro dia, todos saíram com um pequeno rascunho do castelo na mochila para não se atrasarem e assim, não perderem pontos para a amada Slytherin.

Conforme ele caminhava para chegar às Masmorras para a aula de Poções, um fantasma passou por ele sem se importar com o frio que Revan sentiu nos ossos quando os dois entraram em contato. Não era como encostar em Voldemort, que parecia ser feito de fumaça. E parecia que os fantasmas sabiam disso, insistindo em passar por um estudante sempre que vagavam por aí. Nick Quase sem Cabeça, principalmente. Depois de descobrir que Revan não se assustava com o corte do pescoço, ele parecia fazer sua missão diária passar por Revan e, ao mesmo tempo que adorava ajudar estudantes de Gryffindor a achar seus caminhos, nenhum Slytherin conseguiria uma dica útil do fantasma.

“Bom ver você de novo” comentou Revan secamente, apressando o passo. O fantasma não era a pior criatura morta do castelo; aquele título pertencia a Pirraça, provavelmente o poltergeist mais irritante do mundo mágico. Revan já tinha sido alvo de suas pegadinhas duas vezes, escorregando no chão congelado e derrubando a pilha de livros em que Flitwick subia para lecionar, o que Revan podia jurar que não havia feito.

Professor Flitwick, pelo menos, pareceu entender o que havia acontecido e apenas sorriu, continuando a dar a aula de Feitiços sem mais interrupções até dar um grito ao chegar no nome de Nicholas Potter. Até agora eles só estavam estudando teoria mágica, coisas simples como pronúncia de feitiços e como segurar sua varinha, e os outros estudantes não podiam esperar para começar a praticar e fazer magia de verdade. Hermione Granger, não oficialmente a menina mais solitária do castelo, compensava a falta de amigos (e beleza, Revan pensou) com uma inteligência notável para uma sangue ruim.

Ela era a única que conseguia ficar acordada nas aulas de História da Magia, o assunto mais chato de Hogwarts. Logo na primeira aula, Binns provou para todos que não sabia ensinar. Ele havia começado a falar sobre revoltas duendes sem nem se dar conta que alguns dos alunos sangue ruins mal sabiam o que um duende era, muito menos distinguir um nome duende de outro, já que eram muito parecidos. Para manter suas anotações em dia, Revan usava uma pena de anotação rápida e fazia trabalhos de outras matérias no tempo precioso.

Pena que Revan não poderia fazer isso em Herbologia, que exigia trabalho prático. Duas vezes por semana os estudantes iam para as estufas aprender a lidar com plantas e fungos mágicos. Aquela era uma das matérias que Revan menos prestava atenção, por não servir para nada; ele preferia manter o olhar vigiando Nicholas Potter, que recentemente havia começado a vigiá-lo também.

Uma classe que valia a pena era Transfiguração com Minerva. Ela era uma professora severa que não tolerava brincadeiras de qualquer tipo e não privilegiava os estudantes de Gryffindor, casa onde era diretora. Depois de surpreender os estudantes ao sair de sua forma animaga para a humana, McGonagall deu um discurso sobre Transfiguração e mais uma demonstração, transformando a mesa em um porco e tornando-a de volta na mesa rapidamente.

Para a tristeza de todos, porém, eles não aprenderiam a transfigurar objetos em coisas vivas até muito tempo depois. Naquela aula tentaram transformar um palito em agulha, e no fim da aula, Nicholas Potter tinha uma agulha perfeita. Hermione conseguiu deixar a dela prateada, e a de Revan também foi dada como perfeita, exceto quando McGonagall facilmente a quebrou em duas. Apesar disso, Revan ganhou mais pontos para Slytherin do que Nicholas ganhou para Gryffindor, e Revan achava que sabia o porque.

Aqui, finalmente, suspirou Revan ao chegar às masmorras. Os alunos se aglomeravam para entrar na classe; Revan alegremente se juntou a eles para que Snape não descobrisse que ele estava atrasado. Ele olhou para onde Nott estava sentado – ao lado de Zabini, e depois de murmurar “traidor” para ele, Revan se sentou em uma mesa vazia. Se ele tivesse sorte, ninguém se sentaria ali e ele seria capaz de fazer seu trabalho sozinho.

Mas Revan não tinha sorte. Ele ouviu a cadeira ser arrastada e alguém se sentou ao lado dele pesadamente.

“... Não, Ron, dessa vez você fica com Seamus.”

Revan congelou, e olhou levemente para a pessoa a sua direita. Não, ele definitivamente não tinha sorte. Ele teria que compartilhar uma poção com ninguém menos do que Nicholas Potter. O ruivo, ao ver que a atenção estava voltada para ele, sorriu brilhantemente e estendeu a mão para Revan, que apertou a mão de Nicholas chocado. Por que Nicholas Potter estava sentado ao seu lado?

“Olá” cumprimentou polidamente Nicholas, seu sorriso se tornando mais amigável conforme abria seu livro. Ele voltou o olhar para Revan e olhos tão familiares se encontraram com os dele. Em suas memórias, os olhos castanhos eram cheios de ódio, e Revan sentiu um arrepio subir por seu corpo ao se lembrar de James. O sentimento foi seguido de ódio pelo pai. Não, não um pai. Um progenitor. “Espero que não se importe se eu me sentar aqui.”

“É claro que não” mentiu Revan suavemente. “Apenas achei curioso sua escolha de parceiro.”

“Sabe como é” replicou Nicholas com uma risada que soou falsa até mesmo para si mesmo. “Todos nós achamos que com o fim da guerra as casas seriam mais amigáveis entre si, mas parece que a cada ano se distanciam cada vez mais. Talvez se conseguirmos provar que um Slytherin e um Gryffindor podem se dar bem juntos, os outros possam fazer a mesma coisa.”

E assim aumentar sua fama e reputação de menino estrela, pensou Revan, ao assentir concordando. Pelo visto, estava funcionando. Pessoas comentavam em sussurros sobre a escolha de Nicholas Potter, por que ele se sentava com um menino Slytherin que não tão inteligente como ele (ou então eles pensavam) ou tão bonito quanto ele, e principalmente, por que Nicholas Potter não escolhia alguma pessoa melhor para ser o parceiro de poções dele. Como um deles, por exemplo.

Snape começou a fazer a chamada, e como Flitwick, parou no nome de Potter. Sua reação foi muito diferente da do professor de feitiços: ele apenas encarou o menino como se fosse algo desagradável, e comentou amargamente: “Nicholas Potter. Nossa nova... Celebridade.” Se Nicholas detectou a amargura em sua voz, não demonstrou, apenas deu outro de seus brilhantes sorrisos, o que pareceu escurecer ainda mais o humor do professor.

“Vocês estão aqui para aprender a ciência sutil e a arte exata no preparo de poções” começou Snape. Sua voz mal passava de um sussurro, mas era ouvida por todos da classe. Como Minerva, ele conseguia manter a classe em silêncio sem esforço. “Como aqui não fazemos gestos tolos de varinha, muitos de vocês podem pensar que isso não é mágica. Eu não espero que vocês realmente entendam a beleza de um caldeirão cozinhando em fogo lento, com a fumaça a tremeluzir, o delicado poder dos líquidos que fluem pelas veias humanas, e enfeitiçam a mente, confundem os sentidos – posso ensinar-lhe a engarrafar a fama, cozinhar a glória e até zumbificar – se vocês não forem o bando de cabeças-ocas que geralmente me mandam ensinar.”

Ninguém soltou um pio. Draco Malfoy era o único que não parecia tão afetado pelo discurso do mestre de poções. Ron sussurrou algo para Nicholas; Hermione Granger quase se debruçava na mesa para absorver melhor as palavras de Snape. Os Slytherins folheavam seus livros frenéticos a procura de possíveis respostas para o quiz que sabiam que se seguiria. Não estavam errados.

“Black!” chamou Snape de repente, mirando os olhos escuros em Revan. Naquele olhar havia quase tanto desgosto quanto havia no olhar direcionado a Nicholas Potter. “O que eu obteria se adicionasse raiz de asfódelo em pó a uma infusão de losna?”

Revan piscou, e procurando em sua memória, rapidamente respondeu: “Você produziria uma forte poção para adormecer” ele pausou, e algo clicou em sua mente. “Por isso é conhecida como Poção do Morto Vivo.”

“Cinco pontos para Slytherin. Potter, vamos ver se a fama lhe faz bem. Se eu lhe pedisse, onde você conseguiria benzoar?”

“No armário de poções” comentou Nicholas distraidamente rabiscando o pergaminho. Parte dos Gryffindors riram até que cinco pontos foram tirados da casa. Desesperado para recuperar os pontos perdidos, ele completou: “No estômago de uma cabra. A propósito o benzoar pode te salvar da maioria dos venenos.”

Snape não pareceu surpreso pelo menino saber a resposta. Provavelmente, imaginou Revan, ele havia ensinado Nicholas Potter na infância para “derrotar Voldemort”. Ele concedeu um ponto para Gryffindor a contra gosto, causando um tumulto entre os estudantes da casa vermelha. Ron Weasley parecia especialmente irritado com isso, murmurando palavrões sob a respiração.

Revan baixou a cabeça e escreveu as respostas no pergaminho em sua frente, mesmo sabendo a resposta para as perguntas. Ele foi o único que fez isso, e pareceu sentir o olhar de aprovação de Snape. A face de Revan se contorceu em uma careta. Ele não queria a aprovação de um traidor.

“Weasley!” chamou Snape, e o menino ruivo pulou da cadeira. Revan escondeu um sorriso. “Qual é a diferença entre monkshood e wolfsbane?”

 O menino ficou quase tão vermelho quanto seus cabelos e chutou a cadeira de Nicholas esperando uma resposta, porém para a satisfação da metade Slytherin da sala, ele não recebeu nenhuma, e Revan percebeu que Nicholas na verdade não sabia essa questão. Hermione Granger, que havia permanecido com a mão levantada, se levantou da carteira e balançou as mãos no ar para atrair atenção. Revan queria levantar a mão e dar a resposta correta, humilhando um Gryffindor e ganhando mais pontos para Slytherin, mas as palavras do mentor e mestre ecoaram em sua mente: Não se destaque.

“Eu não sei” respondeu Weasley, cerrando os dentes ao perder três pontos de Gryffindor. Ele olhou para Granger, e retrucou furioso: “Por que não pergunta para Granger? Ela parece saber a resposta.”

E assim, perdeu mais três pontos por ser rude com um professor. Ao lado de Revan, Nicholas murmurou que seria legal se professores perdessem pontos ao serem rudes com alunos, o que parecia acontecer bastante nas aulas de Poções. Revan levemente assentiu, mais preocupado em anotar na borda do livro um esquema para se lembrar mais facilmente dos passos de cozimento das poções.

“Você pode responder, Hermione” concedeu Snape contrariado, se sentando pesadamente na cadeira do professor.

E Granger disparou a falar: “Não há diferença, professor Snape. Elas são na verdade a mesma planta também conhecida como Acônito ou Rainha dos Venenos, por ser altamente venenosa. Ainda assim é usada em algumas poções pois...”

“Um ponto para Gryffindor” interrompeu Snape que suspirou aliviado quando a menina parou de falar. “Você está correta, Srta. Granger. Da próxima vez, apenas, diga apenas o que lhe foi pedido.”

A menina sentiu suas bochechas ficarem lentamente avermelhadas, e ela se sentou novamente onde estava sozinha (Revan se perguntou como ela havia conseguido um caldeirão só para si) parecendo orgulhosa de ter acertado uma questão e ainda assim envergonhada por não ter agradado a um professor.

Snape fez com que as instruções da poção para curar furúnculos aparecessem na lousa, e que os ingredientes flutuassem até os caldeirões. Para o alívio de Revan, Nicholas não se revelou um desastre em poções, e eles conseguiram em silêncio completar a poção, Nicholas cortando os ingredientes e Revan os acrescentando no caldeirão. Snape porém não pareceu muito impressionado com a poção perfeita que fizeram; Revan não pode dizer se era por causa de Nicholas ou se seu sobrenome significava alguma coisa para Snape.

As coisas não foram muito bem para os Gryffindors. Neville de algum jeito conseguiu derreter o caldeirão de Seamus e precisou ser levado para a enfermaria com grandes bolhas vermelhas espalhadas por seu corpo. Nicholas Potter se voluntariou imediatamente para levá-lo, e Revan percebeu tarde demais que ele seria arrastado junto com Neville. Assim, os dois carregaram o pesado menino louro pelos corredores até que, decidindo mostrar um pouco do seu talento, Nicholas levitou o menino no ar, tornando a jornada mais fácil para todos exceto Neville, que parecia um pouco verde.

“Você teve um tutor?” perguntou Revan, apesar de já saber a resposta.

“Tive sim” respondeu o ruivo, usando a varinha para ajeitar Neville até que ele ficasse de pé, flutuando no chão. “Desde os cinco anos, quando fiz minha primeira magia.”

O pouco humor que restava de Revan se acabou quando ele se lembrou da noite em que havia sido abandonado. Mas ele poderia obter algumas informações úteis dali, então perguntou: “E como é? Que tipo de coisas te ensinaram?” 

“Nada de mais, na verdade. Eu sei tudo o que vamos aprender esse ano, e Dumbledore me ensinou alguns feitiços ofensivos. Aprendi a estuporar alguém ano passado. Professora McGonagall diz que sou tão bom em transfiguração quanto meu pai, e que logo eu posso começar a treinar para ser um animago” tagarelou Nicholas.

Os dois deixaram Neville na enfermaria, onde haviam acabado de chegar, e se despediram, cada um indo para uma direção diferente. Assim que Nicholas sumiu de vista, Revan suspirou aliviado. Pelo menos ele ficaria livre do irmão por um tempo agora, e poderia avisar Voldemort que o menino não era ameaça alguma para ele; apenas, é claro, se o Lorde das Trevas pudesse ser derrotado com um Estupefaça.

__

Porém, como já dissemos anteriormente, Revan não tinha sorte. Na quinta feira eles teriam a primeira aula de voo com Gryffindors, e no instante em que Revan chegou no campo e pegou uma das poucas boas vassouras que havia, Nicholas já havia se colocado ao seu lado e dado um de seus brilhantes sorrisos para ele. Revan cerrou os dentes; se aquele comportamento se repetisse, ele teria que fazer algo sobre isso. Ele já tinha que aturar Malfoy o importunando sobre seu parentesco com os Black, e até o acusando de vir de uma família trouxa; adicione Nicholas Potter na equação e roubar a Pedra Filosofal ficaria cada vez mais difícil.

“Olá, Potter” cumprimentou friamente Revan, posicionando a vassoura na frente dele. Regulus amava voar e havia ensinado algumas coisas para Revan, apesar dos comentários do Lorde das Trevas sobre como Quadribol era inútil. Regulus achava o contrário: Se ele precisasse escapar de algum lugar, que fosse com uma vassoura antes que Revan pudesse aparatar corretamente e principalmente, sem ser rastreado pelo Ministério por ser menor de idade.

Graças a Merlin, eles não tiveram tempo de conversar muita coisa. Madame Hooch fez com que Malfoy calasse a boca, para o alívio de todos que não aguentavam mais ouvir a voz arrogante do loiro, e se posicionou na frente de todos com um apito pendurado no pescoço. “O que estão esperando?” ela latiu, apontando as vassouras. “Estendam as mãos e digam “suba”!”.

“SUBA!”

Para a surpresa de Revan, sua vassoura voou para a sua mão imediatamente. Ao seu lado, Nicholas Potter também conseguiu realizar a tarefa com o sucesso, assim como seu outro amigo ruivo. A vassoura de Hermione apenas rolou no chão, e a de Neville não se moveu. Nott, do lado esquerdo de Revan, conseguiu fazer com que sua vassoura chegasse até sua mão depois de três tentativas. Blaise, porém, precisou de várias tentativas para que a vassoura levantasse.

Madame Hooch ensinou a todos como se sentar em uma vassoura sem escorregar e andou entre os estudantes corrigindo a postura deles. Revan relaxou quando recebeu a aprovação da professora, mas Malfoy não teve tanta sorte. Os Gryffindors explodiram em risadas quando Madame Hooch disse que Malfoy estava fazendo errado por anos. Revan permitiu que um pequeno sorriso atingisse seus lábios, divertido em ver o arrogante Malfoy sendo repreendido.

“Ao som do meu apito, vocês vão decolar empurrando seus pés contra o chão bem forte” ela avisou. “Não subam muito alto. Apenas alguns metros e desçam novamente inclinando a vassoura para baixo. Três, dois...”

Neville aparentemente estava animado demais para voar e decidiu não esperar pelo apito. Sua vassoura disparou no ar fora de controle, dando solavancos e curvas fechadas, e o menino gritava apavorado. Madame Hooch subiu em sua vassoura (que Revan notou, era muito melhor do que a dos estudantes) mas antes que pudesse se aproximar de Neville, um dos solavancos o derrubou e Revan assistiu sem poder fazer nada a queda do menino vários metros acima do ar até cair no chão, quando um crack! foi ouvido.

“Nev!”gritou Nicholas, correndo até ele. As emoções que ele demonstrava não pareciam muito reais, opinou Revan, observando cuidadosamente o irmão. Os alunos se aglomeraram ao redor de Neville, mas Revan estava mais ocupado observando a vassoura que voava mais e mais alto em direção à Floresta Proibida até desaparecer de vista.

“Saiam da frente” ordenou Madame Hooch, abrindo espaço com os braços. Sua face estava quase tão pálida quanto a de Neville, e ele examinou a mão dele. Ao contato, o menino recuou o braço. “Pulso quebrado... Venha, está tudo bem...” ela olhou para a multidão curiosa. “Nenhum de vocês toque nas vassouras enquanto eu levo esse menino para a Ala Hospitalar, ou serão expulsos de Hogwarts antes de poderem dizer ‘Quadribol’.”

Revan viu alguns alunos engolirem em seco, mas não demorou muito tempo, depois que Madame Hooch saiu com Neville, para Nicholas montar em uma vassoura e voar poucos centímetros acima do chão. Ao mesmo tempo que os Gryffindors apreciaram o ato de coragem, os Slytherins começaram a zombar sobre quão bom Nicholas era – não conseguia nem subir um metro acima do chão sem gritar pela mamãe.

Mamãe, Revan se lembrou, que aparentemente trabalhava em Hogwarts quando Poppy não estava lá para atender os estudantes feridos. Ele havia capturado com o canto dos olhos cabelos vermelhos familiares demais algumas vezes; pelo menos até agora eles não haviam se encontrado diretamente, um evento que Revan se preparava a muito tempo e ainda assim não se sentia pronto para realizar.

“Vamos lá” falou Malfoy com a voz arrastada. “Tire os pés do chão.”

Nicholas cerrou os dentes, mas se levantou mais meio metro.

“Mais” exigiu Nott. “Nos mostre quão bem o Menino que Sobreviveu sabe voar.”

Ele pairou a cerca de um metro do chão, e fez menção de subir mais, porém Ron agarrou o cabo de sua vassoura prendendo-o no chão. O ruivo não permitiria que alguém perdesse pontos de Gryffindor por nada. Os dois trocaram uma batalha de olhares e finalmente, Ron tirou a mão da vassoura, permitindo que Nicholas pairasse a dois metros do chão, por cima da cabeça dos estudantes.

“Mais” falou Pansy cruzando os braços. “Eu podia fazer isso antes mesmo de você ser famoso.”

Draco sorriu e caminhou até onde Neville havia caído alguns minutos atrás. Ele se abaixou para pegar algo, e exibiu para os estudantes o seu prêmio: O Lembrol de Neville. Revan se lembrava vagamente de ter visto Neville exibindo algo para a mesa de Gryffindor durante o café da manhã e Draco zombando o presente. Talvez fosse o Lembrol.

“Dizem que você é o Mestre do Pomo de Ouro” comentou Draco, jogando o Lembrol para o alto e de uma mão para a outra. Os olhos castanhos de Nicholas acompanhavam o movimento, e a menção do apelido dele pelos jornalistas o fez ficar vermelho, Revan não sabia se de raiva ou vergonha. “Então... Prove!”

Draco reuniu toda a força que tinha e lançou o Lembrol para longe, o mais longe que conseguia. Revan, vendo Professora McGonagall olhar pela janela, entendeu o que Draco queria fazer e usou sua magia para jogar o Lembrol ainda mais longe.

Nicholas Potter não resistiu à tentação de provar a todos que ele era o melhor; inclinando a vassoura para baixo para dar impulso e logo a levantando para subir mais; Revan tinha que admitir que ele era bom: O modo como ele manuseava a vassoura dava a impressão que ele havia sido treinado por um profissional. Provavelmente, pensou Revan. Já que ele tinha tido tutores escolares, por que não esportivos?

O momento de fama acabou logo depois; McGonagall desceu da janela de onde assistia o treino, correndo em uma velocidade impressionante para a sua idade, com a varinha na mão. Ela foi até debaixo de onde Nicholas agora voava em círculos e gritou: “NICHOLAS POTTER!”

Nicholas quase caiu da vassoura ao ouvir a voz da professora. Cada vez mais branco, ele inclinou a vassoura para baixo e desceu graciosamente dela. Antes que ele pudesse se explicar, Ron pulou na frente:

“Não foi culpa dele. Malfoy arremessou o Lembrol de Neville para longe, iria quebrar de ele não usasse a vassoura. Não foi culpa dele. A culpa é desses MALDITOS SLYTHERINS!”

Professora McGonagall recuou como se tivesse sido atingida por uma força invisível ao ouvir as palavras de Ron. Bastou um olhar para ela para todos saberem que Ron estava encrencado. A bronca não demorou para vir: “Senhor Weasley! Como ousa... Tratar colegas assim, pois saiba que não toleramos isso em Hogwarts. Vinte pontos de Gryffindor por insultar não apenas um estudante, mas uma casa inteira” ela parou para respirar, e se voltou para Nicholas, que já exibia o sorriso na cara ao pensar que não seria punido. “E você, Senhor Potter... Nunca em todos os meus anos de Hogwarts vi algo tão arriscado por algo tão tolo. Dez pontos de Gryffindor e venha comigo agora.”

Ela marchou em direção ao castelo em suas vestes vermelhas, seguida de um Nicholas cabisbaixo. No instante em que sumiram de vista, os estudantes começaram a sussurrar. Quem não sussurraria ao ver Nicholas Potter quebrar uma regra que levaria a imediata perda de cinquenta pontos? A voz de Nott se sobressaía. Ele estava obviamente indignado que Nicholas só havia perdido dez pontos. Apesar, talvez, que ele estivesse indo ver o diretor para receber uma punição mais desagradável.

“Posição!” berrou Madame Hooch, e todos pularam, tendo esquecido de sua presença. Cada um pegou uma das vassouras espalhadas pelo campo e se sentou nela, esperando o comando para decolarem. Revan pressionou os pés contra o chão para conseguir pegar impulso antes de Madame Hooch gritar novamente: “Agora!”

Um a um, os estudantes decolaram em direção aos céus, lentamente, e depois ao ganharem confiança, foram mais depressa. Revan ficou acima dos outros, observando-os. Ron Weasley era o perfeito Gryffindor que Regulus havia descrito; temperamento explosivo, falta de paciência e uma coragem considerada por muitos burrice junto a seus superiores. Ele parecia perdido sem Nicholas lá para dizer o que fazer.

Draco parecia odiá-lo com todas as forças. Por três vezes ele havia tentado fazer Revan cair da vassoura, ou gritando “Revan!” quando Revan parecia distraído, ou simplesmente trombando com ele e o acusando de estar no caminho. Seu ódio em direção a Revan só pareceu aumentar depois da aula de poções, quando Revan, deliberadamente, havia abandonado os companheiros Slytherins para ficar com o queridinho Gryffindor. Provavelmente ele queria ser aquele que faria amizade com Nicholas, pensou Revan, inclinando a vassoura para a frente e se deliciando com a sensação do vento. Por um momento, o nome Nicholas Potter sumiu de sua cabeça, e Revan foi capaz de aproveitar a aula sem maiores preocupações senão cair da vassoura.

__

Ser o queridinho de Gryffindor definitivamente tinha seu lado bom, decidiram todos depois que Nicholas foi anunciado como o novo apanhador de Gryffindor. O anúncio foi feito no café da manhã do dia seguinte, fazendo com que todos os estudantes se levantassem, alguns alegres e outros indignados. Nicholas fez questão de exibir sua Nimbus 2000, lançada poucos meses atrás, para os amigos. Isso, para o azar de Revan, incluía ele.

“Revan! Você já viu minha vassoura?” perguntou Nicholas, empurrando a Nimbus na direção de Revan até que as cerdas da vassoura encostaram em seu nariz. Revan prendeu a respiração e tentou não parecer entediado. “É uma Nimbus 2000, a vassoura mais rápida do mundo!”

Revan usou a mão direita para abaixar a vassoura, fazendo assim possível que os irmãos se olhassem diretamente. “Eu reconheço uma vassoura cara quando vejo uma. Quanto seu pai pagou para Dumbledore desrespeitar regras centenárias?”

Nicholas pareceu ofendido com a pergunta, como se Revan duvidasse de suas habilidades. “Na verdade” falou, recuperando o sorriso. “Diretor Dumbledore disse que meu talento dispensa o uso de regras.”

“Bom para você.”

Aquela não era uma má hora, pensou Nicholas ao perguntar depois de jogar a vassoura na direção de Revan. “Você pode usar ela depois dos treinos, Revan” ele sorriu. Revan não correspondeu o sorriso, fazendo Nicholas suspirar. “Você já andou em uma vassoura antes?” perguntou esperançoso.

Revan franziu a testa. Era uma pergunta inocente, certo? Ele havia recebido a mesma pergunta de Nott. “Sim, é claro que sim. Era difícil fazer com que não me vissem.”

“Oh” murmurou Nicholas. “Você mora perto de trouxas, Revan?”

 A face de Revan congelou. Ele havia se permitido relaxar por um momento, e cometera uma besteira. Ele entrou em seu modo de defesa Slytherin: “Moro sim. Uma pena” mentiu tranquilamente. O espião esperava que o menino que sobreviveu acreditasse na mentira. Para sua sorte, ele pareceu acreditar.

Ron Weasley se aproximou deles, olhando apenas para Nicholas como se Revan não existisse. “Hey Nick, você tinha que ver a cara do Malfoy quando você abriu a vassoura...” Ele finalmente olhou para Revan, lhe dando um olhar mortal que Revan retribuiu alegremente. Ron se inclinou para o menino que sobreviveu e sussurrou, apesar de Revan poder ouvir suas palavras: “O que ele está fazendo aqui?”

Nicholas disparou um olhar de aviso e tédio para Ron. “Eu estava mostrando minha vassoura para Revan. Não que você precise saber disso.”

 “Mas... Você está conspirando com o inimigo!”

Ambos Nicholas e Revan abriram a boca para retrucar sobre a importância da união das casas, apesar de nenhum dos dois realmente acreditasse naquilo, mas foram interrompidas por uma voz arrogante que, mesmo com as poucas aulas que já haviam tido, já irritava a todos de Hogwarts por causa do modo como o dono da voz se comportava. A voz cortou o começo das frases dos dois, concordando: “De fato, Black, você está conspirando com o inimigo. Um verdadeiro Slytherin nunca seria amigável com um Gryffindor” ele cuspiu a última palavra como se tivesse um gosto ruim.

Revan não sabia em que lado ficar. Nicholas parecia disposto a ser seu amigo, o que lhe renderia pontos com o Lorde das Trevas, mas se ele permanecesse ao seu lado Draco conseguiria virar a casa inteira contra Revan. Não parecia haver uma solução imediata, então o espião optou por ficar em silêncio.

Ron pulou, se avermelhando de raiva. “Há algo que você queira dizer para nós, Malfoy?” ele notou Crabble, Goyle, Blaise e Nott se aproximarem do grupo. Seamus, Neville e Dean e os gêmeos Weasley se colocaram atrás dos ruivos. “Ou vocês Slytherins são covardes demais para falaram algo sozinhos?”

Os olhos de Draco varreram o círculo que se formara em volta deles. Quando ninguém se opôs, ele anunciou, controlando a voz para que não se sobressaísse no meio dos sussurros. “Eu te desafio, Ronald Weasley, para um duelo bruxo!”

Ronald perdeu o sorriso de zombação, mas respondeu do mesmo jeito: “Eu aceito, e faço de Nicholas Potter o meu segundo.”

O círculo do grupo se aproximou, os Gryffindors agora curiosos para finalmente ver o menino que sobreviveu em um duelo. Draco olhou os membros de Slytherin mais uma vez e seus olhos pararam em Revan, que não percebeu o que estava acontecendo, estando mais preocupado com Professor Snape que se aproximava.

“Revan Black será meu segundo” falou Draco apressadamente a contra gosto, vendo o Mestre de Poções chegar perto do grupo. Revan voltou a realidade ao ouvir seu nome; como ele havia entrado na conversa? “Me encontre hoje na sala de troféus à meia noite. Venha apenas com o seu segundo.” 

Os ruivos assentiram, concordando com o desafio, e o grupo se dispersou no instante em que Snape os alcançou; não rápido o suficiente para evitar perderem 10 pontos de Gryffindor por se aglomerarem. Daquela vez, ninguém reclamou, apesar da face de muitos dos Gryffindors demonstrar o ódio que sentiam pelo Mestre de Poções. Eles sabiam melhor do que reclamar e ver os rubis diminuírem ainda mais.

Revan mal prestou atenção nas próximas aulas. Se Nicholas era tão bom quanto os Gryffindors pareciam dizer que ele era, Draco não ganharia, ou seja, ele teria que lutar contra o próprio irmão, e controlar a magia para não machucá-lo e ser suspeito de estar do lado negro. Revan estava surpreso que nenhum professor ainda havia perguntado sobre o pai de Revan, ou o acusado de ser do mal apenas por carregar o sobrenome Black. Talvez isso mudasse depois do duelo, suspirou, lutando contra o sono que a aula de Binns lhe trazia.

Um avião de papel voou até a mesa de Revan. O espião desmontou o avião enquanto olhava ao redor da classe; todos estavam dormindo, ou pelo menos fingiam estar.

Não me decepcione.

-Malfoy.

Revan revirou os olhos, e com a varinha escondida debaixo da mesa escreveu, de modo que as palavras aparecessem na frente de Draco:

O que te faria pensar isso? Um companheiro Slytherin nunca abandona um companheiro Slytherin.  Revan pausou ao ver um pouco de culpa nos olhos de Malfoy e, pensando em todas as conversas que haviam tido durante o dia, rapidamente voltou a escrever furioso: Vamos juntos para a Sala de Troféus essa noite. Nem pense em me fazer ir sozinho.

 O jantar não parecia ir mais devagar. Revan repassou em sua mente todos os feitiços que havia aprendido durante o primeiro ano que morou com Regulus, e selecionou aqueles considerados feitiços de luz. Não havia muitas opções, alunos do primeiro ano não aprendiam muitas coisas úteis além de como segurar uma varinha e pronunciar um feitiço em latim.

Quando se deitou, esperando pela meia noite, Revan estava confiante de que iria conseguir ganhar o duelo sem machucar Nicholas, não chamando atenção para si mesmo, agradando Draco e deixando Ron enfurecido por perder um duelo. Ele fechou os olhos e tentou descansar: Logo, pensou, logo teria sua vingança. Por enquanto, apenas um feitiço nas partes baixas do irmão iria bastar.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Eu gostei desse capítulo. Me lembro quando o escrevi.

Reviews = Capítulo 23 escrito rapidamente = Capítulo 11 postado.

Preview: Não havia como ganhar aqui. Ou ele seria Revan, o amigo do menino que sobreviveu, ou Black, inimigo de Gryffindors. Ele não tinha realmente uma escolha. Não se quisesse continuar com o plano criado junto a Voldemort depois que Revan percebeu que Nicholas estava interessado em ter sua amizade. O herdeiro Black encarou o irmão com pena, e proferiu as palavras...