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Capítulo XI: Projeto

A manhã chegou tão rápida que parecia nem ter dormido naquela noite. Sakura revirou-se na cama que nem um bife, durante a madrugada inteira. Tudo por conta daquele momento com Sasuke. Os olhos negros, parcialmente escondidos pelos cabelos da franja, quando a fitaram naquele noite, ainda brincavam com suas fantasias mais íntimas, guardadas apenas para ela.

Kami! Não me castigue assim...

Levantou-se da cama quando sentiu seu coração acelerar novamente só de pensar em Sasuke. Aquilo não deveria estar acontecendo, ela tinha consciência disso, pois Sasuke era seu meio irmão agora. Viveria com ele até que ambos tivessem suas próprias vidas longe um do outro, ou até que o casamento entre sua mãe e o Sr. Uchiha acabasse. Mas essa última era uma coisa quase impossível de se acontecer. Sabia do quanto sua mãe estava apaixonada e dessa vez ela não faria uma escolha errada, ou seja, esse casamento duraria mais do que ela poderia esperar.

Sakura parou na soleira da porta da cozinha assim que o viu. Sasuke estava sentado na mesa no centro do cômodo, bem distraído com o seu notebook, levando uma hora ou outra uma xícara de café até os lábios. Shizune, de costas para ela, mexia em alguma coisa dentro do armário, conversando com alguém pelo intercominicador.

–Ohayo! - disse Sakura o mais sorridente possível, segurando o peito que oscilava descontrolado. Lançou um olhar sorrateiro para Sasuke que apenas a fitou de canto por um momento, depois continuou navegando na internet.

–Ohayo, Sakura! - respondeu Shizune aproximando-se da mesa com um prato repleto de torradas. - Vejo que está melhor. Acho que foi o meu chá! - a morena se sentou à mesa.

–Com certeza... - Sakura foi até o balcão de mármore, pegou uma xícara e se sentou ao lado da morena.

Ela segurava a vontade de olhar na direção de Sasuke, pois temia que seus olhares se cruzassem acidentalmente. Tentava de todas as maneiras deixar suas reações o mais normal possível, porém o nervosismo falava mais alto.

–O que houve com vocês? - perguntou Shizune folheando um jornal. - Estão muito calados...

Sakura não encontrou uma resposta óbvia ou uma desculpa perto de uma resposta óbvia. Apenas ignorou assim como Sasuke. Seus orbes foram da xícara em suas mãos, até a direção de Sasuke na cabeceira da mesa.

Novamente aquela expressão séria e misteriosa. Sakura adoraria saber o que ele estava pensando.

Quando percebeu que o fitava demais e este estava prestes a beber seu café, tendo que levantar por um momento os olhos, ela desviou os seus rapidamente para a folha enorme do jornal que Shizune estava lendo.

No primeiro momento não prestou atenção para o que olhava, mas depois que reconheceu a pessoa na fotografa, quase saltou da cadeira.

–KAMI-SAMA!! - suas mãos foram até a boca, tapando-a pelo tamanho que ela se encontrava aberta.

–O que foi?! O que foi? - Shizune levantou-se da cadeira assustada, deixando o jornal em cima da mesa. Sasuke parou no meio do caminho a xícara que ia de encontro à sua boca, olhando na direção de Sakura um tanto curioso e preocupado ao mesmo tempo e Sakura, mexia no jornal procurando a página em que viu sua foto.

–Por que tem uma foto minha no jornal? - perguntou ela desesperada, segurando firme em suas mãos a folha de papel como se ele pudesse fugir.

–Ah, é isso? - Shizune colocou uma mão ao peito, respirando aliviada. - Que susto, Sakura! - Sasuke sorriu de canto discretamente, voltando sua atenção para o computador. - Só agora você viu?

–Como assim, só agora?

–Sua primeira foto foi publicada à dois meses quando o Sr. Uchiha oficializou o noivado com sua mãe. Pensei que já sabia...

–Por Kami! - ela escondeu o rosto nas mãos. - Não quero nem saber o que escreveram de mim... - Sasuke olhou para a rosada mais uma vez, vendo seu desespero. Ele nunca se importava com o que escreviam dele nos jornais, exceto um tempo atrás quando não queria ser visto com Sakura por ninguém. No entanto aquilo parecia tê-lo deixado.

–Não tem que se preocupar com isso. Eles nunca escrevem críticas dos Uchiha. - afirmou Shizune, apoiando uma mão no ombro da cerejeira. - Já foram processados por dizer apenas que as Indústrias de petróleo dos Uchiha eram de baixa qualidade, por conta de uma pequena recaída nas ações de uns anos atrás. Imagine se eles criticarem um Uchiha? É certamente cavar a própria cova, mexendo com um baita processo judicial.

–Acontece que eu não sou um Uchiha, Shizune...

–Agora é, minha querida. - a morena sentou-se em seu lugar novamente, juntando as folhas do jornal. - Eu já disse que você não tem por que ficar preocupada. Publicaram uma matéria interessante ao seu respeito.

–Jura?

–Disseram que você é a uma garota inteligente, com grande potencial, muito capaz de ingressar numa carreira promissora nas Indústrias Uchiha. Tudo isso, por conta do prêmio de melhor aluna que você recebeu na sua escola em Tóquio.

–É sério? - se não fosse pela informação do prêmio, que Sakura tinha absoluta certeza de que Shizune não sabia, ela não acreditaria nessa história. Shizune poderia estar mentindo para que ela se sentisse bem. - Como eles sabem de tudo isso?

–Com certeza entrevistaram algum de seus parentes ou amigos em Tóquio.

–Meu único parente em Tóquio é a minha avó e ela odeia jornalistas. Tenho certeza de que ela não deu uma entrevista. Bom, também não tenho... muitos amigos. Se entrevistaram alguém na minha escola, disseram que eu era uma nerd maluca que não sabe se vestir e só pensa em estudar.

–Pode até ter sido isso que disseram, mas eles escreveram de um jeito mais educado. - Shizune levantou-se da mesa, quando ouviu um segurança chamá-la pelo intercomunicador.

Sakura continuou olhando sua fotografia no jornal, não contendo a curiosidade de ler o que estava ali. O título chamava ainda mais sua atenção: “Irmãos unidos: um exemplo para o jovens de Konoha”. Bem ao lado do título, estava a fotografia mostrando Sakura e Sasuke em frente ao parque de diversões.

Mas aquilo foi a tanto tempo! Por que publicaram só agora?

Sakura estava prestes a começar sua leitura, quando Shizune a chamou. Hinata estava na mansão para vê-la, o que a deixou surpresa.

Saiu da cozinha para recebê-la na porta, e a morena já esperava por ela do lado de dentro.

–Hina-chan!

–Sakura-chan! Como vai? - a morena aproximou-se dela sorridente, dando um beijo estalado em cada bochecha da rosada. - Espero que eu não esteja incomodado...

–Não, não está! - Sakura correspondeu ao sorriso dela gentilmente.

–Bom, o Naruto foi ajudar o pai em uma das concessionárias que ele é dono, em Suna e eu queria te convidar a passar essa tarde comigo no parque, mas depois me lembrei que você não pode sair sem o Sasuke-kun. Então, eu estava imaginando se eu posso fazer companhia pra você esta tarde. Se não for incomodar...

–Você... quer passar a tarde... comigo?

–Sim! - ela respondeu sorrindo novamente. - Você estava planejando outra coisa?

–Não! Não! Eu só...

–O que?

–Estou imaginando o que você poderia fazer comigo para que a tarde não seja chata. - Sakura a fitou nos olhos perolados. Hinata era sempre muito gentil com ela. Sakura perguntava-se o motivo, já que uma garota como a Hyuuga nunca a tratou assim.

***

–Eu me pergunto se todos os pais são assim... - murmurou a rosada, dando mais uma lambida no seu sorvete.

Estavam no jardim da mansão Uchiha à horas, conversando sobre assuntos diversos, até que chegaram no tema dos pais severos demais com os filhos.

–Nem todos... - respondeu ela. - O pai do Naruto não é daqueles que deixa o filho fazer tudo o que der na telha, porém ele não o impede de fazer suas próprias escolhas. - Hinata baixou o cenho, demonstrando um pouco de tristeza no seu olhar, o que chamou a atenção de Sakura. - Ele é uma boa pessoa...

–Você escolheu alguma coisa que não agradou ao seu pai? - Sakura perguntou meio receosa. Não queria deixar Hinata magoada, acabando com aquela tarde proveitosa na mansão do tédio. Ela foi praticamente sua salvadora, já que estava sem opções de livros para ler em seu quarto. Estava mesmo gostando de passar aquela tarde com ela.

–Meu pai almeja minha participação na administração das empresas Hyuuga. Como filha mais velha e herdeira legítima, é minha obrigação estar preparada para assumir esse papel, mas... - ela hesitou por um momento, fitando a casquinha em suas mãos.

–Você não quer... - completou a cerejeira.

–Eu sempre sonhei em ser tantas coisas... Mas no final, acabei me centrando em apenas uma.

–E qual é? - perguntou Sakura curiosa.

–Quero muito me tornar uma psicóloga. - respondeu com um leve sorriso. Lembrava-se exatamente do dia em que comentou isso com o seu pai e o que conseguiu foi apenas uma bronca.

–Acho que é por isso que gosto de conversar com você... - sorriu, dando outra lambida no sorvete. - Mas você não desistiu do seu sonho...

–Eu cheguei a desistir, mas o Naruto me ensinou a ser persistente... - Sakura percebeu o jeito que a morena olhou para o lado, corando levemente suas bochechas. Com certeza estava pensando no seu namorado.

Namorado...

Essa palavra trouxe a imagem de Sasuke na sua cabeça.

Sem perceber seu coração disparou violentamente dentro do peito, porque estava muito frágil para suportar aquilo. Frágil demais para resistir àquelas sensações.

Agora parecia ter absoluta certeza de que estava apaixonada por Sasuke, pois nunca sentiu aqueles sintomas tão intensamente como estavam naquele momento. Aquilo tornou-se incontestável para ela. Estava perdidamente apaixonada por Sasuke...

***

No dia seguinte, Hinata encontrou com suas amigas no Kunai Burges, sozinha. Naruto ainda estava em Suna com o pai, o que fazia uma falta enorme para ela. Não conseguia sair sem ele. Porém ficar em casa parecia ainda pior.

Foi até o Kunai Burgers apenas para tomar um milkshake e acabou encontrando as meninas conversando numa mesa, bem no centro da lanchonete, chamando atenção de todos.

–Oi, meninas! -

–Amiga! Você por aqui? - Ino levantou-se sorridente, cumprimentando a morena com dois beijos de cada lado do rosto.

–Senta aqui com a gente! - pediu Temari.

–Que milagre você sem o Naruto... - murmurou Karin, levando aos lábios uma garfada de salada.

–Ele está em Suna com o pai. - respondeu, sentando ao lado de Temari.

–Hinata! Estou com raiva de você! - praguejou Tenten sugando rapidamente seu milkshake de chocolate.

–O que foi que eu fiz?

–Eu soube pela Karin que você preferiu passar a tarde com aquela fracassada, que fazer compras com a gente!

–Do que você está falando?

–Não se faça de sonsa, Hinata! - Karin ajeitou os óculos no rosto, deixando sua expressão dura bem visível. - Eu fui na mansão Uchiha ontem a tarde e soube pelo Sasuke que você estava lá, conversando com aquela idiota!

–Sim, eu passei a tarde com a Sakura! - afirmou convicta. - Não com uma fracassada.

–Qual a diferença, querida? - perguntou Tenten sarcasticamente.

–Acho que Hinata ficou com peninha do que o Kiba fez com ela. - disse Ino, segurando uma gargalhada. - Como queria estar lá para ver aquilo!

–Como vocês são fúteis! - disse Hinata, tentando deixar a voz o mais furiosa possível. As meninas arregalaram os olhos com aquela reação, já que Hinata nunca fizera isso. - Por que não podem ao menos conhecê-la antes de julgá-la?

A morena se levantou da cadeira, pegando seu milkshake. Estava acostumada com a personalidade das suas amigas, mas tudo tinha um limite. Na verdade desejava dizer aquelas palavras a muito tempo! Desde quando estudavam no primário.

–Hinata, espera! - pediu Temari, segurando em seu braço. - Vamos conversar.

–Não tem como conversar com vocês...

–Estão vendo só?! - interrompeu Karin, colocando-se de pé também. - Aquela garota ‘tá fazendo lavagem cerebral na nossa amiga!

–Karin, não viaja! - disse Ino.

–Estão vendo como Hinata está diferente?

–Talvez Hinata tenha razão, Karin... - disse Tenten, segurando na mão dela para que se sentasse de novo. - Ela sempre tem no final das contas...

–Do que você está falando? - retrucou a ruiva.

–Vocês se lembram de como o Naruto era mal tratado na escola e a Hinata...

–Isso porque ela estava apaixonada por ele, Tenten... - interrompeu Karin sentando-se novamente, voltando a comer sua salada.

–Se fosse por isso, ele não seria um dos garotos mais populares da escola. - replicou Temari, puxando Hinata para seu lugar novamente.

–Gomene por isso, Hina-chan. - disse Tenten. - Acho que devíamos te dar uma chance. - disse a morena com um sorriso, segurando a mão da Hyuuga. - Certo, Ino?

–Ah... Claro! Por que não? Karin?

–Sem chance! O que vocês estão pensando? Deixar aquela aberração cor de rosa andar com a gente?

–Na verdade, eu tinha uma coisa em mente. - afirmou Hinata, sugando mais uma dose de milkshake. - Eu queria que vocês me ajudassem a mudar o visual dela...

–Ah Kami-sama! - Tenten saltou da cadeira acompanhada por Ino. - Um projeto! Um projeto! - os gritinhos finos de Tenten e Ino, chamavam ainda mais atenção para a mesa das meninas.

Hinata sorriu com o efeito que a sua idéia surtiu nas meninas. Porém a reação de Karin a deixou preocupada. A ruiva amarrou a cara, cruzou os braços, e afastou a salada de perto dela.

–Mas que idéia incrível, Hinata! - parabenizou Temari.

–Sim! Excelente!

–Acho que não vai dar em nada...- retrucou Karin, levantando-se de seu lugar. - Um fracassado nunca deixa de ser um fracassado - ela pegou sua bolsa e saiu da lanchonete. Seu destino? Mansão Uchiha. Sua vontade era arrancar os cabelos do novo projeto das suas amigas, assim elas teriam que encontrar uma peruca que lhe servisse.

***

Depois de ler mais um volume de Agatha Christie trancada em seu quarto, Sakura saiu de lá meio fadigada pela falta do que fazer. A tarde estava quente então poderia aproveitá-la do lado de fora daquela casa, lendo ao ar livre. Só não ficaria dentro daquela casinha do jardim novamente, onde poderia pegar no sono como da última vez. Agora procuraria a sombra de um árvore ou simplesmente um banco.

Levava consigo dois livros. Um deles estava aberto, na página do prefácio que aparentemente chamou sua atenção, já que não desgrudava os olhos dele.

Saiu pela varanda dos fundos que daria na piscina, sem olhar para frente até que percebeu algo bater no seu corpo violentamente, derrubando-a no chão.

–Por que você não olha por onde anda? - aquela voz fez coração bater mais forte.

–Sasuke...?

–Anda, levanta... - ele a pegou pelo braço, o que fez o pobre corpo da Haruno estremecer-se por inteiro. Os pelos de seu braço se eriçaram com o contato da pele fria dos dedos dele, contra a pele quente da cerejeira. Ou mais que isso. Podia sentir uma corrente elétrica passar do corpo dele para o seu.

Seus olhos procuraram o rosto do moreno, só então notou que ele estava molhado. Acabara de sair da piscina, usando apenas um calção de banho e uma pequena toalha sobre os ombros úmidos.

–Lendo de novo? - perguntou soltando-a. - Você não se cansa?

Sakura tentou se recuperar dos efeitos daquele contato, desviando os olhos para seus livros espalhados pelo chão.

–Não tem outra coisa para se fazer aqui. - respondeu ela abaixando na direção do livros.

–Você não procura... - Sasuke caminhou em direção à porta da varanda, retirando a toalha dos ombros, para depois arrepiar os cabelos com ela.

–É claro que procuro! - retrucou já de pé, vendo o corpo dele que se afastava, parar assim que ouviu a voz dela. - Só não encontro.

–Sabe jogar Baseball? - perguntou ele por cima dos ombros.

–Baseball? Aquele que se usa um taco?

Sasuke sorriu de canto, virando-se para ela. Sakura tentava novamente não se perder naquela imagem absurdamente linda, mas era inútil. Prendeu a respiração, assim que Sasuke deu um passo para perto dela.

–Sim. Esse mesmo.

–Ah... - ela estava desnorteada. Sasuke além de estar tão perto dela, a enfraquecia com aquele olhar misterioso e sorrateiro. - Eu não... Não sei se... Eu não sei se posso jogar isso, mas talvez eu aprenda rápido. - respirou aliviada quando a última palavra saiu.

Sasuke notou o nervosismo da garota, porém não se importou. Virou as costas para ela novamente, seguindo na direção da porta da varanda.

–Vou me vestir... - disse sobre os ombros.

Sakura entreabriu os lábios, deixando a respiração descompassada sair entre eles. Aquilo era uma tortura para o seu corpo! Desde a primeira vez que se apaixonou, odiou estar daquela maneira, prometendo a si mesma que aquilo jamais aconteceria novamente.

Mas lá estava ela... Sentindo o estômago dar cambalhotas, sentindo o coração bater tão forte no peito que chegava a doer, por um garoto do qual tinha absoluta certeza de que não sentia nada por ela.

Acontecia tudo de novo... Porém de um jeito mais forte.

Mas ela não mandava no seu coração. Era inevitável. O certo a se fazer, não era se afastar dele, nem resisti-lo, nem ignorar o fato de estar apaixonada. Era simplesmente deixar tudo nas mãos do destino.

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Continua...