Tsunade estava angustiada.

Olhava pelas grandes janelas de seu escritório e se perguntava se havia cometido um erro terrível. Há mais de seis meses que não recebia notícias, e antes disso as recebia constantemente. Fosse onde fosse que passassem, pouco depois chegavam cartas, relatórios, pedidos... E agora, há seis meses, nada!

Konoha estava mais próspera do que nunca e sabia que a maior parte disso era devida a eles. Não, a ele. Claro que os outros dois ajudaram nisso, e muito, mas nada teria acontecido se não fosse por Naruto.

A missão de Sasuke fora cumprida com êxito, e bem rápido, com o auxílio de Naruto e Sakura. Ainda se lembrava do relatório recebido como se fosse ontem, apesar de já fazerem dois anos, aproximadamente oito meses após a partida dos três.

 

“Relatório Secreto

À: Tsunade-sama – Godaime Hokage de Konohagakure

De: Gaara-sama – Godaime Kazekage de Sunagakure

Assunto: Missão Conjunta ANBU Sunagakure/Kumogakure

Devido a várias atividades suspeitas que se concentraram recentemente na fronteira entre o antigo País do Redemoinho e o País dos Campos de Arroz, uma missão conjunta ANBU entre Suna e Kumo foi enviada ao local para averiguar os acontecimentos. Poucos shinobis que ainda habitavam o local foram encontrados, mas estes se declaravam fiéis seguidores do nukennin de Konoha, Orochimaru.

Após a rápida captura desses shinobis, nossos agentes ANBU continuaram se infiltrando no território do País do Redemoinho, onde se depararam com uma luta que estava em curso, entre o ex-nukennin de Konoha Uchiha Sasuke e o já citado Orochimaru. Uzumaki Naruto e Haruno Sakura assistiam à luta, porém impediram nossos agentes de entrarem no local, alegando que apenas atrapalhariam no combate.

Ao final, mesmo extremamente ferido, Uchiha Sasuke derrotou Orochimaru e destruiu totalmente o corpo utilizando o Kinjutsu* Amaterasu. Ele foi tratado pela iryo-nin Haruno Sakura e se encontra fora de perigo.

Foi solicitado pelo Sennin Uzumaki Naruto que esse fato fosse informado à Konoha, porém que se tratasse o assunto com extremo sigilo, pois pretendiam ainda capturar alguns seguidores de Orochimaru sem que estes fossem alertados.

Ainda a pedido de Uzumaki Naruto, informo que a missão a que ele se propôs terá prosseguimento, e que o primeiro passo é procurar a extinta Uzuchio, já que se encontram no próprio território do País do Redemoinho.

No momento é toda informação de que dispomos, mas no caso de obtermos mais notícias, Konoha será imediatamente informada.”

 

Após esse primeiro relatório recebido de Suna, vários chegaram, informando que eles passaram por países que não faziam parte da aliança, alguns de Daimyous, outros de Kages que não eram oficialmente reconhecidos pelas cinco grandes nações. Continham agradecimentos pela ajuda de Konoha, pedidos formais de aliança, solicitações de auxílio e cada vez mais missões.

Independente de todos os relatórios que recebia de vários países, as notícias mais importantes chegavam através de uma pessoa que não imaginaria: O Jinchuuriki de Kumo, Killer Bee. Como foi explicado a ela pelo próprio Bee na primeira carta que recebeu, durante a reunião dos Kages, quando usou o pretexto de desejar boa sorte a Naruto, transferiu uma pequena parte do chakra de Hachibi, mantendo assim uma via de comunicação de mão dupla com o loiro. Ninguém suspeitou na hora e muito menos depois, já que o rapaz soube disfarçar muito bem o fato e tampouco comentou alguma coisa.

Tsunade também soube que, numa atitude de insuspeitada diplomacia, Naruto indicava a qual país as missões deveriam ser solicitadas, não pensando apenas em Konoha e mantendo o equilíbrio entre as nações. Isso a deixava muito orgulhosa, porém não diminuía sua preocupação por ficar tanto tempo sem notícias. Mesmo Bee já não escrevia mais.

— Shizune! — Chamou, afastando-se da janela com um suspiro e passando os olhos sobre os documentos em sua mesa.

— Hai, Tsunade-sama! — Shizune entrou esbaforida na sala.

— Alguma notícia?

— Iie...

— Pode ir. — A Godaime fechou a cara, expressando preocupação.

Aquele era um ritual que se repetia praticamente todos os dias há pelo menos quatro meses. Desde que percebeu que já fazia muito tempo que não sabia do trio, todos os dias chamava Shizune e fazia a pergunta, mas a resposta era invariavelmente a mesma. Mandava shinobis em missões, mas com ordens de que sempre que tivessem oportunidade, tentarem ao menos saber onde eles estavam, mas era inútil.

— Naruto, Sakura, Sasuke... onde vocês estão? — Sussurrou, apoiando o rosto nas mãos, antes de soltar um suspiro e começar se dedicar aos documentos à sua frente e às suas obrigações de Hokage.

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— Hinata?

A kunoichi levantou os olhos do pergaminho em que estava concentrada e olhou para a garota que a chamava.

— Hai, Karin?

— Se você pediu ao Naruto para resolver isso, por que precisa da minha ajuda? — A ruiva também estava com um pergaminho sobre o colo. Havia meses que elas se juntavam pelo menos duas vezes por semana para pesquisar sobre Fuuinjutsu.

— Porque ele disse que talvez não encontrasse nada. — Hinata deu um suspiro. Na verdade o que ela não queria admitir era que desde a partida do loiro estava se sentindo um tanto inútil com relação àquele assunto. Não havia contado a Karin o motivo da pesquisa, afinal era um assunto secreto do clã, dizendo apenas que deveriam procurar qualquer referência a selamentos de Doujutsu* criados pelo clã Uzumaki. — E mesmo que ele encontre algo, quero poder ajudar e fazer o que for preciso para facilitar esse assunto.

— Mas não encontramos quase nada sobre os Fuuinjutsu Uzumaki, mesmo Tsunade-sama tendo nos autorizado a procurar nos pergaminhos secretos da vila... — Karin constatou. — Apenas fórmulas de selamentos que já são conhecidas. Não acho que vamos encontrar mais do que isso.

— Também acho que não... — Hinata estava muito preocupada, mas não pela falta de informações sobre selos. A falta de notícias de Naruto a estava tirando do sério, mesmo que não admitisse nem para Karin.

Elas haviam se tornado grandes amigas, e não era raro vê-las passeando juntas por Konoha quando tinham tempo. A amizade era inusitada, e vários de seus amigos estranhavam, já que eram pessoas tão diferentes, mas talvez exatamente por isso fizessem muito bem uma à outra. Com a convivência, Karin ficara mais tratável, gentil e calma, apesar de ainda ter seu temperamento forte. Em aparência não mudou, mas suas novas atitudes a fizeram conquistar a amizade de várias pessoas, sendo ajudada também pelo nome Uzumaki. Hinata estava mais confiante e não tentava mais passar despercebida por todos. Os elogios constantes da ruiva e Suigetsu à sua beleza aos poucos foi fazendo efeito, e agora ela era reconhecida como uma das mulheres mais bonitas de Konoha. Quando não usava seu uniforme jounnin, habituou-se a usar shorts, como as outras kunoichi, acompanhado de uma blusa comprida, lilás e sem mangas, com um grande lírio branco e roxo na lateral, cruzada na cintura como um kimono e presa por uma faixa também roxa. Ainda era discreta, mas não imaginava como aqueles trajes simples a deixavam sensual aos olhos masculinos. Seus cabelos estavam ainda mais longos, mas agora os mantinha presos em um rabo de cavalo, talvez como uma lembrança da noite em que se despedira de Naruto.

Quase não falava mais do loiro, mais por constrangimento, pois não havia grandes notícias e não queria parecer repetitiva ou incomodar alguém com perguntas frequentes. Nem quando Karin perguntava ela falava, e fazia de tudo para mudar de assunto. A ruiva estranhava essa atitude, mas se absteve de fazer comentários para não aborrecer a amiga.

— Vamos dar uma volta. Isso aqui não nos levará a nada. — Karin percebeu o olhar preocupado de Hinata e decidiu que era preciso fazê-la relaxar de alguma forma. — Já sei! Vamos convidar Ino para nos acompanhar às termas!

— Demo... — A morena ainda tentou protestar, mas foi vencida pela insistência de Karin. — Hai, hai...

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— Yo, Shikamaru!

— Yo, Kiba!

— Alguma novidade? — Kiba havia cruzado com Shikamaru quando este saía do prédio Hokage.

— Nai. A Godaime está muito preocupada, já não consegue mais esconder isso. — Shikamaru respondeu, pensativo. — Tenho que admitir que também estou, apesar de não acreditar que alguma coisa realmente tenha acontecido com aqueles três. Seria quase impossível com a força de cada um em separado, juntos então...

— Concordo, mas então, onde eles podem estar? — Estava mais intrigado do que preocupado. — Se algum deles fosse capturado ou algo assim, o mais provável é que fosse a Sakura, mas Naruto nunca deixaria nada de mal acontecer a ela! Acho que Sasuke também não.

— Nem imagino, Kiba. Mas se eles estão bem e ainda assim não mandam notícias, acho bom que tenham uma ótima desculpa, ou teremos três shinobis a menos em Konoha quando voltarem e caírem nas mãos da Tsunade-sama.

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— Gaara?

O Kazekage virou-se e viu sua irmã se aproximar dele na sacada de seu escritório.

— Sabe que amanhã parto para Konoha. Não quer mandar nenhuma mensagem para a Hokage? — Temari perguntou preocupada. — Sabe que ela está tentando descobrir o paradeiro dos três de todas as formas.

— Iie. Nenhuma mensagem.

— Gaara...

— Onegai, não diga nada para Shikamaru, tampouco. — Sua expressão não demonstrava nada.

— Hai. — Relutantemente, Temari concordou, deixando o Kazekage voltar à sua contemplação de Suna.

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Quatro jounnin e dois chuunnin encontravam-se sentados em torno de uma mesa abastecida com sakê, chá e aperitivos. O principal assunto eram os shinobis desaparecidos de Konoha.

— Não podemos fazer mais nada, Kakashi-senpai? — Sai perguntou, com seu jeito frio, mas todos ali sabiam que era um dos mais preocupados.

— Não sem a autorização da Godaime. — Kakashi respondeu enquanto abaixava seu inseparável Icha-Icha.

— Não estou gostando disso. — Tenzou* comentou. — Não conheci bem o Uchiha, mas Sakura é muito responsável e Naruto certamente seguiria seus conselhos.

— Agora as coisas são um pouco diferentes, Tenzou. — Voltando a erguer seu livro, Kakashi parecia desinteressado do assunto.

— Diferentes como, Kakashi? — Guy perguntou franzindo as sobrancelhas e dando um gole em seu sakê.

— Naruto é o responsável por essa missão, e não é uma missão normal. Sakura e Sasuke farão o que ele disser.

— Você não parece preocupado, Iruka. — O sensei das grandes sobrancelhas comentou.

— E não estou. Confio no Naruto.

— Ainda acho que poderíamos fazer mais do que simplesmente sair perguntando quando estamos em missão. — Lee se pronunciou. Estava tão preocupado que nem parecia ele. — Sei que Naruto-kun é muito forte, mas e se ainda existirem organizações como a Akatsuki por aí? A Sakura-san pode estar em perigo!

— Lee, acha mesmo que Naruto ou Sasuke deixariam alguma coisa acontecer a ela? Além disso, Sakura sabe se defender muito bem. — Kakashi respondeu calmamente.

— E podemos mesmo confiar no Sasuke-kun? Se ele os traiu... — Lee não pode continuar, pois foi interrompido pela voz calma de Iruka.

— Se Naruto confia nele, devemos fazer o mesmo, Lee.

— Hai. Gomenasai! — Abaixando a cabeça envergonhado, Lee pegou um dos copos à sua frente, mas foi impedido de beber pela mão firme de Might Guy:

— Esse não, Lee. Estou sem dinheiro para pagar os estragos.

Prestando mais atenção ao que fazia, Rock Lee percebeu que quase pegara um dos copos de sakê, em vez de seu chá.

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— Isso não é uma boa ideia!

— Moegi, precisamos fazer alguma coisa! Você ouviu o que eles disseram, Naruto nii-san pode estar em perigo! — Konohamaru estava determinado.

— Mas Kunohamaru, se sairmos da vila sem permissão, Tsunade-sama não vai nos dar mais que missões Rank D por meses! — Udon tentava colocar um pouco de bom senso em seu colega, mas não estava obtendo sucesso.

— Hontou desu, Konohamaru! — Moegi também tentava. — E mesmo sendo chuunnins agora, não podemos enfrentar alguém que nem Naruto nii-san pode! Além do mais, duvido que ele esteja realmente em perigo!

— Naruhodo! — Ele se virou para os colegas, que o seguiam relutantemente. — Se vocês estão com medo, podem voltar. Eu vou sozinho! — Voltou-se para a direção da saída da vila e saiu correndo sem esperar resposta.

Udon e Moegi se entreolharam e abaixando os ombros de maneira cansada, foram atrás de Konohamaru.

Já haviam despistado os shinobis que estavam de guarda nos portões da vila e se preparavam para seguir para a floresta, quando um vulto materializou-se à sua frente, fazendo Moegi soltar um grito e Udon cair sentado. Konohamaru se preparou para lutar e fugir, mas gelou ao ver quem era.

— Sabia que de você, coisa boa eu não poderia esperar. Não deveria ficar escutando a conversa dos outros, sabe, Konohamaru?

— Kakashi-sensei! — O rapaz exclamou num fio de voz. — C-como sabia?

— Você é parecido demais com o Naruto. Não foi difícil prever o que faria. — O jounnin mantinha os braços cruzados e os olhava com uma expressão despreocupada. — Resolvi te dar algum tempo de vantagem apenas para ver até onde conseguiria chegar.

Mesmo com receio de enfrentar Kakashi, Konohamaru não iria desistir sem lutar. Preparou um Rasengan e partiu para cima do outro, mas foi imobilizado quase que imediatamente. Udon e Moegi, que observavam atentamente, nem mesmo viram como aquilo aconteceu.

— AH, ME SOLTA, KAKASHI-SENSEI!

— Se você prometer se comportar e voltar para a vila como um bom menino, posso pensar em não contar para à Godaime o que pretendia fazer.

— Mas o Naruto nii-san...

— Não confia no Naruto, Konohamaru? — Kakashi perguntou, ainda segurando o rapaz que se debatia.

— Claro que confio!

— Então deveria acreditar, como eu acredito, que ele está perfeitamente bem.

— Demo...

— Ele é o melhor shinobi de Konoha, e não apenas isso. Ele já superou o Yondaime, Jiraya-sama e nem preciso dizer que a qualquer outro ainda vivo. Acha mesmo que ele pode estar em perigo?

Apesar de não responder, Konohamaru parou de se debater, o que fez Kakashi soltá-lo e pegar seu livro.

— Tenha mais fé no próximo Hokage de Konoha. E se quer um dia ter a chance de competir com ele nisso, aprenda, como ele aprendeu, a confiar em seus companheiros e a ter paciência. Abayo!

E Kakashi sumiu numa nuvem de fumaça, deixando para trás um Kohonamaru muito frustrado, porém conformado. Olhando para o chão, o rapaz disse num tom preocupado:

— Naruto nii-san... esteja bem, onegai!