Gutt escrita por Ennaz


Capítulo 9
Entre dois amores


Notas iniciais do capítulo

Nem foi tão entre amores assim...
A minha Lílian não é uma garota estressada. Ela é uma garota sensata. Mas ela pode ter seus momentos de estresse, não acham?
*Importante*
Quem percebeu que eu mudei meu nome para Calíope levanta a mãe- opa! Pera aí! Levanta a mão! Agora sim... o/
Mudei porque adoro Mitologia Grega, Calíope era a líder das musas e eu me identifiquei com ela e o filho dela, Orfeu, é o meu herói grego favorito. Ele protagonizou uma das histórias mais belas e trágicas da Mitologia Grega. Por isso o meu novo pseudônimo é Calíope.
*Fim do importante*
Como alguns de vocês ficaram surpresos em saber que a mãe do Tiago o teve na menopausa, resolvi comentar a respeito. Na verdade, as mulheres ainda podem engravidar depois que entram na menopausa. É mais raro, mas acontece. Eu ainda me lembro de um caso de uma senhora muito idosa que teve gêmeos. A mulher já estava na casa dos cens, se me lembro bem. Acho que ela era europeia e as autoridades queriam tirar as crianças dela por acreditarem que ela não conseguiria cria-los, ou algo assim. Porém essa informação eu tirei de uma memória antiga que eu peguei ainda na minha infância. Hoje em dia acontece mais vezes por causa de intervenções médicas, mas pode acontecer de forma natural.
E bem... como Tiago nunca conviveu com nenhuma garota exceto sua mãe, que não tinha mais o seu ciclo, imagino que ele nunca aprendeu a respeito do assunto. Ele pode ter convivido com as garotas de Hogwarts, mas nunca perto o suficiente para perceber que elas tinham períodos em que agiam diferentes. E se percebeu, jamais ligou os fatos, pois ele não sabia que isso acontecia. Não acham?
Esse foi o capítulo mais fácil de escrever até agora. O terminei rapidinho.



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- O que está acontecendo com elas? – preocupou-se Tiago.

- Relaxa. Elas vão ficar bem. Aliás, se eu fosse você me concentraria em tentar me lembrar do que esqueci.

- Hã? Do que eu esqueci?

- Não sei. De acordo com Remo tem algo a ver com algum plano seu nesse sábado. E acho que não é o treino.

Tiago olhou para o pergaminho fixado no mural. Leu o enunciado e percebeu finalmente.

- Ah, não! O treino foi marcado no mesmo dia do passeio! – exclamou. Como ele pode ter esquecido?

- Cara... boa sorte com a patroa.

Capítulo 9

Entre dois amores

- Lembre-se. Não se irrite – disse Sirius.

- Não eleve a voz. Fale quase sussurrando para não correr o risco de elevar o tom de voz – Remo aconselhou.

- Concorde com tudo que ela disser.

- Peça desculpas até ela disser que está tudo bem.

- Preste atenção na linguagem corporal.

- Se ela estiver com os punhos fechados: está irritada.

- Se ela estiver chorando: ou ela está triste ou está tão estressada que já não aguenta. Aí nem chegue perto.

- Por favor, não eleve o tom de voz de jeito nenhum.

- Você já me disse isso! – Tiago se estressou. Eles se encontravam sentados à mesa da Grifinória, o mais longe possível de Lílian Evans que naquele momento se encontrava atacando seu mingau de aveia como se ele fosse o culpado pelos seus problemas.

- Ih! Ele está irritado – disse Sirius.

- Ah, não. Ele não pode chegar perto dela desse jeito – Remo lamentou.

- Querem parar, vocês dois!

- Mas você precisa dessas dicas para lidar com mulheres que se encontram nesse... período delicado delas – argumentou Remo.

- Se você não souber lidar com a TPM não vai ser feliz no casamento – Sirius sentenciou.

Desde que Lílian se revelara fora de seu normal naquela manhã, Tiago tem buscado dicas e conselhos de seus amigos mais experientes no assunto. Mas o maior problema é que eles davam tantos conselhos que Tiago não conseguia absorver nada.

- Argh! Vocês não estão me ajudando, estão me deixando mais confuso!

- Eu sei um truque.

Tiago ficou de pé num salto. Cosmo surgira atrás dele.

- Cara... você...

- Te assustei?

- É...

E o outro riu.

- Eu sei um truque para sobreviver nessa época. Convivo com muitas mulheres na Batch Fazenda.

- E qual é?

- Fique calado e deixe as meninas estressadas se acalmarem. Fiz isso a minha vida inteira e ainda estou vivo. Infelizmente um dos meus primos não me ouviu e agora... bem, digamos que ele não é mais o mesmo desde então... bom, a Lil vai se acalmar e pedirá desculpas por ter gritado com você. Vai ver; ela é sensata. Só tome cuidado com a escolha que vai fazer – ele terminou com um tom de quem mais avisa que aconselha e foi se sentar com a Lílian. Ela começou a falar com ele, gesticulando com muita energia e jogando mingau na cara de Cosmo; ela segurava a colher, não pareceu ter feito de propósito, mas também ela não pareceu se desculpar.

- O que será que ele quis dizer com isso?

- Não sei. Mas e aí? O que você vai fazer? Ir às compras ou ao treino?

- Hum... eu tenho um compromisso a cumprir com o time, então: ir ao treino. Não posso perder o nosso primeiro treino. Lílian pode ir com o Harry, ela mesma disse que eu não sei escolher roupas. E está na hora de começar a treinar para levar Grifinória à vitória!

- É! – Sirius aprovou animadamente.

Mas Remo não pareceu muito feliz embora ficasse em silêncio.

Após a aula de transfiguração, a previsão de Cosmo de que Lílian viria pedir desculpas se provou estar correta. Tiago se dirigia à Torre da Grifinória o mais apressadamente possível. Tinha se esquecido de que deveria levar Harry ao Hagrid. Aliás, tinha si esquecido até de falar com o grandão sobre o Harry. Já via o retrato da Mulher Gorda quando Lílian saiu por ali. Ele parou na hora. Perguntou-se se ela estaria calma, ou se ainda estaria naquele estado perigoso. Tenso, ele a viu se aproximar. O que Remo e Sirius tinham dito sobre linguagem corporal? Os olhos baixos eram sinal de perigo? Não, isso é ridículo.

Ela parou diante dele. Transferiu o peso do corpo para o outro pé e o fitou nos olhos. Seu rosto corou antes de começar a falar:

- Tiago... eu... – mordeu o lábio inferior – realmente sinto muito por ter gritado com você daquele jeito. Eu estava muito nervosa e... não pensei direito.

- Ah... está tudo bem... eu entendo.

- Você é legal – ela sorriu aliviada. E Tiago se sentiu nas nuvens. Lílian voltou a andar para a aula de feitiços e Tiago a seguiu como um ímã – e não se preocupe com o Harry, eu já o levei para a cabana do Hagrid.

- Ah. É?

- Sim. Falei com o Hagrid há uns dias sobre precisar da ajuda dele para ficar de olho no Harry algumas vezes na semana. Ele concordou.

- E como o Harry reagiu ao tamanho do grandão?

- Surpreendente. Harry não teve medo. Gostou dele logo de cara.

- O Harry é um bom garoto.

- Sim. Ele é uma graça, esse menino.

Eles ficaram em silêncio por um tempo enquanto caminhavam, até que Lílian perguntou:

- E o que você decidiu fazer nesse sábado? Sabe que você e eu temos que comprar as roupas do Harry, não é?

- Er... sabe que eu estava pensando... vocês não precisam realmente de mim para comprar as roupas, não é? Quero dizer, você pode ir com o Harry e a Eliane. Não precisam de mim. Então... decidi comparecer ao treino em vez de ir ao passeio. Tudo bem?

Um momento de silêncio no qual Tiago começou a sentir medo.

- Tudo bem... – ela virou o rosto – se é o que você quer... só não espere que eu seja legal com você de novo!

E ela lhe deu um soco e saiu correndo por um caminho que ele sabia que não levava para a sala de feitiços.

- Eu... disse algo errado? – se perguntou esfregando o braço, antes de seguir seu caminho.

Lílian não sabe o quanto correu até entrar no primeiro banheiro que viu. Mas ela sabia de uma coisa: ela odiava aquela época do mês. Tudo era motivo para chorar, se irritar. E a vontade de sair gritando era tão grande, que ela podia explodir. Mas ela sabia que era ridículo. Sabia que chorar, gritar e se irritar era inútil. Não resolveria seus problemas. Mas... como ela poderia controlar as lágrimas que começaram a descer? Os sentimentos de raiva e decepção eram intensos. Para piorar começou a sentir dor de cabeça e ter cólica. Aquele era o pior dia da sua vida!

Se trancou num box e se deixou chorar livremente xingando Tiago de todos os nomes possíveis. Se não podia controlar, por que ia lutar? Ficou ali trancada por um tempo muito longo. Na altura em que se sentiu acalmar, imaginou que teria perdido a aula de feitiços. Seu humor melhorou um pouco quando pensou que teria de pedir desculpas ao Prof. Flitwick e ainda tirar pontos de si mesma. Então ela sentiu cheiro de cigarro. Fumar em Hogwarts era proibido. Mesmo os professores eram orientados a não fumarem nos corredores ou banheiros da escola. Imediatamente ela entrou no modo monitora. E saiu do box.

Ao abrir a porta se deparou com um de seus antigos pesadelos:

- Garnet... – murmurou ao se deparar com a bela e cruel aluna da Sonserina. A garota se encontrava recostada á uma pia. Entre seus dedos ela segurava um suporte de cigarro com um cigarro aceso na ponta.

- Então era você... – disse ela abrindo seu sorriso de costume. O sorriso enganosamente gentil e acolhedor que escondia uma personalidade fria e sádica. Lílian jamais se esqueceu da vez que foi enganada por aquele sorriso.

- É proibido fumar na escola – Lílian se agarrou ao seu papel de monitora.

- E daí?

- E daí que eu sou a monitora e vou ter que retirar pontos da sua casa e lhe dar uma detenção se não apagar esse cigarro.

- Tudo bem.

E Garnet apagou o cigarro na pia. Lílian ficou desconcertada com a ação até que viu Garnet puxar um maço de cigarros de um dos bolsos, colocar um novo no suporte e acendê-lo.

- Que foi? Você disse que me daria detenção se eu não apagasse o cigarro. Eu apaguei – disse cínica.

Lílian sentiu seu sangue ferver novamente, mas conseguiu se controlar.

- Apague esse cigarro e jogue o maço fora.

Dessa vez Garnet riu. Em vez de fazer o que Lílian pedira, ela mostrou a embalagem do maço.

- Conhece essa marca?

Sim. Lílian conhecia. Era...

- Uma marca trouxa. Vê? A imagem nem se mexe.

- Hã? Por que logo você estaria fumando cigarros trouxas? Você não odeia trouxas?

- O que? Odiar trouxas? Claro que não. Eu também estou bebendo o café deles – ela mostrou um copo de café, daqueles que são só vendidos em lanchonetes – sei que os britânicos preferem chá ao café, mas é sempre bom provar algo diferente, não concorda?

- É... eu... concordo – que sensação desagradável.

- Que maravilha. Estamos nos entendendo.

Lílian não gostou de ouvi-la dizer isso.

- Por que está provando coisas trouxas? E, mais importante, onde as conseguiu?

- Ah. Eu ganhei de brinde. – isso não respondeu á pergunta – e por que estou provando? Hum... queria saber se eles dariam bons elfos-domésticos.

Ah... claro... só podia ser isso.

- Gostei do café. Quando o Lorde das Trevas tomar o controle do mundo, talvez eu mantenha alguns trouxas como elfos-domésticos. Mas... – ela retirou a tampa do copo e tomou um gole – esse café já está frio, e eu não gosto do café frio. Então o lugar dele é no lixo.

E Garnet jogou o café em Lílian, atingindo-a no rosto. Que desprevenida, não se protegeu a tempo. Temporariamente cega e sem fôlego, sentiu o copo bater em sua cabeça e o ouvir cair e rolar no chão. Quando finalmente limpou o café de seus olhos, Lílian lançou um olhar ultrajado para Garnet, que sorriu nostálgica e disse:

- Sabe como eu tive saudade disso? Quando você se tornou monitora ano passado me privou do meu passatempo favorito. Então eu tive que me contentar com os outros lixos que Hogwarts acolhia. Hum! Não precisa me dar detenção. Eu estou indo embora então não fará diferença. Só ainda estou aqui porque queria me despedir de você. Foi bom vê-la outra vez. A gente se vê por aí.

Garnet andou até a porta e, parando para lançar seu olhar penetrante e sádico, disse:

- Eu realmente espero encontrá-la fora de Hogwarts.

E saiu.

Havia poucas coisas que fazia Lílian perder realmente a cabeça. Uma delas era o fato de que Tiago tinha preferido treinar quadribol no lugar de sair com ela. Mas ela conseguiu segurar sua vontade de azarar aquele maroto sem noção. No caso do café: normalmente teria deixado para lá. Levantaria a cabeça e continuaria calma e tranquila. Porém, naquele momento, Lílian Evans perdeu a cabeça. Nem viu quando puxou a varinha e correu atrás de Garnet. Nem se ouviu quando gritou uma azaração que fez Garnet cair de joelhos em meio ao corredor movimentado. Só percebeu quando já o tinha feito.

- Srta. Evans! – a exclamação chocada da Prof.ª McGonagall fez Lílian voltar a si.

A professora correu para socorrer Garnet, assim como as amigas da garota que se encontravam presentes no corredor.

- Srta. Freese? Levante-se. Deixe-me vê-la.

Garnet, ainda de costas para Lílian, levantou o rosto para a professora e as amigas. Todas arfaram surpresas. Com o coração em disparada, Lílian começou a se perguntar se teria exagerado. Era só café; não era motivo para azarar alguém. Viu uma das garotas emprestar um espelho á Garnet. A sextanista da Sonserina arfou horrorizada. Ela se virou com um olhar furioso para Lílian. Mas o seu rosto já não era aquele rosto belo que costumava ser. Ele estava deformado. Sua pele estava toda esticada e cheia de calombos; um dos seus olhos nem abria por causa do calombo que nascera na pálpebra.

Aí Lílian soube que a atingira com uma azaração ferreteante. Ela sentiu vontade de rir. A ironia estava clara diante de seus olhos; ou seria a falta de ironia? Pois naquele momento, a aparência de Garnet condizia perfeitamente com o seu interior. Mas a professora não achara graça. Ela se virou para ela com uma expressão entre decepcionada e passiva e ordenou:

- Venha comigo, Srta. Evans. Ajude-me a levar sua colega para a Ala Hospitalar.

- Si-sim, senhora.

E Lílian correu para acompanhá-las. Durante o caminho, as amigas de Garnet lançavam olhares assassinos para cima de Lílian com frequência. No caso da professora, ela nem olhava para ela. Já na Ala Hospitalar, enquanto a professora se encontrava esclarecendo o que tinha acontecido á Madame Pomfrey. Garnet aproveitou para deixar um recado para Lílian; com o seu olhar de ódio gélido, ela disse:

- Eu realmente espero encontrá-la fora de Hogwarts, querida. Se não for por acaso... eu irei até você para matar a saudade.

Lílian sentiu um calafrio subir-lhe a espinha. De algum modo, soube que aquilo não fora um juramento, e sim uma promessa; uma promessa que Garnet selara á fogo em sua mente. Felizmente a professora não se demorou muito e foi embora com Lílian a acompanhando. Elas seguiram o caminho todo em silêncio até a sala da vice-diretora.

- Sente-se – não foi um pedido.

Lílian a obedeceu.

A Prof.ª MacGongall se sentou na cadeira de sua mesa.

- Mesmo que isso não mude a minha decisão de tirar vinte pontos da Grifinória e lhe dar uma dura detenção, gostaria de ouvir o motivo que fez a minha aluna mais exemplar praticar atos tão repreensíveis quanto faltar à aula de feitiços e azarar uma aluna na frente de todo mundo.

- Desculpa professora, sei que não justifica, mas... foi a Garnet, ela jogou café em mim – e mostrou o rosto ainda sujo de café que secara deixando seu cabelo grudento e fedendo a café. Seu cabelo e as suas vestes que tinham sido atingidas se encontravam do mesmo jeito.

- Café? Onde ela conseguiu café?

- Não sei. Ela não me disse.

- De todo o modo, não que eu aprove a atitude da Srta. Freese; mas ela já não fez isso com você, Srta. Evans?

- Já... com suco de abóbora, chá, gomas de mascar, e outras coisas mais.

- E em nenhum momento você respondeu de maneira tão baixa às provocações dela. Uma qualidade sua que pesou muito quando a escolhi como monitora. Por que hoje foi diferente?

A resposta para aquela pergunta era constrangedora, na opinião de Lílian. Por isso ficou vermelha, gaguejou e ficou muito envergonhada quando respondeu:

- É que... eu... eu estou... naqueles dias...

- Hum! Entendo. Mesmo assim não é desculpa.

- Desculpe-me, professora, mas é que... é que... aquele imbecil estúpido besta piorou tudo – ela se debruçou na mesa da professora. O rosto contra a superfície e os braços sobre a cabeça. Sentia-se miserável.

- Srta. Evans, eu não tolero esse linguajar.

- Desculpe, ele é besta, apenas.

- Srta. Evans! Quer aumentar seu tempo de detenção?

- Não. Desculpa – ela se sentou ereta – mas é que eu não consigo deixar de falar nele sem xingá-lo.

Ela se jogou contra o encosto da cadeira.

A professora soltou um suspiro e disse:

- Por que não me conta o que aconteceu?

- Tem certeza que quer me ouvir, professora?

- Sim. Apenas me conte o que está acontecendo.

Lílian hesitou. Encurvou-se para frente, pondo os cotovelos sobre as pernas. Pensando que era meio ridículo desabafar com a professora.

- Se não quiser falar, tudo bem. A Srta.-

- Aquele besta me trocou pelo quadribol! Ah, não. Não foi pelo quadribol. Foi pelo treino. – a raiva voltava com força – dá para acreditar?

Jogou-se pra trás.

- Então... estamos falando de um jogador de quadribol da escola, hum? Seria quem?

- Tiago Potter, lógico. Tínhamos marcado de sair com Harry para comprar as roupas dele. Mas aí Alfred Thomas marca um treino para o mesmo dia e o besta esquece do passeio completamente. Para piorar, ele decide faltar ao passeio para ir ao maldito treino, e nem se sente mal por isso. É como se ele dissesse: ei, Lil, sabe de uma boa? O quadribol é mais importante pra mim que você. Sempre que eu puder vou te largar e sair com os meus amigos para jogar quadribol, não importando o quão você precise de ajuda. Mesmo se o Harry estiver doente. Parece que ele nem liga pro filho.

A professora fez um som estranho. Ela parecia estar rindo. Espera aí, ela estava rindo! Lílian não acreditava que a professora estava se divertindo com a sua história trágica. Pelo menos ela teve o bom senso de fingir que era tosse.

- Acho que está exagerando um pouco, Srta. Evans – ela disse após se recuperar de sua crise de tosse falsa – o Sr. Potter é ainda um garoto de dezesseis anos. Por mais que ele esteja amadurecendo ele ainda não possui a mentalidade de um pai de família. Precisa ter paciência.

- É... talvez... mas, isso me deixa tão irritada!

- Hum, tenho um pergaminho especial, que pode te ajudar a manter a calma durante esses dias vermelhos – a professora tirou um rolo de pergaminho de sua gaveta; ele era da largura de uma mão feminina pequena embora o rolo fosse ligeiramente grosso – um guia de como manter a calma.

Estendeu o pergaminho. Entre agradecida e envergonhada, Lílian aceitou o pergaminho. Depois disso a professora usou magia para limpar o café seco e melado da garota, e ela foi dispensada.

Tiago voltou da cabana do Hagrid com o grandão e Harry o seguindo. Ele ainda não tinha visto o filho com o guarda-caça. Ficou surpreendido quando os viu juntos. Ele batera na porta e Hagrid o mandou entrar. Quando o fez, encontrou Harry com os olhos brilhando e se divertindo muito enquanto o guarda-caça lhe falava sobre as criaturas e plantas que encontrava na Floresta Proibida e de suas histórias. Ele não só falava como também mostrava exemplares das plantas e as peles de alguns animais que ele tinha. Agradeceu pelo amigão não ter exemplares vivos das criaturas que vivem na floresta. E percebeu que Harry gostava de aprender. Se não, era de ouvir histórias que ele gostava.

Hagrid levara Harry em seus ombros até o Salão Principal, ambos se divertindo muito, até que o deixou com Tiago para comer na mesa dos funcionários.

- O Rúbeo é bem legal. Ele me falou de um trasgo que ele venceu numa luta quando ele tinha treze anos! – dizia Harry para todos que queriam ouvir. O que significava Pedro e Cosmo. Que reagiam como crianças ouvindo uma história empolgante.

Mas Tiago estava mais preocupado com Lílian. Ela saíra correndo naquela hora e achou que aquilo fosse por causa do... tal período delicado. Então não deu muita importância e esperou que ela se acalmasse. O soco que ela lhe dera ainda doía; ninguém imagina que ela seria tão forte. Mas a garota não compareceu a aula de feitiços. Perguntou as gêmeas se tinham a visto – elas tinham voltado da Ala Hospitalar após tomarem uma poção que reduzia os efeitos daquele tal período.

Como ele nunca tinha percebido que as garotas ficavam estranhas uma vez a cada mês? Não. Ele tinha percebido. Só não sabia que fosse aquilo. Nem sabia que aquilo acontecia. Quando ele nasceu sua mãe já tinha passado dessa fase de sua vida, então, como ele poderia saber?

Mas as meninas não sabiam onde Lílian estava também. Achou muito estranho que elas não tivessem saído correndo atrás da amiga. Elas sempre faziam isso quando perdiam seu paradeiro. Mas elas não estavam fazendo nada do seu habitual. Nem mexiam em seus brinquedos para melhorá-los ou algo assim. Aliás, elas pareciam tão cansadas que poderiam enfiar a cara em seus pratos e dormir. Enquanto Tiago lançava um olhar crítico para elas, o furacão chamado Bertha Jorkins veio correndo até ele. Aquela garota o adorava, né?

- Vocês não sabem o que acabou de acontecer!

- O que? – fizeram todos na mesa.

- Hã? – Esmeralda perguntou meio grogue.

Bertha lambeu seus lábios e Tiago soube que aí vinha uma bomba.

- Lílian Evans azarou Garnet Freese!

- O que?!

Isso que era bomba.

- O que? – Esmeralda perguntou ainda meio grogue.

Eliane cuspiu seu suco na cara de sua amiga Kate.

- Aaarrhh! Por quêêêê?! – chorou a menina.

- Garnet Freese? Garnet? – Eliane nem se desculpou.

- Sim, Garnet – Bertha se virou para ela.

- Uma sextanista da Sonserina de cabelo castanho-avermelhado, alta, bonita, sedutora e muito sádica?

Como ela sabia que Garnet era sádica? Tiago se perguntou desconfiado.

- Essa mesma, querida. Mas agora a Garnet já não é tão bonita assim – e como ninguém fez cara de que tinha entendido, Bertha continuou – A nossa querida monitora acertou Garnet com uma azaração ferreteante!

E começou a rir.

- O que?!

- O que? – Esmeralda continuava grogue.

Tiago ficou chocado. Tá legal que Garnet nunca foi legal com a Lílian. Aliás, ela foi má para a garota até a última se tornar monitora. Mas nunca pensou que Lílian fosse responder com magia, muito menos com a azaração ferreteante.

- Por um acaso Garnet Freese teria um irmão mais novo? – sua prima entrou por um caminho nada a ver, na opinião de Tiago.

- Acho que sim – respondeu Bertha – é, ela tem. Um irmão que está cursando o primeiro ano. Você já deve conhecê-lo: ele se chama Isam Freese.

- Oh...

- Faz sentido agora – a amiga chamada Xinavane comentou.

Agora Tiago estava mais desconfiado. Na verdade, ele já estava imaginando que algo estaria acontecendo, mas não pensou que algum Freese estaria envolvido. Geralmente, os alvos de Garnet eram nascidos-trouxas, por que um Freese estaria pegando no pé de Eliane? Lílian entrou no salão nesse momento. Sua presença jogou todas as reflexões de Tiago para o alto. Muitos olharam para ela e começaram a cochichar uns com os outros.

- Já contou essa história para quantos, Bertha? – perguntou Tiago a colega.

- Para muitas pessoas. Mas como poderia esconder? Ela fez aquilo num corredor cheio de gente. Todo mundo viu. Eu ‘tava lá – ela sempre estava lá – a gente se vê.

E Bertha foi se sentar com um grupo onde começou a falar de Lílian e a azaração. Por outro lado, Lílian se aproximou deles. Quando Tiago se levantou e ia perguntar o que tinha acontecido, Lílian o encarou com raiva e disse:

- É tudo culpa sua – e se sentou ao lado de Jade. O lugar mais afastado de Tiago.

E o resto do dia e os dias seguintes, antecedentes ao dia do passeio, continuaram do mesmo jeito; com Tiago tentando conversar com Lílian e com ela fingindo que ele não existia. Foi uma semana estressante e solitária para Tiago que era obrigado a dividir o mesmo espaço com a garota por causa do Harry, e ser ignorado por ela. Foi quando ele percebeu as gêmeas voltarem ao seu estado de ânimo normal, e se animarem com o treino, que Tiago pensou que a crise de humor de Lílian estaria melhorando. Por isso ele resolveu tentar de novo.

Era sexta-feira á noite. O dia da véspera do treino e do passeio. Todos se encontravam na sala comunal da Grifinória. Os marotos estavam reunidos num canto próximo á lareira. E os malucos, o grupo que incluía Lílian, se encontrava em outro canto próximo a lareira. Harry estava com os malucos, se divertindo com Lílian e seu grupo. Eliane tinha formado seu próprio circulo de amigos e se encontrava reunida com eles num ponto intermediário entre os malucos e os marotos, tentando fazer o dever de casa. Estranhamente a garota não se grudara tanto em Tiago durante a semana.

Tiago se levantou de sua poltrona e andou até Lílian.

- Posso falar com você?

O grupo, que estava animado, se calou. Harry lançou um olhar preocupado. Por isso Tiago complementou:

- A sós?

Por um momento pareceu que Lílian ia fingir que não o ouvia, como tinha feito até então. Mas aí ela suspirou e disse para Harry:

- Fique aqui com os tios. Eu vou falar com o Tiago.

- Está bem – Harry franziu levemente as sobrancelhas ao responder.

Assim, Lílian deixou o menino com os amigos e seguiu Tiago para um canto mais afastado da lareira e o mais vazio da sala.

- Ok, olha... – ele começou pondo as mãos nos bolsos – seja lá o que eu fiz de errado, me desculpe.

- Está me pedindo desculpas?

- Sim.

- E não sabe o motivo?

- Não. Não sei. Você não me disse.

- Ah, então está bem.

- Vai me perdoar?

- Não. Venha comigo e com o Harry para Hogsmead, e aí eu te perdoo.

- O que? Isso é chantagem?

- Não. Não é chantagem. Você marcou esse passeio. Era para nós dois irmos com o Harry comprar as roupas dele.

- Você pode fazer isso sozinha. Não precisa de mim – ele se exaltava.

- Então você prefere ir a um treino de quadribol a ir comigo e com Harry para Hogsmead?

- Sim. Eu amo quadribol mais que tudo no mundo e preciso treinar muito para Grifinória vencer!

- Já percebi que você ama o quadribol. Ok... tudo bem... – os olhos dela estavam marejados e seu lábio inferior tremia – já entendi... só não venha falar comigo de novo...

E ela o empurrou para correr escada acima ao dormitório feminino.

- Eu não entendo. É só um passeio para comprar roupas, ela pode fazer isso sozinha-

- Vocês brigaram?

Tiago levou um grande susto. Quando viu que era Eliane se perguntou se a garota não tivera aulas com Cosmo sobre como se esgueirar atrás dos outros sem ser percebida.

- Não... talvez... sim, acho... é. Brigamos.

- O Harry entendeu que vocês estavam brigando e agora está em pânico – ela apontou para o garoto.

Ele se encontrava encolhido no sofá enquanto que Remo, Esmeralda, Jade e Pedro tentavam acalmá-lo.

Tiago correu até eles.

- Eles brigaram! Se eles não se darem bem eles não vão se casar e eu não vou nascer! – ouviu Harry gritar com o rosto escondido nos joelhos.

- Não, não, Harry, isso é passageiro, você vai nascer – disse Jade.

- Não se preocupe, foi só uma discussão boba, acontece de vez em quando – Remo reprovou Tiago com o olhar, tentando acalmar Harry.

- Faz alguma coisa, eu não sei o que fazer – pediu Sirius num sussurro urgente.

- Harry – Tiago se sentou ao seu lado – não se preocupe. Você vai nascer.

- Se você e a mamãe brigaram, eu não vou nascer.

- Olha, vou ser sincero com você, apenas olhe para mim e se acalme.

O menino levantou o rosto manchado de lágrimas. Tiago soube imediatamente que era sério. Percebera que o garoto não chorava com facilidade e se estava chorando, ele estava realmente mal.

- Eu e Lílian... nós brigamos sim, mas... não vamos ficar brigados. Vamos nos entender. Vamos nos reconciliar, você vai ver. Ainda tem muito tempo até você nascer, Harry. Não se preocupe. As coisas vão acontecer do jeito que precisam acontecer. Você entendeu? Ainda não acabou, você vai nascer, ok?

O menino fungou e assentiu.

- Bom, agora... que tal irmos dormir?

Harry assentiu novamente. Tiago subiu com ele e o deitou na cama. Ficando acordado com Harry até ele dormir.

Alguém bateu na porta. Com cuidado, para não fazer barulho, ele se levantou e atendeu. Era Eliane.

- E aí? Como ele está? – ela sussurrou.

- Dormindo. Está mais tranquilo.

- Bom... e então? É verdade?

- Verdade o que?

- Que você não vai mais para o passeio?

- É. O Alfred marcou treino e eu tenho que comparecer.

- Sério? Você é obrigado a ir ao treino?

- Bom... claro, né. Se você é do time você precisa se comprometer. De corpo e alma. Não pode deixar nada te atrapalhar.

- Hã...

Ela tossiu de um jeito estranho, e Tiago teve a impressão que o som parecera com “imbecil”, mas não teve certeza.

- Então, amanhã, é só você, Lílian e Harry – ele concluiu.

- Ah, não. Não vou não.

- O que?

- Não vou mais ao passeio.

- Por quê?

- Eu só estava indo porque você ia. Mas como você não vai mais. Eu não vou mais. Simples. Fui.

E ela desceu a escada para a sala comunal. Confuso, Tiago resolveu dormir.

Na manhã seguinte, Tiago amanheceu com Lílian acordando Harry para se arrumar. Ele fingiu dormir enquanto a ouvia sussurrar.

- Vamos, Harry, acorda. Vamos passear hoje.

- Hum... só mais uns minutinhos...

- Harry, por favor... acorde... você precisa se arrumar... aliás, sabe com que roupa você vai sair hoje? Aconteceu tanta coisa que eu me esqueci de verificar.

- Não sei...

Ela arfou.  Ouviu-a se levantar e andar pelo quarto. Uma cortina se abriu e a voz de Lílian soou sussurrada novamente:

- Remo... Remo...

- Hum... hum? Lil? O que faz aqui?

- Vim buscar o Harry. O passeio.

- Ah... sim... sim...

- Pode me ajudar? Eu não sei com o que eu posso vestir o Harry.

- Isso? Tiago já tinha providenciado.

- Ah, é?

- É... ele é meio tapado, ás vezes, mas sabe fazer as coisas... deixa eu ver...

Tiago ouviu Remo se levantar e abrir seu armário.

- Aqui... Sirius deu essa roupa pro Harry. De acordo com ele, estava cansado de ver o garoto usar farrapos, ou algo assim, e deu essa roupa.

- Puxa! Até que é bonita.

- É, não é? Ficou bem no Harry.

- Até que o Sirius sabe escolher bem as roupas. Talvez eu esteja enganada sobre homens não saberem escolher roupas. Talvez...

- É... talvez, e- uau! Lil, você está linda!

Tiago abriu os olhos nessa hora. Mas sua cortina estava fechada. Não se mexeu e nem fez nada para denunciar que estava desperto. Ficou na curiosidade e continuou a ouvir.

- Ah, obrigada. É uma das minhas melhores roupas.

- Mas... está tudo bem você sair assim? Sabe, são roupas trouxas, não são?

- São. Eu não me importo. É que... as roupas escuras da escola estavam piorando o meu estado de humor então eu decidi usar roupas de cores claras. Elas me acalmam. Foi uma dica do pergaminho.

- Hum... boa tática. Que pergaminho?

- Nenhum em particular. Me ajuda a acordar o Harry?

- Cla-claro.

A partir de então os sons que Tiago ouviu eram de Lílian e Remo acordando seu filho e o arrumando para o passeio. Quando eles já estavam de partida, Tiago ouviu Harry dizer:

- Eu queria que o papai fosse com a gente.

- É... mas ele tem coisas mais importantes a fazer, agora – respondera Lílian antes de sair com o garoto.

Ouviu a porta bater e depois Remo se arrumar para cumprir com seus deveres de monitor. Quando a porta bateu pela segunda vez, o despertador tocou. Era a vez de Tiago e Sirius acordarem. Sirius não demorou a levantar.

- Tiago, está na hora de acordar. Hoje tem treino!

- Tiaguito, você ainda está aqui? – Jade perguntou surpresa ao vê-lo.

Tiago e Sirius tinham acabado de descer à sala comunal. Estavam arrumados para irem ao treino e cada um levava sua vassoura no ombro. Eles tinham se encontrado com as gêmeas que também faziam parte do time e se encontravam com suas vassouras. Alfred havia marcado o encontro do time na sala comunal.

- Você realmente não vai com a Lil para o passeio? – perguntou Esmeralda com uma expressão mortificada.

- Ah... não. Temos treino. Não tem como eu faltar só para comprar roupas em Hogsmead.

- para comprar roupas? – as caras que as gêmeas fizeram, lembraram Tiago àquele quadro trouxa antigo e famoso chamado “O Grito”. Aquele quadro era tão famoso entre os bruxos que um artista-bruxo o replicou ao estilo da magia. Só que a cópia bruxa não fez tanto sucesso quanto o original porque gritava muito.

- Qual é o escândalo? – perguntou Sirius – A Lil pode comprar as roupas do Harry sozinha.

- Exatamente – Tiago agradeceu por Sirius concordar com ele.

- Mas não eram só as roupas.

- Era outra coisa.

- Que outra coisa? Estava indo á Hogsmead apenas comprar roupa pro Harry. Apenas isso.

- A família.

- A sua família – Jade enfatizou.

- Família? Que família? – perguntou Tiago, pensando em seus pais e se perguntando por que eles teriam algo a ver com isso.

- Ah! – arfou Jade – ele ainda não entendeu.

- Não entendeu – Esmeralda concordou – só tem dezesseis anos.

- Só tem dezesseis anos. Tiaguito, meu filho, por mais estranho que isso pareça...

- Por mais surreal que isso seja...

- Você tem uma família com a Lil e o Harry.

- E não se esqueça da Eliane, ela também faz parte da família.

- Exatamente.

- Você não viu?

- O passeio era sua chance de unir sua família.

- E você trocou essa chance por um treino de quadribol.

- E, na boa...

- Você realmente trocou um passeio com a Lil...

- Por um treino?

- Mas...

Tiago quis argumentar. Convencê-las de que ele estava certo. Dizer que ser do time significava ter comprometimento. Faltar um treino era faltar com a responsabilidade de um membro de time. Mas pondo as coisas naquele ângulo. Quando Tiago teria outra chance de ouro como aquela para passar um tempo com a Lílian, mesmo que houvesse duas crianças entre eles, era uma oportunidade de ouro. Nem Sirius conseguiu rebater a linha de pensamento delas. Ambos trocaram olhares perdidos e Tiago finalmente cedeu:

- Sou um idiota...

- É... um passeio com a Lil é algo raro – disse Sirius com um sorriso nervoso – e ainda quando não há passeio marcado para Hogsmead sendo possível ter um momento em particular com ela sem alguém da escola bisbilhotando. Você deixou a goles cair feio.

Tiago riu sem humor.

- E agora? O que eu faço?

- Reúna a família – disseram as duas.

- Mas e se o Alfred-

- Falamos com ele.

- Se ele encrencar...

- Nós viramos pessoas muito más para ele – Jade bateu o punho na mão.

- Tudo bem. Reunir a família. Isso é muito estranho... Preciso correr para alcançar a Lílian e o Harry, mas ainda vai faltar a Eliane. Ela agora deve estar dormindo, quem não dormiria numa manhã de folga? E eu não posso subir até o dormitório dela e arrastá-la comigo.

- Uh! – Jade exclamou animada.

- Deixe isso com a gente – disse Esmeralda tão animada quanto a irmã.

E as duas correram escada acima. Um minuto mais tarde elas voltaram carregando, pelos braços, uma Eliane já vestida e que gritava furiosa:

- COMO OUSAM ME ACORDAR NUM SÁBADO DE MANHÃ?! JURO QUE QUANDO EU APRENDER UMA AZARAÇÃO EU AZARO VOCÊS!

- Muito obrigado, meninas – Tiago pegou a prima e entregou sua vassoura a Sirius – guarde pra mim.

- PARA ONDE ESTÁ ME LEVANDO? – gritou Eliane ao ser arrastada contra a sua vontade.

- Vamos para Hogsmead. E sem discussão.

- O quê?! Você marca o passeio, depois diz que não vai e agora, que está em cima da hora, decide ir? Se continuar a agir assim nada vai dar certo em sua vida, sabia?

Tiago riu e continuou a correr até o Salão Principal.

Hogwarts num sábado de manhã era silenciosa e vazia. A grande maioria dos alunos ainda se encontra dormindo. Apenas professores, o zelador, monitores, fantasmas e aberrações que gostavam de acordar bem cedo todos os dias eram vistos andando pelos corredores. E como o castelo era enorme, era difícil topar com um deles. Exceto os fantasmas que eram vistos em todos os cantos. Chegando ao Salão Principal, Tiago viu que ele estava cheio.

Cheio de fantasmas. Por alguma razão eles estavam reunidos no salão. No entanto Tiago não tinha corrido até lá para ver uma reunião de fantasmas, mas para falar com Lílian Evans e acompanhá-la no passeio.

Procurou com as vistas por algum cabelo ruivo entre as entidades pérola-prateadas. Mas eram tantos fantasmas que eles faziam parecer que alguém tinha conjurado uma névoa gelada dentro do salão; isso lhe deu uma ideia que colocaria em prática algum dia. Estava difícil de enxergar o que tinha a frente. Passou pelos fantasmas, desbravando os caminhos por entre a floresta pérola-prateada, entreouvindo os sussurros dos fantasmas que falavam coisas aleatórias, enfrentando com coragem e bravura a terrível sensação de ser jogado em um lago congelado durante o inverno procurando por sua amada.

- O Super-Cuecão está indo ao resgate! Não tema! Pois do mal, não tenho pena! – o Super-Cuecão passou em algum lugar atrás dele na altura em que finalmente enxergou o cabelo ruivo de Lílian.

Ela estava sentada à mesa da Grifinória com Harry ao seu lado. Eles comiam do desjejum com os monitores da Grifinória e outros alunos que tinham acordado cedo; aqueles que Tiago gostava de chamar de aberrações. Foi quando ele a viu de verdade. Ela estava linda. O cabelo estava preso para trás num rabo-de-cavalo. E uma faixa de cabelo emoldurava seu lindo rosto destacando seus belos olhos espantosamente verdes. Estava perdido em meio ás nuvens, preso à visão daquele anjo ruivo que parecia emanar uma áurea celestial, quando Eliane o despertou de seu torpor fazendo um som estranho ao seu lado, como se estivesse engasgando.

- Você está bem? – perguntou preocupado. Ela tossia com o rosto virado para o outro lado.

- Cale a boca! – ela mandou vermelha se voltando furiosa para ele.

Tiago estranhou, mas deixou de lado. Agora ele tinha uma questão mais importante para resolver. Encheu seu peito de confiança e se preparou para falar o que tinha que falar, mas ia falar o que? Confiando que as palavras viriam até ele com naturalidade, se adiantou até Lílian. Ela fechou a expressão quando o viu, mas não falou nada.

- Pai! Eliane! Vieram ficar com a gente? – Harry perguntou contente ao vê-los.

Os monitores e as aberrações olharam com caras estranhas para eles.

- É. O Harry me chama de pai, algum problema com isso? – e desafiou a qualquer um deles a falar alguma coisa.

Claro que ninguém falou.

- Muito bem, pessoal, essa é uma conversa particular – Remo, que comia com eles, os mandou para lugares mais afastados – vamos dar um espaço para eles.

Quando os monitores e as aberrações já não eram mais vistas, graças a grande concentração de fantasmas entre eles, Tiago se voltou para Lílian e disse:

- Eu realmente sinto muito por ter sido um idiota.

A expressão dela que até então estava dura se abrandou. Não falou nada. Então Tiago continuou:

- A verdade é que eu amo quadribol. É quando estou jogando que eu sinto quem eu sou de verdade. Mas não foi só por isso que eu tinha decidido comparecer ao treino, mas também porque eu faço parte de um time. E para mim, ser de um time significa compromisso e responsabilidade. Se comprometer e dar seu sangue para levar o time às alturas. Foi por isso que eu decidi faltar ao passeio para ir ao treino. Porque eu julguei que treinar era mais importante que passar o dia comprando roupas. Mas eu não tinha percebido que não era apenas as roupas, era algo mais importante e... que... o quadribol já não é mais a coisa mais importante da minha vida...

A expressão de Lílian passou para uma de pura expectativa. O coração de Tiago disparou. Sentiu que começava a suar até nas mãos.

- O quadribol já não é mais o que eu mais amo no mundo... – a essa altura parecia que seu peito ia se rasgar e seu coração saltaria para fora para dançar loucamente na mesa da Grifinória, sua pulsação martelava em seus ouvidos – agora... o que eu mais amo no mundo é... v-vo-

- Só tem um problema! – Eliane saltou na sua frente com uma expressão desesperada, ficando em pé no banco da mesa e arfante – eu estou de detenção e acho que a Prof.ª McGonagall não vai me liberar para passear com vocês.

- Ih! É verdade – arfou Lílian – eu também estou de detenção. Tinha me esquecido. Não estou acostumada a cumprir detenções...

- Hã? Então quer dizer que vocês duas não podem ir? – perguntou Harry, desanimado.

- Acho que não...

Tiago não acreditava. Depois de tudo... o passeio não ia rolar?

Para completar, uma vassoura o atingiu com força por trás o derrubando no chão e o deixando tonto.

- Opa, me desculpa – viu quatro Esmeraldas girantes surgirem do meio dos fantasmas segurando vassouras como se elas fossem bastões de batedores – estava tentando afastar os fantasmas para enxergar o caminho.

A risada canina de Sirius encheu o salão.

Continua...


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Notas finais do capítulo

O que acharam da cena do banheiro?
Não pensem que a McGonagall ficou sem fazer nada com a Garnet. Ela certamente fez, mas, como a Garner disse: que diferença fará pra ela? Ela irá embora assim que a azaração perder seu efeito.
Seguinte. Eu coloquei Universo Alternativo como um dos gêneros porque assim eu me sinto livre para inventar. É um universo alternativo.
Aliás, preciso deixar algo claro. Eu procuro separar totalmente os personagens de mim mesma. Uma técnica que aprendi exatamente nessa fic para escrever indivíduos agindo como eles mesmos, e não como reflexos de mim mesma. Claro, há um personagem ou outro, que possuem algumas ideias concordantes com as minhas, mas nem todas. Por isso, o que eu coloco, não sou eu que quero. São os personagens que agem como indivíduos. Meu trabalho é tentar descobrir o que eles farão diante de cada situação que eu jogar para cima deles, e depois tentar transcrever o que me vem a cabeça. Talvez eu não faça isso sempre, mas, como eu disse antes, ainda estou aprendendo a fazer isso.
Ainda nessa linha. Esmeralda e Jade são muito parecidas comigo... pensamos de forma semelhante. Eu procurei deixar os personagens da JK como eles eram na obra original. Mas como há poucas informações sobre como eles eram na escola, havia lacunas as quais eu tive que preencher. Para isso tomei como partida as informações e usei de minha imaginação e interpretação.
Tem muita coisa que eu só compreendo no final do capítulo. Muita coisa. Escrever é aprender com você mesmo. Com o seu eu interior.
Obrigada por ler o capítulo, nos vemos no próximo capítulo... que eu já estou escrevendo toda empolgada!
E me desculpem qualquer erro que eu tenha deixado escapar. Já expliquei antes, acho, que eu sou um pouco distraída e acabo deixando um erro ou outro escapar. Ainda mais quando estou muito ansiosa e empolgada, como estou agora com esse capítulo e o próximo. Tchau-tchau.