Gutt escrita por Ennaz


Capítulo 10
Não são apenas ruivas. São mulheres fortes.


Notas iniciais do capítulo

**Para todos que acharam que eu estava desfocando do Harry, ou do Tiago, ou da Lílian para me focar na Eliane: Eu não estou os desfocando. Estou ampliando o meu foco para que Eliane possa sair na foto de família.**
Gente, tem uma parte do capítulo que eu acho que foi muito anormal... não vou dizer qual.
Vocês sabem que eles estão no ano de 76, certo? Não sei muito sobre a história da moda. Mas eu pesquisei de verdade para encontrar uma boa roupa para vestir em Lílian. Não sei se acertei. Não posso vesti-la com as roupas da moda atual quando ela vive em 76. Eu sou tão ruim nessa parte de moda que eu até comprei um livro que fala á respeito para me ajudar nessas horas. Eu o usei como guia logo no início desse capítulo.
Desculpe aos garotos que estão lendo essa fic, pelo título e tudo o mais, mas é que eu sou um pouco feminista.
Como eu demorei a postar o capítulo 10, não me demorei muito na hora de revisar. Eu posso ter deixado passar algum erro bobo, portanto, desculpe-me e sejam compreensíveis. Eu terminei esse capítulo só agora. E o meu mouse está com clique duplo. Isso pode causar alguns problemas.



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- Só tem um problema! – Eliane saltou na sua frente com uma expressão desesperada, ficando em pé no banco da mesa e arfante – eu estou de detenção e acho que a Prof.ª McGonagall não vai me liberar para passear com vocês.

- Ih! É verdade – arfou Lílian – eu também estou de detenção. Tinha me esquecido. Não estou acostumada a cumprir detenções...

- Hã? Então quer dizer que vocês duas não podem ir? – perguntou Harry, desanimado.

- Acho que não...

Tiago não acreditava. Depois de tudo... o passeio não ia rolar?

Para completar, uma vassoura o atingiu com força por trás o derrubando no chão e o deixando tonto.

- Opa, me desculpa – viu quatro Esmeraldas girantes surgirem do meio dos fantasmas segurando vassouras como se elas fossem bastões de batedores – estava tentando afastar os fantasmas para enxergar o caminho.

A risada canina de Sirius encheu o salão.

Capítulo 10

Não são apenas ruivas

São mulheres fortes

Definitivamente Eliane não esperava acordar cedo sendo arrastada de sua cama. Nem que enfiariam sua veste de sábado em seu corpo. Nem que a carregariam escada abaixo até a sala comunal. Nem que seu primo a arrastaria até um Salão Principal cheio de fantasmas e a obrigaria a mergulhar naquele mar congelante apenas para se encontrar com aquela ruiva-falsa. A parte mais odiosa e irritante do dia, porém, foi quando ela viu a ruiva-falsa e ficou encantada. Sim. Encantada com Lílian Evans!

Por quê? A resposta era simples. A Evans estava in-crí-vel! A roupa, o penteado, os acessórios... Eliane jamais tinha visto aquilo antes, soube na hora que as coisas eram trouxas e o melhor... ela combinara tudo com tudo. Ela usava uma blusa branca, que os trouxas chamavam de camponesa, com uma faixa azul-cobalto na cintura e listras azul-cobalto na barra. Para complementar, ela tinha amarrado uma faixa branca em sua cabeça, como uma tiara, que emoldurava seu rosto e destacava seus olhos verdes.

A maquiagem leve e simples a deixava com traços suaves e delicados. Os brincos brancos em forma de pérola davam um ar de lady, um ar nobre, ao seu estilo jovem. E o fantasma que estava a sua frente dava a impressão que a ruiva-falsa emanava uma áurea luminosa e pura. Eliane estrangulou a sua vontade louca de correr até ela para lhe perguntar onde tinha conseguido aquela roupa e pedir dicas de maquiagem e de como se vestir. O que acabou resultando num engasgamento real e verdadeiro. Ela se esforçou para virar o rosto e tossir para fora todas as perguntas que tinham apostado corrida do cérebro até a boca.

- Você está bem? – Tiago perguntou preocupado, ao seu lado.

- Cale a boca! – ela mandou vermelha se voltando furiosa para ele. Não queria admitir que havia gerado um sentimento de admiração e quase adoração por aquela ruiva-falsa. Ela queria odiá-la.

Forçou-se em pensar que por trás da mesa, a ruiva-falsa vestia calças nada a ver com sua roupa. Se é que era calça que ela usava e não uma saia larga do mesmo tipo que as bruxas usam com as vestes. O que com aquela blusa seria ridículo. E os sapatos? Deviam ser horríveis, também. Agarrada a esse pensamento, ela se aproximou da mesa, seguindo Tiago.

- Pai! Eliane! Vieram ficar com a gente? – Harry perguntou contente ao vê-los.

Os alunos que por algum motivo estavam acordados àquela hora e comiam do desjejum, lançaram olhares estranhos para Tiago e Harry.

- É. O Harry me chama de pai, algum problema com isso? – Tiago os desafiou a falar alguma coisa.

Uau! Tiago tinha tanta moral assim? Ninguém falou nada, e pareciam até com medo.

- Muito bem, pessoal, essa é uma conversa particular – Remo, que estava entre eles, o que significava que alguns deles eram monitores cumprindo com seu dever, os mandou para lugares mais afastados – vamos dar um espaço para eles.

Quando já não eram mais vistos, graças a grande concentração de fantasmas entre eles, Tiago se voltou para a ruiva-falsa e disse:

- Eu realmente sinto muito por ter sido um idiota.

A expressão dela que até então estava dura se abrandou e, como Eliane esperava, não disse nada. Claro, qualquer garota ficaria chocada se um cara chega pra ela e admite que é um idiota. Tiago continuou:

- A verdade é que eu amo quadribol. É quando estou jogando que eu sinto quem eu sou de verdade. Mas não foi só por isso que eu tinha decidido comparecer ao treino, mas também porque eu faço parte de um time. E para mim, ser de um time significa compromisso e responsabilidade. Se comprometer e dar seu sangue para levar o time às alturas. Foi por isso que eu decidi faltar ao passeio para ir ao treino. Porque eu julguei que treinar era mais importante que passar o dia comprando roupas – Eliane duvidou que aquele discurso convencesse a ruiva-falsa a perdoá-lo, se fosse com ela, não perdoaria, mas aí Tiago continuou:

- Mas eu não tinha percebido que não eram apenas as roupas, era algo mais importante e... que... o quadribol já não é mais a coisa mais importante da minha vida...

O coração de Eliane disparou. Imediatamente soube para qual rumo aquela frase estava levando. Soube como aquele discurso terminaria. Percebeu que Tiago começava a ficar anormalmente nervoso. Ele estava suando? Tiago nunca suava assim! Ele ia falar?

- O quadribol já não é mais o que eu mais amo no mundo... – não, não, não, não, não, não, não, ele vai falar, ele vai falar, ele vai falar – agora... o que eu mais amo no mundo é... v-vo-

Nãããããoooo!

- Só tem um problema! – Eliane exclamou, saltando na frente de Tiago, ficou arfante pelo esforço de subir no banco, e disse a primeira coisa que veio a sua mente – eu estou de detenção e acho que a Prof.ª McGonagall não vai me liberar para passear com vocês.

- Ih! É verdade – arfou a ruiva-falsa – eu também estou de detenção. Tinha me esquecido. Não estou acostumada a cumprir detenções...

- Hã? Então quer dizer que vocês duas não podem ir? – perguntou Harry, desanimado.

- Acho que não...

Ah, maravilha, pensou Eliane aliviada, o assunto mudou de rumo.

De repente uma vassoura surgiu do meio dos fantasmas atrás de Tiago, e o atingiu com força no lado de sua cabeça. Ele caiu feiamente no chão. Eliane segurou sua vontade de rir por um triz; percebeu a mesma coisa acontecer com a ruiva-falsa.

- Opa, me desculpa – uma das gêmeas que tinha a arrancado da cama, chamada Esmeralda, surgiu do meio dos fantasmas segurando sua vassoura de corrida como se ela fosse um bastão de batedor – estava tentando afastar os fantasmas para enxergar o caminho.

A risada de Sirius encheu o salão. Aquela risada sempre fazia Eliane se lembrar de um dobermann-alemão que costumava latir durante a noite na casa vizinha à dela. Eliane sempre se perguntou por que aquele cachorro parou de latir de repente durante uma noite fria de inverno.

- Vou falar com a Prof.ª McGonagall – a ruiva-falsa se levantou.

Eliane teve de se controlar novamente para não mostrar quão admirada estava com ela. Lílian Evans usava uma calça. Aquelas eram as famosas calças-boca-de-sino! Eliane quase entrou em histeria quando as viu. E os sapatos? Uau! Era a sandália de salto Anabela de cortiça! A faixa sobre o pé era azul-cobalto. Ela gostava de azul-cobalto? E a bolsa meia-lua combinava com a cortiça do salto. Lílian Evans estava demais! Bateu em seu próprio rosto para não lançar mais aquele olhar de admiração que sabia que estava lançando para a ruiva-falsa.

- Eliane, você está bem? – a ruiva-falsa perguntou preocupada.

- Não te interessa! – virou-se carrancuda para onde achava que era a saída e já ia embora.

- Espere – a ruiva-falsa ousou segurá-la pelos ombros – os fantasmas ainda estão obstruindo as saídas.

Isso ela já tinha percebido.

- E o que você sugere que façamos? Os fantasmas resolveram usar o salão como sala de reuniões, e eu não faço a menor ideia do por quê.

- Espere um pouquinho – a Evans se adiantou até o fantasma mais próximo, um frei gordo de nariz redondo – com licença, Frei Gorducho.

Jamais adivinharia que aquele era o nome do fantasma, Eliane pensou irônica.

- Sim, Srta. Evans? Deseja alguma coisa de mim? Ficarei feliz em ajudar.

- Ah, sim. Queria saber o motivo de tantos fantasmas estarem reunidos no salão.

- Oh, isso? Não se preocupe, é apenas um conselho fantasma sobre como fazer para expulsar Pirraça da escola. Eu sou contra, em minha opinião. Deveríamos ser pacientes com ele.

- Ah, claro, o senhor está certo.

- Que garota adorável – riu o Frei Gorducho.

- Obrigada. Ah, eu posso pedir um favor ao senhor e aos seus amigos?

- Claro que pode.

- Poderiam abrir caminho para a saída? Eu preciso muito sair.

- Ah, claro, claro. Pessoal, amigos – o Frei chamou a atenção dos fantasmas – abram caminho para Srta. Evans e os amigos dela. Estão atrapalhando, coitados.

Os fantasmas o ouviram e eles abriram espaço até a saída.

- Podem passar – disse o Frei.

- Obrigada – Evans agradeceu.

Eliane ficou ainda mais admirada.

- Er... alguém pode carregar o Tiago até a sala da Prof.ª McGonagall? – ela pediu para os outros quando viu o dito-cujo ainda caído no chão.

Tapado, pensou Eliane ao avistá-lo.

- Eu o carrego – ofereceu-se Sirius.

- Espera, Sirius – um rapaz que Eliane achava ter dezessete anos se pronunciou. Ele era negro, alto e magro, de braços e pernas longas, e, como carregava uma vassoura, deveria ser do time – temos treino daqui a pouco. Eu já estou irritado com o nosso apanhador ter dado no pé só por causa de um passeiozinho idiota então é melhor que você não vá. E ele dizendo que se comprometia com o time e tudo mais, mas agora eu vejo que ele não passa de um baderneiro que só faz o que quer-

O que aconteceu a seguir, Eliane percebeu que era novidade para todo mundo. Lílian Evans agarrou o rapaz pelo colarinho e o fez olhá-la nos olhos. O olhar da ruiva-falsa faiscava de raiva.

- Não fale assim dele – ela sibilou com os dentes cerrados.

- M-mas não era você que pensava a mesma coisa?

- Eu sou a única que pode falar essas coisas dele. Você não tem o direito.

- A-ah, ok... ok...

- Sirius só vai levar o Tiago até a sala da professora e ele volta para se juntar a vocês, tudo bem?

- Tudo bem...

- Muito obrigada, Alfred – e a Evans o soltou voltando ao seu temperamento normal, ou seja, gentil e educada – Não se preocupe, ele volta logo.

- Ah... ok...

- Vamos, Sirius, precisamos correr.

- Sim senhora – Sirius assentiu risonho e pegou Tiago pelo braço.

E eles seguiram a Evans pelo caminho que os fantasmas mantinham aberto pra ela. Eliane e Harry os seguiram. Já na sala da Prof.ª McGonagall, Sirius deixou Tiago jogado numa das cadeiras, após a professora os atender, e se despediu. Eliane se sentou na cadeira entre Tiago e Harry, o que ela fez de propósito. Enquanto a ruiva-falsa conversava com a professora, Eliane pegou seu baralho apenas para passar o tempo enquanto ouvia a ruiva-falsa tentar convencer a professora a deixá-las sair. Ela inspirou e pensou numa pergunta que deveria fazer. Tinha percebido que as cartas respondiam às suas perguntas, o que a fez suspeitar que seu avô pudesse estar certo. Perguntou o que nunca tinha pensado até o momento: quem ela era?

Feito a pergunta, embaralhou as cartas e puxou uma. Era uma leoa que dormitava sob a sombra de uma árvore pequena e magricela no meio da savana. Nenhum significado em especial veio a sua mente. Ela não conhecia. Se fosse um leão, talvez uma boa quantidade de símbolos e seus significados inundassem a sua imaginação, já que ela conhecia muitos deles. Mas a leoa pareceu ser diferente. Porque não veio nenhum simbolismo empregado ao leão. Sentiu que deveria procurar saber.

Outra coisa que havia notado. O que ela soubesse de símbolos e significados dos animais, ela lembraria o que melhor se encaixa á resposta. Se não soubesse, ela pegaria a carta certa, mas não saberia o significado, nem reconheceria a mensagem.

- Srta. Evans, eu já tinha marcado a detenção de vocês duas para essa tarde. As duas passariam o sábado inteiro limpando os banheiros sob a supervisão do Sr. Filch.

Então não importava a situação, Eliane teria de passar o dia com a ruiva-falsa? Hum! Preferia o passeio, não estava nada a fim de limpar vasos.

- Por que eu abriria uma exceção para vocês?

- O Prof. Dumbledore já nos deu sua permissão para comprarmos as roupas para o Harry.

- Então é apenas necessário que o Sr. Potter acompanhe a criança.

- Não, por favor, senhora, deixe a minha mãe e a minha prima vir com a gente – Harry se chegou suplicante até a mesa da professora – esse será o meu primeiro passeio em família, por favor, deixe elas irem.

“Primeiro passeio em família”, Eliane captou a frase. Como assim? O Harry nunca saiu com os pais? Ou isso é um truque para ela deixá-las ir? Fosse o que fosse, a professora foi convencida:

- Oh... está bem... está bem... o senhor me convenceu, jovenzinho.

O que? O garoto herdou esse traço da mãe? Convencer os outros a fazer o que quer usando de doçura?

- As duas podem ir. Mas não se esqueçam de que não haverá mais exceções no futuro.

- Sim senhora.

Felizmente, Tiago recuperou seus sentidos logo depois e ficou muito feliz quando soube que Eliane e Lílian poderiam ir ao passeio. Já o caso de Eliane não era o mesmo. Nas duas formas, ela se sentia perdedora. E a sensação de estar sozinha parecia estar mais forte do que nessas últimas semanas. E ela achando que vindo a Hogwarts seu estado de humor melhoraria. Grande erro. Só estava piorando. Estava mais sozinha do que nunca.

Eles se despediram da professora e se foram em direção á saída. Já estavam no saguão quando Eliane viu seu reflexo numa das janelas. Seu cabelo estava solto e cheio, havia alguns fios rebeldes. Suas vestes estavam rotas, tortas e mal colocadas com o cinto de corda frouxo. As gêmeas tinham enfiado a primeira roupa que viram no armário de Eliane, que era justamente aquela.

- Eu não vou sair assim! – exclamou.

Evans e Tiago se viraram surpresos.

- Meu cabelo está horrível e minhas roupas estão erradas.

- O que é isso – ele começou a dizer risonho – você está-

- Certo! Vamos para o banheiro.

E a Evans fez aquilo de novo. Ousou segurá-la pelos ombros e, pior ainda, empurrou-a até o banheiro mais próximo. Mas o que viu a seguir a impressionou muito. A ruiva-falsa pôs sua bolsa num balcão e retirou um frasco de poção cremosa para o cabelo. Uma escova, um pente para fazer penteados e uma presilha de laço verde-escuro com renda do qual Eliane gostara muito e tinha certeza que combinaria com as suas vestes. Aquela mulher era prevenida, pensou. Rápida, ágil e habilidosa, Lílian Evans mexeu no cabelo de Eliane. Ela prendeu metade do cabelo com a presilha e com a poção fez o cabelo se comportar e ficar mais leve e hidratado.

Depois ela mexeu nas vestes de Eliane, as ajustando até que ficassem certas. O cinto a envolvia na cintura, se cruzando na frente e atrás. Era quase um vestido cinturado de três tecidos. O algodão branco na pele que a cobria até a linha da clavícula. O vestido verde-escuro no meio de gola em pé com decote em v. E por último o robe de tecido lustroso verde-floresta com mangas compridas e largas que os trouxas chamariam de manga quimono. Eram suas vestes favoritas. Mais pelo fato de que...

- Gostei das suas vestes. Elas são muito bonitas.

- Minha mãe comprou pra mim na última vez que saí com ela...

- Tenho certeza que ela disse que você ficou muito bonita nessa roupa.

Ela acertara... sua mãe dissera, com aquela mesma expressão, que as vestes tinham ficado muito bonitas nela. Mas não disse isso a Evans. Em lugar disso, se virou para a saída e disse:

- É melhor irmos, estamos demorando demais.

- Sim, está certo.

As duas quase correram para a entrada do castelo, se reunindo com Tiago e Harry no saguão. Uma carruagem os esperava ao pé da escadaria. Eliane não gostou muito dos cavalos alados negros e esqueléticos. Eles a faziam pensar na morte.

- Vocês estão atrasados, sabe quanto tempo eu fiquei esperando vocês? – reclamou o Sr. Filch, rabugento – me deem a permissão e se os nomes de vocês estiverem no papel eu deixo vocês irem.

Tiago riu, dando o pequeno retângulo para o Filch.

- Pronta para passar um dia inteiro comigo? – disse ele, o Tiago, para a Evans.

- Não se ache tanto – ela fechou a expressão.

O que era isso? Estava se fazendo de difícil? Seria por isso que Tiago estava tão interessado nela? Ele adorava um desafio. Ah, mas se ele estava dando em cima dela porque ela era um desafio, que tipo de relacionamento eles tiveram para o Harry nascer? Ou que eles terão? Harry disse que aquela era a primeira vez que saía com eles. Não, espera, ele disse em família. Teria dado errado? Ah, não, ela o fez sofrer? Ou ele a fez sofrer? E agora? O que fazer? Eliane estava entrando em pânico.

- Lílian D. Evans...

- Sim – a ruiva-falsa atendeu ao chamado do zelador.

- Tiago L. Potter...

- Aqui.

- Eliane B. Potter...

- Ah, sou eu – disse Eliane.

- E Harry T. Potter...

- Eu.

- Hum… - o zelador olhou para a cara de cada um e examinou meticulosamente o retângulo de pergaminho, como se quisesse encontrar algo de errado. Ele o pôs contra a luz. Cheirou. Até provou do gosto da tinta. Quando se deu por vencido disse – está limpo. Podem ir.

E os quatro entraram no carro.

Eliane teria arranjado um jeito de impedir que a Evans se sentasse ao lado de Tiago. Mas seu primo decidiu ser cavalheiro e permitiu que as garotas, seguidas por Harry, entrassem primeiro. Assim, Eliane se viu num banco ao lado do Harry. O que significava que Tiago estava sentado ao lado da ruiva-falsa. Irritante, na opinião dela. O cavalo esquelético começou a descer a estrada de terra que levava a Hogsmead. E o que aconteceu deixou Eliane confusa. Tiago usou de uma tática, a qual a garota se lembrava de ter visto numa revista trouxa que tinha achado. Perguntou-se se ele teria dado uma olhada na revista, porque ele fez igual:

Espreguiçou-se e pôs o braço atrás da Evans. Como se estivesse falando do tempo, ele perguntou:

- Estou curioso em relação ao seu segundo nome. Poderia me dizer qual é o seu segundo nome?

Se ele esperava que ela deitasse em seu ombro ou respondesse à pergunta, errou feio. A garota se levantou logo em seguida e disse:

- Harry, querido, vamos trocar de lugar.

- Hã? – claro que Harry não entendeu o que estava acontecendo.

- Vamos. Venha se sentar ao lado do seu pai.

- Hã... está bem...

E Harry se sentou ao lado de Tiago. A ruiva-falsa veio se sentar ao lado de Eliane. Que não gostou disso. Teria sido bem melhor para todo mundo se fosse ela a se sentar ao lado do Tiago. Harry ficaria feliz de qualquer jeito. O garoto, assim que se sentou com o pai começou a falar um monte de coisa sobre estar feliz por ele estar com eles. E Tiago, com a sua cara que escondia sua decepção, se pôs a ouvi-lo.

- Está se fazendo de difícil, é? – Eliane sussurrou a pergunta aborrecida para Evans.

- Me fazendo de difícil? – pensou a ruiva-falsa, ela não parecia ofendida com a pergunta nem nada – em minha opinião esse negócio de mulher fácil e mulher difícil é invenção dos homens. Eles tentam passar uma ideia simples sobre como conquistar mulheres e as classificam para tornar mais fácil. Mas eles estão errados, em minha opinião. As mulheres são mais complexas do que pensam.

- Não respondeu a minha pergunta – apesar de adorar discutir sobre aqueles assuntos, Eliane não desistiria de arranjar uma desculpa para afastá-la dele.

- Desculpe. Você tem razão. Não sou difícil, nem fácil. Apenas tenho meus princípios.

- Princípios? – Eliane levantou a sobrancelha. Nunca tinha ouvido isso.

- Sim. Há muito tempo decidi o que queria de uma vida a dois. Não estou me fazendo de difícil, nem sou fácil. Eu apenas quero um relacionamento sério. Se eu encontrasse alguém com quem eu me dê bem e queira um relacionamento sério, eu não hesitaria em aceitar ser namorada dele. Mas seu primo me passa a impressão de que não está me levando a sério. Parece que ele só quer diversão. Mas agora, com o Harry, eu me pergunto se eu cedi, ou se foi ele que me mostrou estar sério. Isso me preocupa um pouco.

Eliane sentiu muito mais raiva. Ela entendia os sentimentos da Evans. Aliás, aprovava. Eliane tinha mania de pensar no futuro das coisas. Pensando no que aconteceria se ela cedesse aos cortejos de um rapaz que não parecesse estar sério, seu futuro seria feliz? Pensando assim, ela se sentiu como a Evans. Droga. Admirava-a cada vez mais. Por isso decidiu testá-la; apenas para que tivesse um motivo para não gostar dela.

- E o que você fará se não encontrar alguém que não queira um relacionamento sério?

- Acho que ficarei sozinha – ela disse divertida.

Droga. Lílian Evans era uma mulher independente! Eliane adorava mulheres independentes. Sentiu uma nova onda de perguntas apostarem corrida do seu cérebro para a boca. As segurou. Inspirou fundo. Engasgou. Virou o rosto para o outro lado e começou a tossir como se estivesse morrendo.

- Eliane, você está bem? – Evans perguntou preocupada.

- Me deixe em paz! Me deixe em paz! Me deixe em paz! – gritou Eliane desesperada, não queria falar mais nada com ela. Por isso ficou calada o resto da viagem.

Os cavalos esqueléticos pararam em frente à entrada do vilarejo de Hogsmead. Eliane foi a primeira a descer. Tiago desceu por último. E os quatro seguiram pela rua. Ao ver Tiago se aproximando da ruiva-falsa com aquela cara de que jogaria uma cantada metida a esperta pra cima da garota, Eliane agarrou o braço do primo.

- Tiago, vamos ali! – ela apontou a primeira loja que viu.

- Ah, na Madame Puddifoot?

- O que? Não! – exclamou Harry, se pendurando no outro braço de Tiago – Pai, você disse que viria comigo!

- Ah, Harry, eu-

- Não. A gente vê as vestes depois, vamos ver as outras lojas – argumentou Eliane.

- Não. Minhas roupas, primeiro. As outras lojas, depois.

- Então vá com a Evans, sozinho, eu vou com o Tiago.

- Não! Eu quero o meu pai!

- Eu quero o meu primo!

- Lil, me ajuda! – Tiago pediu socorro.

- Vamos para a Trapobelo Moda Mágica. Depois visitamos as outras lojas – a Evans puxou Tiago pela manga, levando Eliane e Harry junto.

No caminho para a loja Eliane e Harry ficaram discutindo o tempo todo. A garota sentiu que ele disputava a atenção de Tiago com ela. E respondeu na mesma moeda. Provavelmente Tiago se cansara, pois, quando chegaram à loja, ele os mandou juntos para um lado e foi com a Evans para o outro.

- Ah, agora os dois terão o seu momento a sós – Eliane reclamou em voz alta.

- Então você não quer que os dois fiquem juntos? – tinha se esquecido de que Harry estava ouvindo.

- Não quero – e daí se ele ouvia.

- Mas aí eu não vou nascer!

- E daí?

- Você não se importa?

- Hum... deixa eu pensar... não – e correu para um cabide com vestes femininas. A cara que o Harry fez era tão engraçada que não se segurou e começou a rir enquanto se afastava.

Com o espírito um pouco mais leve, Eliane pegou uma veste lilás curta. Viu que batia nos joelhos. Era um modelo semelhante ao que usava. Os bruxos não mudavam tanto as suas vestimentas desde que se esconderam dos trouxas em mil seiscentos e noventa e dois. Uma das coisas que Eliane mais amava nos trouxas era a variedade de roupas que eles tinham. Vivia se perguntando se era por causa disso que ela era fã deles.

- Isso não é pra mim, é? – Harry perguntou se pondo ao seu lado.

- Você veste lilás?

- Não.

- T’aí, sua resposta.

- Mas estamos aqui para comprar minhas roupas.

- Tiago já está fazendo isso com a Evans. Por que eu faria também? Dois já são o bastante- olha! Essa é linda!

Ela segurou numa veste de cores pastéis. O robe era azul-bebê. O vestido era amarelo-milho. A saia amarela era aberta com outro tecido verde-menta aparecendo; o cinto-corda era da mesma cor. Ela tinha gostado.

- É igual às outras – disse Harry.

Uma veia saltou em seu pescoço.

- Harry, me diga – ela escondeu sua irritação – como são os seus pais no futuro?

- Hã?

- Como são os seus pais no futuro?

- Como são os meus pais no futuro? – ele olhou para os lados. Eliane conhecia esse gesto, ele estava buscando uma rota de fuga.

- É. Como são os seus pais no futuro?

- Por que quer saber?

- Estou curiosa. Olhando agora, quem acredita que eles vão ter você?

- Parece que eles não se gostam?

- Parece? Fica claro – na realidade havia uma incompatibilidade de objetivos, mas Eliane decidiu usar outra razão.

- Mas eles se gostam.

- Pode ser, mas você não respondeu a minha pergunta.

- Que pergunta?

- Sabe muito bem.

- Sei não.

- Sabe sim.

- Não sei. Juro.

- Você está mentindo.

- Não estou.

- Está olhando pro lado! Está mentindo sim!

- Não estou!

- Então me diga como são seus pais no futuro!

- Por que quer saber?

- Eu já lhe disse que só estou curiosa!

- Bom, não vou dizer!

- O que?! Por quê?!

- Porque não quero!

- O que?! Se não falar eu te faço vestir aquela veste rosa-choque cheia de babados!

- Não! – ele saiu correndo.

- Volte aqui, seu peste! – gritou correndo atrás dele.

- Não! – ele avistou Tiago – pai, me salva!

- O que? Do que?

- Harry, me diga!

Eliane correu atrás do Harry em torno de Tiago. Harry pulou e subiu no maroto. A garota tentou segui-lo, mas só conseguiu ficar pulando. Tentando alcançar Harry.

- O que está acontecendo?! – gritou Tiago.

- O Harry não quer me dizer como são vocês no futuro!

A reação a seguir foi estranha: Tiago ficou pálido e mudo. Eliane se perguntou o que aquilo significava. E perguntou o que significava aquele olhar que Tiago trocou com o Harry. Eles estavam de segredo? Eles estavam de segredo?! Eles estavam de segredo e não queriam contar pra ela?!

- Eu exijo saber o que vocês estão escondendo!

Os dois fizeram de novo. Trocaram o mesmo olhar de quem esconde alguma coisa. Fechou a expressão. Sentiu que ficava cada vez mais vermelha. Tinha prendido a respiração sem perceber. Soltou a respiração, parecia o Prof. Fenwick respirando.

- Vamos pagar as roupas do Harry – a Evans fez aquilo de novo. Segurou os ombros de Eliane e a levou para a bruxa do caixa. Mas dessa vez ela não ligou. Estava mais concentrada nas expressões de alívio de Tiago e Harry.

A partir daí Eliane ficou carrancuda. Não aliviando nem quando foram comer no Três Vassouras, nem quando foram comprar doces na Dedosdemel. Com frequência, ela lançava olhares raivosos na direção de Harry e Tiago. Que apavorados, se refugiaram na loja Penas Escriba. Antes que Eliane os seguisse como uma alma penada vingativa, a ruiva-falsa, tá... a ruiva-nem-tão-falsa-assim, obstruiu o seu caminho. Ela tinha amor á vida?

- Eu queria conversar um pouco com você – ela disse. O sorriso que a garota lançava fez Eliane se lembrar do sorriso de Garnet. Os sorrisos de ambas eram igualmente gentis e envolventes. Mas havia uma diferença. Uma diferença crucial que apenas as pessoas mais perceptivas poderiam notar. Felizmente, Eliane era muito perceptiva. E soube dizer a diferença. O sorriso de Garnet era enganador. Ele era acompanhado por um olhar com calor simulado. A Evans transmitia calor de verdade com seus olhos. Seu sorriso era verdadeiramente gentil.

Eliane sentiu vontade de chorar. Mas segurou. Não disse nada. Apenas concordou com a cabeça. Talvez fosse hora de deixar Tiago um pouco de lado. Já estava se cansando de tentar forçar sua presença.

Lílian decidiu que seria melhor conversarem no Três Vassouras. Sentaram-se numa mesa para dois. Madame Rosmerta as atendeu. A Evans pediu dois copos com suco de abóbora, que logo vieram flutuando até elas. Após beberem o primeiro gole, ela começou:

- Queria saber o que realmente aconteceu no dia da sua briga com as garotas da Sonserina.

- O que? A briga no banheiro? Mas foi quase há uma semana, por que quer saber?

- Garnet. Ela estava lá, não estava?

- Estava... como sabe?

- Tenho alguns contatos que me mantém informada.

E Eliane foi obrigada a marcar mais um motivo para gostar de Lílian Evans. Mais um pouco e ela desistia. Em sua nota mental, a parte dedicada aos motivos para não gostar da ruiva-que-na-verdade-não-é-falsa se encontrava em branco. Já o lado dos motivos para gostar dela tinha muitos pontos.

- Gostaria de saber como aconteceu de verdade. Os detalhes.

Eliane não disse nada. Na realidade, ela queria, mas não podia. Já estava difícil aguentar aquela situação. Afastara-se de Tiago para evitar que ele descobrisse. Se ela contasse poderia piorar tudo.

- Quando eu entrei em Hogwarts, como todos, eu tinha onze anos – a Evans começou a contar uma história nada a ver – a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts era um sonho que se realizava. Como ainda é para muitos. Meu único problema até aquele momento eram dois garotos irritantes que eu tinha conhecido no trem. Tiago e Sirius. Eu não gostava muito deles e eles gostavam de implicar com um amigo meu. Mas algumas semanas depois do início das aulas, me deparei com um problema maior-

- Garnet Freese? – Eliane adivinhou, elas estudavam no mesmo ano, afinal.

- Não. Com seus mentores.

- Mentores?

- Narcisa Black e seu noivo, Lúcio Malfoy.

- Malfoy... sou parente deles pela parte da minha mãe – comentou Eliane – se eu me lembro bem da árvore genealógica no livro dos Darlington, uma Malfoy se casou com um Darlington. Se eu não me engano ela é minha tetravó. Acho que ela é tetravó do Tiago, também. Aquele idiota...

A Evans deu uma risada e continuou a contar sua história:

- Ainda me lembro daquele dia. Estava perdida, ainda não tinha aprendido o caminho para a aula de feitiços.

- Eu ainda não aprendi nenhum caminho, só sigo os meus colegas.

- Ignorei uma das regras que proibia correr nos corredores e corri; estava atrasada. Acabei colidindo em Narcisa Malfoy que na época estudava no sexto ano. A derrubei no chão. Eu também caí. Tinha sido uma forte colisão. Ela estava com o seu noivo, que era o monitor-chefe. Me pergunto como ele chegou a ser monitor-chefe. Bem, eles logo descobriram quem eu era e começaram a praticar... como eu chamaria... violência escolar?

- Violência escolar... – Eliane não chamaria o que estavam fazendo com ela de violência escolar, mas achou que se encaixava. Sério. Ela não podia ser uma vítima de violência escolar. Ou será que era?

- Não era bem violência escolar. Não no sentido de usarem feitiços ou baterem em mim. Mas acho que perseguição psicológica é uma forma de violência.

No caso de Eliane às vezes rolava um feitiço. Mas era mais perseguição psicológica.

- Lúcio e Narcisa eram líderes de um grupo bem fechado de alunos da Sonserina. Garnet Freese fazia parte desse grupo. O mais triste é que ele também fazia parte do grupo deles. Eu sei que ele sabia, mas mesmo assim... fui muito tola...

- Quem?

A Evans, que lançava um olhar distante, olhou para Eliane como se tivesse se esquecido da presença dela. Como assim ela tinha esquecido a presença dela? Rapidamente marcou isso como um dos motivos para não gostar da Evans, mas logo apagou a anotação. Era muito frívolo.

- Desculpe. Eu fugi do assunto. Ah... onde eu estava?

- Falava que a Garnet era do grupo da Narcisa Black que agora é Malfoy.

- Ah, sim... Narcisa até que tinha bom senso. Ela sabia onde parar. Jamais levou a perseguição ao nível físico. Sempre foi verbal. Mas Garnet não tinha limites. Sei que Narcisa a incentivava, mas também a parava. Lembro que começou com suco de abóbora sendo derramado na minha cabeça. Foi a primeira vez que Garnet me chamou de lixo. Na frente de todo mundo, inclusive dos professores. Era o jantar.

- Não foi muito esperto. Certamente levou detenção.

- E levou. Mas isso não a impediu de continuar. Ela só aprendeu a ser mais discreta. Descobriu que os banheiros eram lugares perfeitos para praticar violência. Era onde ela gostava de me encurralar para me humilhar. Eu tinha que estar acompanhada pelas minhas amigas para conseguir escapar.

- As gêmeas?

- Elas e a Mason e a Cole... – novamente, sua visão focou suas memórias até ela voltar a contar - então Narcisa se formou e eu achei que acabaria. Mas descobri que estava errada. As coisas só pioraram. Ainda cursando o terceiro ano, Garnet Freese era a nova líder do grupo. E percebi que ela me via como seu brinquedo favorito. Não sei por quê. Ela gostava de me humilhar.

Estranhamente, a resposta ressoou na mente de Eliane. Talvez porque ela tenha visto as duas fazendo a mesma coisa. Usando de meios diferentes. Mas fizeram a mesma coisa. Ambas eram poderosas em influência. Lílian Evans usava a gentileza. Garnet Freese usava o medo. Ambas eram influenciáveis. Tinham seus princípios e crenças arraigadas em suas mentes. Lílian Evans não tinha medo de Garnet. Mas Garnet tinha medo de Lílian Evans. E mais uma vez, Eliane adicionou mais um motivo para gostar da Evans em suas anotações mentais.

- Mas eu nunca deixei de falar com a Prof.ª McGonagall sobre os problemas que Garnet me causava.

- E ela resolveu o seu problema com a Freese?

- Ela sempre foi uma professora muito sábia e habilidosa. Como só havia a minha palavra contra a de todas as garotas do grupo da Garnet, ela não podia fazer muita coisa. Mas ela acreditava em mim. Me protegeu da melhor maneira que pôde. Me aconselhou a ficar perto de minhas amigas e a pedir a elas que me ajudassem. E me mantinha por perto sob qualquer pretexto, como ajudá-la com alguma tarefa.

Eliane entendeu o que estava acontecendo. A Evans estava tentando ganhar sua confiança... porque ela tinha percebido. Não era por causa de Tiago. Era por ela. Por fim, deu um suspiro, pensou numa forma de começar a explicar, e disse sussurrando:

- Sabia que a Garnet é uma comensal da morte?

A expressão de Evans agravou-se. Talvez não o soubesse, mas suspeitava. Ou não a surpreendia, mas não esperasse que Garnet fosse tão longe. Eliane não soube interpretar com exatidão o que a Evans pensava.

- Como soube disso?

- Naquele dia da briga. Eu não vi a marca, mas eu meio que senti que no antebraço direito dela havia uma marca negra.

- Então você não viu?

- Hum-hum. Não vi. Mas eu entendi as entrelinhas... os gestos...

- Se você estiver certa... você é uma menina muito perspicaz... mas... é a Garnet quem está envolvida com o seu problema?

- Talvez por trás do palco. Na verdade é o irmão dela, Isam Freese.

- Eu soube que ela tinha um irmão. Ele age como a Garnet?

- Igualzinho. São as mesmas crenças.

- Hum...

- No dia seguinte ao da briga, eu andava sozinha pelo corredor, estava indo para a biblioteca e... eu estava perdida. O Freese e a Kreft, na companhia de seus amigos, me emboscaram e me carregaram para uma passagem pouco usada pelas outras casas fora Sonserina.

- Eles te carregaram a força?

- Foi um sequestro, sério; um sequestro relâmpago.

- E o que eles fizeram com você?

- Nada além de me ameaçar e me xingar. Supostamente era para que eu ficasse quieta, ou a situação poderia piorar pra mim, e meus amigos seriam incluídos. Eu até que estava conseguindo evitar jogar meus problemas para a Kate e os outros... – e lançou um olhar acusatório para a Evans – mas agora que a monitora da Grifinória sabe, as coisas poderão mudar.

- Ah, claro. Agora que a monitora da Grifinória sabe, as coisas irão mudar – disse a Evans sorrindo cínica. Eliane limitou-se em lançar um olhar aborrecido para a monitora, que continuou a conversa – então, o que eles tem feito com você?

- Hum... não é grande coisa... eles apenas me oprimem. Tentam me fazer sentir inferior e escancaram minhas fraquezas para todos.

- Como exatamente eles fazem isso?

- Hum... na aula de defesa contra as artes das trevas... na última aula eles me acertaram com um feitiço nada a ver com o desarmar. O feitiço me deixou com o cabelo verde.

- Então foi por isso que você apareceu com o cabelo verde... mas você disse que foi um acidente ao Tiago, não foi?

- Foi... ele nem desconfiou, estava ocupado demais pensando em alguém – Eliane fez de propósito. Jogou a indireta. Estava ressentida. Tiago não percebera seu problema por causa da Evans.

- Está enganada.

- O que?

- Tiago ainda está desconfiado. Ele só não ligou os pontos ainda.

- Por sua causa – já não queria ser mais discreta.

- Talvez, em parte. Mas Tiago anda com muitos problemas ultimamente, não é? Tem o Harry. Eu. Você. Os pais dele. Os amigos. Os estudos para se tornar auror. A guerra. E as pessoas desaparecendo e aparecendo mortas sem explicação.

De repente Eliane começou a se sentir mal. Não um mal-estar. Mas um remorso. Ela quis que Tiago só se preocupasse com ela, mas ele também precisava se preocupar com as outras coisas, não é? Não era isso? Ele também tinha problemas e ela queria jogar os dela para cima dele.

- Não estou dizendo que é para você não pedir ajuda ao Tiago quando tivesse dificuldades. Estou apenas querendo que você seja compreensível. Você pode pedir ajuda às outras pessoas.

- Como você?

- Exatamente. Sou uma monitora, eu posso te ajudar. E elas deu aquele sorriso envolvente.

- Eles devem gostar de atormentar fãs de trouxas.

- Por que acha isso?

- Porque sou fã de trouxa. E você também, certo? Está usando roupas trouxas...

- Ah... acha que eu... na verdade eu não sou fã de trouxa, eu sou nascida-trouxa.

- Na-nascida-trouxa? – Eliane ficou embasbacada.

- Sim. Nascida-trouxa.

- Mas você disse que já sabia de Hogwarts antes... você disse...

- Tive a sorte de conhecer um bruxo dois anos antes. Um menino com quem fiz amizade e me falou sobre o mundo bruxo.

- Ouh...

Já chega! Eliane já não aguentava mais! Aquela mulher era nascida-trouxa? Filha de trouxas? Que veio do lado trouxa do mundo? Mais um motivo para gostar de Lílian Evans. Um motivo que valia por quatro! Nem era por dois, era por quatro!

Eliane sentiu mais uma onda de perguntas apostar corrida do seu cérebro para a boca, mas dessa vez não segurou.

- Como é a vida de um trouxa? Que coisas vocês usam? O que é um carro? O que é televisão? Qual é a moda atual? Como vocês se vestem? É assim como você está vestida? Que lojas trouxas você me recomenda?

- Chegamos, meninas, está na hora de ir embora – Tiago chegou cantarolando com Harry na sua cola. Eles tinham uma saca com tinteiros e penas e pergaminhos novos.

- Vai embora! – mandou Eliane – ela é minha!

E se agarrou ao braço da Lílian.

- Não! Ela é minha mãe! – Harry se agarrou ao outro braço.

- Vai embora, pirralho, você já a teve por muito tempo.

- Não! Ela é minha!

- Ela é minha!

- O que? Não! – Tiago protestou, fazendo todos olharem para ele – Vocês não podem ter a Lil só para vocês, eu também a quero.

- Uh! Uh! Uh! Vai sonhando – riu Eliane.

- É, vai sonhando – Harry repetiu.

- Boa.

E ela e Harry bateram as mãos.

- Por favor – disse a ruiva mais velha, com o rosto muito vermelho – parem com isso, estão me envergonhando.

Durante a viagem de volta, Tiago e Harry iniciaram uma competição de assobios. Eliane atacou Lílian com perguntas e mais perguntas sobre a vida trouxa. E a outra, com paciência e calma, respondia. Lílian falava do movimento hippie que perdia as forças e do novo movimento punk quando eles foram deixados em frente ao castelo. Já escurecia. Subiam a escadaria de entrada quando Eliane ouviu um farfalhar vir de um canto escondido atrás de uma parede. Como se alguém estivesse mexendo nos arbustos que cresciam à parede externa do castelo.

Perguntou-se se Lílian e Tiago teriam percebido aquele estranho farfalhar de folhas. Concluiu que foi a única, pois os dois estavam absortos numa conversa sobre a teoria da animagia. Ao atravessar as portas de entrada para o saguão. Eliane lançou um olhar furtivo para trás. Viu um rapaz que aparentava ter a mesma idade de Tiago. Seus traços físicos mais marcantes eram o cabelo negro oleoso que caiam em seus ombros. Um grande nariz adunco, em forma de gancho. E a pele macilenta com a estranha coloração amarelada. Porém, o olhar de alguém que foi profundamente ferido por quem ama marcou a memória de Eliane. Um calafrio percorreu sua espinha dorsal. Algo... muito ruim... só estava começando...

Continua...


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo demorou para ser terminado, por algumas razões:
- Foi o mais trabalhoso dos capítulos que eu já escrevi de Gutt. Reescrevi três vezes a conversa entre Lílian e Eliane.
- Estou trabalhando uma história minha que eu queria transformar num livro. Gostaria muito do apoio de vocês, não tenho tanta fé em mim mesma.
- Uma a festa de Natal com a família e parentes da minha mãe.
- Uma viagem de fim de ano. Viajei para a casa de praia da família de minha mãe, onde não tinha internet. Levei o meu notebook, onde fiquei escrevendo o meu livro e jogando videogame.
E foi por isso que demorei a postar: O capítulo foi trabalhoso, estou desenvolvendo o enredo de uma história que quero transformar num livro, teve a festa de Natal e uma viagem.
Lembram que eu disse sobre haver coisas que eu só percebo quando eu escrevo o fim de cada capítulo? Bom. Escrevendo a parte da conversa entre Lílian e Eliane, eu finalmente descobri o cerne dessa fanfic. Não é só sobre uma família, é sobre influenciar gerações. Não escreverei apenas sobre a família, escreverei sobre a influência que ela exerce sobre os mais novos. Depois disso, passei a procurar pelo cerne da história do meu livro.
Eu estava pensando. Se a Lílian quer ser escritora (na minha fic), é natural que ela tenha uma mente analítica. Que possa pensar no porque das coisas em como as coisas terminam se aquela pessoa fizer aquilo ou aquilo. Também seria natural que ela tivesse certa habilidade em contar histórias. Para a Eliane é quase a mesma coisa. Eu ainda não revelei o motivo. Logo, mais tarde, se eu me lembrar, eu revelo.
Bom, se queriam cenas românticas, vou dizer, não daria certo. Simplesmente porque não houve. O que aconteceu entre Tiago e Lílian quando ficaram fora de vista foi que ele lançava cantadas, dava em cima, perguntava a ela se aquela veste verde-garrafa ficava bem no Harry e ela só respondendo a última questão, porque o resto ela fingiu não ouvir. Então, se eu focasse nos dois, o capítulo ficaria chato. Em minha opinião.
Olha... isso é chato, mas... estou meio que perdendo o interesse nessa fanfic, quase não consegui terminar esse capítulo. Deem-me motivos para continuar.