A Winter Night escrita por Olivia Hathaway


Capítulo 9
Capítulo 8




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"Você não acha que esse vestido me deixa com cara de sei lá... uns sessenta anos?" Lissa girou para que pudéssemos ver o vestido que ela usava.

"Eu gostei" disse Sydney. "Está simples e discreto"

"Só não use com um colar de pérolas" falei sorrindo "senão aí sim você vai ficar com cara de velha. Mas se quer saber a verdade, ele te deixa com um ar infantil"

"Infantil" repetiu ela, descrente. Lissa agarrou parte do tecido rosa da saia. "Ainda não acredito que você disse isso!" ela voltou a se olhar no espelho. "Não estou com cara de criança!"

O vestido rosa de algodão abraçava sua cintura fina e depois se abria em uma saia plissada que ia até um pouco abaixo do joelho. O vestido, junto com sua aparência de princesa delicada dava a Lissa um ar infantil, como a de uma boneca frágil.

A costureira olhou para ela, esperando que fosse chamada logo para ajustar a barra.

"Sabe de uma coisa? Vou perguntar para o Christian quando chegar em casa" ela caminhou graciosamente até nós e abriu um sorriso angelical. "E vou levar o vestido, com uma condição"

A maneira que ela me olhava naquele momento, como se estivesse tramando algo, me deixou inquieta.

"Fale, Liss"

"Quero que você experimente aquele vestido" ela apontou para o vestido preto de seda que estava pendurado em uma das araras. Eu ia abrir a boca para protestar, mas ela não deixou. "Não comece a resmungar!"

"Mas o vestido nem meu é!" exclamei, irritada. "É da sua prima!"

"Isso não importa" um sorriso ríspido tomou seus lábios. "Vocês tem quase o mesmo manequim e ela desistiu de comprá-lo"

"Qual é Rose, você não vai perder nada se experimentá-lo" incentivou Sydney.

Como vi que tinha perdido aquela batalha, não tive escolha. Lancei um olhar mortal para as duas e peguei o maldito vestido e fui ao provador. Pelo menos assim eu sairia logo daquela loja e iria descansar em paz.

Ah sim, descanso era tudo o que eu queria naquele momento! E eu ainda iria matar Nathan por ter me feito trabalhar o dia inteiro.

Fechei o zíper do vestido, arrumei a anágua e fui até o espelho que Lissa se olhara há poucos segundos.

Merda, tinha que admitir que o vestido era bonito e que ficara bem em mim. Era justo na minha cintura e a saia era rodada. O comprimento era praticamente o mesmo do de Lissa. Ele era sem mangas e tinha o decote redondo. O vestido era simples, porém marcante. Feminino o bastante para não parecer vulgar.

Era o tipo de vestido que eu não teria hesitado em usar para sair para dançar com soldados.

"Você está linda!" exclamou Lissa, batendo palmas. "Sério Rose, leve ele! Com certeza um dos melhores vestidos que você já teve na sua vida!"

"Rose" Sydney sorriu "se você me disser que não gostou desse vestido..."

Mordi o lábio e me olhei mais uma vez no espelho. Uma mulher morena com os olhos escuros me encarava com um olhar de provocação. Ta, eu tinha gostado do vestido, admito. E muito.

Lembrava o meu antigo eu.

"Sabe, acho que agora eu entendi por que sua prima desistiu da compra" comentei, me olhando no espelho. "Mas ele não é nada escandaloso"

"Eu nunca disse que ele era" falou Lissa. "Só que você conhece a Samantha. Qualquer coisa curta ou decotada ela surta. Prefere se vestir como se ainda estivéssemos no século passado. E o marido não ajuda muito"

"Claudette, ajuste o vestido para Rose" continuou. Ela apontou para minha cintura. "Diminua essa cintura" seus olhos caíram em Sydney. "Agora vamos decidir o modelo do seu"

"Nem pensar!" chiou ela, visivelmente assustada. Sydney não era muito fã dessas coisas, ela gostava de passar despercebida por todos. E ver roupas era um pesadelo para ela. "Não preciso de um vestido novo"

"Ora querida, todo mundo precisa de um vestido novo!" ronronei, sorrindo. Era a minha vez de me vingar. "E não vai cortar seu dedo se você for ver pelo menos os modelos que Madame Chapelle disponibiliza"

"Já disse que não -"

"Imagine a cara de Adrian quando ele te ver em um vestido decotado. Aposto que você o levaria a loucura" provoquei. Ela corou profundamente. Parecia que ela iria soltar fumaça pelos ouvidos.

"Vocês duas" ela disse, irritada. "vão me pagar!"

"Só estamos querendo ajudar" rebateu Lissa.

"Acho que vou ali comprar um lanche" apontei para a cafeteria que estava do outro lado da rua. Meu estômago roncou. "Já é tarde e eu nem almocei hoje!"

"Vou dar uma olhada nos vestidos, já nos encontramos lá" falou Lissa.

Paguei as luvas e já deixei pago o vestido, dizendo que passaria daqui a pouco para buscá-lo.

Um cheiro de cigarros de cravo-da-india me envolveu logo que saí da boutique. Para a minha surpresa, era Adrian Ivashkov, um playboy que eu achava arrogante, que estava ali. Usando um terno cinza, com o cabelo castanho um pouco bagunçado - aquilo dava-lhe um ar rebelde - e segurando um cigarro, ele se aproximou de mim.

"Sr. Ivashkov" falei cordialmente "Mas que surpresa agradável!"

Ele pegou a minha mão e a beijou. "Sempre um prazer encontrar mulheres bonitas por aqui. Rose Hathaway, certo?"

"Yup. E vejo que você melhorou bastante" Adrian tinha sofrido um acidente semana passada, sua BMW tinha batido em uma árvore. Ele teve sorte, pois escapou com apenas alguns arranhões, um olho roxo e um braço quebrado. Sydney e eu limpamos seus ferimentos no hospital, então nós meio que nos conhecíamos.

Um sorriso brincalhão apareceu em seus lábios. "Com ótimas enfermeiras, fica impossível não melhorar" ele deixou cair seu cigarro e pisou em cima dele antes de puxar um novo. Ele ofereceu um para mim. "Aceita?"

Balancei a cabeça. "Eu não fumo"

"Tudo bem" ele guardou a carteira. Seus olhos verdes caíram na sacola que eu segurava "Fazendo compras, huh? Espero que tenha sido um vestido colorido. Branco deixa vocês tão sem vida!"

"O que você sabe de moda, Sr. Ivashkov?" aquele cheiro estava me deixando enjoada, acabando com a pouca paciência que eu ainda tinha. Não queria ser grossa nem nada com ele, mas eu estava com fome, com dor de cabeça e sua presença junto com aqueles cigarros eram irritantes naquele momento. "Aquilo que eu uso no hospital chama-se uniforme e não tem a função de ser algo alegre. É prático"

"Prático, mas sem graça" retrucou. Ele ainda sorria. Se tinha uma coisa que eu tinha aprendido em apenas alguns minutos de conversa com Adrian, era que ele gostava de me importunar. "Mulheres deveriam usar roupas que marquem seus melhores atributos, não escondê-los"

"Ao meu ver, Sr. Ivashkov, o senhor prefere que nós andemos nuas por aí, isso?"

Um sorriso soturno apareceu em seus lábios "Não seria uma má idéia"

Revirei os olhos. "Por deus, como você é imoral!"

"Ou talvez eu seja apenas louco"

Nesse momento, a porta se abriu e Sydney e Lissa saíram. Sydney enrijeceu quando percebeu com quem eu estava conversando e Adrian cravou seus olhos nela, ignorando eu e Lissa por um momento.

Ah, então eu estava certa. Realmente havia alguma coisa entre aqueles dois!

"Sydney!" ele disse pegando a mão dela e levando aos lábios. Eles demoraram em sua mão. Aqueles olhos verde jade estavam presos nos dela, com relativo interesse.

Ela apenas ficou calada por alguns seguindo, encarando-o. Eu aproveitei e dei uma cutucada em sua perna com o meu pé. Ela não podia ficar travada naquele momento!

"Co- como está sua cabeça?" perguntou ela, passando a mão em seu cabelo louro. Dava para ver que seus dedos tremiam.

"Ótima, você me ajudou muito" respondeu ele, com a voz macia. Lancei um olhar para Lissa, para que saíssemos dali o mais rápido o possível.

"Gente, estou indo com a Lissa comprar meu lanche da tarde, já voltamos" eu duvido que eles tenham ouvido qualquer palavra que eu havia dito. Estavam concentrados demais neles mesmos.

"Tenho que admitir que você fez um ótimo papel de cupido quando deixou aqueles dois a sós no hospital" comentou Lissa, olhando para o os dois que estavam do outro lado da rua, ainda conversando. "Você acha que ele vai chamar ela para sair?"

"Disso eu não tenho dúvidas" comi mais um pedaço do bolo. "Aqueles dois estão apaixonados"

Ela soltou um longo suspiro. "Saudades desse tempo, foi uma época tão boa! E ver a Sydney desse jeito é tão... fofo!"

"Juro que achei que ela não iria se apaixonar por alguém" comentei. "Ainda mais porque você sabe como ela é, toda certinha e séria. Acha que homens são uma perda de tempo"

"Só ela?" Lissa me encarava com o rosto apoiado nas mãos com luvas de couro.

"Hey!" fechei a cara. "Isso não tem nada a ver comigo. Meu caso é totalmente diferente!"

"Mas eu nem disse seu nome!" ela mordeu o lábio, segurando uma risada. "Agora tome logo esse café para irmos"

***

Deixamos Sydney em casa mais tarde. E como suspeitávamos, Adrian tinha chamado ela para sair. Iriam jantar no final de semana. E é claro que Sydney já estava nervosa.

"Amanhã vamos levar ela para comprar algumas roupas mais sexy" comentou Lissa enquanto eu dirigia. "Vai ser divertido!"

"Isso me lembra o dia em que você me arrastou para escolher um vestido para sair com o Christian" não consegui conter um sorriso. "Lembra quando sugeri aquele vestido vermelho que tinha as costas nuas? Sua mãe quase te matou quando você voltou para casa!"

Lissa riu. "Lembro! E daí ela me deixou de castigo e disse que você era má influência"

Ainda conseguia me lembrar do olhar mortal que Rhea Dragomir lançara para mim quando apareci no dia seguinte para irmos ao hospital. Claro que era uma mentira, pois Christian e ela tinham combinado de se encontrar e eu estava ajudando.

"Ei, mas pelo menos ela me agradeceu depois por ter arrumado um marido para a sua preciosa filha"

Seu sorriso ampliou "Agora eu vou retribuir o favor"

Aquilo me fez pisar no freio e nós duas voamos para frente enquanto o carro morria.

"Você quer me matar de susto?" gritou ela, com os olhos arregalados.

"Eu não vou sair com ninguém" silibei, voltando a ligar o carro. "Estou cansada, com dor de cabeça e sem saco para encarar homens que querem me levar para a cama! E eu não quero um marido, estou muito bem sozinha!"

"Só estou tentando te ajudar!" rebateu, irritada. "Não tem nada demais nisso!"

"Yeah, eu sei como essa ajuda funciona" falei sarcasticamente. "Você arruma um pretendente e marca um encontro. Então me avisa em cima da hora. Mas dessa vez não vai rolar"

Não adiantava protestar, Lissa era insistente quando se tratava da minha vida amorosa. Quando chegamos na minha casa, ela ainda insistia no assunto.

Ela abriu a porta do meu quarto e me puxou junto.

"Vamos, tome um banho rápido que eu pego o vestido" ela foi até meu closet. Seu modo de andar me lembrava uma fada, ou algo do tipo.

"Eu não quero ir, Liss" sentei na cama. "Sério, não quero me encontrar com Joshua outra vez. Ele é muito grudento!"

Semana passada Lissa decidiu me arrastar para o cinema com Christian a fim de me distrair um pouco. Mas eu não sabia que ela tinha armado um encontro para mim. Se isso tivesse acontecido anos atrás, eu teria adorado a surpresa e apreciado cada minuto - não que eu fosse uma namoradeira daquelas, mas eu gostava da companhia masculina. Mas nesse momento, eu apenas a achei desnecessária e irritante. Até porque o amigo de Christian, Joshua, mesmo que fosse bonito, era aquele tipo de homem grudento e superficial.

Eu tinha ficado contando os segundos para cair fora daquele cinema e depois do restaurante que os três insistiram em ir. E eu não estava disposta a passar por isso novamente.

Ela abriu um sorriso misterioso. "E quem disse que Joshua vai com a gente?"

"Ainda não me convenceu"

"Droga, Rose!" Lissa jogou as mãos para o ar. "Apenas estava tentando ajudar! Você estava tão nervosa com o trabalho e tudo mais... queria que saísse com alguém!" estava prestes a protestar quando ela continuou. "Não para se envolver em um relacionamento sério, mas só para se divertir, sabe? Como nos velhos tempos!"

"Liss, aquilo é passado" tentei explicar. "Nossas vidas mudaram. Eu mudei"

No passado, eu adorava ir a bares e festas com Lissa para se divertir com os soldados. Até porque tínhamos muitos amigos, e de vez em quando um paquera. Nada sério, apenas um flerte inocente, com música, piadas e bebida. Ok, eu era festeira. Eu priorizava a diversão naquela época, e eu tinha um prazer enorme em irritar minha mãe com isso, especialmente quando envolvia o toque de recolher. Suas colegas me descreviam como uma garota rebelde, irresponsável e totalmente impulsiva. E é claro que eu fazia valer essa descrição.

Mas agora? Agora eu não tinha mais todo esse fogo. Acho que deveria ser por causa das responsabilidades que tive que assumir depois da morte dos meus pais, depois de ter ido para a faculdade novamente. Como que definem isso? Ah, sim, a tal da maturidade. Essa palavrinha que todos diziam que eu jamais iria ter.

"É Belikov, não é?"

Eu a encarei surpresa, esquecendo do que tinha pensado. "Não! Claro que não!"

"Você está mentindo! Está escrito nos seus olhos que você gosta dele!" acusou. Ela pôs a mão na boca. "Oh meu deus, como eu não percebi isso antes?"

Eu fiz uma careta. "Não seja ridícula, Liss. Dimitri e eu somos apenas amigos"

Mas aqueles olhos verdes jade me diziam que ela não acreditou em nenhuma palavra que eu havia dito. "Vi como você ficou depois que ele viajou. Não tente esconder, porque você nunca ficou tão estressada, chata e anti-social como nessa últimas semanas!"

Eu afundei nos travesseiros. "Há um bocado de coisas que me irritaram essa semana, e Dimitri Belikov não é uma delas"

Sabia que estava encurralada e que Lissa não desistira agora. E inferno, ela estava certa. Por mais que eu odiasse admitir, eu estava daquele jeito por causa de Dimitri.

Afinal, não tive qualquer notícia dele durante esses dias, e aquilo estava me matando. Por mais que eu ainda estivesse brava com ele, eu sentia sua falta. Dimitri se tornara parte da minha vida e eu não queria perdê-lo. Por dentro, eu estava com medo. Medo de ele ter ido embora, de nunca mais voltar.

Dimitri se tornara uma droga para mim, e como uma viciada, eu estava desesperada por causa da sua ausência. Havia algo nele que me fascinava. Não era apenas sua personalidade reservada e determinada. E nem a sua inteligência com sua honestidade. Não, era a força  que ele emanava. Poderosa, inabalável. Eu nunca encontrei uma pessoa que fazia eu sentir as coisas maravilhosas que eu sentia quando estava com ele, nem mesmo aquela conexão que nós tínhamos um com o outro.

Era por isso que eu estava atraída por ele, por isso que eu sofria com a sua ausência. E Lissa estava certa: eu estava apaixonada por ele. Era uma conclusão absurda, mas era a verdade nua e crua.

Entretanto, eu não poderia contar isso a Lissa. Ou deveria?

"Não acredito em você, Rose" disse de repente.

Fechei meus olhos e respirei fundo. Não, eu não iria contar a ela a verdade. "Estou te dizendo a verdade, não existe nada entre eu e Dimitri. Só estou preocupada porque ele não dá nem um sinal de vida"

"Yeah, isso até que faz sentido" ela tirou a almofada que cobria meu rosto. "Então já que não é ele quem está te empacando, vá se arrumar para sairmos"

"Não quero"

"Então ele é a causa!"

Gemi em frustração e rolei para fora da cama. "Ok, você venceu. Eu vou com você"

Ela apenas sorriu. "Você tem meia hora"

Tomei um banho rápido e fui me arrumar. Iria provar a ela que estava errada em relação a Dimitri. Aliás, eu estava fazendo isso para provar a ela que estava errada ou a mim mesma? Decidi que não queria saber a resposta. Mas na verdade, eu já sabia, apenas não queria dar ouvidos a ela.

Fechei o zíper do vestido e fui pegar a caixa de maquiagem. Não gostava de maquiagem pesada, mas eu nunca dispensava o batom vermelho e o lápis de olho. Aqueles dois itens eram essenciais. Prendi meu cabelo com grampos e coloquei os brincos de diamante que tinham pertencido a minha mãe.

"Pronto, terminei!" falei saindo do banheiro e percebi que Lissa também tinha se arrumado. "Nem vi que você tinha trazido suas coisas"

"Pois é, você estava distraída demais pensando em Joshua" comentou.

"Não importa. Onde estamos indo?"

"Você vai ver" ela pegou meu braço e me arrastou até a garagem, onde o carro estava estacionado. "Onde estão as chaves?"

Eu as tirei do bolso do casaco. "Aqui. Mas sou eu quem vai dirigir"

Ela segurou a porta do carro e me encarou. "Nem pensar, fique longe desse volante. Não estou a fim de morrer hoje!"

***

“Você vai amar”, Lissa prometeu assim que estacionamos o carro. Ela tinha um sorriso confiante no rosto e parecia ansiosa com alguma coisa. Sua mão apertava o seu dedo indicador em um gesto de nervosismo, e eu me perguntei o que estaria esperando por mim naquele lugar.

Se fosse outra pessoa que não Lissa – até mesmo Christian, devido ao seu nível de loucura – eu pensaria que ela tivesse marcado outro encontro duplo para mim, ou então um jantar em alguma lanchonete com uma fila de candidatos para me namorar. Mas era Lissa. Eu a conhecia há um bom tempo, e confiava nela de forma que sempre saberia quando ela estivesse mentindo. E quando ela dissera que estávamos indo a cafeteria, eu acreditei.

Mas ao invés de descermos a rua e pegarmos à direita, onde ficaria a cafeteria, ela me guiou para a rua da esquerda. Os passos confiantes indicavam que não era um engano, e conforme ela andava ainda mais, eu comecei a desconfiar de algo.

“Liss... Onde estamos indo?” perguntei. Lissa apenas olhou para trás e piscou para mim, diminuindo o passo para agarrar o meu braço.

“Mudança de planos”. Seu sorriso aumentou. “Apenas ande”

“Mas-“ Lissa me lançou um olhar reprovador, enquanto me soltava e colocava as mãos na cintura.

“Rose, por favor” pediu “Você acha que eu sou alguma louca? Eu sei o que estou fazendo! Não se preocupe! É só que eu pensei que você quisesse comer alguma comida de verdade antes”. Ergui uma sobrancelha para ela. Imitei seu movimento, colocando as mãos na cintura.

“Eu te disse que não estava com fome”, fiz uma careta. “E poderíamos ter comido em casa. Ainda tinha alguns biscoitos que Margareth havia feito e...”

“Rose” Lissa chamou. “Pela primeira vez na sua vida, fique quieta e me obedeça! Ou então eu acrescentarei dois turnos extras à sua carga horária” Aquilo me fez calar a boca. Eu amava o meu emprego, mas gostava ainda mais do meu tempo extra. Gostava de ficar sentada no sofá, com a gata no colo saboreando alguma nova receita de Margareth.

E gostava quando Dimitri estava perto, e acabávamos conversando sobre alguma banalidade.

Droga! repreendi a mim mesma. Esqueça ele.

Balancei a cabeça e encarei a postura confiante e mandante de Lissa por mais alguns segundos antes de decidir segui-la.

Ao longe, em uma esquina, consegui avistar a faixa branca que se estendia acima do bar: Raposa Vermelha. Uh oh, então essa coisa de comida de verdade era mentira. Ela tinha me enganado.

Dava para notar que tinha uma leve movimentação dentro do estabelecimento, mas não me importei. Iria arrumar uma maneira de sair de lá agora mesmo.

Lissa viu o que eu estava planejando e agarrou minha mão com força. "Nem pense nisso"

Eu estava prestes a abrir a boca e questioná-la quando um grande grito em uníssono ecoou pelo restaurante.

“Surpresa!” Encarei a todos, estupefata. Minha boca se formou em um O e eu logo levantei a mão até cobri-la, com os olhos pateticamente arregalados. Me virei para Lissa, que tinha um sorriso completamente radiante no rosto.

“Mas que merda é essa?” perguntei.

Ela me puxou para um abraço “Feliz aniversário, Rose!"

Diabos! Onde eu estava com a cabeça? Havia esquecido do meu próprio aniversário! Como eu não me lembrava de que dia era hoje?

“Pedi que Nathan te enchesse de trabalho para que Margareth pudesse fazer o bolo”, Lissa sussurrou enquanto se afastava de mim.

Nesse mesmo instante, uma garotinha correu até nós. Ela era pequena – porém alta para sua idade. Tinha seu cabelo preto perfeitamente alinhado, com a franja caindo sobre sua testa, e seus olhos verde jade cintilaram ao me ver. Agachei-me para pegar Catherine, sorrindo ao ver seus braços se enroscarem ao redor do meu pescoço. “Feliz aniversário, tia Rose”

"Obrigada, gatinha!" beijei sua bochecha e a coloquei no chão.

"É, acho que pegamos você direitinho" Christian caminhou até nós.

"Conseguiram" eu o abracei. "Mas isso não vai acontecer novamente. Essa foi a primeira e última vez"

Ele soltou uma gargalhada e nós entramos. Para a minha surpresa, todos os meus amigos mais próximos estavam lá: Sydney, Nathan, Margareth, Harry e a esposa, Charles, Mia e até mesmo Mason.

Cumprimentei cada um deles, animada. O jazz que vinha dos músicos que Harry tinha contratado envolvia a sala e eu não conseguia parar de sorrir. Todo aquele cansaço que eu sentia pouco tempo atrás havia desaparecido, substituído pela alegria.

"Ainda não acredito que você me fez trabalhar o dia inteiro apenas para eu esquecer que era meu aniversário e para que vocês pudessem tramar isso!" soquei o braço de Nathan. "Seu palhaço!"

Ele riu. "Admita que isso não foi uma má ideia. Você gostou!"

"Como eu poderia não gostar?" eu ainda sorria. Um funcionário se aproximou com uma bandeja com martini e Nathan pegou dois copos, um para mim e outro para ele.

Ele tomou um longo gole. "E estou prestes a te animar mais ainda: amanhã você está de folga! Pode dormir o dia inteiro e fazer o que quiser"

"Você é mesmo um amor de pessoa" beijei sua bochecha e ele aproveitou para passar seu braço em volta da minha cintura. "E tem um bom coração. Mas você também não quer acabar com a sua melhor enfermeira, certo?"

"Sua pequena convencida!" ele tomou toda a bebida em apenas um gole e colocou o copo na mesa. "Mas eu posso concordar com isso se você aceitar dançar comigo"

"Mais tarde" dei o meu melhor sorriso e tirei seus braços de mim. "Porque eu tenho que cuidar dos meus convidados"

Nem conseguia acreditar que Nathan estava flertando comigo! Eu sempre soube que ele tinha uma quedinha por mim desde que nos conhecemos, mas não sabia que ela era tão grande assim.

"Hey"

Nós olhamos para Christian, que estava em cima de uma cadeira, com uma taça de martini na mão. Ele estava tentando chamar a atenção do pessoal. "Antes de cantarmos parabéns, eu gostaria de fazer um brinde"

O olhar que ele lançou na minha direção brilhava em divertimento e empolgação. Ele estava tramando alguma coisa, disso eu tinha certeza. Algo engraçado e provocativo. Afinal, ele era o Christian.

"Hathaway, você sabe que eu acho você irritante na maior parte do tempo porque temos gênios muito parecidos, mas não posso negar que você é uma das pessoas mais incríveis que conheci na minha vida, uma ótima amiga. Mesmo que eu tenha vontade de te matar algumas vezes"

Aquilo arrancou um coro de gargalhadas. Eu mesma não consegui segurar uma. O discurso brincalhão de Christian era difícil de ser ignorado, e eu tinha me emocionado com aquilo.

Ele ergueu a taça. "A Rose Hathaway, grande amiga" ele deu uma piscadela "e eterna solteirona"

Balancei a cabeça e mordi o lábio, me controlando para não rir novamente com a última parte. Todos ergueram a taça e repetiram o que ele havia dito. Lissa e Sydney me puxaram para um abraço apertado.

E fazer 25 anos nunca me pareceu tão divertido como naquele momento!

"Agora é a hora do bolo!" gritou Catherine, erguendo as mãos. Engraçada exatamente como o pai.

Cantamos parabéns e soprei as velas. E conforme a tradição, eu fiz um pedido.

"Não olhe para o bolo com essa cara" Christian entregou uma fatia de bolo para mim. "Fiz ele com tanto carinho! E juro para você que não coloquei veneno"

"Ainda tenho minhas dúvidas" comi um pedaço e fechei os olhos, saboreando. Deus, estava divino! "Acho que vou te contratar para ser meu cozinheiro!"

As próximas horas se resumiram em apenas uma única coisa: curtir a festa. Eu já estava começando a ficar cansada de tanto dançar e conversar com o pessoal. Catherine já dormia no colo de Lissa, que conversava animadamente com Mia e Sydney.

"Ok, eu quero uma pausa" falei para Mason assim que a música acabou. "Estou com sede"

"Sem problemas" ele sorriu. "Quer que eu traga um copo de água para você?"

Assenti. "Adoraria"

"Tudo para o seu bem estar, vossa majestade" Ele fez uma breve reverência e se afastou, deixando-me sozinha. Olhei para a porta de entrada.

Eu não sei o que me fez olhar naquela direção. Talvez fosse porque eu realmente tinha sentido a sua presença ali.

Meus olhos focaram em uma figura alta e extremamente familiar que caminhava na minha direção. Fui tomada por uma profunda alegria e alívio quando reconheci aquele rosto bem desenhado, com o cabelo castanho que agora estava solto e batia nos ombros. Porque aquilo não podia ser real. Não era real. Eu deveria estar sonhando.

Ele sustentou meu olhar quando me encontrou, e aqueles calorosos olhos castanhos exerceram seu poder sobre mim, fazendo meu coração disparar e meu corpo queimar.

Naquele momento, eu soube que aquilo era real. Muito real. E eu nem pensei, apenas agi.

Corri para os braços de Dimitri Belikov.


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Notas finais do capítulo

Ufa!
Acabei de terminar esse capítulo, espero que gostem! Gostaria de agradecer a Dani por ter me dado uma ajudinha na cena da festa!
Espero que tenham gostado do capítulo! Adoraria que vocês me dissessem o que realmente estão achando dessa fic, no que eu preciso melhorar e o que vocês gostariam de ver aqui! Qualquer ideia é muito bem-vinda hehe
E leitores fantasmas, apareçam! Quero saber a opinião de vocês também!
Bem, acho que é isso! Prometo que não vou enrolar para postar o próximo capítulo aqui! Ele vai ser totalmente Romitri ♥
beijos