Sonzai escrita por MsRachel22


Capítulo 7
Between Ashes and a Dried Hope




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"Eu só tenho a mim mesmo para culpar. E parece que eu perdi minha mente"

Fly Straight

_____そんざい_____

Vagarosamente três semanas haviam se passado. Vinte e um dias haviam passado metodicamente. Rumores de esperança e de ilusões circulavam entre as Vilas. Meras mentiras de que a Aliança Shinobi havia se erguido e procurava a restauração e reconstrução das Vilas destruídas.

Sorrisos ocos de expectativas mortas eram ostentados pelos civis sobreviventes. As crianças ousavam acenar para os esquadrões que passavam por eles. Os rostos dos ANBUS cobertos por máscaras de porcelana gastas e com os traços desbotados de animais carregavam um misto de cansaço e de rendição que eram imperceptíveis.

Anciões e os mais jovens murmuravam entre si que o mundo shinobi retornaria a seus dias de glória. Tal glória que fora dizimada e trocada por gritos de horror e súplicas de misericórdia. Silenciosamente os esquadrões transitavam pelas Vilas e pelos vilarejos, enquanto hipóteses absurdas e fantasiosas erguiam-se por qualquer lugar que passassem.

No decorrer das semanas, poucas pistas e pouquíssimas hipóteses sobre a localização do Uchiha chegaram aos esquadrões. O plano dos Kages de encontrá-lo o mais rápido possível soava fadado ao fracasso com a dificuldade de rastrear o nukenin. Informações e possibilidades circulavam entre os ninjas, dispostos a chegarem numa conclusão a respeito do paradeiro de Sasuke, mas rapidamente traziam o temor de não encontrá-lo ou de ter de confrontá-lo.

Entretanto o temor era substituído por certa animação pelas recompensas que viriam acompanhadas da prisão e captura de um Uchiha. Certamente haveria glória, música e bebida para homenagear os esforços daqueles shinobis. Era nisso que eles queriam crer. Tal pensamento os motivava a correr para uma morte certeira ou para uma busca infindável.

Relatórios eram enviados velozmente aos Kages, habilidades mais preciosas e únicas eram mais requisitadas a cada semana que se passava e logo a possibilidade de contratar mercenários lendários soava tentadora demais aos Kages.

Porém os boatos de que a Aliança Shinobi estaria reintegrando-se e erguendo-se das mais profundas cinzas alarmava os líderes e shinobis envolvidos na busca pelo Uchiha. Conforme as revistas nas Vilas e Vilarejos diminuía a quantidade de informações obtidas ou dava-lhes apenas a falta existencial delas, a impaciência e a irritação começavam a consumir os ninjas designados para tal missão.

 Podia-se dizer que era apenas o medo surgindo ou que uma perspectiva quase revolucionária abrangia conforme o esquadrão principal de buscas se aproximava das ruínas da Vila da Cachoeira. O esquadrão era liderado por um antigo ANBU Raiz de Konoha e por mais dois ninjas sensoriais.

As árvores altas e os galhos desgrenhados que se estendiam em todas as direções atrapalhavam o avanço no trajeto até a entrada secreta daquela Vila. A floresta que cercava e protegia a maior das quedas d’água dali era absurdamente densa e hostil; restos humanos e carcaças de animais estavam espalhados pelo local, além de armadilhas com kunais envenenadas e enferrujadas que podiam ser disparadas pelo mínimo de desatenção.

Os olhares dos shinobis vagavam entre o que estava a sua frente e o que era deixado para trás conforme prosseguiam descoordenadamente pela floresta. Bruscamente um ANBU de outro esquadrão surgiu repentinamente pouco mais de dois metros à frente.

– O que houve? – brevemente a questão do líder do esquadrão interrompeu o trajeto de todos.

– Pistas sobre Uchiha Sasuke foram encontradas, a leste. – o outro ANBU respondeu enquanto erguia o braço esquerdo e logo apontava para a direção indicada.

Incertamente o âmago de Sakura remexeu-se. Sua mente tratava-se de remoer lembranças antigas demais e dolorosamente reais demais e em pouco tempo a hesitação a contaminava. Questionava-se se em alguma parte de Sasuke restara do jovem shinobi da Folha, e tão rápido quanto suas questões surgiam, a certeza de que não havia nada em Sasuke a ser salvo dissolveu as lembranças e agitou ainda mais seu âmago.

Mecanicamente moveu a cabeça para demonstrar que ainda estava conectada àquela conversa e de que o objetivo das nações ninja sobrepunha-se a seus sentimentos. Pois shinobis não podiam sentir. Não tinham tal permissão.

– O esquadrão dois está a caminho, porém este esquadrão é o mais próximo. Sugiro que se apressem! – a voz severa e ansiosa do ANBU capturou a atenção de todos no mesmo instante. Um gesto silencioso afirmativo prosseguiu rapidamente do esquadrão. – Vou lhes dar as coordenadas, mas sejam rápidos.

Erroneamente a mente de Sakura apegava-se à velha esperança de que Uchiha Sasuke estaria disposto a retornar às ruínas em que Konoha havia se transformado. Erroneamente, seus batimentos cardíacos aceleravam-se mais conforme as coordenadas da possível localização do nukenin eram repassadas com pressa e leves fungadas de ar.

Os galhos das árvores eram agitados e baixavam levemente sob o peso dos corpos que se moviam agilmente entre a floresta. Haviam se transformado em vultos rápidos demais, borrões no meio da floresta densa. E erroneamente, Sakura arriscava-se a manter a pequena linha de esperança de que poderia cumprir uma promessa desesperadamente impossível.

Não deveria ser apenas a promessa que fora feita à base de lágrimas e desespero que a moviam e que a forçavam a ignorar os sinais de cansaço que se instalavam em seu corpo. De modo algum, aquela promessa e aquelas palavras não deveriam valer o esforço. Porém oculta e dolorosamente, aquela simples e oca promessa mantinha-se.

Porém era estritamente errado. Um shinobi não tinha tal capricho, pois as únicas promessas que eram válidas cheiravam a morte.

Logo o silêncio os consumiu enquanto o anseio pela possível localização do Uchiha os dominava. Dilemas e discussões internas predominavam os pensamentos dos ANBUS enquanto avançavam habilmente pela floresta; suas sombras se misturavam às folhas que caíam dos galhos incessantemente e logo suas respirações não passavam de capturas precisas de ar.

 Desesperadamente a Haruno avançava mais rápido que os demais. Seus olhos pareciam doer conforme a extensa coloração esverdeada cobria quase tudo, os poucos feixes de outras cores passavam despercebidos ou rápido demais por seus olhos. Tentava conter suas emoções, seus anseios e os apertos involuntários ao redor de sua garganta.

Entretanto tais esforços eram nulos diante da verdade e diante de seu temor em enfrentar Sasuke e a si mesma. Seu corpo era agitado pelos calafrios que escalavam sua espinha e demonstravam que definitivamente o Conselho deveria estar insano, pois aquela realidade não pertencia aos seus sonhos destruídos e a seus sentimentos pisoteados. Nenhum aspecto, por mais perfeito e ilusionista que fosse não se encaixava ao rumo que a história deveria ter tido.

– Haruno, espere! – a voz quase desesperada de um ANBU despertou a atenção da shinobi. – A entrada da Cachoeira está há doze metros à frente, devemos ir com cautela. Se o Uchiha realmente estiver aqui, não podemos esperar misericórdia.

Um sorriso dolorosamente morto formou uma expressão quase amigável no rosto de Sakura, enquanto ela parava sobre um galho com exatidão. Seus dedos apertaram fortemente a capa negra que cobria seu corpo, como se o tecido pudesse protegê-la dos males exteriores e interiores.

– Nunca esperei misericórdia alguma dele. – Sakura disse e retomou o seu trajeto com mais velocidade.

– Haruno, volte! Não podemos nos dar ao luxo de perder uma médica-nin num momento como esse. – severamente o líder do esquadrão replicou enquanto seguia Sakura rapidamente. – É do Uchiha que estamos falando, não podemos ser idiotas. Volte!

– E não podemos nos dar ao luxo de perder o rastro dele. – Sakura replicou enquanto sentia o desespero escorregar por suas palavras. Um novo tremor escalou sua espinha ao notar que a queda d’água impiedosamente extensa estava a poucos metros.

Um suspiro cansado escapou rapidamente dos lábios de um ANBU enquanto punham-se a acompanhar o ritmo ditado pela Haruno na missão. Logo, seus saltos eram maiores e mais precisos de um galho para outro e seus músculos começavam a enrijecer com a proximidade da enorme queda d’água que logo lhes daria acesso ao Uchiha e a um possível massacre.

A distância diminuiu consideravelmente, não seria necessário mais do que alguns passos e logo a água cristalina estaria ao alcance. Seriam necessários apenas mais alguns passos e todos estariam caminhando para uma morte certeira ou para um erro de localização. E a segunda opção beirava lucidamente ao engano.

A tensão pairava sobre a cabeça de cada um ali, o medo corroia sua carne profundamente e fazia os ossos doerem a cada movimento realizado. Num movimento ágil, Sakura atravessou a queda d’água sendo seguida por seu esquadrão segundos depois. Virou-se e fitou as máscaras de porcelana dos ANBUS e quis ter tamanho controle integral sobre suas emoções, mesmo que soubesse que as emoções do esquadrão estavam tão desalinhadas e incertas quanto as suas.

A mentira de que ANBUS eram absolutamente inertes a sentimentos soava magnificamente aceitável do que a podre verdade de que seus medos os impulsionavam a mentir. E perfeitamente Haruno Sakura encaixava-se no padrão.

– Dividam-se em trios, procurem por algum rastro dele ou por qualquer sinal de que alguém esteve aqui recentemente. Caso o encontrem, usem isto – a Haruno retirou de sua bolsa tremulamente alguns pergaminhos –, são pergaminhos de selamento, assim como os que foram usados na Guerra. É nossa melhor chance contra o Sharingan.

– Isto foi feito para selar definitivamente os ninjas que estavam envolvidos no Edo Tensei de Kabuto. – um ANBU replicou rapidamente, enquanto sua voz era carregada de incompreensão e certo sarcasmo. – Uma vez selados, não há volta. Qualquer idiota sabe bem disso. Ainda mais quem sobreviveu à Guerra deveria ter tal consciência.

– Quem sobreviveu à Guerra deve saber que dois Uchihas surgiram dos mortos, uniram-se e declararam guerra ao mundo shinobi. Só um foi necessário para acabar com mais da metade da Aliança Shinobi. – Sakura replicou enquanto apertava cuidadosamente os pergaminhos. Sentia os olhares analíticos dos demais lhe atravessando o corpo. – Qualquer idiota sabe bem disso, ainda mais quem sobreviveu à Quarta Guerra. Não é?

– Pois bem... Já que é a médica-nin responsável por nossas vidas... – o mesmo ANBU retrucou no mesmo instante enquanto analisava a gruta em que se encontravam. – Faremos o que disse, nossas vidas são apenas um número fantasma para o mundo shinobi. Que diferença há em ser morto por um nukenin ou por um ladrão de comida? Na verdade, que glória há em ser shinobi?

O som dos pingos d’água que caíam sobre as poças de água naturalmente expostas era cada vez maior e interrupto. Silenciosamente, dividiram-se em trios; cada qual agarrando um pergaminho de selamento conforme fora instruído. Os rostos impassíveis se moveram em direções contrárias, procurando pela saída dentre os túneis que se estendiam nas diagonais e nas laterais.

A passos lentos e silenciosos, a Haruno moveu-se na direção correta. Amargamente, ditava a direção correta para um confronto sem esperanças e sem vantagens concretas. Ruidosamente, seu coração batia alto contra o peito, como se suas batidas contassem o tempo necessário para finalmente aceitar que naquele dia não haveria misericórdia e menos ainda, salvação.

Sobreviventes estariam fadados a se tornar heróis, dos quais ninguém recordaria o nome ou o rosto. Caminhavam hesitantes e confiantes de que sua missão valia mais do que suas vidas, evitavam murmúrios entre si a fim de conter o pânico que já os sufocava. Eram acompanhados morbidamente pelo som das gotas e pela brisa leve que agitava as poças mais distantes.

O fim estava próximo. Do caminho. E de suas vidas miseravelmente indignas.

– Sejam rápidos. Não podemos perder qualquer rastro do Uchiha. Já sabem o que fazer: tragam-no vivo. – o líder do esquadrão sentenciou enquanto sentia a brisa que invadia a saída da gruta agitar-lhe os pelos na nuca. – Usem os pergaminhos em último caso. E não o olhem nos olhos. Será sua perdição.

– Essa missão já é nossa perdição, chefe... Desde o início... – o comentário sarcástico e sobrecarregado de verdades não ditas em voz alta intensificou o silêncio que anteriormente predominara entre o grupo.

Tão rápido quanto havia enxergado a saída, os trios puseram-se a correr velozmente pelas árvores destruídas e pelos escombros do que outrora fora um vilarejo próspero e carregado de vida. Os olhos atentos dos shinobis procuravam algo além de amontoados de pedras e do fedor de corpos mal enterrados.

O resquício de morte os convidava a fazer sua sepultura enquanto houvesse tempo. A realidade exibia-se nua e cruel diante do lugar quase fantasmagórico; aquele era mais um preço a ser pago por uma guerra. Aquele era apenas mais um número dentre milhares dos que estavam fora da lista de sobreviventes.

E não importava o quão inutilmente os Kages e senhores feudais tentassem dizer que a Quarta Guerra restauraria os melhores tempos ninja ou que suas consequências insuportáveis eram feridas que um shinobi estava destinado a carregar em sua alma; no final a Quarta Guerra impor-se-ia a qualquer discurso e a qualquer expectativa de erguer-se dos corpos ainda não enterrados.

Pois uma guerra era cruel e absurdamente fria. Não haveria e nem mesmo houve espaço para um pouco de piedade sobre os mais fracos; os mais fortes degolavam os mais fracos, enquanto seus corpos jaziam com outros. A guerra obscurecera a alma do mais puro e envenenara as defesas do batalhão mais obstinado.

Numa guerra, não havia tempo para lágrimas. Não havia tempo para prestar luto ou um enterro descente ao shinobi mais honrado de sua geração. Homens e crianças, velhos e jovens igualavam-se no amontoado de derrotados pelo inimigo ou por suas próprias forças. E principalmente não havia clemência. Não havia caminho de retorno de uma batalha sangrenta e sem extensões.

No final, a glória de um shinobi valia enquanto sua Vila não fosse dizimada. E no momento, não havia glória alguma em ser um shinobi. Especialmente, um shinobi sobrevivente a uma batalha.

Duramente a verdade açoitava a todos. Lentamente, instigava seus pensamentos e os confundia se um nukenin valia mais do que um esquadrão eficiente. Na realidade, todos já sabiam a resposta. Um par de olhos era necessário para barganhar uma vida tranquila e aparentemente honrada em qualquer lugar. E para obtê-los, litros de sangue seriam jorrados sem pesar, sem hesitação.

– Nada por aqui. – a voz fria e quase aliviada de um ANBU ecoou pelas árvores destroçadas. – Alguma coisa? – questionou enquanto apertava o ponto do rádio contra seu ouvido. Recebeu a resposta negativa do outro lado da linha barulhenta. – No Oeste, alguma pista? – novamente, a resposta negativa e aliviada do outro trio chegou ao ouvido do ANBU com certa clareza. Prosseguiu com sua rápida busca de resultados negativos apenas para sentir o alívio pairar de vez sobre seus ombros.

– Mal acabamos de chegar. Não é possível que não tenham encontrado nada! – Sakura murmurou com cautela, e incertamente suas palavras beiravam mais uma vez ao desespero. – Tem de haver alguma coisa.

– Ou simplesmente, ele se escondeu muito bem ou não está aqui Haruno. – o ANBU respondeu-se calmamente, quase se permitiu sorrir diante da possibilidade de que a morte não o aguardava afinal. – Não podemos ignorar que recebemos uma pista, mas buscaremos por mais algumas horas. Caso não encontremos nada, daremos a Vila da Cachoeira como revistada e nula de pistas de Uchiha Sasuke.

– Isso não é verdade. Aquele ANBU não nos avisou por uma por algo nulo. – Sakura rebateu ferozmente enquanto avançava na direção do ninja, sem importar-se com o olhar duro que atravessava a máscara de porcelana e a analisava. – Estamos aqui por ordens superiores, e iremos cumpri-las. Só daremos este lugar nulo de pistas quando eu ver que não há o que se procurar; até lá, faça seu trabalho.

– Caso eu recorde, seu lugar neste esquadrão é apenas de médica-nin. Eu sou o líder. – o ANBU retrucou friamente enquanto analisava a expressão contida e a fúria e insatisfação transbordando nitidamente dos olhos de Sakura. – E um bom shinobi acata ordens e sabe quando suas emoções comprometem a missão. Portanto... Iremos procurar, mas por uma hora ou duas. Depois disso, Uchiha Sasuke não esteve neste lugar.

_____そんざい_____

Duas horas arrastaram-se. Cento e vinte minutos exatos de alívio ilusório e de respostas negativas a respeito de alguma pista ou do paradeiro de Sasuke. Poucas palavras foram trocadas nesse intervalo receoso duma ânsia para sair dali o mais rápido possível. Os rostos ocultos pelas máscaras, que outrora ostentavam respeito e honra, escondiam sorrisos imperceptíveis e preces de agradecimento.

O oscilar lento das folhas que ainda estavam fixas aos galhos mórbidos das poucas árvores que se mantinham desdenhosamente erguidas capturara a atenção dos mais aliviados por um instante ou dois. O misto de vitória e derrota exalava pesarosamente no ar.

Bastaria um comando oficial, e logo a Vila da Cachoeira estaria fadada ao esquecimento mais uma vez. Seria necessário apenas mais um sorriso aliviado para que todos pudessem confirmar que a missão ali fora um fracasso.

Entretanto todos estavam atolados demais em seus próprios devaneios sobre o retorno ao lugar mais seguro que encontrassem no caminho que mal se davam ao trabalho de detectar o chakra mal oculto a poucos metros de onde estavam.

Um par de Sharingan os espreitava com ódio e com indiferença. Embora seu chakra estive num nível absurdamente menor do que o dos demais, ainda lhe restaria o suficiente para um golpe único e mortal. O suficiente para um massacre.

– Está entardecendo, e não obtivemos pista alguma. Portanto eu... – o líder do esquadrão começou a falar enquanto capturava o anseio de todos e dava-lhes em retorno a oca esperança de que retornariam. – Espere um pouco. Está faltando um.

– Desculpe chefe! Eu quase perdi o pergaminho... Mas prossiga. – desengonçadamente o shinobi surgiu detrás de duas árvores caídas, enquanto exibia o objeto em mãos. Caminhou lentamente até o pequeno círculo que se formava.

– De qualquer maneira, fizemos o que nos foi dito. Entretanto, não encontramos pistas de Uchiha Sasuke ou provas de que alguém esteve aqui recentemente. A única coisa que podemos afirmar é que seu paradeiro continua... – abruptamente a voz do shinobi fora sufocada. A kunai atravessada em sua garganta o fazia engasgar em seu sangue e com o ar.

A lâmina afiada e suja da kunai parecia brilhar. A passos trôpegos, Sakura correu na direção do homem e logo a luz esverdeada emanava de sua mão esquerda, enquanto com a direita, segurava da melhor maneira possível a cabeça do ANBU. Sabia que era tarde demais. E sabia que ele fora apenas o primeiro alvo.

Todos se puseram em posição de defesa. Kunais e katanas foram empunhadas com destreza, enquanto seus olhos tentavam capturar o inimigo. Um semicírculo fora formado ao redor de Sakura, no intuito de mantê-la segura em sua inútil tentava de impedir a hemorragia do ANBU.

Os pergaminhos de selamento estavam nas mãos de alguns, enquanto atentamente ouviam os ruídos mínimos e tentavam detectar o chakra minúsculo de Sasuke. O Sharingan contemplava com estratégia os shinobis a sua frente. Silenciosamente embainhou sua katana enquanto se movia entre as copas caídas das árvores e avançava precisamente.

As distrações vieram; partiram da mente de alguns e dos barulhos mais intensivos que o Uchiha criara sem pudor. Galhos eram derrubados e logo uma kunai fora lançada e cravada na garganta de mais um. Mais um corpo cedera e logo a tensão aumentava. Detrás de uma árvore, Sasuke analisava sua bolsa de kunais. Tinha apenas mais duas kunais e uma bomba de fumaça.

Saltou com destreza até o alto de uma árvore e atirou as kunais de uma vez. Ambas foram repelidas por outras kunais; Sasuke desviou-se delas com silêncio e calma. Lançou a bomba de fumaça, causando o efeito desejado: confusão. Saltou com precisão até o semicírculo de shinobis e empunhou sua katana.

A lâmina parecia implorar por sangue. Sua própria alma parecia pedir para punir aqueles que ousavam ostentar o título shinobi. Fitou cada um rapidamente antes de finalmente concentrar-se e sentir a quentura do sangue escorrendo por seu rosto.

– Mangekyou Sharingan!

Por impulso ou por reflexo, o horror consumiu suas mentes. Antes mesmo de o Sharingan devorar-lhes a alma, seus corpos tremiam e em seus olhos arregalados havia apenas o temor verídico de que haviam caminhado para um massacre enfim. Haviam sorrido levianamente perto do nukenin que perseguiam sem razão. E lentamente, instigavam seu próprio final.

Vagarosamente Sasuke encarou o grupo aterrorizado de shinobis. Dois tentaram usar os pergaminhos de selamento, entretanto sua última opção caíra por terra e logo gritos eram arrancados de seus pulmões. Desdenhosamente, virou-se e encarou quem os demais tentavam proteger.

Enxergou decepção nos olhos esverdeados. Remorso e conformismo transbordaram dos olhos de Sakura enquanto obtinha a atenção de Sasuke. Negava-se a acreditar que estava diante daquele que tanto procurara e que lhe sentenciaria o mesmo final que havia julgado aos demais.

– Bem, Sakura... Você disse que se eu partisse de Konoha, seria o mesmo que você estivesse sozinha no mundo. – Sasuke dirigiu-lhe as palavras com um sorriso lascivo nos lábios. Suas palavras eram carregadas de indiferença e repugna pessoal. – Acho que seus pais se foram na Guerra e alguns amigos seus...

Sasuke ignorou os gritos que rompiam as gargantas de todos os demais, exceto de Sakura. Lentamente, aproximou-se dela mantendo sua katana próxima ao corpo. Abaixou-se e ficou na altura dela, levantou a katana e a cravou no corpo morto do ANBU. Rasgou-lhe a carne sem tirar os olhos do rosto da Haruno.

– Sozinha no mundo? Acho que ainda não. – o Uchiha murmurou sem emoção. – Vamos deixar isso um pouco mais... literal.

_____そんざい_____

Violência e diversão eram uma palavra só.

Sangue derramado equivalia a uma dose de incentivos torpes e inúteis. Fraturas equivaliam a mais uma rodada. E quem caísse primeiro apanharia até erguer-se e cair de novo. Era assim que uma briga funcionava nas ruínas. Aquela distração meramente sem sentido os fazia esquecer que eram rótulos. Numa briga, eram homens provando sua resistência física; não passavam de homens imundos brigando por um prato de comida.

Nada os tornavam diferentes de senhores feudais. Ambos os lados eram gananciosos e corrompidos por um agrado. E ambos queriam mostrar ao mundo o quão difíceis de tocar podiam ser.

Mais um soco. Mais um chute. Mais um golpe calculado às pressas, e a briga continuava sem intervenção. Gritos enfurecidos eram soltos pelos dois que brigavam. Sorrisos tortos eram lançados sem pudor pela multidão como incentivo àquela briga.

– Acabe com o Jinchuuriki! Vamos!

O rapaz alto e extremamente musculoso desferiu mais um soco desengonçado como forma de resposta aos comentários dos curiosos. Um grito de dor rompeu a garganta de Naruto quando sentiu sua costela ser acertada com força em seguida. Mais gritos animados vieram como resposta a seu próprio grito.

A Kyuubi rugia em seu interior e ordenava que Naruto revidasse. Entretanto, o Uzumaki permanecia curvado, abraçando a lateral do próprio corpo. Tossia com força e sentia o gosto metálico de sangue no céu da boca. Trincou a mandíbula mais uma vez quando fora acertado no rosto. Em seguida, recebeu em silêncio mais dois socos no lado esquerdo do rosto.

Reaja! Ou eu o faço! – a Kyuubi rugiu sem paciência em seu interior. A ferocidade em sua voz o alertava que ela não estaria blefando. – Eu irei matá-los se não fizer alguma coisa além de apanhar como um ladrão. Se não quiser que uma chacina comece, então faça alguma coisa!

– Não! – Naruto bradou em resposta. Outro grito rompeu sua garganta; desta vez era raivoso e extremamente feroz. A Kyuubi se pronunciava e com dificuldade seu chakra começava a moldar o corpo de Naruto. – Não!

– Continue garoto... Quero ver se esse seu poder serve pra alguma coisa. – o rapaz incentivou enquanto desferia um chute no rosto de Naruto. Observou-o curvar-se no chão e gritar. – Ouvi dizer que é possível pegar o chakra da Kyuubi. Vamos ver se é verdade.

Com quem você quer que eu comece? – sombriamente a Kyuubi questionou enquanto seu chakra formava três caudas. – Acho que vou começar com esse idiota e depois com os que estão por perto... Os guardas podem ser os próximos. Ou melhor, ainda: os filhos deles que estão isolados no calabouço.

Mais um grito rompeu a garganta de Naruto e logo ele levantou. Os risos vieram e ressoaram distantes enquanto o Uzumaki sentia o poder da Kyuubi regredir lentamente. Avançou com velocidade na direção do rapaz e desferiu três socos e uma sequência perfeita de chutes. Ouviu os gritos de incentivo dos presos em resposta a sua reação.

O rapaz tropeçava para trás conforme recebia os golpes e logo cambaleou para trás tentando manter o equilíbrio. Naruto saltou e lhe deu uma joelhada certeira no queixo, girou o corpo e chutou-o mais uma vez, na altura do peito e por fim subiu nos ombros do rapaz e o forçou a tombar.

Os gritos animados foram trocados pelo silêncio. Naruto os fitou enquanto o Uzumaki limpava o filete de sangue que escorria no canto de sua boca. Virou-se e andou para longe dos olhares surpresos e dos murmúrios sobre a briga. Entretanto era naquilo que havia aceitado tornar-se. Um mero ladrão, um homem brigando por uma dignidade que simplesmente não tinha valor dentro das ruínas daquele lugar.

– Então é verdade o que disseram? A briga do Jinchuuriki vai iniciar um motim? – a pergunta surpresa de um dos mercenários que ali estavam fez Naruto encará-lo por alguns instantes antes de prosseguir com seus passos a lugar algum. – Ouvi dizer que será na mesma noite em que o Jinchuuriki brigar.

– Espero que sim. Para alguma coisa ele tem de servir! – outro mercenário murmurou em resposta, e logo vieram os gritos de exaltação e de comemoração à briga.

Todos fitavam o Jinchuuriki com ansiedade. Fitavam o redemoinho avermelhado em sua jaqueta com certa admiração pelo feito. O cheiro de liberdade seguia seus passos e sobre ele pairava a possibilidade de ser honrado com a gratidão de seres humanos da pior natureza.

– Ei! Jinchuuriki! Boa briga! – um homem disse enquanto era acompanhado por mais gritos e berros animados. Naruto virou-se e o encarou. Um sorriso desdenhoso surgiu no rosto do homem, e por uma fração de segundos Naruto quis acreditar que aquele homem era incomum demais. Algo nele assemelhava-se a traição e a loucura. – Boa briga...

_____そんざい_____

Meia-noite.

Silenciosamente, o vulto movia-se nas sombras e torcia agilmente os pescoços dos guardas mais atentos. Sem aviso prévio, um sorriso satisfeito nascia em seu rosto a cada corpo que jazia no solo inerte. Uma canção qualquer era cantarolada num ritmo descoordenado e continuava a cada golpe executado com perfeição.

Suas vestes eram agitadas pelo vento gélido e cortante que a meia-noite oferecia. Os cabelos curtos eram movidos de um lado para o outro conforme se movimentava. Não demorou muito, e logo havia pouquíssimos guardas. Sorriu amplamente com o pensamento de aniquilá-los por fim.

– Mas que tipo de herói eu seria se acabasse com tudo de uma vez? Não teria graça. Eles merecem acabar com alguns também... – concluiu em voz alta enquanto se dirigia às celas com pressa. – Como é chato ser eu.

– Uzumaki! Pare agora! – ouviu o grito de um dos guardas; ainda estava no pátio. Virou-se lentamente e encarou o guarda. – Erga as mãos imediatamente! – obedeceu em silêncio a ordem dada enquanto seu sorriso crescia. – Ande, para sua cela!

– Acontece que eu... não sou o Uzumaki... – o sorriso em seu rosto aumentou ainda mais enquanto revelava seu rosto verdadeiro. – Mas você não precisava saber disso. 

O grito seguinte sucedera mais outros. Incontroláveis e animados, os presos eram libertos, cela por cela; uns se atreviam a ajudar outros. Calmamente a figura do Uzumaki atravessava os corredores carregados de detentos, soltava-os e ouvia seus gritos ansiosos pela liberdade em agradecimento. Esperou que o alvoroço diminuísse no corredor e prosseguiu, alcançando a cela do antigo Kazekage e do verdadeiro Jinchuuriki.

Tomou uma forma qualquer e correu até a cela do Jinchuuriki primeiro e o soltou. Naruto murmurava palavras desconexas; presumiu que estava discutindo com a Kyuubi. Aproveitou tal momento e o arrastou para fora com cautela. Em seguida assumiu a forma do Jinchuuriki e aproximou-se da cela do Kazekage.

Soltou-o enquanto respondia suas perguntas com cautela. Instruiu-o a esperar do lado de fora, assim como os demais. Aguardou pacientemente, cantarolando a mesma canção de antes que o ruivo abandonasse o lugar. Tomou uma forma qualquer mais uma vez e despertou a atenção de Naruto.

– Jinchuuriki! Ande, está acontecendo... Você tem que liderar! – sua voz quase desesperada soava perfeitamente convincente. – Ande, levante! – puxou Naruto pelo braço, forçando-o a levantar e atravessar o corredor até a saída.

– Liderar o que? Do que você está falando? – Naruto perguntou confuso enquanto punha-se a acompanhar o ritmo dos passos apressados do homem que o guiava. – Ei! Responda-me! Do que é que você está falando?

Entretanto, como resposta, o homem aumentara o ritmo dos passos, iniciando uma corrida até a saída. Assim que a alcançaram, a violência e a diversão novamente se tornaram um só diante dos olhos de Naruto. Guardas e detentos lutavam uns contra os outros, não por dignidade, mas por liberdade. Muitos sucumbiam em segundos, outros em minutos.

– Mas o que...? – o murmúrio confuso de Naruto fora abafado pelos gritos de dor e de diversão.

– Motim! Motim! – o homem ao seu lado gritou. – Nosso líder está aqui! Matem todos! Matem pela liberdade! – o homem bradou, inspirando ainda mais os detentos, enquanto erguia o braço de Naruto como se ele fosse o campeão de algo. – Pela liberdade!

Não fora necessário dizer mais nada. Já estava feito. O vermelho estava impregnado no solo e os que ainda resistiam clamavam por reforços que já estavam aniquilados. Gritos de vitória e exaltação vieram em seguida, enquanto as brigas continuavam paralelas à quantidade de corpos espalhados pelo chão.

Num segundo de excitação pela violência em sua mais crua natureza, o rosto do homem distorceu-se. Adquiriu uma forma mais conhecida; esbranquiçada e alucinadamente familiar. Lentamente, seu corpo aderiu à matéria-prima do solo, enquanto fundia-se com perfeição e seu sorriso ampliava-se.

Cantarolava a mesma canção sombriamente enquanto por fim revelava-se sem ser notado. Zetsu finalmente desaparecera enquanto Naruto era aclamado como o líder do motim e responsável pelo preço pago pela liberdade. Preço que todos pagaram com um sorriso no rosto e entoando secretamente uma canção.


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Notas finais do capítulo

Yo!
Quase dois mil anos depois... Acá estou! Mas enfim... Desculpem pela demora (imensa) e se o capítulo não ficou muito bom. Acabei me enrolando em algumas coisas e fiquei sem imaginação por uns tempos, mas depois de mil anos (de demora), capítulo novo. ^-^
Sobre o capítulo em si, eu quis focá-lo mais em SasuSaku, mas isso não quer dizer que eles vão ficar juntos antes de NaruHina. Como eu disse, é bem possível (quase 85% de chances) que NaruHina ocorra primeiro. Alguns pontos vão ser mais esclarecidos sobre a Guerra, e creio que no próximo, mais explicações e acontecimentos importantes. ^-^
E para quem leu o mangá recentemente, e viu que a bipolaridade do Sasuke ainda o salva em alguns pontos e que Kishimoto (apesar dos fillers e das filhasdasputagens consegue ser mestre em trolls e outros) ainda vai nos surpreender mais. Espero que o Sasuke fique definitivamente do lado de Konoha (de onde nunca devia ter saído) e que a luta entre Minato e Naruto não seja tão sacana.
Mas retornando...
Espero que tenham gostado desse capítulo e que se houve algum erro, ou algo que não foi explicado direito, avisem-me por favor. E eu sei que a demora desse capítulo foi enorme, mas vou me esforçar para evitar esse tipo de acontecimento.
Por enquanto é mais isso mesmo.
Até o próximo!
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