Sonzai escrita por MsRachel22


Capítulo 5
We Used to be Humans




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"Agora que estamos perto da verdade e perto de encontrar a verdade... Podemos cair"

We Might Fall

_____そんざい_____

Konoha. Novamente, deserta e quase morta. Não havia risos de crianças, não havia nem mesmo crianças desafiando ordens adultas. Havia o mórbido e pacífico silêncio, calando as reclamações e silenciando qualquer e possível pergunta sobre o que estava acontecendo com a Vila.

Porém Sakura mergulhava-se no desespero. Afundava cada vez mais no vazio que lhe consumia a sanidade a cada dia. Há muito se perdera em suas próprias questões, com medo das respostas. Na verdade, com medo dos fatos.

Afinal o que era o desespero? O que aquela palavra continha?

Não havia uma resposta certa. Nem incerta. Havia apenas o medo de enfrentar o significado de tal palavra.

Pois talvez o desespero significasse mais dor presa num ciclo infindo de caos e de mais dor. Uma anestesia que não passava, injetada em seu corpo todas as vezes que o vazio lhe abatia. O vazio que acompanhava os batimentos de seu coração, e que ainda destroçava seus sorrisos e os transformava em lágrimas e promessas ocas.

Aquele era o seu tipo de desespero. Aquele era um tipo único e arrasador de solidão e fardo que lhe pesava nos ombros diariamente e que lhe sugava as esperanças. Apesar de continuar andando sem rumo pelas ruas de terra, seus olhos prendiam-se em suas memórias. Seus pés pareciam querer lhe guiar para um passado não tão sôfrego. E sua mente enganava seu coração por um momento ou dois, apenas para ela crer por poucos instantes que ainda havia algo além duma condenação ao fracasso.

Porque naquele ponto mentiras eram mais afáveis e sorridentes do que a verdade. Era mais simples usá-las do que dispensá-las.

Talvez por impulso ou puro costume, ali ela estava, parada em frente ao que sobrara do hospital. Seus olhos prenderam-se no amontoado de pedras, procuraram os riscos que outrora formavam o símbolo hospitalar que se exibia no alto do prédio. Lentamente encontrava pedaços da placa do hospital, restos de itens hospitalares, roupas com sangue velho e amareladas.

Nada daquilo era parte de sua realidade. Era apenas mais um resultado da batalha contra Pain, restos de um tempo onde lágrimas eram convertidas em sangue e onde o temor do desconhecido assombrou-lhes do dia para a noite, gerando mais do que apenas medo e receio do amanhã. Ainda havia resquícios duma era gloriosa e destruída pelo mesmo fundamento que havia instaurado a existência dos shinobis.

Justiça.

Aquela simples palavra trazia sentidos tortuosos, motivos deturpados e de lógicas incompreensíveis, atoladas em sentimentos recíprocos sobre o que era afinal a justiça. Sakura ergueu os olhos para a montanha dos Hokages.

O que poderia ser a justiça? Qual era o senso de justiça que havia comandado Konoha, sua vida e a de tantos outros ao longo dos anos?

Havia apenas um tipo de justiça. E ela exigia sangue, de um lado ou de outro para então ser aclamada como justiça. Chegava a ser quase irônico. Vingança soava do mesmo modo. Uma justiça oca e satisfatória, através do derramamento de sangue. Logo o impasse administrava sua cabeça.

Konoha fora liderada pelo senso de justiça ou apenas pela sede de vingança?

Logo os nomes encaixavam-se. Clãs ergueram-se através de seus conceitos de justiça e paz, e países entraram em atrito por conta de suas diferenças, por apenas um modo torpe ou correto de enxergar aonde a paz poderia ser encontrada. A justiça lhe soava como vingança sedenta. E a vingança lhe soava como uma justiça podre. E a paz encontrava-se extinta. Pois não haveria paz enquanto ambos os conceitos preenchessem as lacunas de preservação e de mero conforto ao ego ferido, e enquanto ambas continuassem mescladas e unidas, mas ao mesmo tempo, paralelas e próximas demais à realidade.

– Sakura... Há quanto tempo, não? – a voz abafada e quase sem vida de Ino despertou a atenção de Sakura. Virou a cabeça e girou um pouco o corpo a fim de encontrar a Yamanaka. Logo a avistou e andou em sua direção. – Você simplesmente desapareceu e então... Estive ocupada com algumas coisas do clã.

– Eu estive ocupada também. Desculpe Ino. – murmurou automaticamente, como se estivesse ensaiando tais palavras há anos. Havia apenas o vazio transbordando em suas palavras e a mentira se instalando no sorriso fraco que esboçara; como se aquilo fosse um sinal de que o mundo estava bem.

– Eu... Ouvi sobre o que aconteceu em... – as palavras esgotaram-se na língua de Ino. Encarou Sakura em silêncio. – Sinto muito. Eu honestamente sinto muito pelo o que ocorreu. Eu tentei conversar com o Hokage, mas ele... Não sei dizer se ele não ouviu ou se não quis ouvir. Desculpe.

– Nós todos sabíamos que isso ia acontecer, Ino. Você... Não se desculpe. Não há o que desculpar aqui. – as palavras soaram mecânicas, ideais para encerrar o assunto, evitar que sentimentos, palavras de consolo e tolas desculpas viessem à tona. Porém logo os suspiros fartos escaparam pelos lábios da aluna da falecida Hokage. – Eu pensei que pudesse evitar isso.

– Todos nós pensamos isso. – a mentira brotara claramente nas palavras de Ino e na sua tentativa de soar como se palavras pudessem alterar aquele medíocre mundo.

– Como chegamos nesse ponto? – Sakura questionou enquanto arrastava os pés para longe dali. Ouviu os passos atrás de si. E logo, eles acompanharam o ritmo de sua caminhada.

Aquela pergunta soava como uma brecha para mais decepções, para negações passadas e um caminho direto para questões que eram silenciadas por ordens superiores. Porém era inquietante demais. Perigosa demais. Continha sentimentos que deveriam ser privados a qualquer um que carregasse o título shinobi; mas há muito tal título exalava apenas a silêncio e traição.

– Eu só não entendo Sakura. Aonde você quer chegar exatamente? – a loira questionou, como se o desentendimento realmente tivesse abatido-lhe a compreensão naquele momento. Segurou o braço de Sakura, fazendo-a parar de andar e livrar-se de leve aperto em torno de sua pele rapidamente.

– Não se faça de estúpida, Ino. Você sabe do que estou falando. – a voz de Sakura soava feroz, farta e principalmente ressentida. – Como pudemos permitir que tudo chegasse num ponto como esse? Naruto não é um assassino, ele não é o vilão da história. Então como pudemos permitir que ele levasse a culpa?

– Sakura, de qualquer modo, iriam culpá-lo e prendê-lo. Se a Guerra tivesse... – Ino tentou argumentar, não apenas contra as palavras de Sakura, mas contra suas incertezas e sua consciência.

– Se a Guerra tivesse tido um final diferente... Isso teria alterado que todos nós tivemos nossa parcela de culpa? – Sakura questionou. – O Naruto não foi o único culpado nesse resultado. Só porque ele carrega a Kyuubi, isso não faz dele o pior de nós.

– Eu entendo Sakura. Pode até ter sido injusto, mas... É assim que as coisas têm que funcionar. O sistema shinobi funciona desse modo há anos. – Ino ponderou com a voz suave, cautelosa como sussurrava as palavras. – Eu sei que é um absurdo, mas não há nada que possamos fazer. E você foi o que restou da Tsunade. Agora você é uma Sannin, Sakura. Naruto e Sasuke... Eles são traidores. Infelizmente, as coisas precisam ser assim.

– E deveriam? – aquelas duas palavras soaram chorosas, lamentáveis e irritadas. – Responda-me Ino. As coisas deveriam ser assim?

O silêncio atormentava a Yamanaka. Sua mente divagava as palavras de Sakura, o modo como tais verdades não pareciam justificar os meios e finais soava perigosamente perturbador. Porém agora o nome de seu clã clamava por seu senso cego de justiça e ordem, e não por seus instintos instáveis e por seus sentimentos feridos durante a Guerra.

– Apenas não seja considerada uma traidora, Sakura... É só o que lhe peço. – Ino murmurou, enquanto arrastava seus pés na direção contrária. – E, antes que eu me esqueça. – a loira interrompeu seu trajeto e virou-se, encarando Sakura. – Nós todos temos nossa culpa na Guerra, mas nós lutamos. Nós tentamos. Eu não tenho arrependimentos pelo o que fiz; apenas me arrependo por não ter sido o suficiente. Você não se arrepende também?

E então o silêncio atormentava a sanidade de Sakura. E logo um sorriso machucado e conformado desenhava o rosto de Ino, pintando seu rosto numa expressão de certa satisfação, falsa e completamente destruída por suas escolhas e pelo o que vivenciara.

Os olhos azulados transbordavam uma dor oculta pelo gosto do arrependimento que jamais cessava. E os olhos esverdeados refletiam o mesmo. Exibiam o mesmo. Havia marcas iguais da Guerra que ainda feriam a alma de ambas, de modo idêntico, porém de profundidade e de intensidade completamente distintos.

Pois eram apenas duas garotas que tiveram de crescer à sombra do medo. Duas rivais que haviam afundado em suas próprias tristezas e decepções. Era apenas um laço de amizade afetado pelas perdas, por suas próprias dores, seus medos e um gasto laço de amizade que desfalecia, fio a fio, dia após dia.

Não, aquelas duas pessoas ali não lembravam duas garotas que discutiam por um garoto. Nada nelas representava duas meninas que trocavam apelidos ofensivos. Era apenas uma máscara de uma amizade distante e cada vez mais afetada pelo mundo shinobi. Aquelas duas pessoas eram apenas Yamanaka Ino, a líder de seu Clã e líder do Sistema de Inteligência e Tortura de Konoha; e Haruno Sakura, atual Sannin e a única integrante do que sobrara do Time Sete.

– Acho que eu já sei a resposta. – Ino murmurou antes de sorrir falhamente mais uma vez, girar os calcanhares e ir embora.

Sim, eu me arrependo. Aquelas palavras estavam entaladas na garganta de Sakura e queimavam em sua língua. Suas conclusões e frustrações serpenteavam em sua sanidade, remetiam pensamentos de tempos de batalha e de sangue. Desviou os olhos para suas mãos. O fracasso pingava por seus dedos enquanto a culpa aconchegava-se nos seus ombros.

Como havia chegado naquele ponto? Talvez no exato momento em que se deu por vencida, adotou o resultado da guerra como um “basta” para prosseguir com sua vida, sabendo quem levaria a culpa no final.

Como havia ousado permitir que a culpa caísse sobre Naruto? Talvez pelo péssimo costume que tinha de permitir que ele assumisse a responsabilidade, talvez pela mania imbecil e errada de deixar que ele assumisse os riscos de uma luta, mesmo sabendo que não teria forças para sustentá-la.

No que Sakura havia se tornado?

Numa traidora. Não de sua vila, de seus preceitos, conceitos, sonhos ou responsabilidades. Mas havia traído Naruto no instante em que o deixara assumir a culpa, no momento em que havia inventado motivos para fazê-lo perseguir Sasuke, sem nem ao menos saber por onde andava. E principalmente, havia vendido seus valores por um pouco de paz, por um momento sem pessoas sangrando e à beira da morte. Simplesmente, Haruno Sakura havia trocado sua parcela de culpa por um título e jogado suas frustrações para Naruto carregar enquanto a imagem da Kyuubi tornava-se a sombra dele.

– Sinto muito, Ino... Eu já me tornei uma traidora há tempos. – admitiu baixo. Sentia as palavras lhe cortarem a garganta e o desespero alimentando-se de sua alma. As lágrimas caíram tão traiçoeiras quanto no que ela havia se tornado.

Uns diriam que fora instinto de sobrevivência. Outros afirmariam que, numa situação como aquela, deixar que Naruto fosse o culpado era o mais lógico a se fazer. Mas havia a clara controvérsia: Uzumaki Naruto não era o pior humano de todos. Nem mesmo um monstro. Ele era apenas o mais humano de todos. E perante tal fato, Sakura condenava-se por auxiliar indiscretamente com a imagem fixada no Uzumaki.

As coisas deveriam funcionar daquele jeito. Seria mais fácil. Mais simples. O mundo shinobi deveria triunfar, guiado pela justiça e apaziguado pela ordem e pela decência. E ali não havia espaço para traidores. Não havia espaço para monstros. Havia espaço para heróis mentirosos, inocentes injustiçados e para sobreviventes do caos.

As coisas tinham de funcionar assim... Certo?

A Haruno não soube responder. Não queria responder. Queria apenas crer que sua traição não era verdadeira, queria acreditar cega e plenamente que sua culpa estava intacta, em seus braços e em sua respiração. Porém não era a culpa pela Guerra que estava ali. Era a opressiva culpa pelo resultado da Guerra para Naruto. Pois, dessa vez, a injustiça reinava em Konoha. E sua sobrevivência era apenas mais um número do resultado.

_____そんざい_____

Shikaku via-se rodeado de pessoas nobres e de ANBUS, além dos líderes das designações secretas que há anos Konoha acolhia. Respirou fundo enquanto todos o fitavam, a presença de Homura Mitokado e Koharu Utatane deixava a situação tensa e a beira de um colapso caso as palavras erradas viessem à tona.

– Ande logo, Shikaku. Por que convocou esta reunião? – Homura questionou impaciente e severo.

– Convoquei-os porque, aparentemente, Hyuuga Hinata se recusa a oferecer seu clã à disposição de Konoha. Como todos sabem e entendem a força Hyuuga é essencial em diversas áreas e no mecanismo de defesa de nossa Vila. Sem o Byakugan... Simplesmente estamos indefesos. – Shikaku despejava as palavras com cansaço e seriedade. Observava as feições dos demais que variavam desde surpresa até indignação. – Porém, aparentemente, Hyuuga Hinata abandonou a liderança de seu clã e não temos certeza se ela se recusará a ser uma shinobi.

– No que essa menina está pensando? E, além disso, no que você estava pensando quando concedeu a liderança de um clã tão importante e vital como o Hyuuga para uma menina com os hormônios à flor da pele? – Koharu retrucou. Sua voz soava irritadiça e quase arrastada. Ela encarou todos e depois fitou o Hokage. – Talvez, permitir que você se tornasse o Hokage fosse a escolha mais lógica e de urgência a ser tomada, porém questiono-me se suas ações como líder estão à altura do que é o melhor para esta Vila.

– Perdão, Koharu-sama, mas estou fazendo o papel que lhe coube no passado. – Shikaku retrucou rapidamente. – E, além disso, sem um bom líder Hyuuga no comando deste clã, temo por um motim de sua parte ou que eles queiram abandonar Konoha por tempo indeterminado. Quanto a isto, eu não posso fazer nada. É necessária uma ordem expressa do Conselho. Ou seja, de vocês.

– Convoque esta garota imediatamente. – Homura ordenou a um ANBU.

– Temo que não saibamos a localização dela, Homura-sama. Sinto muito. – a resposta soou educada e temerosa, abafada e quase sussurrada atrás da máscara com desenhos vermelhos e azuis.

– Mas que tipo de ninjas nós temos hoje em dia? – Koharu resmungou. – Você é um ANBU. Sua função é cumprir ordens e coletar informações, não me importa quais sejam elas. Saia logo daqui e retorne com essa garota.

Imediatamente o shinobi havia desaparecido e uma leve nuvem de fumaça surgira no mesmo lugar em que ele estivera. Os murmúrios tomaram conta da sala, alteravam-se nos tons de indignação e deboche por parte dos líderes e nobres. Shikaku permaneceu em absoluto silêncio perante os comentários irritadiços e zombeteiros a respeito de sua postura perante a situação.

– Agora, me responda honestamente Hokage. – a voz severa e controlada de um dos nobres silenciou rapidamente o cicio que havia se formado ali. – O que nos levaria a crer que suas ações estão seguindo fielmente o conceito de ordem? Pois, até agora, apenas vi que suas atitudes resultam em problemas e em motins. Diga-me, considera-se um Hokage de verdade, apesar de tudo?

Tão rápido quanto os murmúrios e reclamações haviam se instaurado no recinto, o silêncio e a curiosidade pairavam sobre todos, intensificavam-se nos olhares direcionados ao Sétimo Hokage. Era nítido o interesse de todos na resposta de Shikaku.

O Hokage soltou o ar rapidamente e logo manteve os olhos cerrados. Aquele tipo de pergunta o martirizava há dias, meses. Infindas horas e incontáveis minutos. Soava como um teste no qual ele sempre estaria recluso.

– E então, Hokage... Responda minha pergunta. A menos que esteja com medo de admitir algo. – um sorriso torto desenhou os lábios finos do homem.

– Eu reconheço que não sou o melhor Hokage. Mas antes de assimilar meu nome a qualquer tipo de comentário de má índole ou do gênero, vocês, nobres e líderes têm de reconhecer que minhas ações são geradas de suas vontades, seus medos, seus desejos impetuosos pelo poder e pela ânsia de controle absoluto sobre Konoha e sobre cada shinobi. Eu sou apenas o reflexo das suas ações, sejam elas podres e baixas ou benéficas e heroicas. – Shikaku disse contendo sua fúria, porém despejando seus pensamentos e conclusões de modo feroz e cínico. – Se a Vila está insatisfeita com o Hokage, antes ela está insatisfeita com seus líderes, com seus nobres que nada fazem para defendê-la. Então, não sou o melhor Hokage. Mas este tipo de culpa não me pertence, recai sobre seus ombros e sobre suas responsabilidades, que aparentemente, não têm sido cumpridas fielmente.

– Oras... Quanta petulância, Shikaku. – Homura zombou. – Creio que suas palavras são antecipadas. Porém, ainda assim, recíprocas da verdade de fato. O Hokage não é um reflexo de líderes e nobres, como você tolamente pensa. O Hokage é um símbolo de poder, do mais alto patamar ninja e principalmente, de proteção e de fidelidade à sua Vila e a todos os seus termos e ordens, mesmo que seja o próprio Hokage a contraria-las, o Hokage, ou seja, você... A soberania da Vila permanece como foco principal dos desejos do Hokage. E se você não pode responder a isso, com devida postura e com ações que validem de fato sua capacidade, basta dizer que é o suficiente. E então, outro assumirá o seu lugar.

Logo o silêncio havia se instalado. O gosto de desafio queimava na garganta do Hokage, o cheiro de afronta infectava seus pulmões enquanto seus olhos fixavam-se na figura do conselheiro. Questionava-se se havia razão nas palavras dele ou se era apenas mais um modo de exibir que sua capacidade estava abaixo de um líder nato, como um Hokage.

Outrora, teria apenas ignorado o comentário e dispensado a proposta de Homura. Todavia o fracasso lhe sorria de modo convidativo, a rendição segurava suas mãos e lhe guiavam até a incerteza, que por sua vez, apenas dava-se ao trabalho de implantar-se na sua mente, bagunçar sua racionalidade enquanto novamente, o peso daquele título lhe sobrecarregava os ombros.

E por um instante, desistir tinha sentido. Abandonar seus valores e mascarar seus medos parecia ser simples demais do que apenas encará-los. Pois no fundo, era daquilo que sua posição como Hokage havia se tratado. Ele não era o Sétimo Hokage por ter sido o mais qualificado ou por ser mérito de suas ações na Guerra.

O título de Hokage estava sobre sua cabeça por falta de opção; pois o merecedor de tal honra estava trancafiado por carregar um monstro. E monstros não tinham direito a tal honra. Estavam condenados à desgraça e à sua própria tristeza e lamentações por ser o que eram. E não por ser quem eram.

– Conselheiros... – encarou os dois e depois desviou seu olhar para os demais. – Líderes e nobres... Creio que esta reunião está encerrada, já que suas opiniões prendem-se em minha postura e não nos problemas da Vila.

– Tomamos nossa decisão a respeito da garota Hyuuga, Hokage. Creio que deve nos ouvir, afinal, é sua responsabilidade comunicar as decisões que, como você mesmo disse, nós tomamos por caprichos e pela ânsia de controle. – novamente a voz zombeteira do senhor nobre corroeu o silêncio. – Chegamos à conclusão de que será melhor exilar Hyuuga Hinata do País do Fogo. Suas intenções são claras: ela planeja desestruturar Konoha evitando que seu clã nos sirva. Portanto, ela deverá ser exilada o mais rápido possível. Vejamos se isso diminuirá os motins e os problemas, Hokage.

– É uma sábia decisão. – Koharu disse enquanto um sorriso calmo tomava conta de seu rosto.

– E, apenas por medidas de segurança, caso ela ofereça resistência, tomaremos os Hyuugas da família secundária como exemplo ao ocorrido a Hyuuga Neji. – o homem finalizou.

– Vão simplesmente assassinar um clã por uma única garota? – Shikamaru pronunciou-se pela primeira vez. A inquietação rastejava-se por suas palavras. Mantivera o controle sobre si até aquele instante, afinal seu dever era acompanhar o Hokage e auxiliá-lo.

– Seu pai fez o mesmo. A diferença é que foram alguns mais e Hyuuga Neji. – o nobre tornou a dizer, sentindo o impacto daquelas palavras tornando-se a mais concreta verdade. – Por que deveríamos agir diferente do conceito de negociação do Hokage? Afinal, ele é o Hokage. Tomamos por exemplo suas ações. E o mesmo se aplicará ao clã Hyuuga caso sua líder se oponha às nossas ordens. Digo, às ordens da Vila.

– Preferem massacrar o clã, assim como fizeram com os Uchihas apenas para evitar um motim? – Shikamaru despejou acidamente as palavras, notando o desconforto que tomava conta dos demais ali. – Creio que Danzou ficaria contente com tal ação, caso ele estivesse vivo.

– Danzou foi morto por imprudência. Quem diria que ele enfrentaria um nukenin como Uchiha Sasuke? – Homura disse. – Isto não se aplica ao resto de nós. Nossas ações são pensadas com cautela, a fim de adquirir o melhor para Konoha. Não importando os meios e custos, Konoha triunfará.

– Assim como triunfa agora? Sem força militar suficiente apenas para uma vigília sobre a Vila, sem qualquer tipo de defesa ou sem ninjas suficientes apenas para concluir uma missão rank C, soa como um triunfo? – Shikamaru questionou rapidamente, enquanto sua voz elevava-se a cada instante. – Vocês podem querer massacrar mais um clã, mas isso não lhes garante impunidade e segurança. Não se esqueçam de que Uchiha Sasuke ainda está em algum lugar, e ele ainda quer vingança. O único que está no nível dele, está preso. Haruno Sakura é uma das poucas médicas nin eficientes. Nossos melhores ninjas faleceram pelas mãos de Obito e Madara, além dos shinobis que voltaram à vida e que possuíam extrema força. Quem nos garante que massacrando nossa última linha de defesa eficiente, isso nos trará paz? Konoha está fraca demais para mais um golpe de estado. Exilem Hinata, mas sem derramamento de sangue. Ou façam o que acham que é o melhor para Konoha, e desencadeiem um motim pior ainda e quem sabe, uma guerra civil.

– E então, Hokage? Qual é sua decisão? – Koharu questionou impaciente e inquieta pelas palavras de Shikamaru.

– Que seja feito o melhor para Konoha. – Shikaku murmurou quase automaticamente, levantou-se e retirou-se dali.

Não ousou olhar para seu filho. Não ousou encarar o Conselho. Sabia que a decepção estava exalando dos olhos de seu primogênito e que escorregava de sua alma também. Respirou fundo, como se o ar pudesse simplesmente borrar o desapontamento que queimava sua carne e que lhe deixava mais indigno ao cargo de Hokage. Um cargo que não lhe pertencia, mas que esfolava sua sanidade dia após dia. Pois jamais ele seria capaz de ostentar tamanha honra, porque a sua própria honra havia sido destroçada no exato segundo em que se permitira assistir Tsunade falecer pela sua ânsia do controle.

Não, não eram os líderes ou os conselheiros e nobres do País do Fogo que haviam infectado Konoha com suas decisões torpes e egoístas, condenando a Vila e seus shinobis a um futuro infeliz e destruído. Havia sido ele a tomar tais decisões, a executar tantos julgamentos.

Era a sua ânsia pelo controle. E era a sua incapacidade de ser digno que haviam transformado Konoha no que era. Shikaku ditava as mesmas palavras do Conselho. Seu ego baseava-se no que seria melhor para Konoha. Não importando os meios. Não importando os fins e principalmente, os preços e custos.

_____そんざい_____

– Garoto estúpido! – novamente a Kyuubi bramia em seu interior. Naruto abriu os olhos e novamente, ali ele estava. Frente a frente com o Bijuu que carregava. O espaço amplo e úmido lhe soava como vagas lembranças, palavras de cólera que eram despejadas sem pudor pela Kyuubi e ordens raivosas por mais poder, por mais chakra.

– Pensei que você estivesse com raiva de mim. – Naruto retrucou em tom baixo. – Nunca pensei que faria isso de novo.

– Caso você não tenha percebido, seu imbecil, se você está preso num lugar, ainda mais com selos que impedem que você manipule chakra, não chegou à óbvia conclusão de que eu também sofro os danos? – a voz feroz e irritadiça da Kyuubi soou imperativa e sombria.

– Sinto muito por isso, Kyuubi. Parece que não há nada que eu possa fazer, não é? – respondeu automaticamente, quase sem ação ou reação perante a fúria da Kyuubi que exalava naquele lugar.

– Pare de se fazer de coitado, Naruto. Este papel está me irritando. E depois de tudo o que eu fiz por você naquela Guerra miserável, eu não mereço terminar desse jeito garoto! – a Kyuubi rugiu em seguida, enquanto os nervos de suas patas eriçavam-se sob seus pelos. – Por que pensa que agir como o grande culpado vai salvá-lo do mundo? Você costumava ser melhor, criança...

– Eu não quero ser nada. Só quero cumprir as consequências das minhas ações, como qualquer pessoa tem de fazer, e além do mais, eu quero estar aqui. – Naruto retrucou. – Por favor, eu não preciso mais falar com você sobre nada, Kyuubi. E lamento por você estar trancafiado aqui.

– Você não é qualquer pessoa, seu idiota. E jamais vai ser. Você me carrega. Você tem o meu chakra e tem o sangue do Yondaime correndo nas suas veias. Então não tente se passar como qualquer ser humano inútil e fraco, Naruto. – a voz irritada da Kyuubi parecia ser capaz de criar uma nova pressão no ar. – Ou será que matei seus pais por nada? Será que o sacrifício deles valeu de algo?

– Eu só... – Naruto balbuciou. Não, não deveria estar lembrando-se deles daquele modo, ainda mais preso no seu interior, sentindo a fúria e a inquietação da Kyuubi agitar-lhe a calma. – Eu não estou à altura de nenhum tipo de sacrifício. Não mais. Então talvez... Do que adiantou eles terem se sacrificado por mim se não posso corresponder à todas as expectativas que eles criaram sobre mim? Do que adiantou a morte deles se no final, eu nunca vou ser visto como Uzumaki Naruto e sim como o Jinchuuriki?

Lentamente a Kyuubi aproximava sua cabeça de Naruto. As orelhas estavam viradas para trás, enquanto os riscos negros em seu pelo destacavam-se mais. O brilho vermelho em seus olhos era mais feroz, mais perigoso e ameaçador. Os dentes e a mandíbula trincaram-se, enquanto o tremor escalava seu corpo. Logo, um sorriso raivoso exibia os dentes da Kyuubi enquanto o ar saia com velocidade de suas narinas e tocava o rosto de Naruto.

– Sua fraqueza me enoja. – a Kyuubi citou lentamente. – Você me envergonha. Tenho vergonha de estar aprisionado a um ser humano tão fraco e débil quanto você, e isto me deixa com vontade de estraçalhá-lo agora mesmo. Você não é merecedor do sacrifício de seus pais. Seria melhor que você estivesse morto, assim eu não teria de estar preso num garoto tão fraco como você é. É humilhante saber que você respira graças a mim.

Logo o silêncio veio e a Kyuubi se distanciava. E Naruto ficou submerso em suas próprias questões e nas lágrimas que rolavam por sua face diante das palavras da Kyuubi. Pois de algum modo, elas representavam um tipo de verdade que ele havia construído e descartado, mas que agora lhe aterrorizava de modo inumano; porque o receio de não estar à altura do sacrifício de seus pais lhe assustava.

E contra tal medo, Naruto apenas ficava em silêncio, aguardando que as lágrimas espantassem o medo de ser menos humano do que ele esperava. De ser menos do que ele um dia fora.


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Notas finais do capítulo

Yo!
Mais um capítulo, desculpem pela demora na postagem, mas espero que tenham gostado do capítulo. Qualquer erro, por favor, avisem-me.
Bem, tentei não deixar esse capítulo tão triste, e logo algumas partes NaruHina serão desenvolvidas. ^-^ Não serão muitas, e não sei se elas terão o foco da estória por enquanto, mas alguns trechos e alguns pontos entre ambos vão ser desenvolvidos.
E, bem, não sei exatamente quando, mas alguns momentos SasuSaku irão acontecer. Até lá, algumas coisas sobre os demais personagens serão esclarecidos enquanto a fanfic vai sendo atualizada. Hã... Espero que tenham gostado da música.
Por enquanto, é mais isso mesmo. Qualquer dúvida sobre o capítulo, enviem. E espero que o tamanho também tenha ficado bom. ^-^
Como sempre: dúvidas, sugestões, críticas, reviews & afins são bem-vindos.
Até o próximo!
o/