Sonzai escrita por MsRachel22


Capítulo 12
The Rise of an Empire




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"Eu percebi a dor gritante bem no alto do meu cérebro. Mas estou indo em frente com essa cicatriz"

SIGN

_____そんざい_____

Compaixão jamais fizera parte de sua existência; embora fosse um monstro, eram poucos os sentimentos que lhe agitavam. As grades vermelhas a sua frente lhe remetiam raiva dos humanos e principalmente uma vida de submissão. Liberdade não era parte da sua rotina há tempos.

Parte disso era sua culpa - secretamente admitia. Não era fácil de lidar, era rebelde e facilmente sanguinária. Um Bijuu temido pela Nação Shinobi, seu poder era cobiçado por todos e definitivamente era odiado. A Kyuubi era um ser subjulgado a uma existência limitada ao caos e ódio.

Assistir as emoções e os dilemas corroerem Naruto e seu senso, ainda não era o suficiente para comovê-la; os ferimentos de Gaara e Hinata tampouco. Sabia que um impasse consumia Naruto e internamente esperava que o mesmo pudesse corroê-lo por mais um tempo. Quando ouviu os passos, tal como o eco longo de cada um, não escondeu sua surpresa e irritabilidade.

O andar cansado e curvado, os braços balançavam para os lados molengas e lentamente. A decadência pairava sobre seus ombros, tal como a culpa e o ressentimento.

– Sinceramente... Você é podre. – acusou irritada e encarando-o fixamente; Naruto ergueu a cabeça e encarou seu Bijuu. Não havia pena ou clemência em seus olhos, somente o ódio consumindo-o. – Veio se ajoelhar e me implorar por um punhado de chakra? Oh, não! É melhor eu correr ou você vai bancar o herói outra vez e destruir uma Vila no processo.

Aos poucos o andar de Naruto ficou ereto e firme; os punhos cerrados estavam rente ao corpo. Seus lábios repuxavam-se enquanto apressava seus passos e ganhava velocidade. Os ecos ganharam mais volume e sequência. A distância era encurtada por Naruto que entre passos rápidos e levemente trôpegos marchava até a Kyuubi.

Um sorriso debochado repuxou os lábios da raposa e ela expôs seus caninos.

– Vamos lá Naruto, mostre-me um pouco mais daquele garotinho manipulável e que quase me permitiu escapar! – as palavras alfinetavam as memórias, que faziam seu trabalho e ressoavam culpa e raiva instantaneamente. – Implore pelo meu poder outra vez e tente trazer Sasuke de volta! Desta vez seja mais eficiente e prometa que vai matá-lo!

Os olhos de Naruto faiscavam num turbilhão de emoções; ódio de si e de sua infância, remorso do que estava se tornando ao implorar pelo poder da Kyuubi, tristeza de sua miserabilidade e fraqueza, mas principalmente culpa por não ter sido capaz de proteger todos com seus punhos. Não sem a ajuda dum manto vermelho envolto em seu corpo.

Parou bruscamente e encarou suas próprias mãos. Estava fazendo exatamente o que a Raposa o acusara: arrastar-se e implorar por poder. Aquele era seu famoso jeito ninja?

– Ah, claro. Você não foi capaz de detê-lo. Não o impediu de matar o próprio irmão, não conseguiu chegar a tempo tantas vezes, não é mesmo? – cuspiu as palavras com a mesma acidez e facilidade que usava para manter o sorriso na face. – Você não o impediu de abandonar Konoha, não conseguiu impedir uma maldita guerra!

Definitivamente compaixão não era seu forte. Atiçava cada palavra com altivez e superioridade, enquanto arrastava a verdade e a cuspia fervente em cada frase que compunha; outro passo foi dado com mais firmeza e a expressão dura estava em seu rosto.

Num movimento ágil a Raposa se pôs de pé e avançou até as grades vermelhas. Seus pelos eriçaram e fincou as garras no chão. A raiva, tão familiar e companheira, finalmente se pronunciou. Naruto permanecia avançando, encarando-a com a mesma convicção quando lhe prometera que seriam amigos.

Amigos?

O par de olhos animalescos e sobrecarregados de fúria acompanhava com desdém o conflito humano, sentia o pesar que corroia Naruto e como a culpa vagava em sua sanidade e a infectava com um punhado de palavras cruéis aqui e um tanto me meias verdades ali. Era humilhante estar aprisionado a um corpo tão frágil e miserável.

Num longínquo tempo ouvira palavras bonitas, palavras de esperança e sabedoria que pintavam um futuro próspero e pacífico. Aquele sonho cegara a Kyuubi. Havia lhe trazido tanta crença na raça humana que aceitara ser subjulgada por eles.

A realidade imunda e corrupta dos humanos manchou sua própria existência. Palavras bonitas não a privaram de ser encarada como um monstro. A sabedoria não lhe protegeu de ser usada como moeda de troca entre nações. Nada do que o Eremita dos Seis Caminhos dissera valia de coisa alguma.

Era o mais temível dos monstros e também o mais sanguinário. Seu poder era tão extenso quanto sua fama de Bijuu impiedoso. Todos a odiavam. Queriam seu poder, sua obediência e sua existência. Aos olhos humanos, a Kyuubi sempre seria um monstro preparado para rosnar e destruir vilas em segundos.

Não importava de fato quem queria seu poder, diante da Raposa seria apenas um ser maldito e digno de morrer com suas enterradas atravessando seu corpo. Humanos a enojavam, sua fraqueza era ridícula e suas ambições, fantasiosas. O tempo havia se encarregado de transformá-la numa massa de ódio e violência.

– Se pensa que eu vou ajudá-lo... Está enganado Naruto.

Sua voz ecoou branda e ganhou ecos pelas paredes úmidas. Os dois passos na superfície úmida delatava, dentre o gotejar insistente do teto, o quão próximo Naruto estava. O olhar da Raposa brilhava com a expectativa de ganhar alguma reação de seu portador. Aquela autopiedade e a culpa que o Uzumaki ostentava agora fez a Raposa sentir repugna.

– Dessa vez eu vim conversar. – a sentença baixa e tão forçada para soar natural não cumpriu seu papel. Naruto ergueu os olhos e sorriu fraco. – Desde a guerra não conversamos de verdade.

– Nós não somos amigos. – áspera e direta, a Kyuubi disse enquanto seus olhos lampejavam de ódio. – Humanos e bijuus nunca vão ser amigos. Eu vou tentar matá-lo e você sempre vai implorar por meu poder.

– Bee fez isso funcionar. Nós também. – insistiu como se pudesse se convencer das palavras que saíam afobadas de sua boca. Ouviu-as ecoando e morrendo, dragadas pelo silêncio e pelo olhar duro da Raposa. Os lábios repuxaram-se num sorriso cruel e doloroso e ela exibiu seus caninos com orgulho.

– E onde ele está agora?

Por um minuto - longo e torturante - Naruto ficou em silêncio. Cada fibra de seu corpo vibrava furiosamente em disparate àquela pergunta. Ele conhecia a resposta, sabia em qual destino havia lançado mais um amigo e deixava a imaginação encarregar-se do resto.

_____そんざい_____

| Antes |

|前|

Houve um momento de quietude na batalha. O grito enfurecido que rompia aquele silêncio era tão sôfrego e feroz quanto seu emissor. Os golpes eram dados com violência por ambas as partes. Defesa e ataque estavam numa linha conjunta e se tornavam únicas; os punhos enfurecidos eram bloqueados com agilidade por Obito.

Um Rasengan surgiu na palma de Naruto no instante em que um sorriso cínico atravessou os lábios de Obito; a bola de chakra atravessou seu abdômen e a dor o afligiu. Conseguiu pouco depois desfazer seu corpo e Naruto o atravessou num passo falho. Outro grito irado rompeu a garganta de Naruto e virou-se abruptamente. O teletransporte fora feito de imediato e ele reapareceu sobre Obito, desferindo-lhe o Rasengan.

– MORRA!

A depressão na terra surgiu seguida de um som forte, o impacto do corpo sendo pressionado contra a terra era forte em demasia. Uma nuvem de poeira surgiu pouco depois. Naruto afastou-se num pulo curto e ouviu a risada cética de Obito.

– Tal pai... Tal filho... – murmurou sem qualquer rastro de humor. Levantou-se e encarou o Jinchuuriki com leve diversão nos olhos vermelho e lilás. – Aceite logo Naruto: você não nasceu para salvar este mundo. Você não nasceu para ser o herói. Você nunca será mais do que uma prova do fracasso humano e um por que bem vivo que me leva a mudar este mundo.

As palavras ecoavam nos ouvidos de Naruto e lhe fervia o sangue. Avançou gritando e raivoso contra Obito, tentou acertar uma série de três socos e o chutou. O Uchiha saltou brevemente e apenas esperou pelo ataque seguinte.

– Todos irão morrer. Assim como seus pais morreram pelas mãos do Bijuu que você tanto defende! – bradou desviando com facilidade dos golpes de Naruto. – Todos vão morrer pelas minhas mãos! Kakashi era apenas parte da escória que merece ser destruída junto com esse mundo!

A densidade do chakra que envolvia o corpo de Naruto era absurda, os tons amarelos envolviam seu corpo e o olhar Sannin era duro e feroz. Rachaduras formavam-se sob seus pés devido a sua velocidade e cada golpe era mais forte que o anterior. Os dois primeiros socos foram difíceis de desviar, seguidos deles vieram os chutes laterais e a joelhada; o corpo de Obito se desfez, atravessando a perna de Naruto, porém seu corpo se rematerializou na metade do golpe.

Naruto uniu as mãos e acertou a espinha de Obito, ganhando um urro doloroso em resposta. O Uzumaki ergueu a mão e sibilou o jutsu seguinte.

Bijuu Dama Rasengan!

A esfera negra e pequena girava sobre sua mão e rapidamente fora desferida contra Obito. A explosão capturou a atenção de todos, feixes de luz claros e escuros brincavam nos céus e ofuscaram a vista de todos momentaneamente. O clarão se desfez e a risada cruel de Obito deixou Naruto paralisado.

Uma barreira de Zetsu estraçalhados rodeava o Uchiha. Seus corpos mutilados haviam se erguido do solo e protegido Obito. Os passos calmos e firmes foram dados em direção à Naruto. O sorriso superior deixava-o ainda mais arrogante, mantinha a cabeça erguida como se os ferimentos que tinha não o incomodassem.

Logo tomou velocidade e correu contra Naruto; os três primeiros chutes foram feitos com graciosidade e precisão, acertou dois deles e o último fora defendido. O chakra da Kyuubi mostrava-se útil, criando mãos elásticas que perseguiam o Uchiha e tentavam agarrá-lo.

Kage Bunshin no Jutsu!

Seis cópias de Naruto surgiram e saltaram de diferentes pontos e a diferentes velocidades contra Obito. A luta seguiu intensa e o foco da Guerra. Os clones de Naruto forçaram Obito a saltar constantemente para evitar que os braços de chakra o agarrassem. Num giro rápido as estacas surgiram de suas mãos e acertou dois clones, vendo-os desaparecer numa nuvem de fumaça. Semicerrou os olhos e sorriu.

Um Naruto saltava em sua direção com um Rasengan em mãos, tomou impulso e lançou-se no ar contra ele. O som do metal atravessando carne era único. Enterrou a estaca com mais força no ombro esquerdo de Naruto, ouvindo o grito de dor dele em resposta. Obito apertou o outro ombro do rapaz e aguardou a queda de ambos.

Numa sequência breve os outros clones desapareceram. A Kyuubi rugiu dentro de Naruto.

Kakashi está morto, não deixe que isso o afete. Vai fazer exatamente o que esse bastardo quer! – agitou-se ainda mais quando sentiu o olhar vermelho e arrogante sobre si.

O Sharingan brilhou com ambição diante do olhar Sannin. O impacto soou forte e alto, as costas de Naruto se chocaram contra a terra causando uma leve depressão no solo e a estaca o prendeu no chão. Um grito agonizante rompeu a garganta de Naruto quando sentiu o metal girando em sua carne.

Eu vou arrebentar a sua cara estragada, bakayarö! Comece a rezar agora, porque eu vou te encher de pancada, bakayarö! Konoyarö! – a mão gigantesca do Hachibi desfalcou o solo e forçou Obito a se afastar. As palavras ritmadas ecoaram altas pelo campo de batalha. A estaca fora retirada pelo Bijuu e Naruto levantou-se. – Garoto é melhor se recompor, esse jogo apenas começou!

– Eu cuido dele. – a voz de Naruto soou baixa e decidida, enquanto tentava recuperar o equilíbrio. O rapaz saltou e invocou outros três clones, o primeiro aterrissou próximo a Obito, seus pés afundaram no solo e em seguida correu até o Uchiha.

– Sinceramente... Voc... – as palavras morreram quando sentiu a presença de Naruto atrás de si; girou rapidamente a cabeça enquanto ouvia-o gritar o jutsu. O barulho ensurdecedor dum vento forte junto com a massa de chakra escura que estava no centro rasgou sua pele e o dilacerou.

Füton Dama: Bijuu Rasenshuriken!

O círculo giratório em suas costas e empurravam para longe. Um grito de dor, na sua essência mais nua e crua, rompeu sua garganta com força. Girou mais ainda quando sentiu aquela esfera atravessando seu corpo, trincou o maxilar quando sentiu o sangue no céu da boca. O Rasengan expandiu-se e num sussurro sôfrego, o Rinnegan fora manipulado.

Tendö!

A esfera afastou-se de Obito e fora lançada contra Naruto, e continuou se expandindo. Naruto e Bee afastaram-se da esfera o máximo que puderam; Obito se virou e manipulou o jutsu e com seu Sharingan lançou a esfera para outra dimensão. Um sorriso torto repuxou seus lábios quando viu o breve fio de determinação nos olhos de Naruto quando ele e Bee interromperam sua fuga.

Ele vai ser difícil de lidar, mas nada disso vai me abalar! Eu sou o Jinchuuriki-sama, não se esqueça disso, cara torta, porque você vai fracassar! OH YEAH! – as palavras de Bee ecoaram seguidas de um soco no ar.

– Adeus... – o murmúrio de Obito fora seguido da reaparição do Rasengan na frente dos dois Jinchuuriki. A massa de chakra expandiu-se no mesmo instante e seu som anunciava o fim. Ambos saltaram em direções opostas para fugir do jutsu; Obito ergueu a mão e manipulou outra vez o jutsu, lançando-o contra Bee.

O olhar de Naruto não se desviou da massa de chakra que destroçava e esmagava tudo o que entrava em seu caminho. Seu grito parecia um som oco que atravessou sua boca quando assistiu o golpe acertando Bee e levando-o para longe. A incredulidade mesclou-se ao ódio, nada fazia sentido aos seus olhos.

– Parece que agora, Naruto... Não lhe restou muito pelo o que lutar... – a voz áspera de Obito invadiu seus tímpanos, num tom suave e quase camarada. – No final dessa história, seus amigos vão morrer pelas minhas mãos e você... Vai assistir cada uma delas até que entenda de vez que um garoto jamais pode superar um deus.

O cheiro de sangue embriagou suas narinas e o tinir das lâminas, rangendo entre si e sendo enterradas em carne, lhe embrulhou o estômago. A raiva o impulsionou novamente e lançou-se outra vez contra Obito.

Sua confiança esvaia-se a cada golpe.

– Cala a boca!

Seu grito enfurecido acompanhou os murros e rasteiras que executava conta o Uchiha. Habilmente ambos bloqueavam e atacavam. Seus sonhos ruíam um a um quando sentia a perda de seu sensei o destruindo. As lágrimas caíam livremente a cada encontro bruto entre os dois shinobis; estava perdendo mais do que a Guerra.

A respiração entrecortada era cada vez mais sôfrega e cada brado que exclamava, sentia suas forças esvaindo-se. Persistiram num equilíbrio escorregadio de forças por mais alguns minutos e afastaram-se.

– VAMOS LÁ, NARUTO! MOSTRE-ME DO QUE UM SONHADOR É FEITO! – encarou-o com desprezo, aguardando por uma resposta. – Do que adianta seus sonhos, se você não pôde evitar que eu matasse Kakashi, hã?! DO QUANTO ELES VALERAM QUANDO MATEI BEE COM O SEU PODER?! QUANTAS PESSOAS SEUS SONHOS TROUXERAM DE VOLTA?! ANDE, RESPONDA!

Num ímpeto o rapaz correu em sua direção, com os punhos cerrados e o olhar abatido. As palavras cumpriam seu dever.

– É por isso, Naruto... – murmurou e se transportou, surgindo diante de Naruto, interrompendo sua corrida. Ergueu uma mão e segurou seu ombro. – ...que você não conseguiu trazer Sasuke de volta. Por causa de sua autoconfiança, Kakashi e Jiraya estão mortos. E é por isso que eu irei vencer, não importa o quanto você queira. Você é um sonhador... E sonhadores morrem.

_____そんざい_____

| Agora |

|今|

Um curto som arrogante ecoou pelo espaço úmido.

– Entenda garoto: nós não somos amigos. – a Kyuubi impôs seu olhar severo e sibilou cada palavra avançando lentamente um passo por vez. – Não há um dia sequer que eu não me arrependa de não ter lhe acertado quando tive a chance. – parou a poucos centímetros de Naruto e ambos encararam-se numa mistura nítida de emoções, que variavam do sombrio ao desespero. – Todos estavam errados em chamá-lo de herói.

A Raposa ergueu o focinho e inalou o ar pesadamente. Os olhos ganharam um tom de provocação e abaixou a cabeça levemente.

– Seus pais deveriam ter pensado bem antes de se sacrificaram por alguém tão fraco e baixo.

O impacto de cada palavra permitia que as lembranças viessem à tona, cada qual com sua dor e com sua alegria. A Raposa sentia-as devorando e devastando a mente de seu portador e fincou as garras no solo com força.

– Não adiantou muito você jurar trazer a paz a este mundo se mal consegue encontrar Sasuke.

Desta vez o impacto fora maior e mais cruel. Nada além da verdade nua e crua sendo atirada contra seu rosto hostilmente e não havia nada que pudesse fazer sobre isso. Mão havia uma escapatória simples do olhar da Raposa ou das memórias durante a Guerra. Os tremores leves agitaram sua pele e cerrou os punhos com a mesma força que trincou o maxilar.

Uma pequena parte de sua mente exigia uma posição, um grito enfurecido mandando a Kyuubi se calar e berrar em seguida que seria o próximo Hokage, o maior de todos e o mais forte já lembrado. Mas não tinha doze anos.

Não usava gritos para contrariar sua realidade, não havia rostos esculpidos numa montanha para depredar e chamar a atenção de alguém. Não havia um sensei disposto a deixá-lo amarrado num tronco por tentar almoçar antes dos outros ou com quem disputar o cargo de Hokage.

Ele havia feito uma promessa de trazer Sasuke de volta e falhara tantas vezes e tão miseravelmente. Havia prometido trazer a paz ao mundo shinobi e surgira como a esperança num mundo ameaçado por morte e guerra. Lutara nela carregando a promessa da paz e duma nova era baseada em justiça e esperança.

Então seu mundo entrou em colapso.

Cada palavra de incentivo fora jogada ao meio dos montantes de moribundos com olhares desolados no campo de batalha. Um a um, todos caíram. Havia derrota no ar e em seu âmago. A assinatura do fracasso foi anexada àquele fim de guerra e sangue. Onde errara?

– Você caiu no instante em que sucumbiu ao seu orgulho e achou mesmo que podia gritar que salvaria este mundo. Você não é e nunca será mais do que um órfão descontrolado.

O choque de encarar aquelas palavras e também ouvi-las o calou. Ouviu o rosnado furioso da Raposa enquanto sua voz invadia seus pensamentos. Reaja garoto! Vamos! O gotejar findou o breve silêncio.

– Você é realmente patético bancando o pobre coitado... Sua autopiedade é nojenta, garoto. – a Bijuu disse cada palavra com a voz tão áspera quanto sua faceta dura e irritada. Num andar calmo e mantendo a cabeça mais baixa para encará-lo, a Raposa se aproximou de Naruto. – Talvez se eu te matasse este mundo estaria melhor... Isso traria algo bom depois de tudo.

Havia certo encanto nas palavras da Kyuubi pela ideia. Rosnou outra vez e retraiu as garras lentamente. Reaja!

– O problema é que você não é digno de tanta misericórdia da minha parte. Você é escória. Você é lixo...

A sentença atingiu fundo e lhe rasgou por dentro. Sua mente girava em torno das lembranças mais antigas e recentes. Os sorrisos variavam do mais doce e acolhedor ao mais hostil e sarcástico. Os rostos conhecidos e estranhos se tornaram em borrões com vozes sussurrando verdades e mentiras.

O olhar sobre Naruto era profundo e analítico, a Kyuubi sabia como era ser odiado e temido apenas por estar respirando. Era um fardo desprezível, sob qualquer ponto de vista. As palavras de Obito ainda zumbiam em sua mente e lhe irritavam como nunca. Eram meias verdades pintadas de fatos absolutos e cuspidas com maestria.

A Raposa conseguia sentir o desespero de Naruto diante daquelas palavras e sua fraqueza por considerá-las. Esse tipo de fraqueza agitou seu sangue.

– Ne... Você fala muito Kurama.

Havia um sorriso repuxando os lábios de Naruto. Seus punhos estavam rente ao corpo enquanto seus olhos encaravam a Raposa com firmeza. O modo como fora chamada lhe assustara ligeiramente, fazia algum tempo que não era chamada por este nome. Houve um breve momento de silêncio e em seguida, o rapaz lhe encarava com seriedade.

– Você me disse muitas coisas hoje e eu acho que nunca te ouvi falar tanto... Mas eu entendo. – num tom brando e determinado, ele prosseguiu. – Eu nunca pedi que meus pais se sacrificassem ou que o Ero-Sennin acreditasse tanto que eu poderia salvar esse mundo... Na verdade, Kurama, nenhum de nós pediu para estar aqui.

– Onde você pretende chegar?

– Eu não desisti. Esse não é o meu jeito ninja! – bradou com mais força enquanto recebia um olhar levemente curioso da Raposa. – Eu falhei na Guerra. Desde então muita coisa aconteceu, mas... Eu simplesmente não posso desistir!

O meio sorriso repuxou os lábios da Raposa e ela expôs seus caninos com orgulho. Já havia ouvido aquela entonação antes. Pertencia a um garoto de doze anos com um sorriso nos lábios e um sonho pulsando junto ao peito.

– Como espera que todos o aclamem como herói se não pode nem mesmo salvar aquele que chamava de amigo? – questionou aguardando uma resposta, entretanto Naruto permaneceu com a mesma expressão no rosto. – Como espera ser merecedor do meu poder ou do legado do Yondaime se não consegue se defender com os próprios punhos?

– Eu não vou defender ninguém sozinho, Kyuubi. – a voz grave e séria de Naruto calou a raposa brevemente; ela ergueu a cabeça e seu corpo travou numa descarga de adrenalina. – Você disse que não mereço seu poder. Você também disse que o sacrifício dos meus pais foi em vão. Você me disse muitas coisas desde a Guerra e eu entendo.

– Você jamais entenderia, garoto... – rosnou irritadiça enquanto endurecia os músculos e a feição perigosa emoldurava sua face novamente. Aquele conjunto era parte da sua existência há anos, ser temida e vista como um monstro havia calejado-a contra qualquer interação. – Essa Guerra devia ter sido diferente. Muita coisa deveria ter sido diferente garoto. Você simplesmente não entende o quanto isso significa porque está ocupado demais em bancar o mártir.

Naruto-kun... Não desista de você. Os gritos de dor emitidos por Hinata e os danos das chamas negras ainda estavam frescas em sua mente, tal como o esforço de Gaara em manter-se ao seu lado e lutar. Um dia eu serei reconhecido. Respirou fundo enquanto encarava a Raposa com determinação. As palavras de Obito ainda estavam ali, ainda lhe apontavam fatos e meias verdades, levantando hipóteses e perguntas.

– Uma vez, Kakashi-sensei me disse que aqueles que abandonam seus amigos são piores do que lixo. – seu sorriso repuxou-se com esforço quando sentiu os nós fechando-se em sua garganta. Fechou os olhos com força e sorriu o máximo que pôde. – É por isso que eu não vou abandoná-la Kurama! É por isso que eu vou trazer Sasuke de volta!

Não deixarei que nenhum companheiro meu morra. Confie em mim. O aperto em seu pescoço tornou-se maior e continuou sorrindo. O que você sabe sobre mim, hã?! Cerrou os punhos com mais força e soltou um riso curto. Você é o mais perto que eu cheguei de ter um irmão. Teme.

– A morte dos meus pais não foi em vão e mesmo que algumas vezes eu prefira que eles estivessem aqui... Mesmo assim... – as palavras morreram subitamente. Eu confio em você. – Mesmo assim eu não posso desistir! Eu tenho um sonho! Eu vou me tornar um Hokage, talvez até melhor do que o meu pai e eu me recuso a morrer até virar o maior Hokage de todos!

Ergueu o punho cerrado e continuou sorrindo para a Raposa.

– Eu vou salvar esse mundo. Nós vamos salvar esse mundo... – disse o mais alto que pôde. – Porque você eu sou seu amigo. E se eu não puder salvar um amigo, não posso ser capaz de me tornar Hokage. – abriu os olhos e havia a mesma determinação quando pisara pela primeira vez no campo de batalha.

Aquele gesto significava mais do que bater punhos, havia algo que a fazia acreditar nas palavras do Eremita dos Seis Caminhos outra vez e que a fazia querer que Naruto reagisse. Lentamente e com um sorriso incentivador, a Raposa ergueu o punho.

– Você precisa aprender a parar de me subestimar...

Chocaram os punhos e a quietude imperou. Desista de me fazer desistir. As palavras do antigo sensei lhe fizeram sorrir mais. Aquele era seu jeito ninja.


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Notas finais do capítulo

YOOOOOOOOOOO! MIL PERDÕES PELA DEMORA!
Sinceramente me desculpem pela imensa demora, acabei me enrolando com o tempo, enfim... Comecei a faculdade de Jornalismo recentemente (bolsa) e estou me empenhando. Daí acabo escrevendo no celular e quando dá, passo para o computador. Mas enfim...
Espero que o capítulo tenha agradado e que não tenha fugido do contexto apresentado até então. Hã... Enfim, esse capítulo foi mais para o Naruto tomar as rédeas de sua vida e escolher que lado seguir.
Aos poucos vou me reajustar e dar continuidade a todas as minhas fanfics. Sim, todas. Se tudo der certo a próxima a ser atualizada será Not Like The Movies, que está 80% concluída, faltam apenas alguns ajustes aqui e ali.
Bem... Voltando... Vou tentar ao máximo atualizar minhas fanfics com maior frequência, mas peço a compreensão de vocês. Faculdade não é nada do que a escola pintava. É um pouquinho mais difícil, mas imensamente prazeroso. Enfim...
Espero que tenham gostado da música, do capítulo e qualquer erro me informem.
Até o próximo!
E mereço reviews? :)



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