Teddybear - Heart Is Unpredictable escrita por JMcCarthyC


Capítulo 9
Troféu




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O dia amanheceu e eu ainda estava apoiada na janela. Jasper havia desistido de passar a noite comigo e resolveu se entreter com um livro que ele havia levado. O livro.

-Jaz, você não cansa de ler isso aí, não? – eu falei franzindo as sobrancelhas e me virando para ele. Jasper fechou o livro e olhou para mim com impaciência.

-Posso saber qual é o problema, Alice? Caso você não tenha notado, eu fiquei aqui a noite inteira. Mas não, você preferiu ficar debruçada nessa janela. Então, por favor, não reclame. A culpa é toda sua.

Eu parei em choque. Jasper não costumava ter aquele tipo de reação. Eu fui até a cama e me sentei ao seu lado, colocando minha mão sobre sua perna. Eu não sabia o que falar. Desculpas não seriam suficientes para amenizar o que eu havia feito com ele, então preferi manter o silêncio. Jasper tinha razão. A culpa era toda minha.

Então alguém bateu na porta.

-Jaz? Ali? – a voz grossa do outro lado perguntou. Eu parei de correr minhas mãos pela perna de Jasper em um movimento inconsciente, e ele se virou para mim com uma expressão desconfiada nos olhos.

-Oi, Emmett. – ele falou sério, ainda me encarando.

-O Carlisle pediu para que eu chamasse vocês! – ele gritou atrás da porta.

-Será que você pode falar mais baixo, Emmett! – ouvi a voz de Rosalie irritada. Pelo jeito, mais alguém estava de mau humor àquela manhã.

-Nós já vamos. – Jasper respondeu em um tom monótono, se curvando para pegar a camiseta e depois se colocando de pé, sem mais nenhuma palavra.

Eu o observei caminhar até a porta e girar a maçaneta, depois ele se virou para mim, apontando para o corredor lá fora.

-Você vai ficar sentada aí? – ele falou impaciente. – O Carlisle está nos chamando, vamos.

Eu me levantei em silêncio, discutir àquela hora definitivamente não era uma boa idéia. Atravessei a porta sob o olhar repreensivo de Jasper e caminhei até a sala. Esme e Carlisle estavam sentados em um sofá, Edward e Rosalie no outro. Rosalie sustentava a cara fechada e os braços cruzados, o rosto voltado para o lado oposto ao que Emmett estava.

Emmett.

Corri meus olhos pelo chão da sala, até parar nos All Stars pretos e sujos, um firme no chão e o outro apoiado contra a parede. All Stars. Que tipo de homem usa All Stars e ainda assim consegue ficar totalmente irresistível? Menos, Alice. Bem menos. Subi o olhar devagar por seus habituais jeans azuis gastos e rasgados, que revelavam pequenos fragmentos de sua pele fria e dura debaixo do tecido. Levantei os olhos mais um pouco até alcançar sua camisa. Camisa social branca com a manga dobrada descuidadamente até a altura dos cotovelos, largada para fora dos jeans com o primeiro botão aberto, cobrindo o tronco forte e os músculos definidos que eu sabia estarem ali debaixo. No pulso direito dos braços cruzados na altura do peito, ele havia colocado a munhequeira com o brasão da família. Acompanhei as curvas de seu tronco por seus ombros, pescoço, até alcançar seus lábios cheios e perfeitos, contorcidos em um sorriso tímido que acabava em duas covinhas em suas bochechas brancas. Sorriso tímido que definitivamente não combinava com ele. Passei por seu nariz bem desenhado, até encontrar os olhos dourados e borbulhantes, levemente puxados, debaixo das sobrancelhas negras e grossas. Parei os olhos em seus cabelos curtos e escuros, cobertos por um boné vermelho colocado propositalmente torto na cabeça. Quando consegui juntar todos os fragmentos de perfeição em uma imagem só, Emmett olhou para mim com as sobrancelhas erguidas, depois moveu o olhar para Jasper, imediatamente ao meu lado.

-Pronto, Carlisle. – Jasper falou cruzando os braços com mau humor. – Estamos aqui.

Provavelmente eu havia conseguido invadir algum tipo de fenda espaço-temporal enquanto me perdia na imagem de Emmett, porque todos pareciam ter ignorado o fato de eu ter ficado uma eternidade olhando para ele com a cara mais idiota de que eu tinha certeza que era capaz de fazer. Todos, menos Edward. Mas me preocupar com ele só me aborreceria profundamente, então eu decidi ignorá-lo sem previsão de volta.

Emmett voltou seu olhar a mim depois da manifestação de Jasper, mudando sutilmente seu sorriso para um mais brincalhão. Eu retribuí o sorriso, sem graça, entendendo que as frustrações de Jasper e Rosalie tinham um motivo em comum.

-Muito bem. – Carlisle começou, se levantando. – Eu quis chamar todos aqui porque achei que podíamos aproveitar o dia nublado para darmos uma volta pela cidade juntos. Depois, mais tarde, cada um pode fazer o que quiser.

Todos se entreolharam e assentiram com a cabeça. Ninguém costumava se opor às decisões de Carlisle com muita freqüência. Esme se levantou e abraçou Carlisle com seu jeito amável, depois passou os olhos por cada um de nós.

-Vamos? – ela falou com um sorriso nos lábios.

Emmett se desencostou da parede.

-Vocês têm algum lugar em mente? – ele perguntou com a voz audaciosa, sorrindo com o canto da boca. Eu sabia o que vinha por aí.

-Na verdade, não. – Carlisle respondeu. – Você tem, Emmett?

O sorriso nos lábios de Emmett se alargou ainda mais. Era claro que ele tinha.

-Bom, eu pensei que já que estamos na Itália, nós podíamos brincar com um pouquinho de velocidade...

Edward e Jasper trocaram olhares animados com Emmett. Homens.

-Karts? – Edward falou se levantando do sofá, sorrindo pela primeira vez desde que havíamos chegado ali. Eu precisava me lembrar de agradecer Emmett depois. Golpe de mestre.

Emmett assentiu para Edward com um sorrido presunçoso no rosto e Edward retribuiu, para meu alívio.

-Bom, então se estão todos de acordo... – Carlisle começou.

-Acho que eu vou ter de me trocar, então! – Rosalie falou com impaciência, se levantando bruscamente e indo até o quarto. Esme franziu as sobrancelhas.

-Que bicho mordeu a Rosalie hoje? – ela perguntou, olhando para nós.

-Acho que a pergunta certa é quem bicho não mordeu a Rosalie, Esme. – Edward retrucou. Mas será que ele não conseguia ficar mais de cinco minutos com um humor remotamente tolerável?

Emmett e eu nos entreolhamos por uma fração de segundo. Uma fração de segundo que eu percebi que Jasper não deixou passar. Parecia só uma questão de tempo para que as outras pessoas também percebessem que havia alguma coisa errada. Eu só desejava que o Jasper e a Rosalie fossem as últimas dessas pessoas.

Evitei olhar para Emmett depois da denúncia de Edward, eu não queria começar a semear a desconfiança na cabeça de Jasper. Alguns minutos depois, Rosalie apareceu com uma roupa um pouco menos exagerada do que a que estava usando antes. Ainda assim, era quase um ultraje dividir o mesmo cômodo que ela.

-Pronto. – ela falou cruzando os braços e bufando alto. – Vamos antes que eu resolva ficar por aqui.

O que não seria uma má idéia. Alice, o Edward. De repente, o Jasper podia ficar também. Alice! E o Edward, e o Carlisle, e a Esme. A-li-ce! Tudo bem, chega. Eu ainda tinha um mínimo de instinto de autopreservação.

Emmett abriu a porta e apontou para o hall.

-Vamos? – ele perguntou olhando para nós.

Eu fiquei parada, esperando os outros saírem na minha frente. Eu queria poder ficar olhando Emmett pelo maior tempo possível.  Era incrível como ele conseguia ficar enlouquecedoramente mais perfeito do que já era.

-Vai ficar aí, Ali? – ele perguntou com o sorriso torto.

Para mim, não havia problema nenhum em ficar olhando para ele. Alice! Mas eu ia sair.

-Não. – eu falei mostrando a língua e caminhando até a porta. Ele me acompanhou com os olhos até fechar a porta atrás de nós.

-Você sabe onde é o kartódromo, Emmett? – Jasper perguntou.

Eu ri.

-Você está perguntando sobre localização espacial ao Emmett? – eu falei entre risadas. Emmett cruzou os braços e estreitou os olhos.

-Eu já sei onde é. – Edward interrompeu. – Pode deixar que nós não vamos nos perder agora.

Emmett passou por trás de mim com ar de presunção.

-Bem que você gostou da minha falta de senso de localização... – ele sibilou em um tom quase inaudível. Eu cerrei as sobrancelhas e dei um tapa em seu braço. Jasper se virou para nós no mesmo instante.

-Algum problema? – ele perguntou como um professor que chama a atenção de um aluno que está falando alto na sala.

-Não foi nada, Jaz. – eu respondi me afastando de Emmett, sob os olhares desconfiados de todos. – O Emm só me provocou. Só isso. – o que não deixava de ser verdade.

Jasper assentiu com a cabeça, mas seu olhar não era muito convincente. Aquilo estava começando a ficar desconfortável demais. Entramos no elevador em silêncio e, para minha total felicidade, fui prensada entre Emmett e Jasper. Olhei para cima e encontrei os olhos marotos de Emmett, claramente se divertindo com a minha desgraça. Eu estreitei os olhos para ele e mostrei a língua mais uma vez, o que fez Rosalie bufar alto. Você não está colaborando, Alice. É, realmente. Era melhor eu ficar quieta e imóvel até poder ficar a uma distância segura de Emmett novamente.

Finalmente o elevador parou no térreo e eu pude respirar aliviada sem ter a sensação de estar com Emmett perigosamente perto demais de mim. Atravessamos o saguão de entrada do hotel e alcançamos a rua.

-Ninguém vai chamar um táxi? – Rosalie perguntou com as mãos na cintura.

-Táxi? – Emmett repetiu com as sobrancelhas franzidas. – O kartódromo é aqui perto, Rosalie, deixa de ser preguiçosa.

Rosalie cruzou os braços e fechou a cara, depois se aproximou de Emmett.

-Tem alguma coisa muito estranha com o senhor, Emmett Cullen. E eu vou descobrir o que é. Ou então arranco sua pele e a penduro de enfeite na sala! – o que eu havia dito sobre peles e enfeites?

Emmett fez uma careta para ela e continuou andando, decidido a ignorá-la. Eu sorri por dentro. Como você é egoísta, Alice. É, talvez eu fosse egoísta. Mas se tratando de Emmett, eu já estava começando a me acostumar com a idéia. Carlisle e Esme trocaram olhares desconfiados, depois se voltaram para Edward como se soubessem que ele sabia de alguma coisa. Eu me aproximei dele.

“Edward?”

Ele virou o rosto para mim, sério.

“Você contou alguma coisa a alguém?”

Edward respirou fundo e balançou a cabeça negativamente.

-Você saberia se eu quisesse fazer isso, Alice. – ele falou sem emoção e saiu de perto de mim. Como ele era cabeça-dura! Será que ele nunca ia me perdoar?

Eu engoli seco e abaixei a cabeça, encarando o chão. Então vi um par de All Stars se aproximar ao meu lado. Aquela, definitivamente, não era uma boa hora para ele ter dó de mim.

-Emmett, sai daqui... – eu sussurrei o mais baixo que pude, sem olhar para ele.

-Eu não aguento ver você assim, Alice... – ele murmurou entre os dentes.

-Vá atrás da Rosalie, pelo amor de Deus!

-Eu não quero a Rosalie. Eu quero você.

Droga, como eu queria abraçá-lo, e beijá-lo, e... enfim. Então Jasper apareceu ao meu outro lado e passou os braços por meus ombros. Emmett bufou e acelerou o passo, me deixando para trás. Alguma coisa me dizia que a corrida de kart não seria tão saudável quanto eu imaginava.

Era estranho andar abraçada com Jasper. Era estranho, porque, efetivamente, o tamanho dele condizia com o meu. Não era exagerado como o corpo grandalhão – e incrivelmente perfeito – de Emmett com o qual eu havia me acostumado.

-Alice? – a voz doce de Esme chamou. Eu me virei para olhá-la. – Será que eu posso falar com você um pouquinho?

Eu engoli seco. Pelo menos a conversa era com Esme e não com Edward. Assenti incerta com a cabeça e me soltei de Jasper, indo na direção dela.

-Podem ir na frente, eu e Alice já vamos. – ela falou quando todos, menos Edward, se viraram para nos olhar. Senti a preocupação nos olhos de Emmett quando ele parou seu olhar em nós por alguns instantes antes de se virar para acompanhar os outros. Nós estávamos com problemas.

-O que foi, Esme? – eu perguntei com a voz inocente, tentando parecer intrigada.

-Alice... – ela começou. – Você não está achando as coisas um pouco estranhas demais?

-Estranhas? – eu repeti. Ela assentiu pacientemente. – Eu devia?

-Desde que você e o Emmett voltaram... Não sei, a Rosalie, o Jasper... Até o Edward anda de mau humor.

-Ah, é? – eu falei tentando me fazer de desentendida.

-É, e eles não são assim. Tem alguma coisa que você quer me contar?

Que eu quisesse não, mas que eu devesse, de repente...

-Na verdade, eu devia, Esme. E você seria a primeira pessoa a quem eu contaria. – eu comecei. – Mas acho que eu não quero falar sobre isso agora. Desculpa.

Esme sorriu e me abraçou com ternura. Quem dera todos fossem assim.

-Tudo bem, Ali...Mas quando você sentir que precisa contar a alguém, eu vou estar aqui.

-Pode deixar. Eu prometo que vou falar com você.

Esme assentiu com a cabeça e passou o braço por meus ombros. Alguma coisa em mim dizia que ela já sabia o que havia de errado, mas estava esperando que eu contasse a ela.

-Olha ali, Rosalie. – Emmett falou apontando para frente. – O kartódromo.

 

-

 

          -Por que nós temos que usar essas roupas? – Emmett perguntou com a cara fechada, olhando para si próprio. – Até parece que eu vou explodir se o kart bater. O que não vai acontecer. – ele acrescentou.

-A questão é que é exatamente isso que aconteceria com uma pessoa normal, Emmett. – Jasper respondeu, terminando de colocar seu macacão azul marinho. – E eu aposto que você vai bater o kart.

-Não vou nada. – Emmett olhou para mim. – Vou?

-Você quer mesmo que eu responda? – eu perguntei ajeitando os sapatos, para provocá-lo. Emmett estreitou os olhos.

-Tem coisas que você não consegue prever, Alice... – ele retrucou com um sorriso presunçoso.

Edward voltou os olhos sérios para mim no mesmo instante.

“Eu falei...”

-Me diz – Emmett começou mudando de assunto, segurando o capacete como quem segura uma fralda suja nas mãos – que eu não vou ter de usar isso.

-Principalmente isso, Emmett. – Carlisle falou pegando o seu próprio.

Emmett bufou alto e abriu os braços, derrotado.

-Vai perder metade da graça. – ele resmungou saindo dos boxes.

-Vai mesmo. – Jasper provocou. – Porque eu vou fazer você comer poeira.

Emmett continuou a andar dando as costas para Jasper e apenas levantou a mão direita com o dedo do meio à mostra. Eu mordi o lábio para reprimir a risada. Provocar Emmett em qualquer tipo de competição não costumava ser uma idéia muito inteligente.

Jasper agarrou seu capacete e saiu atrás de Emmett, com um sorriso no rosto. Eu, Rosalie, Edward, Carlisle e Esme fizemos o mesmo.

Os carros já estavam alinhados no grid de largada quando alcançamos a pista. Emmett escolheu o último kart, número três, verde. Jasper se sentou no da fileira ao lado, número cinco, branco. Eu comecei a ficar preocupada e a torcer para que eles mantessem um mínimo de civilidade.

Edward escolheu o carro à frente do de Emmett, Carlisle o da fileira ao lado, depois Esme, Rosalie, e por fim, eu. O farol que marcava a largava acendeu em vermelho e os motores começaram a roncar alto. Três, dois, um... as luzes verdes se acenderam e nós aceleramos, levantando fumaça em toda reta devido ao atrito dos pneus com a pista. Eu pisei fundo no acelerador e o kart arrancou com força. Logo na primeira curva, Rosalie, que estava na parte de dentro da pista, entrou com o carro na minha frente e eu fui forçada a brecar com violência. Respirei fundo e estreitei os olhos. Ela ia ver só. E a história da civilidade? Que se danasse a civilidade.

Acelerei de novo, me distanciando de Carlisle que havia ultrapassado Esme. O kart vermelho de Rosalie arrancava com uma graciosidade impecável, contornando as curvas com uma precisão invejável. Quem havia a ensinado a dirigir daquele jeito? Não importava, iria chegar na frente dela, ponto. Sim, porque ganhar estava fora de cogitação. Era só uma questão de bem pouco tempo para que Jasper e Emmett passassem voando por nós.

Forcei minha coordenação ao máximo, tentando percorrer a pista da maneira menos desajeitada possível. Aos poucos, o kart de Rosalie foi se aproximando. Na primeira curava depois da reta oposta, Emmett chegou em mim. Decidida a deixar que ele disputasse sozinho a corrida com Jasper, eu abri espaço para que ele passasse. Com uma velocidade impressionante, o kart verde e, logo depois, o branco, passaram voando por mim e emparelharam com Rosalie, ultrapassando-a em seguida. Eu aproveitei a diminuída de velocidade que Rosalie havia dado para que os meninos passassem e pisei fundo no acelerador, chegando muito próxima a ela.

-Vai, vai, vai! – eu gritava entre os dentes dentro do capacete, batendo no volante. Como se o carro pudesse me ouvir. A distância que me separava de Rosalie foi diminuindo, eu só faltava furar o assoalho do carro de tanta força que eu aplicava nos pedais. Finalmente, o espaço que separava a frente do meu carro da traseira do de Rosalie foi reduzido à zero.

Nós entramos na reta principal mais uma vez e eu acelerei, emparelhando com ela. À nossa frente, Jasper e Emmett desapareciam na primeira curva. Nossos karts foram se aproximando da curva acentuada para a direita, Rosalie continuava do lado de dentro. Eu teria que ultrapassá-la ainda na reta se quisesse ter alguma chance de permanecer na frente depois da curva.

Pisei mais fundo e troquei a marcha, fazendo o motor roncar alto. As rodas traseiras do meu kart ficaram na altura das dianteiras do de Rosalie, no exato instante em que alcançamos a entrada da curva. Eu tentei forçar o carro para a direita, decidida a ultrapassá-la. Rosalie demorou para jogar o carro para o lado, acertando o meu em cheio na lateral e me fazendo rodar na pista, indo bater contra os pneus de proteção  no gramado. Tentei ligar o kart novamente, mas o motor não respondia.

-Droga! – eu bufei batendo no volante e depois tirando o capacete. Quando olhei para o lado, dois garotos de macacão vinham correndo em minha direção. Eu tirei o cinto de segurança e coloquei o capacete sobre o volante.

-Você está bem? – o garoto mais moreno perguntou em um inglês enrolado.

-Aham, não foi nada. – eu respondi me colocando de pé.

-Quer ajuda para sair? – ele insistiu, estendendo a mão.

-Não, obrigada. Eu estou perfeitamente bem.

Saí do kart e peguei o capacete, quando os carros de Emmett e Jasper passaram por mim novamente, seguidos por Edward. Pelo menos a Rosalie não ia ficar em terceiro. Quanta dor de cotovelo.

-Você precisa ir para os boxes. – o outro garoto falou apontando para os galpões ao lado do grid de largada. Eu assenti com a cabeça e caminhei até lá.

-Quem está ganhando? – eu perguntei para os garotos.

-O número três. – o moreno respondeu. – mas o cinco está muito perto.

-E faltam quantas voltas?

-Umas vinte.

Eu coloquei o capacete sobre uma mesinha nos boxes e caminhei até o gramado da reta principal. Abri o macacão e tirei a parte de cima, depois cruzei os braços para observar os karts de Emmett e Jasper passarem pela linha de largada mais uma vez. Eles estavam realmente próximos. Perigosamente próximos.

-Vocês correm muito bem. – o garoto mais baixo de cabelos ruivos falou acompanhando os carros de Carlisle e Esme com os olhos. – Já tinham andado de kart antes?

-Aham. – eu menti sem olhar para ele.

O garoto assentiu com a cabeça e ficou quieto, pensativo.

-Você tem namorado? – o moreno perguntou sorrindo para mim. Era só o que me faltava.

-Tenho. Aliás, é um dos que estão correndo aí.

-É o grandão que entrou no kart verde? – ele arriscou. Minha boca parou a meio caminho de responder “é”, mas eu a fechei depois de processar a informação corretamente.

-Por que você acha que é ele?

-Não sei... – ele respondeu dando de ombros. – O jeito que ele estava te olhando... Era... diferente.

-Diferente como? – eu insisti.

-Sei lá, moça... Ele te olhava do jeito que gente apaixonada olha. Cara de bobo, sabe?

Não, eu não sabia. Eu não tinha percebido. Mas aquilo era lindo do mesmo jeito. Senti um aperto no peito e uma vontade de tê-lo comigo. Era quase como se eu estivesse entrando em crise de abstinência. Abstinência do meu anestésico.

O garoto não questionou mais, então eu mantive o silêncio, ocupando meu cérebro com a corrida.

 

Dez voltas.

 

Cinco voltas.

 

Duas voltas.

 

Quando os carros passaram pela reta principal na penúltima volta, Jasper estava colado em Emmett.

-Eu aposto que o kart branco passa. – o garoto loiro falou cruzando os braços. Eu não dei atenção a ele, eu só queria que eles chegassem logo para que a corrida acabasse sem maiores problemas.

Então, alguns minutos depois, os dois carros apontaram juntos saindo da última curva. Eu engoli seco, apreensiva. Eu quase podia ouvir Emmett xingando o kart de todos os nomes possíveis. Eles estavam lado a lado, os motores roncando absurdamente alto, quase explodindo. Então eu vi o carro de Jasper arrancar, ficando uma roda à frente de Emmett.

-Não acredito... – o garoto moreno balbuciou abrindo a boca.

Emmett forçou o kart e conseguiu emparelhar novamente com Jasper. Eles já haviam ultrapassado mais da metade da reta quando o carro de Jasper passou o de Emmett novamente.

-Vai dar branco... – o outro murmurou.

-Não, o verde ganha...

Emmett aumentou a velocidade, ele estava a centímetros de Jasper. A linha de chegada estava se aproximando, cada vez mais perto, até que...

-Branco! – o garoto loiro gritou dando um salto e eu quase afundei a cabeça dele na grama.

Então havia acabado.

Jasper havia vencido.

Eu fiquei parada olhando para os karts terminarem de dar a volta na pista, até entrarem nos boxes. O carro branco entrou primeiro e parou na primeira garagem. Jasper tirou o cinto de segurança e saiu do kart, depois tirou o capacete e sacudiu os cabelos louros desgrenhados, com um sorriso largo no rosto. Ele caminhou até mim e me abraçou, então beijou meus lábios brevemente.

Emmett parou o carro em seguida, ao lado do de Jasper. Ele tirou o capacete e levantou o corpo enorme do kart, cruzando os braços e se encostando na parede da garagem, com um olhar emburrado. Eu fui obrigada a sorrir vendo-o daquele jeito.

-O que eu falei sobre você comer poeira, Emm? – Jasper provocou ainda com os braços envolvendo meus ombros.

Emmett sorriu torto.

-Quem vê pensa que eu me importo. – ele falou erguendo as sobrancelhas.

-Eu sei que você se importa, Emmett. – Jasper retrucou. – Eu venci. Você odeia perder.

Emmett balançou a cabeça.

-Não, Jaz. – ele falou se desencostando da parede. – Você pode até ter vencido a corrida, mas quem ganhou um troféu fui eu.

Meu queixo caiu. Por acaso ele queria morrer? Emmett deu as costas para nós e caminhou desleixadamente para o vestiário. Jasper olhou para ele confuso, murchando o sorriso. Eu me soltei dele e andei na direção de Emmett. Por acaso você também quer morrer? Àquela altura já não fazia diferença.

-Alice! – Jasper gritou, mas eu não me virei para olhar.

Abri a porta do vestiário com violência e Emmett me olhou com as sobrancelhas erguidas. Ele estava apenas de cuecas. Eu fechei a porta atrás de mim, respirando fundo e entoando um mantra de autocontrole. Minhas células gritavam por Emmett em um nível quase audível, mas eu podia fazer nada. Não ali.

          -Oi, Ali. – ele falou sorrindo para mim como se nada tivesse acontecido.

-Oi, Ali? – eu repeti, entre os dentes. – Você quer que o Jasper arranque sua cabeça?

-Por quê?

-Aquela história de troféu! Emmett, ele já está desconfiado!

Emmett se aproximou de mim e tomou meu rosto em suas mãos grandes.

-Mas é exatamente o que você é. – ele falou com a voz rouca, seus olhos dourados fixos nos meus. – O melhor troféu que eu podia ganhar, Alice.

Emmett foi aproximando seu rosto do meu, seu hálito fresco invadindo meus pulmões. Então eu parei.

-O que foi? – ele perguntou passando o polegar pelas minhas bochechas.

-O Edward. – eu respondi rápido, me afastando de Emmett e abrindo a porta. Se vista. – eu acrescentei.

Quando saí, Edward estava caminhando a passos apressados na direção do vestiário.

“Não fale nada.” Eu resmunguei mentalmente, passando batido por ele. Jasper me olhava em choque.

-Alice, o que você foi fazer no vestiário com o Emmett? – ele perguntou respirando fundo.

-O QUÊ?! – Rosalie gritou ao lado dele.

-Calma vocês dois. – eu falei devagar, tentando convencer a mim mesma daquilo também.

-COMO, CALMA?! – Rosalie continuou, atirando o capacete no chão.

-Ele estava vestido, Rose, não foi nada! – eu tentei me defender. Era só eu não explicitar o quão vestido ele estava. Rosalie se aproximou de mim, os olhos queimando em raiva.

-Escuta aqui, Alice. – ela apontou o indicador para mim. – Se você relar uma unha no meu Emmett, eu posso aproveitar que estamos na Itália e levar você para dar uma passadinha lá nos Volturi, o que você acha?

Eu respirei fundo. Mal sabia ela quantas unhas eu tinha posto no meu Emmett.

-Menos, Rosalie! – a voz grossa e tão familiar de Emmett falou atrás de mim. – A Alice não fez nada, deixa de ser neurótica.

É, só que daquela vez ela não estava tão neurótica assim.

-Eu não estou falando com você, Emmett Cullen.

Emmett cerrou as sobrancelhas e cruzou os braços.

-Ei, ei, ei, ei... – Carlisle interferiu. – Vamos agir como pessoas civilizadas?

- Desde quando o Emmett é civilizado? – Rosalie retrucou colocando as mãos na cintura com os olhos estreitos. Emmett deu de ombros. Realmente, ele sabia ser bem selvagem am algumas situações. Você é, definitivamente, um caso perdido, Alice.

 

-

 

Quando alcançamos a rua, as nuvens estavam mais carregadas que nunca. Parecia que o céu ia desabar, literalmente. Rosalie e Emmett estavam à maior distância que conseguiam um do outro, mas Jasper não saía do meu lado. Edward permanecia quieto, a expressão inabalável e indecifrável de sempre. A expressão que me dava vontade de sacudi-lo e mandá-lo falar alguma coisa.

Então, como se a situação já não estivesse ruim o suficiente, ele apareceu.

Mais sujo que antes, os cabelos louros desgrenhados e o sorriso presunçoso. Ao seu lado, a mulher ruiva de cabelos cacheados nos olhava com desdém. Jasper pasosu seu braço por meus ombros e eu senti seu peito tremer quando seus olhos encontraram James e Victoria.

Eles se aproximaram de nós, uma expressão confusa nos rostos anormalmente belos. James colocou a mão no queixo e passou os olhos por mim, jasper e depois Emmett, desconfiado.

-Mas já trocou, Alice? – James perguntou sorrindo presunçoso. – Você não perde tempo...

-Cala a boca, James. – eu sibilei entre os dentes. Atrás de mim, Emmett rosnou e bufou alto.

-Eu ainda não esqueci a sequência de Fibonacci, James. – Emmett falou com raiva, estralando os nós dos dedos da mão.

James rui com sarcasmo.

-Que bonito, protegendo a namoradinha... – ele provocou. Jasper aumentou a força de seus braços à minha volta. Emmett tomou nossa frente com um movimento rápido e empurrou James com força no peito.

-É melhor você calar a boca agora. – Emmett falou entre os dentes, ardendo de ódio.

-Ei, ei... – James começou. – Eu não vou fazer nada... Só estamos de passagem. – ele começou a andar, passando por nós. – Mas é melhor você cuidar muito bem dela. – ele sussurrou quando passou por Emmett.

Emmett deu impulso para atacar James, mas Carlisle o impediu.

-Deixe-os, Emmett. – ele falou com sua voz calma e firme de sempre. – Vamos continuar andando.

Com alguma relutância, Emmett se acalmou e retomou o passo. Eu tentei fazer o mesmo, mas Jasper me segurou. Seu olhar era sério, desconfiado, dolorido. Ele abriu a boca, a voz fraca.

-Eu quero falar com você.

 

***

 

NOTAS: Olá todo mundo! ^^

Capítulo 8 finalmente postado, eo/

 

Emmett de macacão, UI.

 

Mas o nove...

Gente, o 9 é o meu capítulo preferido... =B

 

 

E então, o que acharam??

 

Claro, quero agradecer todos os comentários e visitas de vocês!!! Muito obrigada MESMO!!!  Muito obrigada por acreditar nessa louca apaixonada pelo Emmett que resolveu juntar com ele com a Alice porque não gostava da Rosalie. E porque sempre achou que Emmett e Alice formariam um casal fofo ^^. Mas eu juro que não imaginei que eles iam ter toda essa aceitação. Achei que todo mundo fosse querer me decapitar. E no fim das contas eles acabaram me conquistando mais do que eu pensei, também.

 

Bom, já falei demais.

 

Por favor, comentem e votem – pra quem não votou ainda.

 

Nos vemos nno capítulo nove, “Razão”.

 

Beijos para todos, sonhem com o Emmett de macacão – ou não (6) – e lembrem-se: Humanos são amigos, não comida.

 

JMcCartyC


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