Teddybear - Heart Is Unpredictable escrita por JMcCarthyC


Capítulo 7
Anestesia




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Os raios tímidos do Sol começavam a querer aparecer entre as nuvens do céu ainda escuro quando eu finamente atingi um nível de consciência considerável. Eu me virei para o criado-mudo ao meu lado e decidi que daquele momento em diante ele seria a coisa mais interessante do quarto e, por causa disso, eu não iria tirar os olhos dele. Claro que ignorar a presença de um corpo masculino perfeito e despido ao meu lado, totalmente à minha disposição, era apenas um detalhe.

         Puxei o lençol para cima do meu corpo e me encolhi. A culpa havia decidido que aquele era um bom momento para cair sobre mim e assim ela o fez. Claro que eu tinha uma opinião completamente diferente. O que eu havia feito? E por quê? Você sabe o que fez, e fez porque é uma inconseqüente, Alice. Fui obrigada a concordar com a minha consciência daquela vez. Eu era uma inconseqüente. Como eu ia contar aquilo a Jasper? E Rosalie? Ela ia arrancar minha pele e a de Emmett para pendurar de enfeite na parede da sala, eu tinha certeza.

-Alice... – Emmett chamou com a voz rouca. Eu não queria me virar para vê-lo. Era como se, ao vê-lo despido ao meu lado, eu tivesse uma confirmação formal da minha delinqüência.

Quando percebeu que eu não ia me virar, Emmett colocou suas mãos grandes em meu braço e me virou sem dificuldade alguma. Eu fechei os olhos em uma tentativa frustrada de não enxergar o que havia acontecido àquela noite. Ele correu os dedos pelos meus cabelos, depois pelos meus braços, até minha cintura.

-Alice, abra os olhos. – ele falou com a voz doce.

-Eu não quero. – eu retruquei apertando ainda mais minhas pálpebras.

-Ficar de olhos fechados não vai mudar o que aconteceu.

Por que ele precisava ficar me lembrando daquilo? Eu queria esquecer aquela noite maluca, fingir que ela nunca havia existido.

-Eu vou ser obrigado a usar minhas armas de novo? – ele falou com a voz maliciosa. Eu abri os olhos imediatamente, me deparando com seu rosto angelical sorrindo para mim. Aquilo era como estar no melhor sonho do mundo – bem no meio de um pesadelo.

Emmett passou seu polegar pelo meu rosto e então pressionou seus lábios duros contra os meus. Naquele momento, depois de tudo que havia se passado entre nós, depois de toda minha negação idiota, eu percebi.

-Emm... – eu falei baixinho quando nossos lábios se desgrudaram. Ele sussurrou um “hum” sem abrir a boca e continuou a acariciar meus cabelos. – Se eu te disser uma coisa, você promete que não vai me atirar da cama?

Ele afastou o rosto do meu e eu abri os olhos.

-Sabe que é exatamente o que eu estava pensando em fazer agora? – ele respondeu rindo.

-Seu sem graça. – eu falei mostrado a língua para ele. – É sério.

Eu me aproximei dele e me aconcheguei em seu peito forte, deitando a cabeça na altura de seu coração mudo. Ele passou a mão pelas minhas costas e ficou subindo e descendo os dedos pela minha coluna.

-Promete que não vai me atirar da cama. – eu repeti com a cabeça apoiada em seu tórax.

-Por que eu ia querer fazer isso?

-Prometa, Emmett.

-Tudo bem, eu prometo. – ele falou rindo.

Eu fechei minhas mãos e engoli seco. Eu provavelmente ia me arrepender cinco segundos depois de dizer aquilo. Antes, talvez.

-Pensando bem, você pode me bater se quiser. – eu reconsiderei.

-Alice, apenas fale. Ou eu vou realmente querer te atirar da cama.

Eu respirei fundo.

-Tudo bem. É que... eu acho que eu estou apaixonada por você, Emmett! – eu falei rápido. – Mas eu não devia! Porque isso tudo é ridículo e o Jasper e a Rosalie vão arrancar nossos cérebros com uma colher de chá pelo nariz! O Carlisle vai nos deserdar, Emmett. E o Edward vai me odiar pelo resto da vida! Pronto, vai, me bate.

-Alice, - ele falou rindo. – você está histérica de novo. Se acalme.

-Não! – eu gritei desencostando a cabeça de seu peito. – Você não percebe a gravidade da situação?

-Não...? – ele falou franzindo as sobrancelhas. Eu bufei alto e peguei seu rosto em minhas mãos.

-Eu não posso me apaixonar por você. – eu falei encarando-o nos olhos, bem de perto.

-Por que não? Eu sei que eu sou lindo, forte e irresistível. – ele falou com um sorriso presunçoso. Eu revirei os olhos.

-Emmett, por favor. Como fica nossa situação com o Jasper, a Rosalie? Nada disso faz sentido! – eu terminei levando as mãos aos meus cabelos.

-Você está fazendo de novo. – ele falou em tom de censura, levando as mãos aos meus pulsos.

-Fazendo o quê? – eu perguntei confusa.

-Pensando, Alice.

De repente, eu caí em mim. Talvez Emmett tivesse razão. Talvez pensar só piorasse as coisas. Ele abaixou meus braços devagar e ficou com as mãos em meu rosto, depois pressionou seus lábios contra os meus. É, definitivamente, pensar não era uma boa idéia.

-E além de lindo, forte e irresistível, - ele sussurrou quando nossos lábios se separaram. – Eu também sou apaixonado por você.

Eu perdi os sentidos. Eu não estava preparada para ouvir aquilo. A única coisa que consegui fazer foi abraçá-lo com força em uma reação mecânica.

-O que nós vamos fazer, Emm? – eu insisti, ainda com meu rosto colado ao dele.

Ele se afastou de mim e colocou as mãos em meu pescoço, passando o polegar pela minha linha da mandíbula.

-Nós vamos deixar para nos preocupar com isso depois. Até porque quem prevê o futuro aqui é a senhora e não eu.

Eu ri sem graça.

-É, mas isso eu não consegui prever... – eu falei olhando para baixo. Ele levantou meu rosto com o indicador.

-Porque o coração tem o péssimo hábito de ser imprevisível.

Emmett sorriu com o canto da boca e me puxou para seus lábios novamente.

-Você sabe que nós vamos para o inferno, não sabe? – eu murmurei com minha boca colada à dele.

-Mas pelo menos nós vamos em grande estilo. – ele falou rindo e me colocando de costas ma cama, ficando sobre mim. Eu respirei fundo e coloquei minha mão em seu peito.

-Emm, não. – eu falei no limite do meu autocontrole. – Nós precisamos ir embora.

-Tem certeza...? – ele sussurrou passando os lábios no meu pescoço.

-Não... – eu admiti me encolhendo com o arrepio. – Mas nós precisamos ir.

Emmett revirou os olhos. Eu realmente adoraria ficar presa naquele universo paralelo e não ter de encarar Jasper e Rosalie pelos próximos cinqüenta anos ou mais. Emmett se levantou e puxou o lençol de seu corpo, descendo da cama. Eu o olhei em choque.

-Emmett, você quer, por favor, colocar uma roupa?

Ele se virou para mim e riu. Eu engoli seco e enfiei a cara no travesseiro. O corpo perfeito e nu de Emmett ainda me causava espasmos involuntários.

-Qual o problema? – ele falou com o sorriso torto, franzindo as sobrancelhas e abrindo os braços. Eu respirei fundo mais uma vez e levantei a cabeça, abrindo os olhos.

-O problema é que você está nu, Emmett.

-E daí? – ele falou dando de ombros.

-E daí que eu não quero ver você assim. – eu falei entre os dentes. Emmett balançou a cabeça e colocou as mãos na cintura.

-Bem que ontem à noite você queria. – ele falou presunçoso. – Você fez amor comigo, Alice. Não sei por quê essa frescura toda agora.

-Você precisa ficar me lembrando disso a cada cinco segundos? – eu falei brava, pegando um travesseiro e atirando na direção dele. Emmett pegou o travesseiro sem dificuldades na frente do rosto e depois mostrou a língua para mim.

-Foi tão ruim assim, é?

Não, pelo amor de Deus, não... Aquilo havia sido simplesmente maravilhoso. Aposto que eu havia descoberto a fonte dos dias de bom humor da Rosalie.

-Como se ser ruim fosse uma opção válida, Emmett. – eu falei com os olhos estreitos. Ele atirou o travesseiro de volta em mim e se abaixou para pegar a cueca. Eu permaneci com o travesseiro colado em meu rosto, decidida a não ver aquela cena.

De repente o travesseiro foi puxado das minhas mãos.

-Pronto, dona pureza. – ele falou atirando o travesseiro longe e me dando um beijo rápido. – Agora eu estou vestido com um pouco mais de pudor.

Sim, ele estava. Com uns quarenta centímetros quadrados a mais de pudor. O que fazia muita diferença.

Tá, pensando bem, fazia mesmo.

-Então me dê licença pra eu me trocar. – eu falei puxando o lençol mais para cima de mim. Emmett bufou impaciente.

-Como se eu não tivesse visto você sem roupas, Alice. – ele retrucou com um sorrisinho no rosto. – Mas tudo bem, se isso fizer você parar com essa frescura...

Eu cerrei as sobrancelhas e ele se sentou ao meu lado na cama, cruzando os braços e fechando os olhos.

-Se você pensar em abrir os olhos, por uma fração de segundo que seja, eu vou saber. – eu avisei. Ele riu e assentiu com a cabeça.

Desci da cama com cautela, observando Emmett com o canto dos olhos e alcancei minhas roupas com a maior velocidade que consegui impor a mim mesma. Depois corri para o banheiro, batendo a porta atrás de mim.

-Nossa, precisa até se trancar no banheiro? – Emmett gritou da cama. Eu não respondi, eu não queria responder.

O Que eu ia fazer? Admitir a todos que estava apaixonada por Emmett e arriscar ser executada em praça pública depois de uma sessão de tortura medieval? Ou eu devia esquecer tudo aquilo e voltar para Jasper fingindo que nada havia acontecido? Você não vai conseguir fingir que nada aconteceu. Péssimo momento para uma manifestação da minha consciência, mas eu fui obrigada a concordar com ela. Eu me encarei no espelho.

-Você é uma vergonha, Alice. – falei para mim mesma.

-Pára de falar sozinha e vamos logo, Ali. – Emmett resmungou impaciente. – Eu já estou pronto.

Foi quando eu me dei conta de que eu também estava pronta. De alguma forma, as roupas haviam parado em meu corpo enquanto eu estava ocupada executando meu suicídio psicológico. Abri a porta do banheiro e Emmett estava deitado na cama com as pernas cruzadas e os dedos entrelaçados na nuca, apoiado na cabeceira.

Na cabeceira.

-Emm... – eu falei franzindo as sobrancelhas. – Por acaso a parede já estava descascada e semidestruída assim na altura da cabeceira quando nós chegamos ontem à noite? – A pintura havia cedido, o concreto estava à mostra.

Emmett levantou a cabeça para olhar a parede e arregalou os olhos.

-Eu juro que eu fui o mais devagar que eu consegui. – Como assim? – Mas pelo jeito não deu muito certo... – ele falou voltando o olhar para mim. – Será que alguém ouviu?

Eu não sabia. Eu não tinha a menor consciência de quanto barulho nós havíamos feito durante a noite, mas a julgar pelo estado da parede, não devia ter sido pouco.

-Espero que a recepcionista tenha ouvido. – eu falei dando de ombros, com um sorriso malicioso no rosto, caminhando até minha mala.

-Ciumenta... – ele sussurrou se levantando da cama.

-Ciúme é uma coisa saudável, sabia? – eu retruquei.

-Não quando a pessoa ciumenta é uma vampira. E se a vampira em questão for você, deixa de ser saudável e passa a ser homicídio qualificado.

-Aposto que você nem sabe o que é um homicídio qualificado, Emmett.

Ele abriu a boca para protestar, mas a fechou em seguida, depois deu de ombros.

-Não faz diferença, mesmo. – ele falou com desdém.

Eu ri e peguei a mela, depois virei a chave na fechadura e abri a porta. Eu adorava quando ele ficava com aquela cara de deslocado mentalmente.

-Vem, me dá isso. – ele falou puxando a mala das minhas mãos e passando o braço pelos meus ombros. – A mala é quase do seu tamanho.

-Muito engraçado...

-Por acaso eu reclamei de alguma coisa? – ele perguntou quando terminávamos de descer as escadas. – Pra mim você tem um tamanho perfeito. – ele terminou beijando meus cabelos.

Chegamos ao balcão da recepcionista e ela guardou a lixa mais uma vez, se virando para Emmett.

-Tiveram uma boa noite? – ela perguntou com a voz maliciosa, apoiando os cotovelos na mesa, se insinuando. Eu tive vontade de enfiar a mão na cara dela e esmagar todos os ossos que meus dedos alcançassem. Mas aquela não seria uma atitude sensata. Desde quando você é uma pessoa sensata? Resolvi ignorar minha consciência, ela não estava ajudando.

Eu precisava me acalmar. Aquela mulher não podia fazer nada. Era eu quem estava com Emmett, simples assim. Eu estendi minha mão com a chave para ela e coloquei o sorriso mais presunçoso que consegui no rosto.

-Nós tivemos uma noite perfeita. – eu enfatizei a palavra. A mulher recolheu a chave dos meus dedos sem emoção. – Aposto que deu pra perceber.

Emmett riu encabulado e a mulher se virou para o painel para pendurar a chave. Eu aproveitei e puxei Emmett pela camisa até conseguir encostar meus lábios nos dele. Quando eu o soltei, a mulher estava apoiada na mesa, com ar de impaciência.

-São trinta dólares. – ela falou olhando para as próprias unhas. Vitória.

-Deixa eu adivinhar, sua carteira ficou no carro. – Emmett falou soltando as mãos dos meus cabelos e enfiando-a no bolso de trás do jeans rasgado.

-Aham. – eu falei arqueando as sobrancelhas. – Mas eu sei que você tem dinheiro aí.

-Pão-duro.

Emmett abriu a carteira e tirou uma nota de cem, colocando-a sobra a bancada da recepção.

-Pode ficar com o troco. – ele terminou me puxando pela mão na direção da saída. – Eles vão precisar quando virem o estado em que nós deixamos a parede do quarto. – ele falou baixinho.

Eu ri. Aposto que a recepcionista ia sair correndo atrás de nós com um machado quando visse a parede caindo aos pedaços.

-Muito bonito você provocando a recepcionista... – Emmett falou quando atravessamos a porta.

-Ela pediu, Emm. – eu retruquei com os olhos estreitos. – Mulher oferecida...

Emmett balançou a cabeça e me apertou contra ele com os dois braços, pressionando seus lábios contra meus cabelos.

-Ali, qual parte do “além de lindo, forte e irresistível eu também sou apaixonado por você” você não entendeu?

-A do “lindo, forte e irresistível”? – eu brinquei. Ele mostrou a língua para mim. – É só que... tecnicamente, você também é apaixonado pela Rosalie.

Emmett me soltou e puxou a chave do carro do bolso da frente, depois deu a volta no carro e abriu a porta. Ele apoiou os braços no teto antes de entrar e me encarou.

-E, tecnicamente, você é apaixonada pelo Jasper.

Droga, eu tinha me esquecido daquilo. Sim, de alguma forma eu também era apaixonada por Jasper. Eu amava Jasper. Até que enfim você disse alguma coisa sensata. Mas por outro lado, e de uma forma totalmente inesperada, eu estava apaixonada por Emmett. Meu cérebro ia entrar em colapso a qualquer instante.

Emmett ocupou o banco do motorista e jogou a mala no bando de trás. Eu abri a porta e me sentei ao lado dele, em silêncio. Emmett colocou sua mão grande sobre a minha perna.

-Desculpa, Ali... eu não devia ter falado aquilo.

Eu coloquei minha mão sobre a dele.

-Emm, se você soubesse o estado de confusão em que eu estou...

-Isso é bom... – ele falou com o sorriso no canto da boca.

-Bom?! – eu repeti. – Se continuar assim, meu cérebro derrete, Emmett! E ao contrário de você, pra mim faria muita falta.

-Quando você vai parar de ter esses ataques histéricos? Eu estou começando a ficar com medo.

Ele girou a chave na ignição e saiu com o carro.

-É só que até agora tudo isso tem parecido um sonho perfeito... Só que eu fui forçada a acordar, Emmett. Forçada a encarar a realidade, o mundo lá fora. E eu estou entrando em pânico com isso. Eu estou começando a ficar com medo. Mesmo.

Emmett mudou a marcha e colocou a mão sobre minha perna mais uma vez.

-Eu falei que não ia deixar nada acontecer com você. E eu não vou. Enquanto você estiver sonhando, eu vou estar aqui para te proteger.

-E quando eu acordar?

Emmett hesitou por um segundo e respirou fundo, virando os olhos dourados para mim.

-Eu sempre posso ser seu anestésico. – ele falou sorrindo torto.

-Anestesia geral? – eu arrisquei.

-Com a vantagem de fazer você se lembrar de tudo depois.

E sorri para ele. Era impossível não se sentir reconfortada com aquelas palavras, com aquele sorriso infantil, com aquele olhar se refletindo em mim.

-Desde quando você virou uma pessoa sensível? – eu falei para provocá-lo.

-Deve ser influência do Edward. – ele falou dando de ombros. – Acho que está afetando a minha masculinidade. – ele virou o rosto para mim. – O que não seria nada agradável.

-Eu acho sua masculinidade perfeita, Emmett. Mas não comece a ficar mais convencido do que você já é. – eu acrescentei.

-Eu já falei que não sou convencido. É um fato cientificamente comprovado.

-Cientificamente?

-Aham. – ele falou sorrindo. – Você foi até minha cobaia.

Eu mostrei a língua para ele e depois encostei a cabeça no banco, suspirando alto.

-O que foi? – ele perguntou olhando para mim.

-Nada, Emm, se concentra na estrada.

-Você não está pensando de novo, está?

-Isso é uma ameaça? – eu perguntei em tom de desafio, estreitando os olhos.

-Posso transformar em uma. – ele respondeu sorrindo torto.

-E o que você vai fazer? – eu perguntei cruzando os braços.

-Te obrigar a não pensar. – ele falou dando de ombros, como se aquela fosse uma resposta óbvia.

-E eu posso saber como você vai fazer isso?

-Você já sabe como, Alice.

Eu abri a boca para retrucar, mas a fechei em seguida. Eu sabia a quê ele estava se referindo. Realmente, naquela situação, era como se eu estivesse anestesiada. Como se eu não precisasse pensar, porque todo o resto à minha volta havia desaparecido repentinamente.

-Olha. – ele falou apontando para a placa que havia acabado de passar sobre nós. – Finalmente uma indicação do aeroporto. Acho que dessa vez não temos desculpa para enrolar mais.

Eu respirei fundo. A perspectiva de encarar Jasper, Rosalie e Edward ainda me assustava. Emmett levou a mão à minha cabeça e afagou meus cabelos lentamente. Eu virei meu rosto para a janela da porta e fiquei observando a paisagem passar. O céu ainda estava cinzento, mas havia pequenos pedaços de azul que se destacavam entre as nuvens. Aos poucos, a paisagem foi se tornando mais civilizada e com mais placas. O aeroporto estava se aproximando.

-Ali, é a última vez que eu aviso. – Emmett começou. – Se você não parar com esses... – ele franziu as sobrancelhas. – movimentos estranhos eu te empurro para fora do carro.

Eu fiquei com uma expressão confusa. Eu nem havia me dado conta de que estava fazendo algum movimento.

-Desculpa, Emm. Eu nem estou consciente do que estou fazendo. Sério.

Ele riu e balançou a cabeça, depois voltou a se concentrar na estrada. Foi quando eu olhei para frente e percebi que o aeroporto estava perigosamente perto. O fim do meu sonho estava perigosamente perto. Emmett olhou para mim com os olhos estreitos.

-Tá, já parei. – eu retruquei me endireitando no banco antes que ele dissesse qualquer coisa. Ele atravessou a portaria do estacionamento e começou a circular com o carro pelas fileiras de vagas lotadas.

-Eu tenho vontade de pegar um carro desses e atirar longe. Seria tão mais prático. – Emmett falou com os olhinhos brilhando.

-Aham. E de brinde ir parar na delegacia de novo. – eu resmunguei cruzando os braços.

-Sem graça. – ele retrucou mostrando a língua.

-Olha ali, uma vaga. – eu apontei para o final da fileira em que estávamos. – Mas tem um carro indo pra lá...

Eu mal terminei a frase e fui jogava com as costas contra o banco. Emmett havia acelerado repentinamente.

-Você tem algum problema, Emmett? – eu gritei me ajeitando no banco mais uma vez.

-Não, eu sou perfeito. – ele falou dando de ombros. – Eu só quero a vaga, oras.

Emmett freou quando o carro se aproximou da vaga e, com uma derrapada perfeita, encaixou o veículo entre as duas faixas brancas do chão.

-Prometa – eu comecei. – que você não vai, nunca mais, fazer isso com o meu carro.

Emmett desligou o motor e jogou a chave nas minhas mãos.

-Menos, Alice. Pode analisar a lataria com um microscópio se você quiser. Não tem um arranhão. – ele falou presunçoso. – Eu garanto.

Emmett abriu a porta e saiu do carro, depois levantou o banco e pegou nossas malas. Eu fiz o mesmo e tranquei as portas, depois corri até ele o agarrei por trás.

-Você parece uma macaquinha agarrada em mim desse jeito. – ele falou rindo. Eu soltei sua cintura e fui até seu lado, de braços cruzados.

-Como você é insensível, Emmett... – eu resmunguei.

Ele passou uma das malas para a outra mão e me apertou contra ele, beijando meus cabelos. Eu adorava quando seus braços fortes me tocavam com doçura. Era uma combinação tão estranha que chegava a ser incrivelmente perfeita.

-Eu só estava brincando, baixinha. – ele falou sorrindo com as covinhas. – Tá, você parecia mesmo uma macaquinha, mas era a minha macaquinha. A macaquinha que eu adoro.

Como eu ia conseguir ficar séria o suficiente para dar uma bronca nele quando ele falava aquele tipo de coisa? Emmett era tão espontâneo que eu tive de sorrir em resposta.

-É por isso que eu gosto de você, Emm... – eu sussurrei com a cabeça encostada em sua camisa.

-Só por isso? – ele provocou com a voz maliciosa. Eu dei um tapa em seu peito.

-Deixa de ser pervertido! – eu falei entre os dentes.

-Ah, você quase arranca minhas calças com as unhas ontem à noite e eu sou o pervertido? – ele olhou para as próprias pernas. – Aposto que ela não tinha tantos rasgos assim antes.

As pessoas que estavam próximas à entrada do saguão nos olharam horrorizadas.

-Isso, fala mais alto. Você não quer um megafone para anunciar pra todo mundo o que nós fizemos ontem à noite? – eu falei com as sobrancelhas cerradas, me soltando dele.

-Não. – Emmett deu de ombros. – Elas iam ter uma crise de baixa auto estima e entrar em depressão depois.

Eu ri e balancei a cabeça. Só ele para dizer aquele tipo de coisa com aquela naturalidade. Atravessamos a entrada do saguão e nos encaminhamos para os banquinhos no meio do salão, onde Emmett deixou as malas.

-Eu vou comprar as passagens. – ele falou passando a mão nos meus cabelos e depois se abaixou para alcançar meus lábios em um beijo rápido. – Fique aí cuidando das malas que eu já volto.

Eu assenti bobamente com a cabeça e me sentei ao lado das malas. Cada vez que ele me beijava era como se eu fosse para um universo paralelo. Eu precisava fazer uma coisa a respeito daquilo. Você sabe exatamente o que você tem de fazer a respeito, Alice. Sim, mas eu não ia fazer.

Alguns minutos depois Emmett voltou com as passagens nas mãos.

-Pronto, sua passagem, madame. – ele falou estendendo a mão para mim.

-Passagem pro inferno... – eu murmurei baixinho. Emmett balançou a cabeça e sentou ao meu lado, pegando meu queixo com o polegar e o indicador. Eu levantei o olhar. Seus olhos dourados eram gentis, suas pupilas dilatadas acompanhavam cada desvio das minhas.

-Confie em mim, Alice. Nós vamos encarar isso juntos. – ele falou de vagar. – Agora, se você ficar histérica, todo mundo vai perceber que tem alguma coisa errada.

-O Edward vai perceber de qualquer jeito, Emmett. – eu falei com a voz fraca.

-Nós conversamos com ele.

-Promete que você não vai deixar o Jasper arrancar minha cabeça?

-Acho que é mais provável ele querer arrancar a minha cabeça, Alice.

-Então a Rosalie. – eu insisti.

-Ela não vai encostar a mão em você.

Eu sorri sem graça e ele pressionou seus lábios contra os meus mais uma vez.

-Precisamos ir para a sala de embarque. – ele falou passando as costas da mão pelo meu rosto. – O vôo é daqui uma hora.

Eu assenti triste com a cabeça e encarei meus joelhos. Eu realmente não queria fazer aquilo. Emmett se levantou e estendeu a mão para mim, sorrindo.

-Eu anestesio a viagem, Ali.

Eu estendi minha mão para ele fui puxada contra seu peito em um abraço apertado. Eu encostei minha cabeça em seu corpo e ele começou a afagar minhas costas, depois beijou meus cabelos com carinho. Eu respirei fundo mais uma vez, sabendo que ele estaria ali sempre que eu precisasse.

 

-

 

Quando saímos do táxi na frente do hotel o céu já estava totalmente escuro. Emmett pagou o motorista e tirou as malas do bagageiro. Eu fiquei de pé, parada, olhando para o hotel como se quisesse fazê-lo desaparecer com a força do pensamento. E eu realmente queria.

-É aqui mesmo? – Emmett perguntou passando o braço pelos meus ombros e se encostando ao meu lado.

-Aham. – eu murmurei apreensiva. Ele começou a afagar meu braço.

-Uma hora ou outra isso ia ter de acontecer, Alice... Vamos. – ele falou por fim, me forçando a andar na direção do hotel. – Ninguém vai te matar, eu prometo. – ele acrescentou.

Eu não respondi, eu estava nervosa demais para coordenar a formação de uma frase completa que fizesse algum sentido. Eu apenas assenti levemente com a cabeça e o acompanhei para dentro do saguão.

-Ali, eu vou à recepção explicar o que aconteceu e já volto. – Emmett falou passando a mão em meus cabelos e deixando as malas aos meus pés.

Eu o observei caminhar até o recepcionista do hotel e o ouvi conversar com ele em um italiano impecável. Ele ficava tão lindo quando falava italiano. Sorri abobalhada enquanto Emmett voltava alguns minutos depois com as sobrancelhas franzidas.

-O que foi? – ele perguntou quando chegou mais perto de mim.

-Você falando italiano... – eu respondi voltando a mim.

-Que que tem?

-É bonito.

Emmett se abaixou e pegou as malas com uma mão só. Com a outra, ele me apertou contra seu corpo mais uma vez.

-Se for pra você ficar com essa carinha, io parlo italiano per sempre d’ora in avanti.

Eu derreti. Italiano sempre me tirava do sério.

-Eu fiquei com uma cara tão idiota assim? – eu perguntei enquanto caminhávamos até o elevador.

-O suficiente para eu querer te ver daquele jeito sempre. Carinha de apaixonada. – ele terminou abrindo a porta do elevador que havia chegado.

Nós entramos na cabine e ele pressionou o botão do nono andar. Eu me agarrei em sua cintura.

-Eu não quero encarar o Jasper, Emm... – eu murmurei fechando os olhos.

-Alice... eu vou estar com você. – ele falou me envolvendo em seus braços e beijando meus cabelos.

Eu o apertei ainda mais forte. Eu abracei Emmett como uma criança assustada que abraça seu ursinho de pelúcia em meio a uma tempestade para tentar amenizar o medo. Para adormecer e se livrar da realidade que a cerca.

Então o elevador parou. Nono andar.

Emmett beijou meus cabelos mais uma vez e eu larguei sua cintura contra vontade. A porta automática se abriu, ele pegou as malas e nós saímos da cabine. Caminhamos de vagar, as lembranças dos últimos dias pulsando em minha mente e se misturando com a perspectiva de encarar Jasper pela primeira vez depois de tudo aquilo. Atravessamos o corredor em silêncio até pararmos em frente à porta que tinha o número noventa e três.

-Chegaram. – eu ouvi Edward falar de dentro do apartamento. Os segundos seguintes se passaram rápido demais para que eu conseguisse processá-los com qualquer eficiência. Quando pisquei os olhos, Edward estava parado à nossa frente com a mão apoiada na maçaneta da porta, o olhar baixo e sério em mim. Emmett colocou a mão em meu ombro e Edward subiu seu olhar para o dele, em choque.

Eu respirei fundo. Era hora de acordar da anestesia.


 

***


 

NOTAS: Oies ^^

Antes de qualquer outra coisa: Emm, anestesia eu, oiq. /prontoparei. *¬*

 

 

Eu sei que eu dei uma de Tia Steph, tipo: “E aí ele entrou no mar, eu fui atrás dele, acordei no outro dia deitada em seu peito com um monte de penas e fim.” MAS eu preferi fazer assim. Se, algum dia, em um momento de loucura permanente eu resolver escrever um bônus, eu prometo que conto o que aconteceu... Enquanto isso, exercitem a criatividade! UI.

 

Antes que alguém queira me espancar porque o Jasper não apareceu ainda, calma, ele aparece no capítulo 7! =D

 

Beijos gelados para todos, sonhem com o Emm só de cuecas (ou não - 666) e sejam felizes.

 

JMcCartyC

 

Ah, e se alguém quiser entrar em contato: jugiacobelli@hotmail.com



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