Teddybear - Heart Is Unpredictable escrita por JMcCarthyC


Capítulo 13
Tempestade




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Já acreditei em amores perfeitos,

Já descobri que eles não existem.

- Clarice Lispector.

 

Os dias seguintes se arrastaram vazios. Era como se alguém houvesse apagado a luz, puxado o mundo da tomada. Nada em volta fazia sentido, nada parecia certo. Era como estar presa no meio do errado.

Subi as escadas devagar, olhar distante. Era inútil ficar olhando para a porta da sala e esperar que ele aparecesse ali. Mas ele tinha dito que ele ia voltar, não tinha? Parei no meio da escada e me debrucei no corrimão, observando o sofá. A lembrança dele correndo os dedos pelos meus cabelos ainda me reconfortava. Era como um pontinho de luz no meio daquela escuridão toda. Respirei fundo e quase sorri, depois subi os últimos degraus.

Caminhei sem pressa pelo corredor vazio até parar na frente da porta do quarto dele. O meu quarto desde que havíamos voltado da Itália. Coloquei a mão na maçaneta e, por mais absurdo que aquilo fosse, uma parte de mim ainda parecia acreditar que ele estaria lá, deitado na cama – com alguma sorte sem camisa – sorrindo para mim com as covinhas que eu gostava tanto. Então, como em toda vez, eu girei a maçaneta e me deparei com o quarto apagado, vazio. Fechei a porta atrás de mim devagar e caminhei até a cama de casal no meio do quarto.

O boné de baseball dele ainda estava sobre o lençol, algumas peças de roupa jogadas pelo chão. Eu peguei o boné como fazia todos os dias e o coloquei em minha própria cabeça, depois deitei na cama e puxei o bichinho de pelúcia da cabeceira.

Um ursinho.

Meu ursinho.

Abracei o bichinho contra meu peito e encostei meu rosto nele, o cheiro de Emmett invadindo meus pulmões. Estar ali, ver as coisas dele, sentir seu perfume inconfundível, me fazia acreditar que aquela semana havia sido real. Que não tinha sido só obra da minha imaginação perturbada, nem uma alucinação da minha cabeça.

Então alguém bateu na porta.

-Entra. – eu falei recolocando o bichinho de volta na cabeceira e tirando o boné da minha cabeça.

A porta se abriu devagar e Edward colocou a cabeça na fresta.

-Posso mesmo? – ele perguntou com cautela.

Eu assenti com a cabeça, girando o boné de Emmett nos dedos. Edward entrou sem fazer barulho e fechou a porta trás de si, depois veio caminhando em minha direção, sentando-se na ponta da cama.

-Como você está? – ele perguntou com a mão em minha perna.

-O mesmo de sempre... – eu respondi sem olhar para ele, ocupada em brincar com o boné.

-Ele ligou.

Eu parei de mexer no boné e levantei os olhos, paralisada.

-Quem ligou, Edward? – eu perguntei séria. Um tom mais autoritário do que eu mesma esperava.

-O Emmett. – ele respondeu com um sorriso tímido. – Quem vocês esperava?

Eu arregalei os olhos e recolhi as pernas, engatinhando até Edward.

-O Emmett? – eu repeti, segurando Edward pela camisa. – Tem certeza? Podia ter sido o Jasper, sei lá...

-Alice... – ele começou. – Me solta.

Eu larguei sua camisa em um movimento mecânico e voltei a me sentar, encostada na cabeceira da cama.

-Não era o Jasper. – ele continuou. – O Jasper não liga mais aqui, só o Carlisle consegue falar com ele.

Eu ainda estava parada, em choque.

-O que o Emmett queria? – eu perguntei abraçando minhas pernas, apoiando o queixo nos joelhos. Edward sentou mais perto de mim.

-Ele queria saber de você. Queria saber como você estava.

Eu engoli seco.

-Por que ele não quis falar comigo? – eu perguntei, a voz fraca. Edward riu.

-Se você soubesse como ele queria ouvir sua voz... Só que ele disse que preferia conversar com você pessoalmente.

Eu arregalei os olhos mais uma vez.

-Pessoalmente? – eu repeti, incrédula. – O que ele quis dizer com pessoalmente, exatamente? – eu perguntei, um pouco mais histérica do que eu gostaria.

Edward deu de ombros.

-Eu sei lá, Alice. – ele respondeu rindo. – Provavelmente que ele vai se encontrar com você, eu acho.

Eu me encolhi de novo. Então ele ia mesmo voltar. Um esboço de sorriso ameaçou passar pelos meus lábios e eu olhei para Edward novamente.

-Ele falou quando? – eu perguntei apreensiva.

Edward balançou a cabeça.

-Não... – ele respondeu olhando para os próprios joelhos. – mas acho que deve ser logo. – Edward voltou a me encarar. – E ele falou mais uma coisa também.

Eu estreitei os olhos. Precisava fazer aquele suspense todo? Era só falar de uma vez ao invés de ficar me torturando.

-Fala logo, Edward! – eu disse impaciente. – Ou você quer que eu tenha um troço?

Edward abriu um sorriso tímido no canto da boca.

-Ele pediu pra eu te dizer que ele te ama.

Eu parei, pega de surpresa. Toda raiva e frustração foram drenadas do meu corpo, substituídas pelo conforto, pela certeza. Ele me ama, eu repeti bobamente para mim mesma. Como se eu não soubesse daquilo. Como se ele não tivesse me dito aquilo tantas vezes enquanto estávamos juntos. Como se em algum momento de toda a minha existência eu fosse capaz de esquecer, por um segundo que fosse, as três palavras ditas no timbre grave daquela voz.

-

 

Primeiro dia. Pensei sem muita animação quando meus pés entraram na escola naquela manhã de setembro. Era estranho voltar depois de dois meses. Era inda mais estranho voltar e encontrar tudo igual, todo um universo alheio ao furacão de coisas que havia me acontecido em um intervalo tão pequeno de tempo.

Caminhei devagar pelos corredores cheios de crianças andando por todos os lados, rindo e conversando alto.

-Oi, professora! – uma garotinha gritou e acenou com as mãos quando passou correndo por mim.

-Oi, Ashley. – eu respondi acenando de volta, forçando um sorriso fingido.

Continuei caminhando, encontrando mais uma dúzia de rostinhos conhecidos, até me deparar com o sr. Burnns, vindo sorridente ao meu encontro.

-Professora Cullen! – ele gritou do outro lado do corredor com um sorriso enorme no rosto. Eu realmente não queria conversar, pelo maior tempo possível. Mais do que isso, talvez. Mas eu não podia simplesmente fingir que ele não existia. Ele não tinha culpa de nada.

-Olá, sr. Burnns. – eu respondi tentando fingir um sorriso um pouco melhor daquela vez. – Como foi de férias?

-Foi ótimo, professora, ótimo! – ele respondeu com animação. – E a senhora?

Eu hesitei, tentando pensar na melhor maneira de mentir e ser convincente ao mesmo tempo. O que, para mim, costumavam ser eventos mutuamente exclusivos.

-A Itália é ótima. – eu respondi simplesmente, evitando envolver sentimentos e prolongar a conversa por mais tempo que o suficiente. E aquilo já era o suficiente.

O inspetor pareceu satisfeito com a resposta e eu retomei os passos, indo na direção da sala dos professores.

A sala dos professores.

Eu tinha certeza de que, assim que colocasse os pés dentro daquela sala, Debbie iria me bombardear com os mais variados tipos de perguntas, sobre todas as coisas de que ela conseguisse se lembrar enquanto estivéssemos ali. O que, claro, era a última coisa de que eu precisava.

Quando abri a porta da sala, o ar quente me desnorteou por alguns segundos, como sempre acontecia. Mas eu não me importei daquela vez. Eu não me importava com mais nada. Debbie parou a xícara de café a meio caminho da boca, abrindo um sorriso medonho quando me viu.

-Alice! – ela gritou pousando a xícara sobre o pires na mesa, se colocando de pé. – Vem aqui agora e me conta tudo! – ela falou apontando para as cadeiras.

Eu revirei os olhos mentalmente. O segundo round de torturas ia começar.

-Debbie... – eu comecei caminhando até ela, me sentando em uma das cadeiras vagas. – Eu não sei se realmente quero falar sobre isso.

Debbie arregalou os olhos grandes, uma expressão de espanto em seu rosto magro.

-Quem morreu, Alice? – ela perguntou de uma vez, levando as mãos à boca. – Por favor, me diz que não foi o médico loiro bonitão...

Eu franzi as sobrancelhas.

-De onde você tirou essa idéia? – eu perguntei balançando a cabeça, em choque. – Claro que não, ninguém morreu. A não ser eu, um pouco, talvez... – eu murmurei baixinho, na intenção de que ela não escutasse. O que, obviamente, não aconteceu.

-O quê?

-Nada, Debbie. – eu respondi pacientemente. – Sem perguntas sobre as férias, tudo bem?

-Uhum, ok... – ela respondeu parecendo desapontada, voltando-se para sua xícara de café. – Sabe... – ela continuou entre os goles. – Ouvi dizer que você pegou a quinta série agora. A mesma turma do semestre passado.

Eu assenti com a cabeça.

-É... – eu falei devagar. – Eu preferi continuar com eles, sabe. Já perdi coisas demais. Eu queria que pelo menos uma coisa não mudasse...

Debbie me olhou em estado de choque. Não era para ter soado tão dramático assim. Então o sinal tocou. Salva pelo gongo, literalmente. Levantei rápido da cadeira com o material em mãos e caminhei até a porta, disposta a evitar de todas as formas qualquer pergunta embaraçosa.

Daquela vez eu passei direito pela sala treze, que continuava com a turma da quarta série daquele semestre e caminhei até o número dezesseis. Algumas crianças ainda corriam apressadas pelos corredores, tentando alcançar as salas antes dos professores. Respirei fundo e abri a porta.

As crianças se ajeitaram nas carteiras, arrastando as cadeiras quando eu entrei, os rostos conhecidos sorrindo para mim.

-Bom dia, crianças. – eu falei forçando o sorriso mais uma vez, colocando minhas coisas sobre a mesa na frente da sala.

-Bom dia, professora! – todas responderam com animação.

Todas.

Corri os olhos ansiosos pelas fileiras de crianças, procurando por um rostinho que não estivesse olhando para mim. Que estivesse concentrado em amassar bolinhas de papel, ou ocupado em dobrar aviõezinhos que eu sabia serem jogados contra mim. Um rostinho com um par de olhos azuis brilhantes e cabelos escuros enrolados. O rostinho com o sorriso de covinhas. O sorriso que me lembrava... Mas ele não estava lá.

Senti um aperto gritar em meu peito ao encontrar sua carteira, no fundo da sala, ocupada por outro garoto. Mas tentei não pensar naquilo. Não naquela hora. Talvez ele tivesse apenas faltado, eu falaria com Robert quando a aula acabasse.

Sendo aquele o primeiro dia, eu não fiz muita coisa. Me limitei a atividades de integração, colocando as carteiras em um círculo grande na sala e perguntando a cada aluno sobre as férias. Quando todos acabaram, ninguém me perguntou sobre as minhas férias. Não que eu quisesse falar sobre elas, mas a mãozinha levantada e o sorriso largo quando falava comigo, me fez sentir saudades agora que não estavam mais ali. Era o sorriso que eu tinha esperanças de ver, aquele que me lembrava... dele.

Depois disso, o sinal tocou. As crianças começaram a se levantar e arrastar as carteiras, fazendo barulho, falando alto.

-Robert! – eu falei quando o garotinho de cabelos castanhos passou pela minha mesa. Ele parou e olhou para mim, assustado.

-O que foi, professora? – ele perguntou confuso. – Eu fiz alguma coisa?

Eu ri sem graça e balancei a cabeça.

-Não, claro que não. – eu respondi e fiz sinal para que ele se aproximasse. – Eu só queria te fazer uma pergunta.

Robert se aproximou, apoiando as mãos em minha mesa.

-Pode perguntar, professora.

Eu respirei fundo, já sabendo que a pergunta seria em vão. Eu sabia a resposta.

-Eu só queria saber se você sabe do Emmett. – eu comecei, tentando não deixar transparecer minha ansiedade. Tentando ignorar o looping em meu estômago quando o nome escapou de meus lábios, calado em mim por tanto tempo. – Se você sabe porquê ele não veio hoje.

A expressão de Robert mudou. Eu engoli seco.

-Ele não vem mais, professora. – ele respondeu com a voz baixa. – Ele foi embora.

O aperto em meu peito gritou mais alto, abrindo um buraco ainda mais dolorido no meio de tantos outros. No meio de tantos vazios. De tantas perdas. Jasper, Rosalie, ele... e agora mais um Emmett. Mais um sorriso que se apagava. Mais um pedaço que se quebrava da ponte tênue de ligação entre a minha realidade... e a minha anestesia.

-Obrigada, Robert... – eu falei com a voz fraca, o coração apertado. O quão pior aquilo tudo podia ficar?

Então o garoto levantou as sobrancelhas e colocou a mão no bolso da calça, como se houvesse acabado de se lembrar de alguma coisa. Lentamente, ele puxou um pedaço de papel do bolso.

-Acabei de lembrar. – ele falou me estendendo o papel. – O Emmett pediu pra eu te entregar isso.

Eu olhei surpresa para Robert e peguei o papel. Um envelope. Abri o invólucro com cuidado, as mãos trêmulas dificultando meus movimentos ainda mais. Então eu puxei o que havia lá dentro.

Uma foto.

Nossa foto.

Eu engoli seco olhando para o sorriso levado que sorria ao me lado no papel. O sorriso que me lembrava tanto dele. O rostinho que eu queria tanto ver. E que agora não estava mais lá.

-Ahn, professora...? – Robert perguntou com a voz tímida. Eu ergui os olhos. Eu havia me esquecido de que ele estava lá. – Posso ir?

Eu ergui as sobrancelhas.

-Claro, claro. – eu falei balançando a cabeça. – Desculpa, Rob. E obrigada. – eu a acrescentei, levantando a foto. Ele sorriu e se virou para mim novamente.

-Eu acho que tem alguma escrita atrás da foto. – ele falou da porta. – Só pra avisar. – ele terminou e desapareceu no corredor.

Eu virei a foto com cuidado em meus dedos e me deparei com a letra infantil de Emmett.

 

Professora Alice,

Eu quis te dar essa foto para a senhora não se esquecer de mim. Espero que o Robert tenha entregado direitinho como eu pedi.

Desculpa por todas as vezes que eu fui para a detenção, desculpa se alguma vez eu deixei a senhora triste. Foi sem querer.

Vou sentir saudades. Quem sabe um dia a gente não se vê de novo?

Te amo,

 

Emmett. – Que nem o seu irmão.

 

Eu tive que reler cada linha pelo menos três vezes antes de cair em mim. Peguei meu material mecanicamente da mesa e saí da classe, indo na direção da sala dos professores, totalmente entorpecida.  Talvez eu estivesse chocada demais, amortecida demais, como que se a cada golpe que eu levasse, o seguinte se tornasse mais indolor, mais insensível.

Quando entrei, o ar quente não me desnorteou, as vozes à minha volta não faziam sentido. Eram apenas barulhos desconexos, distantes. Eu parecia incapaz de sentir qualquer coisa. Me sentei em uma das cadeiras do fundo da sala, sem dirigir sequer uma palavra a alguém. Continuei segurando a foto em meus dedos, observando-a, o olhar vazio.

-Alice? – eu ouvi uma voz me chamar. Eu não queria me virar, eu não queria responder. Eu queria continuar ali, comigo mesma. – Alice! – a voz insistiu.

Derrotada, eu ergui os olhos, já sabendo quem encontrar ali.

-Você está bem? – Debbie perguntou parecendo preocupada. Eu dei de ombros. – Todo mundo está olhando para você... – ela falou entre os dentes. – Quer que eu te leve à enfermaria?

Eu balancei a cabeça negativamente, sem emoção. Depois peguei a foto e a guardei gentilmente dentro da minha pasta. Debbie esticou os olhos.

-Ah, é por isso...? – ela perguntou baixinho, se sentando ao meu lado. – Ele se mudou para o Texas, não é?

-É? – eu falei finalmente, a voz mais fraca do que eu esperava. – Eu não sabia. – terminei olhando para os meus joelhos. Debbie colocou a mão em minha perna.

-Você gostava bastante dele, pelo visto...

Eu assenti com a cabeça, devagar.

-É por causa do seu irmão? – ela arriscou, o olhar preocupado. Eu respirei fundo, depois engoli seco, me denunciando. – Tudo bem, não precisa responder. – ela falou passando o braço por meus ombros.

-Obrigada, Debbie. - eu murmurei baixinho. Então sinal tocou mais uma vez. Eu puxei meu material para mais perto de mim e Debbie se afastou, dando espaço para que eu me levantasse.

Passei rápido pelas pessoas, ainda sem distinguir vozes dos barulhos nos corredores. Caminhei entre os alunos, alcançando rápido a sala dezesseis. Quando entrei, ainda havia poucas crianças nas carteiras. Desabei na cadeira e apoiei a cabeça nas mãos. Eu tinha que me controlar. Eu ainda tinha mais meio período de aula para dar. Sacudi a cabeça e respirei fundo, o barulho dos passos apressados das crianças entrando correndo na sala e arrastando as carteiras me acordando levemente.

Levantei a cabeça, as crianças me olhavam curiosas. Tentei forçar um sorriso e esperei que todos se sentassem, depois me coloquei de pé. Respirei fundo mais uma vez e as encarei. Eu precisava esquecer tudo aquilo.

 

-

 

-Muito bem, mais alguma pergunta? – eu perguntei guardando o giz e me virando para a sala. Ninguém se manifestou. – Podem guardar as coisas e esperar o sinal, então. – eu terminei começando a ajeitar minhas coisas enquanto as crianças se levantavam agitadas para guardar o material.

Eu terminei de organizar as pastas e cadernos sobre a mesa e me sentei, depois puxei a foto de Emmett de uma das pastas e voltei a observá-la. Então o sinal tocou.

As cadeiras se arrastaram e em minutos os alunos já estavam correndo pelos corredores. Eu não tinha pressa. Eu não tinha motivo para ter pressa. Acenei para as crianças que saíam e depois voltei minha atenção para a foto em minhas mãos. Eu não podia acreditar que eu havia perdido o Emmett. Outro Emmett. Eu fechei os olhos e deitei a cabeça em meus braços. Eram coisas demais acontecendo, todas elas sem sentido e brigando incansavelmente pelo controle do meu cérebro.

-Você não muda, não é? – uma voz grossa falou na direção da porta. Meu estômago deu um looping, minha boca secou, meu cérebro parou, tudo ao mesmo tempo. Ele não podia estar ali. Não podia.

Abri os olhos com a cabeça ainda baixa, devagar. Cada célula do meu corpo parecia pulsar descompassadamente, freneticamente, pressentindo o que meus olhos veriam quando eu levantasse o rosto e olhasse na direção da porta. Engoli seco e respirei fundo, movendo minha cabeça lentamente.

Então eu o vi.

O corpo grande, a pele pálida, o rosto perfeito. Mas o rosto estava diferente. O sorriso acabando em covinhas não alcançavam seus olhos dourados, que não brilhavam com a mesma intensidade.

-Emmett... – eu balbuciei, a única palavra que eu era capaz de pronunciar naquele momento. A única palavra que eu não me importaria de pronunciar pelo resto da minha existência.

Ele veio caminhando devagar em minha direção, sem dizer nada, até parar ao mau lado e colocar a mão grande em meus cabelos. Eu fiquei parada por um segundo, ainda em choque. Então, com um movimento brusco, me coloquei de pé e me agarrei em sua cintura com força.

Naquele instante, tudo voltou a fazer sentido. Parecia que alguém havia acendido as luzes novamente, eu conseguia distinguir os sons, as formas. Eu conseguia entender o que eu sentia.

-Você voltou... – eu falei com a voz fraca, os olhos apertados. Emmett apoiou o queixo em minha cabeça e começou a afagar minhas costas.

-Eu precisava ver você antes de ir...

Eu desgrudei a cabeça de seu peito e olhei para cima, incrédula. O que ele pensava que estava dizendo com aquilo?

-Como assim, ir? – eu repeti com a voz urgente, agoniada. Ele não podia ir embora de novo, não agora.

-Senta, Ali... – ele falou baixinho, apontando para a cadeira.

-Eu não quero sentar, Emmett! – eu falei desesperada. – E quero que você me explique o que está acontecendo!

Ele respirou fundo e passou a mão pelo meu rosto, uma expressão de dor cortando seu semblante.

-Por favor, não faça isso ficar ainda mais insuportável para mim... – ele pediu com a voz rouca.

Derrotada, eu me sentei na cadeira. Emmet se abaixou ao meu lado, suas mãos apoiadas em minhas pernas.

-Ali... – ele começou, sem olhar para mim. – Eu andei pensando e... bom... eu decidi que eu vou me mudar do Alasca.

Eu arregalei os olhos, desesperada. Ele não podia fazer aquilo. Abri a boca para protestar, mas ele levantou o indicador e pressionou contra os meus lábios.

-Deixa eu acabar... – ele pediu com a voz triste. – Antes que eu não consiga. – ele respirou fundo e engoliu seco. – Eu arranjei uma casa em Washington. Em Forks, lembra? Parece ser um lugar bom, tem florestas e quase nunca faz sol. Já tinha até me esquecido de como eram as coisas por lá. – ele sorriu por um breve momento, depois voltou os olhos para mim, tristes.

“Eu vou me mudar para lá, esperar toda essa poeira baixar, sabe. Eu acho que vai ser melhor.”

-Melhor?! – eu repeti, histérica. – Agora quem está com conceito de melhor e pior deturpado e você, Emmett! Ao menos que isso seja melhor para você, porque pra mim vai ser como... como morrer... Voltar a viver em um mundo sem sentido, sem você. Eu não quero. Eu não consigo. Por favor...

-Ali, - ele interrompeu, colocando a mão grande em meu rosto. – quantas vezes eu vou ter de repetir que eu te amo. Sempre. Que você é a minha razão. A minha baixinha... – o polegar de Emmett subia e descia pela minha bochecha, seu sorriso triste me agoniando ainda mais. – Mas eu já decidi...

Eu engoli seco, minha voz não queria sair.

-A Rosalie vai com você? – eu perguntei incerta, a voz fraca.

-Não... – ele respondeu abaixando os olhos. – Acho que eu preciso ficar sozinho por um tempo.

Eu levei meus dedos ao seu rosto, eu precisava senti-lo mais uma vez.

-Emm... – eu falei com um nó crescente em minha garganta. – Por quê? Por que tem que ser assim? Eu não quero ficar longe de você! Eu-eu não consigo mais! Você não sabe como foram as últimas semanas pra mim...

Ele balançou a cabeça e voltou a me encarar.

-Você não tem idéia de como foi para mim. Alice, eu nunca senti a falta de alguém como eu senti a sua. Eu sinto falta do brilho dos seus olhos, do seu sorriso, do seu cheiro, do seu beijo... – ele contornava cada curva do meu rosto enquanto falava. – De você, baixinha.

-Mas então por quê? – eu insisti. Emmett respirou fundo.

-Pra dar uma chance à nossa família. Ela está desmoronando, não é justo... Eu não quero que seja assim.

-Mas... –

-Alice, - ele me interrompeu, um tom mais alto. – é melhor assim. Não é definitivo. É só... por um tempo.

-Quanto tempo, Emm? – eu falei correndo meus dedos por seus cabelos escuros. – Quando você não está comigo, cada dia parece um ano inteiro...

-Eu não sei... – ele respondeu com a voz rouca. – O suficiente, eu acho.

Eu engoli seco e o encarei. Era doloroso vê-lo daquele jeito. Era quase insuportável ter de ficar ali ouvindo o que ele dizia.

-Eu acho... eu acho que eu não consigo ficar sem você... – eu tentei suplicar.

-Consegue sim... – ele falou com um sorriso triste no rosto. – Você é forte... e eu falei com o Carlisle, Ali.

-C-como assim? Falou o quê? – eu perguntei, confusa.

Emmett engoliu seco.

-Eu pedi para ele conversar com o Jasper. Falar que eu vou embora, pedir pra ele voltar.

Eu parei, estática. Qual era o problema dele?

-Você... – eu falei incrédula. Ele não estava fazendo aquilo. – Você o quê, Emmett? Você quer me matar?

-Não, eu só quero arrumar as coisas... o Jaz não pode ficar assim sumido, você sabe como ele é. – Emmett se defendeu. – E eu sei que, de alguma forma, você ainda gosta dele. – ele falou abaixando os olhos. Eu levei minha mão até seu queixo e levantei seu rosto, até que seu olhar alcançasse o meu.

-Emm, é você que eu quero. – eu falei aproximando meu rosto do dele. – É com você que eu quero ficar de agora em diante.

Ele levou a outra mão ao meu rosto, seus olhos me fitando com agonia, desespero.

-Por favor, Ali... – ele pediu com um nó na garganta. – Por mim... Por nós. Você precisa do Jasper e ele precisa de você. Por enquanto... Vai ser melhor assim.

Emmett acariciava meu rosto com o polegar, a voz saía fraca. Seus olhos dourados não brilhavam mais, não havia covinhas em suas bochechas.

-Sabe, ele é mais ou menos como um relâmpago para você. – ele continuou. – Faz você enxergar as coisas com clareza, do jeito certo. Eu sou mais como um trovão. Só sirvo para fazer barulho, só banguncei a sua vida.

Eu apertei sua mão em meu rosto, meus olhos já não o encaravam mais.

-Eu gosto de trovões... – eu falei baixinho.

-Mas gosta mais de relâmpagos. – ele me lembrou com um sorriso murcho.

-Eu não posso ficar com a tempestade inteira? – eu perguntei, quase em súplica. Emmett não respondeu, apenas ficou me olhando, a tristeza cortando seu semblante perfeito. – E o pra sempre? – eu arrisquei.

Ele abaixou os olhos. Sua voz saiu rouca, baixa.

-Pra sempres acabam, baixinha.

Eu levei minha mão ao seu rosto, querendo senti-lo uma última vez. Talvez fosse minha última chance. Emmett levantou os olhos e pressionou os lábios contra os meus em um beijo doce, terno, apaixonado.

Nosso último beijo.

Ele se levantou, virando-se para a porta. Foi então que eu percebi, vendo-o ali, escapando de mim, indo embora sem que eu pudesse fazer nada, que eu me dei conta de que nunca havia dito a ele o que gritava com força dentro do meu peito.

-Emm! – eu falei quando ele colocou a mão na maçaneta da porta, pronto para abri-la. Ele se virou para mim, o olhar caído. Talvez fosse tarde. Eu engoli seco. – Eu te amo...

Ele sorriu de leve, mas o sorriso não alcançava seus olhos.

-Eu te amo mais. – ele falou com dor na voz, abrindo a porta e desaparecendo atrás dela.

Eu deitei minha cabeça em meus braços, apoiados sobre a mesa. Eu estava sozinha de novo. Eu estava sem minha anestesia. Para sempre.

 

 

(link da música: http://www.youtube.com/watch?v=4EAFkBuPasM)

 

  

  

  

Today is a winding road

That’s taking me to places that I didn’t want to go

Today in the blink of an eye

I’m holding on to something and do not know why

I tried…

 

 

– Sua mão é tão pequena, Alice...

-A sua que é gigantesca, Emmett. – eu falei mostrando a língua para ele. Emmett sorriu e olhou para mim. Ele parecia um anjinho quando sorria daquele jeito. Eu sorri também e, com a outra mão, comecei a correr meus dedos pelos seus cabelos.

 

 

I tried to read between to lines

I try to look in your eyes

I want a simple explanation, what am I feeling inside?

I gotta find a way out,

 Maybe there’s a way out…

 

 

-Acho que ele devia arranjar uma namorada. – Emmett falou voltando seu olhar para a tevê, como se estivesse refletindo. – Isso o manteria ocupado.

Eu dei risada e balancei a cabeça.

-Emmett, isso mantém você ocupado.

-Nem sempre, tá? – ele retrucou. – Ou eu não estaria aqui com você agora.

 

 

Your voice was the soundtrack of my Summer

Do you know you’re unlike any other?

You’ll always be my thunder, and I said

Your eyes are the brightest of all the colors

I don’t wanna ever love another

You’ll always be my thunder…

 

 

-Emm, posso te fazer uma pergunta? – eu falei sem abrir os olhos. Ele não falou nada, apenas sussurrou um “uhum” sem abrir a boca, ainda apoiado em minha cabeça. – Sou só eu, ou você também tem achado esses últimos dias meio estranhos?

-Estranho como?

-Estranho… sei lá, eu e você...

Emmett desencostou o queixo da minha cabeça e me afastou

dele o suficiente para me olhar nos olhos, sem tirar as mãos de mim.

-Por quê? – ele perguntou franzindo as sobrancelhas.

Jesus, como ele era lerdo! Será que eu ia ter de falar

tudo explicitamente? Eu levantei a cabeça para olhá-lo nos olhos.

-Pelo visto sou só eu... – eu falei tristonha.

Emmett passou as costas da mão pelo meu rosto e sorriu.

-Ou não...

      So bring on the rain Bring on the thunder...    

-Emm... – eu sussurrei com a voz fraca, sem abrir os olhos. Ele acariciou meu rosto com as costas da mão e sussurrou um “hum” sem abrir a boca. – Me promete uma coisa?

-Qualquer coisa... – ele falou ofegante, correndo as mãos pelos meus cabelos.

-Promete que você vai ficar perto de mim independentemente do que acontecer? Pra sempre...?

Ele hesitou por um momento e eu abri os olhos. Emmett estava me encarando, o ouro líquido dos seus olhos quase entrando em ebulição.

-Prometo... – ele falou por fim, suas pupilas acompanhando as minhas, com meu rosto em suas mãos. – Pra sempre...     Today is a winding road Tell me where to start, tell me something I don’t know Today I’m on my own I can’t move a muscle and I can’t pick up the phone I don’t know…    

Emmett cruzou os braços e apoiou um no outro, com os dedos na boca, ainda com o olhar vidrado em mim.

-O que foi? – eu perguntei com um sorriso bobo no rosto. – Desistiu, é?

Ele balançou a cabeça.

-Eu só estava aqui me perguntando como eu nunca reparei o quanto você é linda.

Se eu pudesse corar, tenho certeza de que teria me transformado em um pimentão de um metro e meio de altura. Eu abaixei a cabeça e encarei o chão.

-Talvez porque a Rosalie seja bem mais... – eu murmurei mais para mim do que para que ele escutasse.

-Alice... – ele chamou com aquela voz doce. Eu levantei os olhos e ele estava sorrindo. Emmett descruzou os braços e colocou a mão grande em meu rosto. – Talvez se eu tivesse te conhecido antes...

 

 

And now I’m itching for the tall grass

And longing for the breeze

I need to step outside,

Just to see if I can breathe

I gotta find a way out

Maybe there’s a way out…

 

 

Eu fechei minhas mãos e engoli seco. Eu provavelmente ia me arrepender cinco segundos depois de dizer aquilo. Antes, talvez.

-Pensando bem, você pode me bater se quiser. – eu reconsiderei.

-Alice, apenas fale

. Ou eu vou realmente querer te atirar da cama.

Eu respirei fundo.

-Tudo bem. É que... eu acho que eu estou apaixonada por você, Emmett! – eu falei rápido. – Mas eu não devia! Porque isso tudo é ridículo e o Jasper e a Rosalie vão arrancar nossos cérebros com uma colher de chá pelo nariz! O Carlisle vai nos deserdar, Emmett. E o Edward vai me odiar pelo resto da vida! Pronto, vai, me bate.

 

 

Your voice was the soundtrack of my Summer

Do you know you’re unlike any other?

You’ll always be my thunder, and I said

Your eyes are the brightest of all the colors

I don’t wanna ever love another

You’ll always be my thunder…

 

 

-Eu falei que não ia deixar nada acontecer com você. E eu não vou. Enquanto você estiver sonhando, eu vou estar aqui para te proteger.

-E quando eu acordar?

Emmett hesitou por um segundo e respirou fundo, virando os olhos dourados para mim.

-Eu sempre posso ser seu anestésico. – ele falou sorrindo torto.

-Anestesia geral? – eu arrisquei.

-Com a vantagem de fazer você se lembrar de tudo depois.

 

 

So bring on the rain Bring on the thunder...  

 

-Ele queria entender porquê nós havíamos feito... – eu hesitei. – bom, você sabe o quê... Depois ele ameaçou contar ao Jasper o que havia acontecido entre nós e... E por último ele pediu que eu prometesse que eu ia esquecer tudo isso.

Emmett engoliu seco.

-E o que você respondeu?

-Posso resumir a resposta à parte que eu disse que não podia esquecer você?

Ele sorriu de leve, aliviado.

-Acho que eu não me importo com o resto. – ele respondeu com as covinhas, passando as mãos em meus cabelos e se curvando para alcançar meus lábios.

 

 

I’m walking on a tightrope

I’m  wrapped up in vines

I think I’ll make it out

Bit you just gotta give me time

Strike me down with lightening

Let me feel you in my veins

I wanna let you know how much I feel your pain…

 

 

-Aquela história de troféu! Emmett, ele já está desconfiado!

Emmett se aproximou de mim e tomou meu rosto em suas mãos grandes.

-Mas é exatamente o que você é. – ele falou com a voz rouca, seus olhos dourados fixos nos meus. – O melhor troféu que eu podia ganhar, Alice.

 

 

Today is a winding road

That’s taking me to places that I didn’t want to go…

 

 

-Mas eu sei exatamente o que falar para você. – Emmett murmurou fitando meus olhos. Eu engoli seco, sem ter certeza de que queria ouvir o que ele tinha a dizer. Sem ter certeza de que estava preparada para ouvir o que ele tinha a dizer. – Eu te amo, baixinha.

 

Your voice was the soundtrack of my Summer

Do you know you’re unlike any other?

You’ll always be my thunder, and I said

Your eyes are the brightest of all the colors

I don’t wanna ever love another

You’ll always be my thunder, and I said

 

Eu engoli seco, eu não queria acreditar no que parecia inevitável. Não depois de tudo.

-Emm, não... – eu supliquei. Ele balançou a cabeça.

-Eu te amo tanto... que estou disposto a abrir mão da minha felicidade... pela sua.

 

Your voice was the soundtrack of my Summer

Do you know you’re unlike any other?

You’ll always be my thunder,

So bring on the rain

Oh baby, bring on the pain

 

 

Ele abaixou os olhos. Sua voz saiu rouca, baixa.

-Pra sempres acabam, baixinha.

 

 

And listen to the thunder...

 

 

*****

 

 

 

NOTAS: Primeiro de tudo, desculpa pela demora!!! Desculpa, desculpa desculpaaaaaa!

 

Agora vai, podem me jogar na fogueira, eu deixo.

Pensando bem, se vocês quiserem me matar a pauladas eu também deixo.

 

A música do capítulo é “Thunder”, do Boys Like Girls. Ela era simplesmente perfeita, e a fic foi quase toda baseada nela. Entenderam agora o porquê de tanta chuva e trovões pela história??

 

Ain, esse capítulo me dói tanto... Eu juro que por mim eu não acabava assim, mas esse final já estava escrito desde que eu comecei a escrever a Teddy, - por causa da música – não dava pra mudar.

 

Mas CALMA.

Ainda tem o epílogo e aí vocês vão poder decidir se querem mesmo me matar ou não. HE.

 

 

 

E se eu fiz alguém chorar, bom... se eu mesma não tivesse escrito, eu com certeza choraria nesse capitulo. Ta, ok, não estou ajudando.

 

Nos vemos no Epílogo (Que triiiiiiiste,a  Teddy ta acabando --') – “Última Dança”

 

E claro, obrigada por todos os comentários até agora! Vocês são simplesmente perfeitos! No Epílogo eu agradeço de maneira decente ;)

 

Beijos gelados, enxuguem as lágrimas com carinho e sonhem com o Emm *-*

Sempre.

 

JMcCaryC

 


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