Presos escrita por kethycia


Capítulo 1
Capítulo 1 - Moedas


Notas iniciais do capítulo

Ei, você! Obrigada por te escolhido "Presos" para ler. Espero que goste do primeiro capítulo :3



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O despertador havia tocado pela terceira vez, quando Matteo finalmente resolveu acordar. Pôs a mão para fora do cobertor e o desligou, parando os dois sinos. Levantou a fora a coberta, sentou e coçou os olhos. Andou cambaleante e dirigiu-se ao banheiro. Molhou o rosto e finalmente despertou.

Olhou-se no espelho e viu-se com nariz e os olhos vermelhos, aparência típica de quem acabou de acordar. Notou também, o cabelo loiro-limão rebelde, as pouquíssimas e quase inexistentes sardas espalhadas pelo rosto, o corpo pálido e os olhos verdes-musgo cansados. Agora tinha 23 anos, morava sozinho em um pequeno loft alugado perto de sua Universidade onde fazia Engenharia Náutica. Dirigiu-se ao Box para tomar o banho e lembrou-se, ainda quando encarava seu reflexo, de pensamentos que tinha há 10 anos, imaginava-se em festas diariamente e ficando com inúmeras meninas todas as noites, entretanto não é isso que ele é agora. E sua reflexão parou aí.

Entrou no Box, despiu-se, jogou a bermuda por cima da cabine, ligou o chuveiro e colocou-se abaixo da corrente d’água escaldante e sentiu seus músculos relaxando e as mechas loiras umedecerem e pairarem sobre sua testa, acompanhando as gotículas d’água na queda. Suspirou algumas vezes e outra se encostou a parede com os olhos fechados, e sempre voltava o processo do banho.

***

Após enxugar-se, escolheu suas roupas e logo depois fora a procura de suas apostilas em algumas mesas espalhadas pelo loft. Encontrou duas entre o aglomerado de livros na mesinha da sala e mais uma no criado-mudo, este enfeitado de papéis post it velhos e amassados. Matteo pegou uns e os leu, amassou e jogou fora outros. Soltou um muxoxo e guardou seus livros, apostilas, cadernos e anotações em sua mochila e retirou-se.

Agora estava em direção à universidade andando e sozinho, repassava mentalmente as matérias do dia, com as mãos nos bolsos da jaqueta e acompanhando os próprios passos; a noite anterior havia sido chuvosa e esta manhã estava gélida, usava uma jaqueta de couro e um gorro.

Por algum motivo, ultimamente, Matteo sentia-se tão irritado, que as vezes não aguentava ouvir alguém ou simplesmente sair de casa. Qualquer coisa o tirava do sério e fazia sua perna ficar balançando o restante do dia e qualquer coisinha poderia estragar o seu dia, não importasse o nível da...

Droga! Tropeçara em uma pedra e ainda por cima mergulhou seu tênis em uma poça d’agua – congelando seu pé e molhando a barra de seus jeans. Ralhou mentalmente e seguiu seu rumo.

Isto, com certeza foi propenso para piorar seu dia.

O único lado positivo de acordar diariamente era de ter a ideia de que, em menos de um ano, ele será mais um jovem formado, a procura da independência total. Era até revigorante poder passar pelos portões do Campus e sentir o vento fresco vindo da floresta que rodeia a Universidade, isto é a sua chave de liberdade. E da paz.

Além do mais, o que é o melhor talvez seja que somete dobrando duas ou três esquinas, ele se encontra no seu portal do futuro.

Agora, era somente passar pela parada de ônibus e pronto, chegaria.


Hoje, excepcionalmente, a parada estava mais cheia. Normalmente, a esse horário, tem de três a cinco pessoas esperando pelo transporte. Hoje, porem, pela contagem rápida de Matteo havia dez, onze pessoas.

Talvez sejam alunos do vespertino, pensou, talvez tenham vindo fazer um trabalho, acrescentou. Excluíam-se desse grupo de alunos vespertinos os adultos com a aparência envelhecida, que podiam ser muito bem – e eram – professores.

Arrumou a mochila sobre os ombros, apertou a jaqueta contra o peito e endireitou seu gorro, continuou a caminhada. O dia estava cinza, suspirou e viu um fio de fumaça saindo de sua boca.

Apressou o passo. Antes disso, tirou o punho do bolso da jaqueta e consultou o relógio, estava a cinco minutos de estar atrasado.

Quando estava a dois passos de chegar ao ponto, um ônibus havia parado e recolhido duas pessoas e dispensado mais cinco. Naquele emaranhado de gente ficou um tanto impossível de passar, entretanto, deu seu jeito. Curvando-se aqui e ali, cruzou por algumas pessoas, esbarrou em outras.

Houve um momento, enquanto se desvencilhava da apoucada multidão, em que seu olhar topou com um borrão colorido que se realçava entre a amargura escoriada da manhã. Por algum motivo, preferiu voltar o olhar para onde seus pés andavam, ver se iria tropeçar em alguma falha na estrutura da calçada.

Pela visão periférica, via em quem desviar e quando poderia andar direto. Até que o borrão colorido vinha se aproximando, Matteo levantou a cabeça e em um momento de fleuma, encarou-o. E ela notou.


Bastaram pouquíssimos segundos de distração para que um simples esbarrão pudesse fazer todo aquele estardalhaço: moedas voando em um raio de três metros, um jovem rapaz magricela caindo em uma enorme poça d’água jorrando finas linhas de tal poça por todos os cantos.

Que pena. Ele havia quebrado o perfeito reflexo que aquela cisterna fornecia com a agua da chuva mesclada com entulhos da rua. Ele, que fez o máximo do máximo para evitar qualquer contato com algo até mesmo úmido, agora estava encharcado. Pra valer. Ele estava molhado até os ossos.

O borrão colorido, ou melhor, a moça de vestido vermelho, não sabia se o ajudava a levantar ou se juntava suas moedas que haviam caído com o impacto do encontro dos corpos. Ou se ria.

Decidiu por rir enquanto o ajudava a levantar. Estendeu a mão esquerda e ele a pegou:


–E aí? Você está bem? – Perguntou enquanto o erguia.

–Na verdade, não. – Falou com a voz trêmula enquanto trazia sua mochila ensopada para o peito. – Obrigado moça... Desculpe por derrubar... Suas moedas... É... Tchau.


Abriu a mochila rapidamente e deu um grande e alto clamor de alivio. Havia esquecido que a mochila era aprova d’agua e nenhum de seus documentos havia recebido uma só se quer gota d’agua. Sorriu pela primeira vez no dia. Mas em um movimento bruto levou o pulso à face. “Aaaaah não! Isso não!”, seu relógio, ganho de seu pai, um belíssimo relógio, dourado com detalhes negros agora estava parado e trincado.

–O que foi, cara? – Reaproximou-se a jovem do vestido vermelho beirando a cabeça sobre os ombros de Matteo – Ah, já vi, nossa, hm.

Matteo virou-se para ela exasperado. Apesar de seus olhos terem relaxado ao ver a incrível boa aparência da moçoila, o seu humor persistia embravecido.

–É. Sei lá, acho que vai sair caro ter que... Conserta-lo. – Disse enquanto o tirava do pulso e o segurava pela corrente em frente ao rosto com uma expressão bem pessimista. – Ou eu vou pagar os olhos da cara para um bom reparo ou acho melhor jogar no...

–Escuta, qual é seu nome? – Perguntou a jovem.

–Matteo. Por...

–Olha Matteo, você está tremendo e acho melhor você logo entrar na universidade senão você pode gripar ou algo pior. E relaxa, meu tio trabalha com conserto de relógios e afins, então acho que ele pode fazer para mim de graça. Me entregue, por favor.

–Ah, hm, agradeço. Mas... Hm, ok. – Respondeu, entregou-lhe o relógio (não tinha por que se preocupar se o relógio fosse ou não roubado, não tinha mais utilidade mesmo). –Desculpe, qual é seu nome?

–Lisa. Vamos logo para a enfermaria.


Assim que pegou o objeto, Lisa se pôs de costas à Matteo e caminhou em direção ao enferrujado portal que dava Boas-Vindas a Universidade. Matteo a seguiu. A vista de costas, pudera estuda-la mais profundamente. Seus cabelos eram belas madeixas onduladas de um forte castanho que batiam até o meio das costas. Na realidade, o vestido que trajava não era vermelho, era creme com rosas vermelhas (aí está o detalhe vermelho, que cobria toda a superfície creme), não tinha mangas e nem alças e a parte de cima imitava um corselete, usava um belo par de sapatilhas azuis e uma única bolsinha de lado.

Caminharam pelas ruas do Campus e passaram por algumas sedes, e continuaram andar. Até que chegaram a uma pequena construção que parecia um grande caixote, toda branca com janelas azuladas, havia acima dela uma enorme placa com uma cruz vermelha e com o nome da Universidade.

Lisa aproximou-se da porta dupla e bateu com os nos dos dedos, segundos depois entrou, chamou Matteo após perceber que ele não havia seguido seus passos, “Vamos, rapaz” moveu os lábios sem que tivesse saído um som de sua boca.

–Olá Cátia. – Esparramou-se sobre o balcão da recepção, falava com a mulher baixinha e negra que tinha um olhar bastante severo. – Estou com um jovem que caiu em uma poça d’água. Ele está tremendo, veja.

Cátia saiu de trás do balcão, colocou a palma da mão na testa de Matteo, com os dedos, puxou o lábio inferior e o mandou mostrar-lhe a língua. Após isso, o puxou pelo antebraço em direção ao corredor e o pôs dentro de uma saleta, aonde o obrigou a se despir para tomar um banho de agua quente (“O que?! A senhora só pode estar louca, claro que não”, “Escuta aqui moleque, acho melhor você tomar esse banho senão eu não desejaria ser você”). Apesar de ter relutado, acabou que esse banho fora uma boa ideia, antes de entrar no chuveiro com a agua ardente, não imaginava que estava com tanto frio. Que estava congelante.

Cátia o entregou um conjunto de roupas limpas (e três números maiores do que Matteo usava).

– Quando suas aulas terminarem vem aqui. Têm que esperar umas duas horas para vir buscar, mas busque ok? Senão vai ficar aqui e vai parar no corpo de outro moleque desleixado, igual ao antigo dono dessa roupa que você usando. Penteia esse cabelo, menino. – Acrescentou ao atirar uma escova na testa de Matteo.

–Ok, Cátia. O-obrigado... “Eu acho.” – Incluiu em pensamentos.

–Tanto faz, menino. E não vem com essa história de me chamar de Cátia como se eu fosse uma garota sua, entendeu? Lisa, minha querida! Meu amor! – Empurrou Matteo bem bruscamente para se aproximar da menina. –Desculpe não ter falado com você antes! Como está a sua irmã, Lulu? Você acredita que eu vi uma mocinha parecidíssima com ela no ponto de ônibus um dia desses...

Matteo sentiu uma ponta de inveja de Lisa pela forma em que Cátia referiu-se a ela. Poxa vida, era ele que estava quase doente! Não bastava ter o obrigado a tomar um banho com que faltou lhe fornecer queimaduras de segundo grau, o mandar pentear o cabelo (quando já havia penteado com os dedos) e ainda por cima, o atirou uma escova bem na testa! Ele não sabia se ficava irritado até o resto do dia, quiçá o ano inteiro, pois os fatos ocorridos hoje foram equivalentes para o restante do ano.

–Ah, sim, eu aviso a ela, sem problema algum. Obrigada de novo, tchau! – Despediu-se e saiu da Enfermaria. – Ah, você já está aqui fora.

–Aham. Hm, a Cátia é sempre... Assim?

–Ei moleque, levanta essas calças! –Gritou Cátia de dentro da Enfermaria, fazendo Matteo por as mãos na boca. Lisa soltou uma pequena gargalhada.

–É. Um pouco, na verdade. Mas relaxa, quando você voltar para buscar suas roupas ela vai te tratar de uma forma diferente, moleque. – Debochou com um sorriso maroto escondido. – Eu já tenho que ir, Matteo. Até.


E foi assim que Matteo conheceu Lisa. Com uma simples trombada que resultaram em moedas e rapazes voando acabou mudando, para sempre, a vida dele e dela.



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Notas finais do capítulo

Obrigada por ter lido! >< Espero que tenha gostado (:
O que mais gostaram? O que mudariam? Gostaram do Matteo? E da linda Lisa? A Cátia irritou vocês? Hah {: comentem pooor favor *u*
Fique com Deus, obrigada novamente por ter lido, bom-dia-tarde-noite (:
Kethycia ^^



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