Os Marotos escrita por Bianca Vivas


Capítulo 7
As Casas




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Desde que se encontraram os quatro amigos não pararam de conversar por um só instante. Falaram sobre tudo, desde os segredos que acreditavam estarem escondidos no castelo ao quadribol – famoso esporte bruxo. Por fim, especularam sobre as quatro famosas casas comunais da Escola: Corvinal, Lufa-Lufa, Sonserina e Grifinória. A unânime preferência pela última talvez se devesse ao fato dos amigos, exceto Sirius e Pedro, pertencerem a famílias grifinórias.

A antiga linhagem sangue-puro dos Black era também sonserina. Algo que o jovem primogênito repugnava. Em se tratando da família, era extremamente rebelde. Sempre fora assim e sempre seria. E rebeldia era, aliás, a qualidade que Tiago Potter mais gostava e prezava no melhor amigo. Afora esta, a característica que mais o marcava era o gosto e a atração pelo perigo. Algo que tanto Remo quanto Pedro desejavam adquirir com o tempo.

Ao chegarem a Estação de Hogsmeade, se viram obrigados a pararem com as divagações sobre Hogwarts e tudo que a circundava. Desceram, em fila, felizes por estarem mais perto que nunca de ingressarem no mundo da magia. As vozes excitadas dos outros alunos indicavam o mesmo. Estavam todos no mesmo barco. Medo e curiosidade: tudo se misturava principalmente no pequenino Pedro Pettigrew, que teve seu corpo tomado por um grande arrepio ao ver, a curta distância da pequena Estação, centenas de carruagens. Isso tudo seria normal não fosse o fato de não haver cavalos por perto. Em nenhum lugar.

– São puxadas por testrálios. Só os enxergam quem já viu a morte. – Remo apontava para um lugar onde não havia nada, à frente da carruagem, demonstrando seu conhecimento sobre o mundo mágico.

Pettigrew ficou ainda mais assustado ao ouvir as declarações de seu amigo. Agora todo seu corpo tremia e o pavor estava estampado em seu rosto; olhos esbugalhados e respiração pesada marcavam ainda mais a expressão em seu rosto.

– Não se preocupe – uma voz doce e maternal foi ouvida pelos amigos – nós iremos de barco.

Ao se virar, o quarteto se deparou com uma bruxa atarracada e gorducha, de rosto bondoso e com longos cabelos ruivos.

– O-obrigado, acho – sussurrou o medroso, engolindo em seco, o medo ainda evidente em sua voz.

Porém, a menina já não estava mais lá. Desaparecera tão misteriosamente quanto aparecera. Embora quisesse especular mais sobre quem era a menina, não teve tempo. Uma voz grossa e assustadoramente alta falou, acima de todo o barulho:

– Alunos do primeiro ano, por aqui, por favor. Alunos do primeiro ano!

Uma figura surgiu da escuridão. Era alta e larga. Mais alta e larga que a maioria dos homens. Também tinha uma barba, grande e espessa, que lhe cobria metade do enorme rosto. Nas mãos, um lampião. Esta visão tirou o pouco controle que Pedro possuía por seu corpo, que passou a tremer descontroladamente. Ao seu lado, Tiago e Sirius admiravam boquiaberto, o tamanho do bruxo. E, mesmo que extremamente diferentes, o sentimento de Pettigrew, Potter e Black se assemelhavam na surpresa que o desconhecido causava. Porém, o mais quieto de todos não se assustou ou ficou surpreso; a sombra que perpassava por seus olhos era de total conhecimento:

– Provavelmente é um híbrido; o homem quero dizer.

– Híbrido? – Sirius não sabia o significado do termo.

– É... Ele provavelmente é meio bruxo, meio gigante.

– Você quer dizer mestiço não?

– Mestiços são uma “mistura” entres seres da mesma espécie, enquanto híbridos são uma “mistura” entre seres de espécies diferentes.

– Mas não é a mesma coisa?

Remo abriu a boca para dizer que eram coisas totalmente diferentes, mas Tiago interveio. Sabia que uma discussão viria se os dois continuassem a conversa, conhecia muito bem seu melhor amigo.

– É, é tudo a mesma coisa Sirius.

Sirius quis protestar – sabia que o outro não fora sincero – mas nada disse. Talvez por achar que não valeria a pena ou pela voz retumbante do meio gigante soar novamente, impedindo-o de pronunciar qualquer palavra. Em se tratando de Sirius Black, a segunda opção é a favorita.

– Alunos do primeiro ano, por aqui.

– Acho melhor irmos – suspirou, cansado, Remo.

Os outros o seguiram. Pararam a beira de um lago negro, onde, amarrado as cordas, estavam vários barquinhos de madeira. Cada qual comportava quatro pessoas, exceto um, que parecera ser feito para um homem adulto maior que a média. À beira do lago, archotes. Um para cada barco. Tiago pegou um, e o quarteto embarcou. Durante a viagem, ninguém ousou proferir qualquer que fosse a palavra. Todos os sentidos estavam voltados para a imagem que a cada minuto se tornava mais nítida. Crescia no horizonte um enorme castelo, com diversas torres. As luzes que iluminavam o local podiam ser vistas a quilômetros de distância. A visão do colégio era impressionante; fazia qualquer um – bruxo ou trouxa – suspirar, tamanha era a beleza.

O saguão de entrada exibia uma grande escada de mármore. Ao tornar os olhos para cima, mais escadas eram vistas, contudo, estas se moviam. As feições impressionadas e acompanhadas de suspiros mostrava que aquela não era, de modo algum, uma visão comum no mundo dos bruxos. Passado o primeiro impacto, um burburinho se alastrou pelo grupo de alunos, rapidamente transformando-se em uma animada conversa. Conversa que fora o motivo para passar despercebida pelos calouros, uma bruxa alta, de ar severo; os cabelos puxados para trás, num coque; no alto da cabeça, um chapéu pontudo verde-esmeralda, combinando com suas vestes. A esta altura, a mulher já estava ao pé da grande escada.

– Ham-ham – a bruxa pigarreou, os lábios comprimidos demonstravam uma leve irritação.

Sério, o grupo se voltou para ela, que passou a falar:

– Bem vindos a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Sou a professora e vice-diretora Minerva McGonagall. Quero deixar claro algumas coisas antes que adentrem no salão e se juntem a seus colegas.

A professora fez uma pausa antes de continuar o discurso.

“Daqui a alguns minutos, no Salão Principal, serão selecionados para uma das quatro Casas Comunais de Hogwarts: Grifinória, Lufa-Lufa, Corvinal e Sonserina. A Casa para a qual serão selecionados será como sua família, então, tratem-na como tal. Ao longo do ano é realizada a Copa das Casas; à suas conquistas serão acrescentados pontos; às indisciplinas, pontos serão retirados. E serão eles que decidirão qual será a vencedora da Copa. Bem, acho que isso é tudo.’

Dito isso, McGonagall abriu as grandes portas do Salão Principal e entrou seguida dos novatos, que soltavam exclamações de admiração. E não era para menos, o lugar era estupendo. Quatro grandes mesas na vertical, apinhadas de alunos com as vestes e chapéu pontudo da Escola; uma pequena escada de mármore dava acesso a uma espécie de palco, onde estava disposta a grande mesa dos professores. À frente, estava um banquinho. Sob ele, um velho chapéu remendado. Uma visão esquisita à qual ninguém parecia dar muita importância. Ao longo do Salão, velas flutuavam, a fim de iluminar o local. O teto era, na verdade, o céu. Ou estava enfeitiçado para assim parecer. Os alunos novos confabulavam sobre as razões de tudo que os cercava ser como era, enquanto os da casa estavam envolvidos em animadas conversas sobre o verão. Todavia, o cômodo mergulhou no mais profundo dos silêncios ao simples levantar de um homem. A barba e cabelos longos, prateados, cobria-lhe a face. Um oclinhos meia-lua dourado enfeitava um nariz muito torto e emoldurava bondosos e sábios olhos azuis. O velho bruxo abriu um sorriso bondoso – tão bondoso quanto um sorriso poderia ser. Abriu a boca, e as palavras que dela saíram, apesar de significarem exatamente o que sugeriam, tinham um tom sagaz e generoso.

– E demos inicio a Cerimônia de Seleção!

Sentou-se. Dessa vez, quem abriu a boca para falar foi o chapéu sob o banquinho. Mesmo que, em geral, chapeis não tenham boca, este, obviamente, tinha. E sua voz era muito alta:

“Há mil anos os quatro maiores bruxos e bruxas da época – Godric Gryffindor; Salazar Slytherin; Rowena Ravenclaw e Helga Hufflepuff – decidiram passar seus conhecimentos a novos bruxos. Unidos pela vontade de ensinar, fundaram a escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Contudo, cada um dos fundadores desejava que aqueles à quem instruíssem possuísse a qualidade que mais prezavam. Foram criadas assim a Casa dos corajosos – a Grifinória; a dos ambiciosos – Sonserina; aquela onde só eram aceitos os mais inteligentes – Corvinal; e, por fim, a Casa para aqueles que prezavam, acima de tudo, a lealdade – Lufa-Lufa. Todavia, precisavam de alguém que decidisse, quando eles há muito tivessem partido para a outra jornada, para qual casa cada aluno iria. Foi assim que, do chapéu de Godric Gyffindor, nasci. Eu, o Chapéu Seletor. Ora, ajuntem-se então, para eu selecioná-los a casa que melhor vos convir.”

Discretamente, McGonagall prostrou-se ao lado do banquinho. Em uma das mãos, um pedaço de pergaminho, e na outra, agarrava o chapéu. A bruxa começou a chamar os alunos, cujos nomes estavam escritos no pergaminho. Quando punha o chapéu na cabeça dos pequenos bruxinhos, ele cobria a maior parte do rosto das crianças.

Após algum tempo o Chapéu gritava a casa a qual o bruxo deveria pertencer e alguma mesa explodia em palmas e vivas.

– Alfred Cattermorle

– Lufa-Lufa

A casa aplaudiu.

– Frank Longbottom

– Grifinória!

Os aplausos agora eram constantes.

– Severo Snape

– Sonserina!

– Quirinus Quirrel

– Corvinal!

– Lílian Evans

– Grifinória!

O tempo foi passando, os alunos foram sendo selecionados, até restar um pequeno grupo.

– Mafalda Hopkirk

– Corvinal!

– Remo Lupin

– Grifinória!

– Pedro Pettigrew

– Grifinória!

– Tiago Potter

– Grifinória!

– Sirius Black

Era o último. Subiu a escada confiante. Sabia para onde iria. Para onde sempre quis ir. E em poucos segundos estaria lá. Bastava o chapéu tocar-lhe a cabeça. Cruzou os dedos e esperou o grito:

– Grifinória!

A Casa se encheu de aplausos. Ele olhou para a mesa da Sonserina, Narcisa lhe lançou um olhar traduzido apenas por “você está ferrado”. Mas Sirius não ligou, iria ouvir os gritos da mãe mais cedo ou mais tarde e, sinceramente preferia que fosse mais cedo. Dirigiu-se a mesa de sua Casa e se sentou ao mesmo tempo em que o diretor levantava para fazer seu discurso.


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