Os Marotos escrita por Bianca Vivas


Capítulo 18
Noite de Tormenta e Perigo


Notas iniciais do capítulo

Heeeey people. Demorei? Sei que sim, mas para suprir o tempo que passei longe aí vão 4000 palavrinhas para vocês XD. Aproveitem, este é o penúltimo capítulo ;)
Bom, nos vemos lá embaixo.



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Não sabe ao certo quando começou, todavia notou algo estranho acontecendo. Não era frieza ou afeto em demasia, nada disso. Tampouco desprezo. Não havia um ‘porém’ fora do lugar. Isso denunciou que alguma coisa mudara durante a noite que passara fora. A maioria das pessoas constataria o impensável ao perceber a singularidade em ações e palavras, contudo o incomum se dá, muitas vezes, no não perceptível; no comum tantas vezes conhecido dos amigos. Remo via o que poucos observavam e, ao contemplar a demasiada normalidade que aparentavam seus irmãos escolhidos, um calafrio perpassou sua espinha. O medo atingiu-lhe, paralisando seu sangue; impedindo-o de raciocinar. A incredulidade fez morada, entretanto não se permitiria mentir para si próprio. Acreditar em fatos imaginados, desejos do coração não eram de seu feitio. A lógica tinha parte na personalidade do garoto, impedindo-o de fazer bobagens naquele desesperado momento; desprezar a calma conquistada ao longo da dura infância. Seu coração, apesar de preservar a genuína inocência infantil, rivalizava com a razão dura do cérebro. Sabia do monstro interior, o que brigava e lutava pela agressividade, mas também acreditava que poderia existir algo bom em meio a tantas trevas de seu intimo. Iriam seus melhores amigos acreditar que era inofensivo se lhes contasse a verdade? A pergunta se fez presente o dia todo. Talvez já soubessem. Seria assim, justificável a estranha anomalia do relacionamento naquele ensolarado dia.

As aulas foram um borrão para a mente que apenas questionava se Remo sabia que haviam descoberto o segredo. Tinha pavor do confronto e o tempo não queria ajudá-lo. Quanto mais lhe pedia para se atrasar alguns instantes, mais rápido vinha trazendo o crepúsculo. A fina mancha laranja que cortava o céu perfurava sua coragem. Era um intruso em seu próprio meio.

Sirius e Tiago, já agora caçadores de confusões, ansiavam o anoitecer. Viria com ele uma aventura singular. Alegria ou tragédia se faria presente ao por do sol. Seria o fim perfeito ou trágico para um ano de inesperadas situações. A imaginação e inconsequência do coração dos garotos de onze anos eram genuínas armadilhas do inevitável perigo de ser um bruxo. E enquanto para o amigo pequeno e gorducho as horas foram corridas, para os dois foi infindável o momento entre o inicio e o final do dia. Finalmente, sem avisar, foram jantar. Mais cedo que o normal. Ao voltarem à sala comunal, não encontraram Lupin. Seria essa a hora perfeita para uma breve perseguição? Intuíam que Lílian jamais aprovaria a decisão dos três. Não se importaram. Subiram sorrateiramente ao dormitório e pegaram a Capa de Tiago. Chegaram à orla sem imprevistos. A imagem era a mesma de sempre: Hagrid, o gato que agora sabiam ser a professora Minerva e o próprio Remo. Era o momento de se esconderem. Invisíveis aos olhos dos demais seguiram o pequeno grupo, se embrenhado na Floresta Proibida. Rúbeo deixara o menino em uma clareira, sozinho. McGonagall escondera-se nas árvores. Se ainda estaria ali um minuto ou mesmo o resto da noite, era impossível dizer. Observaram o amigo deitar na terra seca e coberta de folhas que agora esverdeavam. Entreolharam-se.

– É agora ou nunca Tiago. – dissera Sirius, em um tom meio que gutural.

– Eu sei – a voz sombria e monótona foi acompanhada pelo barulho de tecido roçando na pele e caindo ao chão.

– Remo – chamou Pedro, medo e ansiedade eram mesclados na sua voz.

O menino, ao ouvir seu nome, virou-se. Arregalou os olhos sem vida perante a visão do trio.

– O que estão fazendo aqui?

A pergunta era desnecessária. Todos sabiam a resposta.

***

Lílian franziu o cenho ao ver três garotinhos saindo de fininho. Desconfiou sobre o que eles iriam fazer, entretanto, confiava que não fossem tão estúpidos. Pobre Lily, mal sabia que a audácia de Black e Potter ia além dos limites aceitáveis. Pettigrew, por sua vez, desejava não ter ido, mas assim quis os outros dois e quem seria ele para contrariá-los?

A bruxinha jantou tranquilamente, acreditando na capacidade de discernimento do perigo deles. Alguns minutos depois, todavia, uma sensação ruim atingiu-lhe a espinha. Passava por um dos infindáveis corredores da Escola quando um medo intenso, sem qualquer explicação, a fez correr ao dormitório masculino e vasculhar as coisas de Tiago em busca da Capa da Invisibilidade. As mãos tremiam enquanto jogava cada peça de roupa ao vento. O coração estava disparado no instante da temida descoberta. Ela não estava lá. Desceu as escadas até a sala comunal. Poucos alunos se encontravam ali, a maioria ainda estava jantando. Um deles era Frank Longbotton. Aprumou o uniforme, deveria parecer despreocupada. Era sua função. Ninguém mais se machucaria esta noite.

– Frank, viu Tiago e Sirius? – foi sem delongas ao pequenino bruxo, direto ao ponto.

– Saíram segurando uma capa, juntamente ao Pedro.

– Obrigada. – saiu em disparada na direção da cabana de Rúbeo. Precisava convencê-los a voltar. Era perigoso, ela sabia.

Ao chegar à orla, não viu ninguém. Sinal de já estarem todos na Floresta. Seus piores temores se confirmaram.

– Lumos – murmurou para a varinha, que acendeu.

A chispada contra o tempo, para salvar a vida dos novos amigos queridos (exceto o Potter, ele era apenas um colega) era mais que necessária. Não sabia ao certo o que faria Remo ao se deparar com os três, todavia sentia que não seria boa coisa. Os livros afirmavam que, quando transformados, os lobisomens não se lembram de quem eram. Teve medo por eles. A confiança que depositavam no mais inteligente do grupo era perpetua. Jamais o imaginariam como fonte potencial de risco. As pernas curtas não pareciam suficientes para cobrir a longa distância. Iluminava todos os locais por onde passava, procurava por pistas de onde estaria o quarteto. Um barulho; uma voz; um grito; um farfalhar. Tudo. Parou para recuperar o fôlego. A respiração entrecortava-se, suava em excesso. Ouviu o nome de Remo ser chamado. Era a voz de Pettigrew. Foi em direção ao som. Ignorou o cansaço. Agarrou-se a esperança de todos estarem vivos e bem; ao desejo de estar errada, mesmo sabendo não estar. Tropeçando em galhos de árvores em sua afobada tentativa de chegar o mais rápido possível ao destino, só se deu conta de estar na presença dos quatro ao ouvir as palavras saltarem da própria boca.

– Tiago! – abraçou o menino, como se disso dependesse a vida. Sentia-o perder o ar, ainda assim não o soltou.

– Lílian? – a incredulidade no rosto de Sirius a fez corar, largando o outro.

A preocupação da garota era do que estaria pensando os outros enquanto a de Remo era tirá-los dali antes da lua aparecer. Se estivessem ali quando a luz potente da lua surgisse, tudo estaria perdido. Respirou profundamente, acalmando-se.

– Escutem, vocês precisam sair daqui. Não é seguro... – foi com uma urgência estranhamente calma que soltou o alerta.

– Sabemos disso - Tiago respondeu, dando de ombros.

– E não iremos sair daqui. – Sirius firmou os pés no chão, mostrando que falava sério.

– Por favor, precisam sair. Por favor... – foi à última palavra que disse antes das unhas começarem a crescer, do pelo brotar e do tamanho aumentar.

Ao olhar o céu, uma lua cheia e brilhante podia ser vista. Qualquer um acharia ser uma das mais belas visões, exceto quatro crianças e um lobisomem que viam nela a crítica ocasião iminente.

***

– Aaaaaaaaah!

O grito pueril fez Rúbeo Hagrid derrubar o chá fumegante que tomava em sua espessa barba, fazendo-a chamuscar. Não teve tempo de chamar por Canino, seu cachorro de estimação. Pegou o lampião e saiu em disparada para ver qual dos alunos estava fora do castelo àquela hora. Provavelmente um espertinho querendo se meter com o Salgueiro Lutador. Assim esperava. Não encontrou ninguém nos terrenos da escola. Teve a estranha sensação de compreender o significado do guincho. Sem varinha, não poderia fazer nada. Entretanto, se não tentasse, Hogwarts teria alguns alunos a menos no café da manhã.

***

Minerva observava quieta, o silêncio da Floresta. Um clamor entrecortou a calmaria. Quatro corpos infantis passaram apressados por ela. Um uivo fez-se presente na noite. O sentido oculto do acontecimento só podia ser decifrado por alguém que tivesse em seu poder um dos segredos mais ocultos da Escola de Magia. Ela atinava que seria perigoso, porém concordara e agora, o que quer que aconteça seria sua culpa também. A capacidade intelectual de Lilian Evans era conhecida por todos os professores e confiou que a garota não decepcionaria o corpo docente. A crença a levou a caminhar, na segurança da forma animaga, de volta ao castelo. Jamais abandonaria um aluno, porém carecia de tempo para conjurar um patrono e enviar uma mensagem ao Diretor. Não poderia deter o lobisomem sem a ajuda dele. Estava consciente disso.

***

Lílian, Tiago, Sirius e Pedro só tiveram tempo de vestir a Capa antes de o lobisomem tentar os atacar. Sumiram entre as árvores. A respiração ofegante de cada um denunciava a longa corrida. O espanto e medo de um podiam ser visto no rosto do outro. Parar para descansar seria perigoso, todavia necessário. Suspiraram aliviados ao ouvir o uivo cada vez mais longe. Abraçaram-se. A gratidão por Lílian tê-los procurado era imensa. Porém, não estavam livres do crucial confronto. A única saída era esconderem-se e esperar amanhecer. Iriam fazê-lo.

Passaram-se alguns minutos muitos longos outrora a fala de alguém.

– Essa foi por pouco... – Tiago escorou na árvore.

– O-ou não – Pettigrew apontava para Remo, que rondava ali perto sem fazer barulho.

– Não gritem – pediu Lílian cautelosamente. Para se certificar de ser atendida, tapou a boca de Pedro.

– O que faremos? – sussurrou Tiago, preocupado.

– Poderíamos enfrentá-lo – sugeriu Black, excitado pela proximidade ao perigo.

– Está louco? Isso é suicídio.

– O perigo é sempre bom Lils.

– Não, não é. – A menina estava incrédula, o rosto começava a ficar tão vermelho quanto os cabelos arruivados.

– É só sairmos daqui...

– Ele nos ouviria.

Inalaram o ar selvagem exalado pelo ambiente que os cercava. O cerco fechava. Sirius sabia que o confronto era a única solução. Pedro fugiria no momento que lhe pedissem isso. Lílian deseja pensar num desfecho que não os matasse; um combate era o oposto disso. Fugir denunciaria a posição do grupo. Incrivelmente, a resposta veio de quem ficara calado o caminho todo.

– Magia.

A palavra mágica dita por Tiago despertou o senso de sobrevivência em Sirius. Do canto do olho, enxergou o amigo. Mesmo no escuro e sem proferir palavra alguma, pensavam a mesma coisa. Lutar ou escapulir não eram as únicas soluções.

– Wingardium Leviosa – murmuraram em uníssono. Duas pedras, uma de cada lado levitaram. Arremessaram-na em direções diferentes com a maior força possível.

– O que estão fazendo? Querem nos matar? – cochichou ela, parando ao perceber que a criatura noturna confundia-se e juntou sua voz à dos garotos.

– Wingardium Leviosa! Wingardium Leviosa! Wingardium Leviosa!

Quem prestasse bastante atenção ouviria o pequeno farfalhar que o rumor fazia na silente escuridão, porém, atordoado pelos estrépitos, o agora transformado Remo não conseguira escutar outro fragor afora o de rochas caindo. Disparou em todas as direções e em nenhuma, ziguezagueando pela Floresta. Um estreito caminho escondia-se entre as árvores. Apressaram-se em passá-lo. Vaguearam um pouco, sem destino. Lançaram-se na busca de algum fator que pudesse denunciar um atalho de volta ao castelo. Sem sucesso. O cansaço de um dia agitado unia-se ao corpo e mente doloridos. Quase adormecidos, despertaram pelo tênue escoicear de cavalos.

***

Hagrid e Canino penetraram na espessa mata. Estava ela taciturna como nunca antes. O cachorro farejava os jovens alunos. Não deveriam estar longe, visto ter algo perigoso no encalce. Era preocupante. Preferia tê-los perdidos ali ao vê-los em tal situação.

Certamente não encontrariam a clareira de Aragogue. Ficava mais tranquilo assim; nunca mandara alguém visitar a aranha gigante, não tinha como prever sua reação. Por outro lado, existiam animais piores. O tempo passava e nada de achá-los. Os centauros eram amigos. Deveria contatá-los? Decidiu que um aliado seria bom. Gritou por Firenze. Era o mais amigável de todos e entenderia sua aflição. Por fim, deparou-se com ele. Esbaforido, contou toda a história.

– Entendo... – alisou a barbicha que deixava crescer, antes de bradar ordens aos outros – Procurem os filhotes! Tragam todos em segurança à Hogwarts!

***

Horácio Slughorn, em seu “passeio noturno” pelas propriedades da Escola avista a Prof.a McGonagall enviando uma mensagem pelo seu patrono. A mulher, junto à orla da Floresta Proibida, acabara de deixar a forma animaga, e aparentava certa urgência ao realizar o feitiço. Estreitou os olhos e a curiosidade tomou forma em seu ser. Braços cruzados no peito tentava espantar o frio da madrugada. Cambaleou até ela, que esperava impaciente por alguém, batendo os pés na grama.

– Ora, ora. Quem eu encontro a essa altura do... Dia, devo dizer.

– O que quer Slughorn? - A expressão esbugalhada de Minerva transformou-se em raivosa ao perceber que o professor de poções não arredaria o pé dali.

– Por que está aqui a essa hora, professora? Já é tarde. – riu divertidamente.

– Pergunto o mesmo ao senhor.

Com um tapinha na gorda barriga, gargalhou ainda mais.

– Insônia. Receio ter comido demais. – gracejou um pouco mais, antes de prosseguir – Qual o motivo da forma animaga?

Minerva irritou-se com audácia do homem.

– Cuide da sua vida!

– Hoho, não está metida com Artes das Trevas, está?

– Ora seu! Como ousa...

As ofensas juntamente à bronca ficaram no ar. Um uivo cortou a antemanhã.

– Essa não... – a boca da bruxa secou instantaneamente.

– O que foi isso? – o homem parou com o riso.

– Não vai dar tempo... Não vai dar tempo... – repetia sem parar.

– O que está havendo Minerva? Que ganido foi esse?

– Dumbledore não chegará a tempo...

– O que Dumbledore tem haver com isso?

Olhou furiosamente o bruxo a sua frente. Seus lábios estavam comprimidos, como sempre ficavam quando se irritava. As perguntas incessantes de Slughorn esgotaram a paciência dela.

– Preste atenção – ordenou, imperativa – Vamos para a Floresta. Procure o Potter e o Black! Já!

– Procurar o Potter e o Black? O que aconteceu? O que dois calouros fazem na Floresta Proibida?

– Se quer ajudar, pare de fazer perguntas seu velho gordo! Acenda sua maldita varinha e os procure, enquanto eu busco a Evans e o Pettigrew! Agora! – urrou energicamente.

Horácio não teve tempo de formular uma resposta; McGonagall o empurrou mata adentro.

***

Tinha de achá-los. Farejava. Farejava. Farejava. Era uma perseguição sem fim, como a investigação de um tesouro perdido há milênios de anos com pistas hora aqui hora ali aparecidas ao longo dos séculos. Podem ser todas verdadeiras, como mentiras inventadas para aquiescer os corações aventureiros. Nessa caça, porém, uma disparidade significativa cobrava presença. No final do dia, não haveria riquezas ou glória, apenas morte. Sentia.

Algo dentro de si despertou. Talvez a bondade, ou quiçá as lembranças dos que amava. Não saberia dizer. Tentou recolher a sede de sangue, todavia o monstro estava solto dentro de si. Ele dominava agora, não importava o quão boa fosse sua alma. Continuou, dessa forma, a perseguição em busca... Em busca... Em busca de algo...

***

O som de cascos de cavalo batendo em galhos tortos; perseguindo-os, perpetuou-se. Nada os fazia parar. Diziam-se amigos de Hagrid, mas nada deveria ser considerado amigo em um ambiente desconhecido, especialmente naquele mundo. Se o meio gigante conhecesse criaturas como aquelas, teria dito-lhes. Estugaram um longo caminho. O folgo já não importava. A vida dependia da fuga. Os feitiços que conheciam não os detinham. A esperança de encontrar o castelo era a chance de sobrevivência. Pedro tropeçou em uma raiz de árvore que saía da terra. O tempo utilizado para ajudar a criança foi o perdido. Deu chance aos centauros de cercarem-nos.

– Agora irão nos ouvir – um deles, de cabelos e barba vermelhos , vinha dizendo, em tom rude.

– Não seja tão áspero com eles, são filhotes. – repreendeu outro, de cabelos louros prateados como os de Narcisa Black.

– Hagrid nos mandou buscá-lo, estamos fazendo um favor. Existem coisas horríveis nesta floresta.

– Agouro... – o louro falou novamente.

– O que querem? – inquiriu Sirius bravamente.

– Aposto que não conhecem o Rúbeo – desafiou Tiago em tom de zombaria.

– Deveriam nos agradecer. Poderiam ter morrido garotos.

– Agouro... – repreendeu o centauro de fios claros.

– Temos de levá-los ao Hagrid logo. – comentou apressadamente o ruivo.

– Acho que dizem a verdade – Lílian cochichou para Sirius e Tiago – Deveríamos ir com eles.

– Nem sabemos quem são eles.

– Isso não é problema – alteou a voz – Podem nos dizer seus nomes?

Agouro encarou-os ferozmente, porém foi o centauro de aparência bondosa quem falou.

– Sou Firenze e estes são Agouro e Ronan – apontou para os colegas – Hagrid nos pediu para levá-los em segurança à Hogwarts.

– O lobisomem vai nos seguir?

– Deveria nos dizer como se chamam, não? – Ronan ignorou a pergunta de Pedro.

– Sou Sirius Black e estes são Pedro e Tiago.

– Me chamo Lílian. Lílian Evans.

Firenze olhou por sobre o ombro, procurando indícios de perigo. Não se convenceu de a mata estar tranquila.

– Devemos ir.

***

Sentia cheiro de carne. Carne fresca e gorda. Um odor inebriante. Enlouquecia-o. Sua parte monstruosa correu para abraçar o presente, todavia a parte racional e humana tentava manter-se parada. A presa se aproximava. Não conseguia resistir. E se fossem os que amava, sua família? Não podia arriscar. Mas a fome... Cravou as unhas no antebraço. A dor era insuportável. Agonizante. Gritou. O uivo melancólico foi ouvido em todo o terreno. O demônio do seu íntimo tentou esquivar, entretanto a bondade deveria vencer. Talvez não dessa vez. O bruxo aproximava-se cada vez mais dele. Perto. Tão perto. Era impossível manter-se civilizado. A garra penetrou ainda mais em sua pele. Arranhou outras partes do corpo. O pelo já estava ensanguentado. A agonia em demasia o fez cair.

Hagrid o achou ali. Sofrendo. Decidiu ajudá-lo. A criatura era agora inofensiva, podia ver. Aparou-a, enquanto permanecia desacordada.

***

– Estupefaça!* - Horácio Slughorn apontou a varinha para Remo.

– O que você fez seu velho gordo? – McGonagall urrava enquanto gesticulava furiosamente para o professor.

– É um lobisomem Minerva. Estava atacando o guarda-caça.

– Não, não estava! O menino estava desmaiado! – Rúbeo, que se arraigava no mesmo lugar, chocado demais com tal brutalidade e falta de tato para falar, berrava intensamente. Suas untuosas bochechas tornaram-se vermelhas e os olhos brilharam com a ira que sentia. Poderia atirar ao longe o professor de poções.

– Menino? Isso é um bicho que teria lhe matado homem! – Irritava-se com a ingenuidade ou peculiar gosto do meio-gigante. – Diga a esse louco, Minerva!

– Isso é um aluno seu grande imbecil!

– Como? Um aluno? – estava incrédulo – Em Hogwarts... Como pode?

– É... O lobisomem é um aluno. Não ouviu da primeira vez? – A bruxa avançou em direção a Lupin, a fim de verificar seus ferimentos.

– E que aluno seria este? – Slughorn acreditava que aquela era uma brincadeira de mal gosto dos colegas de trabalho.

– Remo Lupin.

Horácio boquiabriu-se perante a veracidade dos fatos.

– Hagrid, vá até Madame Pomfrey e peça a ela essência de Ditamno. – ordenou a mulher severamente.

– E se ela fizer perguntas?

– Diga-lhe que eu pedi e que não sabe de mais nada. Não a deixe vir me procurar.

Rúbeo assentiu e saiu.

– E você, me ajude a tirá-lo daqui. Faça o mínimo para reparar seu grande erro.

***

– Então o Hagrid ajudava vocês a manter isso em ordem? – Pedro parecia animado pela primeira vez àquela noite. Os centauros o fascinavam a mesma medida que lhe causavam medo.

– Nós não mantemos a Floresta em ordem. Cuidamos do nosso povo. – Agouro continuava a agir asperamente.

– De certa forma sim. – Firenze respondeu-lhes gentilmente, lançando um olhar significativo ao outro centauro.

– E que espécies de animais existem aqui? – Lílian anotava mentalmente tudo o que Firenze e Ronan informavam.

– Muitas, garota.

– É verdade que existem testrálios?

– Sim.

– Eles são agouros de morte?

– Não.

Eles são agouros de morte? – Tiago imitava a voz de Lilian. Ele e Sirius estavam afastados do grupo, entediados com a informação em demasia que eram obrigados a ouvir.

– Se ela te escutar...

Riram juntos. Tinha uma clara ideia do que aconteceria caso a garota desconfiasse do teor da conversa.

Boa parte do trajeto foi tranquila. Embrenharam-se tão fundo por entre as plantas que a caminhada parecia não acabar. Chegaram por fim na clareira onde tudo começara. A cena era horripilante. Remo ainda transformado, jazia inconsciente no chão de terra. Minerva McGonagall derramava algo em seus graves ferimentos. Hagrid e Slughorn assistiam a tudo pesarosos. Ninguém percebeu a entrada da “equipe”.

– Remo! – Sirius, Tiago e Pedro debruçaram-se sobre o amigo machucado.

***

O patrono chegou tirando Alvo Dumbledore de seus pensamentos e devaneios.

– Alvo, venha à floresta o mais rápido que puder. Tiago Potter, Sirius Black, Pedro Pettigrew e Lílian Evans estão em busca de Remo Lupin.

A fala apressada da professora de Transfiguração o despertou por completo. Precisava agir. Cinco alunos corriam perigo nos terrenos da escola. Vestiu a capa roxa tão costumeira, varinha nas mãos e desceu as escadas. Metade da distancia havia sido percorrida quando Pirraça deu o prazer da sua presença. Teria geralmente o ignorado ou pedido que se retirasse se Argo Filch não viesse logo atrás, correndo e gritando.

– Volte aqui! Dessa vez eu te pego! Volte aqui!

– O que está acontecendo Filch? Que barulheira é essa?

– Oh! Senhor, esse poltergeist mais uma vez. Os troféus todos que eu limpei. Imundos agora. Tudo ele! – apontava ofegante, enquanto falava, para Pirraça.

– Difamação! Calúnia! Montes de mentiras!

– Ora seu...

– Argo, chega! – o zelador surpreendeu-se enquanto o fantasma acabava de rir - E você também Pirraça.

– Mas, senhor, e a sala...

– Limpe-a novamente oras! Tenho assuntos para resolver.

– Seriam alunos fora da cama diretor? Se for eu mesmo posso dar um jeito neles. Tenho umas correntes novas...

– São assuntos mais urgentes. Se me der licença...

Afastou-se. Retornou ao percurso. Perdera muito tempo com aqueles dois. Temia não chegar a tempo. Não poderia aparatar. A idade não o permitiria correr. Caminhou o mais rápido que pôde.

– Homenum Revelium – o feitiço apontou onde estavam todos.

Ao atingir a clareira, compreendeu que ainda teria de fazer muito trabalho, mesmo que as pessoas ali presentes estivessem bem.

– Alvo, que bom que chegou. Não tenho certeza se o Ditamno faz efeito. – McGonagall estava exausta e sua voz transparecia isso.

– Receio que seja melhor esperar que o garoto volte à forma humana.

– Isso pode demorar horas.

– Para ser exato – puxou o braço esquerdo dando uma olhada no visor do relógio – quinze minutos.

– Mas... Não passaram nem meia hora desde que a Lua surgiu – contestou Lílian, confusa com o passar ligeiro do período.

– O tempo realmente passa rápido quando estamos nos divertindo não? – Dumbledore sorriu bondosamente para a ruiva – Hagrid poderia carregar o garoto para sua cabana? Tenho absoluta certeza que ele não acordará tão cedo.

Seguiram andando.

– Ele é maluco? – cochichou Tiago para Sirius.

– Deve ser. – deu de ombros antes de voltar a resmungar – Divertir. Como se fugir de seu melhor amigo lobisomem fosse divertido.

A pequena casa do guarda-caça não coube tantas pessoas. O Prof. Slughorn e a Prof.a McGonagall regressaram a seus aposentos. Lílian, sonolenta, voltou para a sala comunal da Grifinória. O resto dos alunos pediram ao diretor para esperarem Remo acordar. Este já era novamente um garotinho cansado de onze anos. Alvo conjurou algumas cervejas amanteigadas e o grupo a bebeu, esperando o ensejo passar.

***

– Bom dia

A primeira visão de Remo fora um par de olhos azuis perfurando-lhe a alma e um sorriso benigno. Encontrava-se em um banco de madeira revestido de um velho cobertor remendado. Levantou-se um pouco, o suficiente para enxergar Tiago, Sirius e Pedro. Subitamente as imagens da noite anterior retornaram à sua mente. Deveriam odiá-lo. Dantes começar a se desculpar, Alvo falou:

– Temos muito que conversar.

E sorriu.


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Notas finais do capítulo

Haha, gostaram? Deixem review então... E, agora, tenho notícias para vocês. A Verônica, o Mitkov (do AnimeSpirit, outro site onde eu posto a fic) e minha, não tão adorável assim, irmã mais nova Letícia me convenceram a escrever uma continuação o/. Então... Me digam o que acham antes de eu começar a escrever, para eu não fazer uma grande burrada.
Nos vemos no Epílogo ;*