– Eu não disse? – Tiago estendeu a mão – Meu ouro, agora.

– Mas se Remo não está no quarto, onde está? – Pedro parecia realmente preocupado, suas mãos suavam freneticamente.

– Espere um momento – uma ideia acabava de atingir Sirius em cheio - Não te darei meus preciosos galeões assim, caro amigo.

– Não? – o outro parecia confuso.

– Não- confirmou – Se ele não está no nosso dormitório, deve estar no das meninas. - ao dizer isso, assumiu um ar de superioridade, como se aquela fosse a maior descoberta do planeta.

– Fazendo o quê lá?

Sirius abriu a boca para responder, porém Tiago interrompeu-o.

– Nada. Ele não está lá.

– Como pode ter tanta certeza?

– Confie em mim Sirius!

Tiago saiu e foi em direção as escadas do dormitório feminino. Contudo, ao começar a subi-las, transformaram-se em um escorrega. Tentou novamente, e novamente. Seguido por Sirius e Pedro ou não. Até finalmente desistir e sentar em das poltronas vermelhas.

– Vocês nunca iriam conseguir subir lá – a voz de Lílian cantarolou ao ouvido do jovem menino, temperada por uma risadinha feminina.

– E posso saber por quê? – Tiago trincava os dentes, a fim de conter a irritação que sua colega lhe causava.

– Talvez se lesse um pouco você soubesse Potter. – ela deu de ombros.

– Ah, fala logo Lils!

– Me diga por que eu daria uma informação dessas a você, Six?

– Simples, porque você me ama Lils... – o ar de superioridade tomou novamente as feições de Sirius.

Lílian riu. Uma risada aguda e divertida. Ela parecia realmente achar graça da situação.

– Ok, me convenceu Six. Mas saiba que não amo você.

– Imagina...

– Só quem pode entrar no dormitório feminino são as meninas.

– Então como o Remo entrou lá? – Tiago e Sirius lançaram um olhar severo a Pedro, que o fez arregalar os olhos, percebendo que falara demais.

Lílian, percebendo a reação dos meninos, estreitou os olhos. De imediato soube que havia algo mais; algo que os três estavam escondendo. E conhecendo Tiago Potter e Sirius Black, ela soube que era grave. A partir daí, com cautela extremosa, começou a interrogar os meninos.

– O que o Remo estaria fazendo no dormitório feminino? – sem resposta, ela continuou – Ele não apareceu para jantar não é? E nem veio à sala comunal... Por isso estão procurando por ele em todos os lugares?

– Calma Lils, uma pergunta por vez – Sirius tentava manter o bom humor da situação, entretanto todos estavam tensos; sabiam como Lílian era certinha, e caso desconfiasse de algo, entregaria Remo para a Prof.a McGonagall.

– Espera Sirius, não temos de dar satisfações a ela. – e virando-se para Lílian acrescentou – Você nem é nossa amiga.

A declaração fez a garota ficar realmente irritada. Para ela, foi o mesmo que chamá-la de sangue-ruim.

– Olha aqui Potter... – começou dizendo, entretanto foi interrompida por Pedro, o menor do quarteto, naquele momento, trio.

– Não seria melhor contarmos para a Lílian? – perante o olhar dos amigos, acrescentou – É só fazê-la prometer que não vai falar nada pro Ranhoso.

– O nome dele é Severo!– Tiago imitou a voz fina de Lílian - já sabemos Evans – e continuou: – Mas o caso é que ela correrá e contará tudo a ele.

– Tiago tem razão, como poderemos confiar nela?

– Parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui! – exclamou Lílian – E eu não direi nada ao Sev...

Em seu íntimo, Lílian queria muito ser amiga dos meninos. Não de todos, claro. Contudo Sirius e Remo pareciam ser realmente legais, apesar dos comentários de Severo sobre eles. Porém, as feições aflitas que ela tinha no rosto naquela noite, fizeram todos os três ali presentes perceberem que, apesar de não saberem absolutamente nada sobre ela, poderiam confiar em Lílian Evans.

– Isso é segredo Lily, entendeu? – Sirius foi o primeiro a falar, seguido por Tiago.

– O Remo desapareceu.

– Como? – a menina não pôde acreditar nas palavras que ouvia – Ele é seu melhor amigo e você fala disso como se fosse a coisa mais natural do mundo? Por Melin, Potter!

– Eu tenho certeza que não é nada demais, amanhã ele estará no Salão Comunal tomando café da manhã. Você verá.

***

Como Tiago havia dito na manhã seguinte Remo Lupin estava sentado à mesa da Grifinória no Salão Comunal comendo bacon e ovos fritos. Fingia que nada de anormal havia acontecido na noite anterior, e quando o perguntavam sobre ela respondia com um simples “Perdi a hora na biblioteca”, despertando a curiosidade dos amigos. Entretanto, logo acreditaram em Remo; passar a noite estudando era realmente algo que o jovem bruxo faria. Contudo, Lílian não acreditou tão facilmente na desculpa de Remo e, ao sair do Salão, em direção à aula, ela puxou-o a um canto.

– Onde esteve ontem à noite?

– Na biblioteca, já lhe disse.

– E você espera que eu acredite?

– Por que não?

– Remo Lupin!

– Ah! Aí está você Lily! – Severo Snape apareceu, segurando seus livros, e ao perceber a presença de Remo, lançou-lhe um olhar de desprezo.

– Oi Sev...

– Vamos?

– Claro. – ao sair lançou um olhar a Remo, dizendo que a conversa não estava terminada, e seguiu com Severo para a primeira aula do dia.

O resto do dia seguiu tranquilamente. Tiago, Sirius e Pedro pareciam ter esquecido a escapada do amigo na noite anterior. Entretanto, Lílian parecia lembrar-se cada vez mais do incidente. Lançava constantes indiretas e olhares sugestivos ao pequeno bruxo, o que o deixava temeroso. Mesmo não conhecendo a menina direito, sabia como era obstinada e como poderia descobrir seu segredo.

Mais uma vez o dia se findava e Remo saia dizendo ir à biblioteca. O olhar estreito de Lílian lhe deixou com medo de que a garota lhe seguisse, e por precaução, mudou a rota de seu percurso, a fim de despistar uma possível perseguição. Ao chegar à orla da Floresta Proibida, Hagrid e a gata misteriosa esperavam por ele. Adentrou a Floresta com alguns temores, porém movido pela confiança de que tudo daria certo.

***

Lílian, Tiago, Sirius e Pedro estavam sentados em uma das poltronas vermelhas da sala comunal da Grifinória. Estavam ali desde o momento em que terminaram o jantar, esperando por Remo, porém o garoto não aparecera. Já passava da meia-noite quando Pedro falou pela primeira vez.

– Eu desisto.

– Por quê?

– Porque ele não virá Tiago!

– Claro que virá! O Remo não vai querer abusar tanto assim da sorte.

– O que acha Lílian? – Sirius deu fim à briga.

– Pra mim tanto faz. Mas deveríamos tentar investigar.

– Amanhã então?

– Claro que não. Ele está desconfiado, deveríamos esperar algumas semanas.

– Estou cansado de esperar.

– Problema seu Potter. – ela deu um de seus maiores sorrisos, irritando completamente Tiago.

– Amanhã vocês me contam o plano, mas eu irei dormir – anunciou Pedro.

– Boa noite, então – Tiago estava de mau-humor desde que Sirius decidiu prestar mais atenção ao que Lílian dizia que em suas ideias.

– Daqui a um mês então? O que acha Lils?

– Pode ser, e você Tiago?

– Pra mim tanto faz. Vou dormir também. – levantou-se e caminhou em direção ao dormitório, pisando firme.

– Acho que ele ficou com ciúmes...

– Você acha?

Os dois puseram-se a rir. Conversaram e riram a noite inteira, até finalmente adormecerem no sofá onde estavam. Mesmo sem querer, Lílian acabou contando a Sirius coisas que jamais contaria a Severo. Ela sentia que, mesmo confiando inteiramente em seu primeiro amigo, ele jamais entenderia algumas coisas sobre ela. Talvez por fazerem parte de Casas diferentes, ou por terem personalidades e crenças diferentes ou por terem sido criados em mundos separados. Ela não saberia dizer. Entretanto, ao falar tudo aquilo com Sirius, sentiu o espírito mais leve, e percebeu ter ganhado um grande amigo. Independentemente de ele ser ou não o melhor amigo de Tiago Potter. Sirius Black também sentia que podia confiar em Lílian, e após algumas horas de conversa com a garota, já a considerava uma irmã. Não como Régulo, mas como uma irmã de verdade. Alguém que te amará e estará ao seu lado aconteça o que acontecer. Rapidamente se lembrou de suas primas: Bellatriz, Andrômeda e Narcisa. Dissesse o que dissesse, jamais poderia dizer que as irmãs não eram unidas ou que não se amavam. Essa era uma das verdades, que por mais tentador que fosse, não poderia esconder. Sempre quis que ele e Régulo fossem assim, mas as diferenças de personalidade e crença os impediam. Entretanto, não se importava mais. Não agora. Adormeceu tranquilo. Sua família, Sonserina ou qualquer preocupação que sempre lhe afligia, havia desaparecido. Estava feliz por ser amigo de Lílian Evans, e imaginava que ela também o estava.