Pov Katniss

Tento forçar meus braços, em uma tentativa de me levantar, sinto uma dor insuportável na perna, mesmo não conseguindo assimilar as coisas, reconheço o medo que sinto de estar aqui, forço mais os braços e consigo erguer o meu corpo a ponto de quase ficar sentada, outra pontada de dor agora logo abaixo do meu peito esquerdo, há uma ardência em minha cintura do lado direito, levo a mão ao local e sinto uma coisa visguenta, sangue, posso ver mais em alguns pontos, então lembro que não estou sozinha, levanto um pouco mais a cabeça, e vejo quatro rostos me olhando, é como se uma nevoa cobrisse meus olhos, não consigo identificá-los, eu sei que deveria saber quem são eles, pior ainda eu sei que devia temê-los, forço mais a visão, e reconheço um deles, Marvel, ele me lança um olhar cheio de pena, mas não era isso que ele tinha que sentir por mim, instantaneamente sinto raiva, não quero que ele me olhe mais, não quero que sinta pena de mim. Sinto alguém se aproximando.

_Viu, ela está viva.

Sinto braços fortes me levantando, mas não há gentileza em seus atos, a dor que percorre meu corpo é tão forte, que me faz acordar ofegante com lágrimas nos olhos.

_Um pesadelo, só mais um pesadelo _sussurro pra mim mesma.

Por mais que me sinta assustada dessa vez não acordei aos gritos, assim não acordei ninguém, todos permanecem dormindo, a menos é o que parece devido ao silencio que se faz presente neste momento, minha respiração continua difícil, pesada, mas não é isso que me incomoda, e sim algo em meu peito, uma dor estranha, uma sensação de medo completamente diferente do que eu tenha sentido antes, tenho um ataque de choro compulsivo, agradeço que todos estão dormindo, e não podem ver meu estado, não sei quanto tempo fiquei assim, quando as lágrimas finalmente diminuem, me levanto devagar e olho a minha volta, como a luz da lua está clareando o quarto posso ver Annie e Madge em suas respectivas camas, dormindo tranquilamente. Ando na ponta dos pés para não fazer barulho, olho em um dos celulares em cima da cômoda, 03h30min, vou até o banheiro lavo o rosto me olhando no espelho, meus olhos estão inchados e avermelhados devido ao choro, sei que não vou conseguir dormir, resolvo ir até a cozinha para tomar água, mas passando pela sala encontro Tresh, sentado no sofá com um Iphone na mão.

_Oi _o cumprimento.

_Oi, não conseguiu dormir? _ele pergunta.

_Não muito, você também não?

Percebo que ele está conversando com alguém no Skype.

_Não é bem isso _ele diz batendo com a mão no sofá como um sinal para eu sentar a seu lado dele _é a Rue, ela sonhou com os nossos pais biológicos.

Em seguida volta sua atenção para o Iphone.

_Olha quem está aqui Rue _ele gira o aparelho para que ela possa me vê.

_Katniss! _Sua voz surpresa e feliz me contagiam. Rue é uma garotinha de pele morena assim como o irmão, com lindos olhos chocolates, sua beleza é contagiante, assim como Prim, ela também tem treze anos e mesmo estando em uma das fazes mais complicadas da vida, a adolescência, Rue não perdeu a sua doçura.

_Oi pequena.

_Katniss... Eu sonhei com eles _sua voz agora saiu em um fio de tristeza.

Tresh e Rue são filhos de Haymitch e Effie, como Haymitch é irmão da minha mãe, Tresh e Rue são nossos primos, o pai biológico deles abandonou a mãe, e como conseqüência disso eles foram parar em um orfanato, tia Effie não podia ter filhos, depois de muitos tratamentos falhos resolveram adotar, e foi assim que os encontraram Tresh era um garotinho assustado que não queria se separar da irmã, mas quando Effie e Haymitch os conheceram foi amor imediato e incondicional, imediatamente trataram do que era preciso para a adoção, Tresh era um garoto incrível que desde sempre deu muito orgulho a Haymitch, teve que entrar um ano atrasado na escola, mais suas notas sempre foram as melhores, e assim é mimado pelos pais de todas as formas possíveis, mas ao contrario de certos jovens que são estragados por serem mimados, Tresh é uma ótima pessoa. Rue é a princesinha deles, igualmente inteligente, esperta e doce o que traz muito orgulho aos pais também, ela e Prim são melhores amigas. Rue era um bebê de quase dois anos, por isso não se lembra do rosto da mãe ou do pai, mas as vezes sonha com eles, e isso a deixa deprimida.

_Rue foi só um sonho, um amigo me disse, que para não deixar lembranças tristes invadirem nossas mentes, temos que dar valor aos momentos bons, assim teremos boas lembranças para ocupar o lugar, penso que se você lembrar-se de algum momento que te deixa feliz, você esquecerá o sonho que esta te deixando triste.

_Você faz isso? _ela pergunta, e Tresh me entrega o Iphone, mas continua sentado ao meu lado.

_As vezes faço _digo, mas omito que como os meus pesadelos são diferentes dos sonhos dela, isso não resolveria.

_Então eu vou tentar _ela diz com um grande sorriso no rosto.

_Posso saber qual o momento escolhido? _realmente quero que ela esqueça o sonho, Tresh observa nossa conversa.

_Hmm... _ela pensa um pouquinho _Já sei, as noites em que acampamos perto da piscina da sua casa Prim, você e eu, amava aquilo _quando ouço o que ela diz, meu coração se aperta, há muito tempo não fazemos isso, lembro o quanto elas gostavam, fico sem saber o que dizer, isso foi antes...

_Bom acho que agora você pode voltar pra cama _Tresh fala pegando o aparelho de volta, me disperso de Rue, e continuo meu caminho pra cozinha para finalmente beber água, ainda estou com o copo na mão quando Tresh entra com um sorriso de gratidão.

_Legal você ter conversado com a Rue.

_Acha que funcionou?

_Acho que sim, mas com você isso não dar certo, teve outro pesadelo?

_É, acho que eu tive _digo, e ele me dar um sorriso meigo e coça os olhos deixando transparecer o quanto ele está com sono.

_Tresh porque não sobe e vai dormir? Eu vou fazer o mesmo.

_Então vem _eu mal ponho o copo na pia, e ele me abraça me guiando até o meu quarto, me da boa noite e eu o beijo no rosto antes de entrar, me deito na cama silenciosamente para não acordar as garotas, é bom sentir Tresh tão próximo de mim outra vez, não é como se ele tivesse se afastado totalmente de mim, mas desde que tudo aconteceu Tresh passou a me tratar diferente, como se achasse que eu fosse culpada por tudo, e de certa forma eu sou. Demora um bom tempo até eu pegar no sono.