One More Time In Nárnia escrita por Loren


Capítulo 22
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

haaai



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Cristine acordou sentindo o cheiro do carvalho molhado. Refrescante. Sentou-se, coçou o olho direito e bocejou sem tapar a boca, não precisaria de modos perdida em uma floresta. Levantou-se cambaleante até a beira do rio. Somente colocou a cabeça dentro da água. Toda a cabeça. Ficou alguns segundos parada. Sentiu a água entrar por seu nariz e percebeu que havia dormido novamente. Tirou a cabeça rapidamente, seus cabelos encharcados e a água escorrendo pelo pescoço. Ofegava enquanto cuspia um pouco da água em sua boca. Passou a mão esquerda pelo rosto.

--Acho que agora estou acordada.

Levantou-se, espremendo os fios de cabelo para retirar a água compenetrada e começou a andar de volta para o lugar onde acordou. Jogou os cabelos para trás quando os sentiu mais leves e tombou a cabeça para trás com os olhos fechados. Passou as mãos pelo cabelo enquanto caminhava até sentir o chão debaixo de seu peito. Havia tropeçado em algo e cair sobre aquelas pequeninas pedras pontiagudas não era um bom jeito de começar uma manhã. Colocou as mãos no chão e virou-se sentada, tentando manter a calma para não explodir com...uma pilha de maçãs? Cristine franziu o cenho. Ainda sentada, arrastou-se para perto daquelas maravilhas suculentas e sangramente pintadas. Pegou uma com a mão direita. Jogou-a para o alto e a pegou de novo. Repetiu o movimento talvez mais umas três vezes. Não devo comer. Só pode ser uma armadilha, ela pensou. Quando pensava em colocar a maçã no lugar, sentiu seu estomago revirar e conseguiu ouvi-lo roncar. Passou a mão livre por ali e apertou os lábios. Estava desgastada demais para subir em árvores e pegar outra maçã. Preguiça maldita! Até que ela deu de ombros. Pensando bem, uma hora todos morrem. Finalizando seus pensamentos, mordeu a maçã e sentiu um rápido gostinho amargo e de repente, veio o sulco e o gosto doce. Amava maçãs. Amava. Pois de tanto comê-las, sentia-se ás vezes enojada e sonhava sempre com um ótimo pedaço de carne recém-saído do fogo. Suspirou pelo nariz. Curvou as costas preguiçosamente e continuou mordendo a maçã. Começou a reparar em seu redor. Ouviu a música. Os pássaros cantavam alegremente a manhã por todas as partes da floresta. Os pequenos animais já começavam a acordar. Ouviu alguma mãe brigando com seu filho. Desconfiou que eram esquilos. Pois o filho ficou duas semanas sem nozes. O rio estava como antes. Encharcando ao seu redor todas as pedrinhas na beira e espirrando nas mais longes. Tinha quase o tamanho de um córrego, mas ainda assim era um pequenino rio. O vento acompanhava a música. Não cantava muito alto, era um leve sussurro, mas que trazia alegria à suas dançarinas. As árvores dançavam de acordo com o ritmo, seus braços de madeira balançavam-se suavemente e suas várias mãos verdes mexiam-se nervosamente. Paz. Cristine respirou fundo e soltou o ar devagar.

--Vejo que está com fome.

Ela abaixou a cabeça da onde mirava um ninho de passarinhos e presenciava o nascimento de mais um integrante na família, quando ouviu a voz tensa e rouca. E por pouco não ouvira, de tão baixa que fora, mas fora a música ali tocada, o resto era silêncio. Viu o lobo do outro lado do rio. Sentado, mirando-a firmemente. Ela parou de mastigar quando viu os olhos dele. O que demonstravam? Raiva? Desprezo? Ódio? Ignorância? Ele postou-se de pé e atravessou o rio, enquanto mil pensamentos atravessavam a cabeça de Cristine. Ele passou a dois metros pela direita dela.

--Algum problema com a maçã?

Ela engoliu. Balançou a cabeça negativamente. Ele apertou os olhos por alguns segundos.

--Bom.

E saiu de perto dela. Começou a andar sem rumo para dentro da floresta. O olhar da menina o seguiu.

--Aonde vai?- ela arriscou perguntar.

Ele parou e virou-se com a cabeça erguida e os olhos atentos.

--Eu não sei.

Ele ainda a encarava esperava que ela dissesse algo. Cristine estava tendo problemas para formar uma frase decente.

--Ahm...você, você...ahm...

--Sim?

--Você é fiel à Aslam?-fora a única coisa que lhe veio à mente.

--Sim. A senhorita deve ter me ouvido na clareira.

--Eu...eu...

--A senhorita caiu de uma árvore. Obviamente estava ali já há algum tempo.

Cristine sentiu o rosto esquentar.

--É...digamos que sim...

Era uma situação constrangedora. Cristine sempre esperou que as pessoas tentassem falar com ela e se não tentassem, ela pouco se importava. Mas ali ela estava precisando de alguém. E não via outra saída, mas era péssima em prender a atenção de pessoas com alguma conversa decente.

--Para onde...o senhor vai?

--Não tenho um lugar certo para ir.

--Está sozinho?- ela perguntou com cautela.

--Sim.

Ela mordeu os lábios. Ele virou-se para continuar a andar.

--Gostaria de acompanhar-me?!- ela perguntou rápida.

Ele parou. Tinha os olhos arregalados e olhava para o chão. Um momento muito surreal este, ele pensou. Poderia ser impressão, mas ele tinha uma vontade de sorrir. Controlou-se. Virou-se e mirou a menina que tinha a testa enrugada esperando pela resposta. Ele somente acenou com a cabeça e voltou a andar. Ela revirou os olhos para cima e suspirou agradecida. Levantou-se rápida, pegou sua espada e correu para alcançar o lobo. Quando estavam lado a lado, diminuiu o passo para uma caminhada. O lobo tinha a cabeça baixa, mas olhando sempre para frente. A menina prendeu o cabelo em um coque.

--Para onde vamos?

A pergunta assustou a menina, que pensava que demoraria para o lobo falar-lhe alguma coisa.

--Ah..bom, eu não sei. Tem...alguma sugestão?

--Cair Paravel.

A menina parou. O lobo continuou a andar, como se nada tivesse acontecido. Mas parou percebendo que a menina não estava mais ao seu lado.

--Cair Paravel?- ela repetiu.

--Algum problema?- ele perguntou sentando-se de costas para ela.

--Eu...não sei se é uma boa ideia.

--Não é uma boa ideia. É uma ideia. Mas a única que eu possuo. Lá há mais chances de conseguir uma vida decente...eu espero.- ele murmurou a última parte.

Ela não o escutou. Colocou uma mecha atrás da orelha e continuou a andar. Nunca havia ido a Cair Paravel antes, mas era um sonho. Um sonho que compartilhava com seus irmãos. Brincavam de como seria ver Cair Paravel algumas noites antes de irem dormir. Brincavam que encontrariam aventuras. Brincavam que encontrariam os Quatro Grandes Reis e Rainhas de Nárnia. Brincavam que encontrariam Aslam. Brincavam que um dia não seria apenas uma brincadeira.

--Então...-ela disse chamando a atenção do lobo.- Vamos?

^.^

Os dias passaram-se normalmente. Era quase uma rotina. Acordavam com o raiar do sol, comiam algumas frutas e colocavam-se a caminhar até o entardecer. Após este, um dormia embaixo de alguma árvore, enquanto o outro era vigia por tantas horas, até acordar o outro para seu turno. Não conversavam muito. Cristine ficou por satisfeita só em saber o nome do lobo: Dark. Não me admira esse nome, com esses olhos, ela pensou. Dark estava mais do que satisfeito. Fora um susto ver alguém pedindo sua companhia. Queria agradecer, mas não sabia como fazê-lo. Soube mais da vida da menina, do que esta da dele. Mas não porque ele perguntara, ela simplesmente falava. Ele agradecia internamente. Ás vezes o silêncio é bom. Mas outras vezes ele é um incomodo. Soube seu nome, sua família adotiva e como chegara em Nárnia. Percebera os olhinhos dela entupidos de água quando falava do passado. Ela limpava a água com as mãos rapidamente e sorria para dizer que tudo estava bem. O lobo limitava-se apenas a acenar com a cabeça. Havia já se passado uma semana. Já era noite. Acenderam uma fogueira. Haviam terminado de comer sua refeição.

--E você?- ela perguntou informalmente.

Já haviam deixado de lado as formalidades, quando perceberam que conviveriam juntos por certo longo tempo. Ele levantou a cabeça. Ela já estava se acostumando com o jeito do lobo. Aquilo era como uma permissão para que ela pudesse perguntar o que queria.

--Sua família?

--Eu não tenho.

--Há quanto tempo? Não...a tem mais?

Ele abaixou os olhos para a fogueira.

--Desde o momento que consigo ter memórias guardadas.

--Tanto tempo assim?- ela perguntou com os olhos bem abertos.

--Meu pai era completamente a favor da Feiticeira. Minha mãe era completamente contra a Feiticeira.

--Era a favor de Aslam?

--Não. Mas preferia mil vezes ele do que ela. Meu pai queria me colocar em uma...causa. Para reerguer a Feiticeira. Minha mãe não apoiava. Assim que quando eu já sabia correr, pular e procurar minha própia comida, fugimos. Andamos por aí. Depois nos separamos.

--Por que?

--Ela quis assim.- ele deu de ombros.- Cada um..foi para um lado. Mas não consegui me livrar dos seguidores da Feiticeira. Conheci Nikabrik por acaso na floresta um dia.

--Quando começou a acreditar em Aslam?

--Não sei. Ouvia histórias do Grande Leão, mas sempre em ponto negativo. Mas...eu gostava. Até que comecei a acreditar.

--Por que decidiu acreditar? Com que propósito?

--Propósito?- ele a visou nos olhos.- Nunca pensei em um propósito. Eu apenas acredito. Mas se quer um propósito, fé. Somente isso. Fé. Deveria tê-la também.

Cristine abaixou a cabeça envergonhada. Havia dito para o lobo que acreditava em Aslam também, mas percebera que não tanto como ele. Todo o momento importuno, perguntava sobre Aslam e suas histórias, se o lobo acreditava e o que pensava. O lobo percebera isso também.

--Depois, Nikabrik tentou me juntar ao seu grupo.- ele continuou.- Eu fugi. E então, nos encontramos.

Ela o olhou e sorriu. Feliz em perceber que ele não se esquecera que estavam juntos agora, ao menos, era o que gostava de pensar. Ele quis sorrir e permitiu-se. Sorriu. O que para ela, fora uma bela surpresa, fazendo-a aumentar mais o seu sorriso mostrando seus dentes brancos. Ele abanou a cabeça e levantou-se.

--Durma. Eu vigiarei primeiro, depois, será você. Boa noite pequena.

E misturou-se com a paisagem escura enquanto a menina criava esperanças de ter um novo amigo.

^.^


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Notas finais do capítulo

deeesculpem pelo cap. curto ): espero que tenham gostado e não tenham esquecido da fic! xD
beijos e abraços apertados da Loren