O sol já nascia, Caspian já havia acordado e tinha visto as pegadas. Estava impressionado.

--Edmundo.

Chegou perto de Edmundo e o sacudiu.

--Edmundo, olha.

Edmundo levantou-se rápido e olhou as pegadas com Caspian, mas se preocupou principalmente com sua família.

--Cadê a Lúcia? Lúcia!

Céus, Lúcia? Onde ela estava? Sua única família ali, a família que ele amava e se preocupava, não que ele não se preocupasse com Eustáquio Mísero, mas pelo ronco alto do menino, sabia que este estava bem. Antes que dissessem qualquer outra coisa, ouviram um barulho da floresta, tiraram as espadas. Ia chegando mais perto, mais perto, mais perto e quando viram, era somente Cristine saindo apressada dali e ofegante. Chegou perto dos dois reis e fez uma pequena reverência.

--Majestades.

E foi rápida ao falar.

--Durante a noite eu fui vigia, ouvi passos e vozes, mas não vi ninguém. Pegaram a rainha Lúcia e a levaram para um jardim dentro da floresta, após eles terem conversado, mandaram Lúcia entrar por uma porta que apareceu magicamente, do nada.

--E o que ela fez?- perguntou Caspian.

--Ora, entrou! Se não entrasse, eles iriam matar vocês!

--E o que você fez?- perguntou Edmundo irritado.

--Perdão?

--O que você fez? Nada? Estava lá e não fez nada? Como pôde?

--Como queria que eu fizesse algo se nem a própia sombra do inimigo eu conseguia ver?

--Poderia ter se juntado à Lúcia.-gritou Edmundo.

--De que adiantaria?! Seria um ato estúpido! Vocês acordariam, não nos encontrariam e teriam que percorrer a ilha inteira para achar o jardim, eu ao menos lembro-me onde ele está e pelas diferenciadas vozes, não é um número pequeno o inimigo!- Cristine falou alto com Edmundo também

Os dois estavam frustrados um com o outro. Edmundo pela teimosia e os insultos de Cristine. Compreenda-o caro leitor. Ele já se sentia um pequeno ser em Londres, em Nárnia poderia ser algo mais, mesmo que tivesse Pedro à sua frente, e depois Caspian, ele só queria sentir-se importante e Cristine não o ajudava nisso. E Cristine ficou totalmente frustrada ao ver a atitude repentina de Edmundo para com ela. Dias antes parecia preocupado com ela, e agora essa arrogância? “Ainda não compreendo porquê o título dele é o Justo”,pensou Cristine. Drinian já havia acordado e se juntado à eles.

--Como eram os inimigos?

--Eu não sei, não os vi.

--Como assim?

--Eram invisíveis.

Drinian não acreditou em tal versão, era ridículo.

--Por favor, confiem em mim, nesse exato momento, vai saber o que está acontecendo com a rainha Lúcia.

--Majestade?- perguntou Drinian à Caspian.

--Mostre o caminho.

Cristine suspirou aliviada por alguém acreditar nela, ou em parte. Todos ali foram acordados e guiados pela menina, somente Eustáuqio ficou para trás, continuando seu belo sonho. Enquanto isso, Lúcia se achava em um corredor da casa, era uma grande casa. Ao menos, por dentro. Ela chegava perto de uma porta, parecia ser uma biblioteca e viu um livro no meio do lugar. Ela chegou perto. Tentou abrir o livro que parecia estar lacrado, viu um anjo em cima do livro soprando e ela fez o mesmo. As palavras que estavam embaralhadas moveram-se e formaram o seguinte nome.

“O Livro dos Feitiços”

Lúcia conseguiu abrir o livro. Viu ali o Feitiço para Dores de Dente, viu também o Feitiço do Esquecimento e parou em duas páginas que eram negras e as letras brancas, ela interessou-se e leu em voz alta.

“Fale as palavras,

Como se deve,

E ao redor,

Você verá neve.”

Na página do lado, onde era totalmente negra, pequenos pontinhos brancos começaram a aparecer. De onde eles vinham? Lúcia olhou para cima e viu neve. Neve de verdade, o chão estava coberto por ela e continuava a cair. Lúcia ficou encantada, talvez ficou por alguns minutos ou milésimos de segundos apreciando todo aquele circo exuberante. Rodou enquanto a neve tocava sua pele e chegou a tocar a que estava no chão, ficara mais encantada ainda, vendo que era real. Esta, voltou-se para o livro, Lúcia assoprou a neve que estava se acumulando, as folhas começaram a passar muito rápido e Lúcia ficou assustada. Bateu no livro para que isso parasse. E quando viu, ao redor não havia mais neve. Ela não havia notado, mas uma fina estranha fumaça havia saído do livro, uma fumaça verde, mais parecia como uma névoa. Ela voltou a atenção ao livro e leu por acaso o que estava escrito ali.

“Um feitiço infalível

Para virar ela

Que você sempre julgou

Ser mais bela.”

Na página ao lado, havia a foto de uma linda mulher loura, mas aos poucos a imagem foi se desfazendo e virou como um espelho mostrando Lúcia. Lúcia se olhou e julgou-se não estar tão feia, mas a imagem foi ficando diferente, mudava tudo em si mesma, os lábios, os cabelos, a forma do rosto e quando viu, era Susana ali.

^.^

--Susana, que história é essa?

Disse Lúcia, mas Susana falou a mesma coisa que ela. Lúcia deu-se por conta que Susana ali, era ela. Lúcia tocou seu rosto, pensando estar com a mesma face que Susana.

--Estou linda.

Mas ela deu-se por conta que era um feitiço, e saiu dali e foi procurar algum outro espelho, parou perto de um vidro que serviu como reflexo, mostrando que continuava a mesma. Voltou para o livro, a imagem ia se desfazendo. Lúcia ficou desesperada. Ela decidiu levar o feitiço consigo e arrancou a folha da mulher loura. Mas quando isso foi feito, as folhas continuaram a virar e dali saiu um rugido estrondoso.

--Lúcia! Lúcia...

Disse uma voz que ela conhecia bem, mas parecia triste, decepcionada.

--Aslam! Aslam?

As folhas se acalmaram e Lúcia estava assustada e envergonhada, mas colocou assim mesmo a folha debaixo da camisa. Achou o feitiço e começou a recitá-lo. Enquanto isso, Cristine havia chegado enfim ao jardim.

--É aqui.

--E onde está a porta?- perguntou Drinian.

--Acalmem-se, eles ainda podem estar aqui.

--Caspian, o punhal da Lúcia.

Caspian chegou perto, mas lanças começaram a surgiu ao seu lado e ao redor dos marinheiros.

--Fiquem parados aí, ou vão morrer.-disse uma voz.

Puxaram a espada de Caspian e o socaram, o mesmo com todos os outros. Concordemos, seria muito complicado você lutar com alguém invisível. Quando você faz algo, mas não sabe o que faz, não se sente seguro, você fica com receio, com medo do que quer que seja e acaba ficando nervoso e o resultado, bem...é desastroso. Mas se você tem certeza daquilo, você fica certo, corajoso. Lúcia por fim tinha terminado de ler o feitiço.

--Agora tudo está visível.

E aos poucos, perto de uma estante, uma escada foi aparecendo e dali desceu alguém que jogou um livro no chão. Depois, pegou outro livro e começou a folhea-lo, suas formas já iam aparecendo. Usava uma roupa comprida e barba por fazer a algum tempo, olhou para Lúcia surpreso, mas não demonstrou isso ao todo, como se já esperasse sua visita.

--Que tipo de criaturas são vocês?

Perguntou Caspian nesse momento, jogado ao chão e sem defesa nenhuma. O mesmo com muitos outros marinheiros dali.

--Criaturas enormes, com cabeça de tigre e corpo de um...

--Tigre diferente- completou outro.

Mas suas formas iam aparecendo nesse momento, já podiam ver seus rostos, eram do tamanho dos anões, mas um pouco mais altos por conta de seus pés. Oh senhores e senhoras, desculpem-me, lamento pelo erro, pelo seu pé. Tinham somente um pé, um enorme pé. Havia um em cima do outro e continuavam a contar vantagens falsas para os marinheiros.

--Melhor não mexer com a gente!

--Se não?- perguntou Edmundo.

--Retalhamos vocês com as garras.

--Rasgamos vocês com os dentes!

--E mordemos vocês com os caninos!

Disseram e fazendo barulhos raivosos. Agora completamente visíveis, não metiam medo em ninguém, nem na própia menininha, Gael que estava quase rindo pela visão que estava tendo.

--Quer dizer, que nos esmagam com esses barrigões?- perguntou Edmundo sarcasticamente.

--Que barrigões?- perguntou um.

Perceberam que estavam visíveis agora, tanto para os outros, quanto para eles mesmos.

--E fazem cócegas com os pés?- perguntou Caspian, rindo quando um que estava em cima de outros dois caiu.

Edmundo tirou a espada, estava bravo e apontou a espada para o que parecia ser o chefe dali.

--O que fizeram com minha irmã seus pestinhas?

--Ora, calminha..-disse cauteloso o estranho ser.

--Onde ela está?

--Melhor contar à ele!- disse um.

--Na mansão!-disse por fim.

--Mas que mansão?- desconfiou Edmundo.

Era claro que estariam mentindo para eles, se a própia mansão não aparecesse nesse exato momento. Edmundo olhou admirado.

--Ah...aquela mansão.

--Sabem que já estou cansado de ser deixado pra trás!-disse uma voz ao fundo.

Era Eustáquio, que limpava-se após ter saído da floresta, como se estivesse muito sujo. Quando viu tudo aquilo, ele ficou paralisado novamente.

--É o porco!-disse uma voz.

--O porco voltou!

Eustáquio comentou com medo.

--Esse lugar tá ficando cada vez mais esquisito.

Os seres estranhos ficaram indignados com o comentário.

--Esquisitos?

--Ele nos chamou de esquisitos?

Nesse momento, o senhor da biblioteca e Lúcia saíram da mansão.

--O Opressor!- todos os seres gritaram.

--Lúcia!- disse Edmundo contente ao ver a irmã.

--Majestade- disse o Opressor fazendo uma reverência.

--Caspian e Edmundo- disse Lúcia- esse é *Coriakin. Essa ilha é dele.

Caspian e Edmundo fizeram um reverência.

--É o que ele pensa- disse um dos seres estranhos- Você nos enganou mago.

--Eu não enganei vocês. Deixei vocês invisíveis para sua proteção.

--Proteção?

--Isso é opressivo!

--Opressor!

--Eu não oprimi vocês.

--Mas poderia ter oprimido se quisesse.

--Vão embora.

O Opressor jogou algo para os seres, bolinhas pequenas e brancas, os seres começaram e correr pulando.

--O que era aquilo?- perguntou Lúcia.

--Algodão. Mas não conte à eles.

--Quem eram?- perguntou Eustáquio.

--Tontopóles.-respondeu o Opressor como se fosse óbvio.

--É claro, bobeira a minha.-disse Eustáquio frustrado para si mesmo.

^.^