Esquentaram novamente a água para Ranma tomar banho e lhe emprestaram novas mudas de roupa, pois as suas estavam encharcadas. Akane se surpreendeu ao vê-lo usando roupas camponesas tradicionais. Já se acostumara com seu inseparável uniforme chinês desde que eles haviam se conhecido.

Como anoitecera, os dois decidiram passar a noite ali, onde quer que estivessem. Kagome teria muitas explicações para dar acerca daquele mundo maluco de monstros (não que a vida da Akane fosse lá muito normal), mas o primeiro a se explicar seria Ranma e sua incomum habilidade de se transformar em garota.

- Afinal, o que você é de verdade: homem ou mulher? - perguntou Shippou.

- Homem.

- Tem certeza?

- Claro que eu tenho certeza! - exasperou-se Ranma, respirando fundo para não socar o molequinho esquisito de rabo felpudo.

- E como você ficou assim? - Sango quis saber - Sempre teve a habilidade de se transformar?

- Na verdade, é uma longa história... - suspiro - Aconteceu quando eu e meu pai estávamos em uma viagem para a Chi... - Ranma congelou de repente, ficando completamente branco - G... G...

- Ai meu Deus, o que aconteceu com ele?! Será que o youkai era venenoso e o atingiu?! - Kagome exclamou.

- G... G....

- Saotome, o que aconteceu? - Sango se inclinou para frente - sou exterminadora de youkais e posso preparar um antídoto se...

- G-G-GATO!!!! - Ranam gritou, apontando para Kirara com a mão trêmula. Ela esteve o tempo todo atrás de Shippou e só agora Ranma a notara.

Ao ouvir seu nome, Kirara se aproximou, ronronando.

- Aaaaaaiiii!!!! Gatinho lindinho, sai daqui, sai!!

- Calma, ela é uma youkai boazinha, não vai machucar você - disse Sango.

Akane levantou-se e pegou Kirara no colo, levando-a para o outro lado da sala, já que Ranma continuava paralisado.

- Seu ponto fraco são gatos - ela explicou a todos - Ele... sofreu um trauma quando era pequeno. 

"Tem certeza de que no fundo ele não é uma menininha?" pensou Shippou.

Longe da Kirara, Ranma pôde continuar sua explicação, contando a todos sua viagem de treinamento na China, as fontes amaldiçoadas de Jusenkyo e seus poderes de transformar pessoas na forma dos seres que morreram afogados séculos atrás.

- Agora nos digam onde estamos e o que de fato é aquele bicho que nos atacou! - ele pediu - Aquilo era mais feio que o Meia-Calça-tarô!

Kagome contou sobre como veio parar na Era Feudal pela primeira vez, sobre a Jóia de Quatro almas e Naraku. Ranma ficou admirado com o poder da Jóia.

"Quem  a possuir pode ter direito a um desejo... E' isso! Vou poder ir pra Jusenkyo! Ou melhor, posso acabar logo com a maldição! Vou ajudá-los a achar a Jóia!"

Seus pensamentos foram interrompidos por duas vozes muito familiares que vinham do lado de fora da casa.

- Ranmaaaaaa!

- Ranma, docinho, você está aqui?

Ranma e Akane correram até a porta:

- Shampoo? Ukyo? O que estão fazendo aqui?

- Ola, viemos plocular você! - Shampoo deu um abraço bem apertado nele.

- Quack!

Os quatro foram surpreendidos por um pato de saiu sabe-se lá de onde e atacou Ranma, separando-o da Shampoo.

- Quack! Quack!!

- Mousse mau! - Shampoo gritou - Atrapalhar momento especial de Shampoo e Ranma!

Nessa hora Inuyasha, Kagome, Sango, Miroku e Shippou, acompanhados pela velha Kaede, apareceram do lado de fora da casa também.

- Ora, ora, mais jovens do tempo da Kagome? Entrem todos, está frio! - disse a velhinha de tapa-olho.

Ukyo e Shampoo agradeceram e já estavam quase todos do lado de dentro quando Sango gritou de susto. Do nada, um velhinho havia pulado em cima dela e agora estava se esfregando em seus peitos.

- Aaaah!!! Tirem essa coisa de cima de mim!

- Sai pra lá, seu velho tarado! - Ranma deu um chute em Happousai que fez com que ele voasse, quebrando o teto da casa.

- O-o que era aquilo?! - perguntou Sango, abraçando-se para se livrar do tremor.

- Ah, apenas um dos vários estorvos da minha vida - Ranma respondeu, ainda irritado.

Kagome se aproximou de Akane:

- A vida de vocês é sempre assim?

Akane deu de ombros.

"Ela não viu nada..."

Após a apresentação das outras duas mocinhas, todos capotaram assim que fecharam os olhos, exaustos de tanta confusão num dia só.

De manha, Inuyasha, Kagome, Miroku e Sango e Shippou se prepararam para mais uma jornada em busca de Naraku e dos fragmentos da Jóia de Quatro Almas. Acompanharam Akane e seus amigos até o Poço Come-Ossos, que os levaria de volta para seu tempo.

- Eu vou ficar - disse Ranma.

- O QUEEEE???

- Não seja idiota - disse Inuyasha - Aqui é muito perigoso para vocês!

- Se Ranma ficar, Shampoo ficar também.

- Não, Shampoo, ele tem razão - falou Ranma - E' muito perigoso. Você, Ukyo e Akane devem retornar.

- Nem pensar! - disse Akane.

- Mas, Ranma...! - Ukyo protestou.

Inuyasha deu um passo a frente:

- Ele tem razão. Se não quiserem morrer é bom voltarem ao tempo de vocês.

- Inuyasha! - Kagome o repreendeu - Você poderia ser um POUCO mais delicado?!

- Mas é a verdade! Elas não durariam um segun...

- SENTA!

​- Argh! - ele foi de cara no chão.

- Bem, acho que devemos ir, então. Pizzas de legumes não se fazem sozinhas e já é hora de eu reabrir meu restaurante. Adeus, Ranma, docinho! - Ukyo pulou no poço.

Shampoo foi em direção ao poço também, mas Miroku a segurou pelas mãos.

- Antes de ir, não gostaria de ficar e ter um filho meu?

Shampoo deu um soco nele.

- Shampoo pertencer a Ranma! Além disso, bisavó precisar de ajuda no Restaurante Gato. Se não ir, Ukyo ficar com todos os clientes!

​Dito isso, deu mais um abraço em Ranma e partiu. Miroku puxou Ranma para um canto.

- Vem cá, pode me dizer como você faz tanto sucesso entre as garotas?

Ranma não se deu ao trabalho de responder. Kagome voltou-se para Akane:

- Você não vai ir?

- E deixar o trapalhado do Ranma aqui sozinho? Nem pensar!

- Se a Akane ficar, eu fico também! - disse Happousai.

- Não sei quando você voltou, mas pode tratar de já ir embora! - Akane o espantou com um chute.

- Aqui não é lugar para você - Inuyasha resmungou - E' velho demais para se cuidar.

- Escute aqui, jovenzinho, não me desrespeite! Vai enfrentar a minha ira! CHAMAS DE HAPPOUSAI!!! - e atirou os infames fogos de artifício bem no meio-youkai. Inuyasha conseguiu se proteger devido à sua roupa de pelos de ratos de fogo, diferentemente dos outros.

- Eu te pego, velho maluco! - Ranma começou a correr atrás dele.

- Que crianças... - murmurou Shippou.

Sango revirou os olhos:

- Parecem você e o Inuyasha.

- E' mesmo... Ei! - Inuyasha e Shippou disseram juntos.

​Akane de repente começou a olhar ao redor.

- Ei... algum de vocês viu o Mousse?

- Quem?

- Mousse, o pato que estava com a gente... Quer dizer, ele não é u pato de verdade, é um garoto que também caiu nas fontes amaldiçoadas, só que não demos água quente para ele ontem. Você chegou a vê-lo ontem, Inuyasha.

- Vi, é?! - ele pareceu confuso.

- Era aquele garoto chinês de cabelos compridos e óculos que estava... er... - ela olhou para Kagome, cujo olhar significava para ela não mencionar a cena do abraço na feira - Deixa pra lá, você não deve se lembrar!

- Na verdade, lembro sim... - Inuyasha ficou mal-humorado - Bem, se não está aqui é porque já deve ter voltado para o seu mundo! Agora vamos, chega de enrolaçoes! - e saiu correndo.

- Inuyasha, espere! - Miroku foi atrás dele com Shippou no colo.

- Kirara! - Sango chamou e ela logo veio correndo e se transformou.

Sango e Kagome logo subiram em Kirara e Kagome estendeu a mão para puxar Akane e Ranma.

- Venham! Se não vamos ficar para trás!

Akane pulou para as costas de Kirara sem hesitar, mas Ranma ficou paralizado.

- P-Pode deixar que e-eu vou andando!

- Não seja bobo! - Kagome exclamou - Você não vai conseguir acompanhar. A Kirara é forte, aguenta você!

Kagome puxou a mão dele, fazendo Ranma encostar de leve no pelo do youkai. Isso ativou sua auto-defesa contra gatos.

- MIAAAAAUUU!!! - Ranma deu um miado alto e saiu correndo de quatro patas, tão rápido quanto Inuyasha.

- Eu... eu não entendi - Kagome ficou confusas.

- Deixa pra lá, agora já estamos muito atrás! - disse Sango - Vamos, Kirara!

Kirara levantou vôo e seguiu os garotos.

Sem que ninguém percebesse, ouviu-se um barulho vindo dos arbustos e um pato branco de óculos surgiu dentre as folhas.

- Quack..? Quack, quack!!! - ele saiu correndo, seguindo todos.