Conta-se que, em algum lugar da China, havia um sábio ancião que decidia questões conjugais. Era ele quem abençoava os casais que queriam se unir e orientava os que estavam se desentendendo, dizendo-lhes se deveriam ou não se separar.

Certa vez, o ancião foi procurado por dois jovens a quem havia abençoado havia alguns anos e que agora falavam em separação. O sábio, percebendo que os dois se amavam, não viu motivo para que desfizessem a união, mas não conseguia convencê-los disso. Então, presenteou-os com uma planta e disse: “Esta é uma planta muito sensível. Vocês devem deixá-la na sala e, quando ela morrer, poderão se separar.”

Assim foi feito: o casal colocou a planta no centro da sala e ficou aguardando ansiosamente a sua morte.

— Sakura está mandando Naruto carregar as malas dela até o carro. Vai deixar ela ir embora? — Kakashi perguntou.

— Está sugerindo que eu amarre-a ao pé da cama? — perguntei.

— Sasuke, te ensinei tudo o que você sabe, mas não tudo o que eu sei garoto. E as mulheres são estranhas...

— Acha que não sei disso, Kakashi? A minha mulher é a mais estranha de todas elas! — disse e Kakashi soltou uma gargalhada.

— Qualquer um pode ver o quanto ela gosta de você. Estamos numa casa cheia de homens, mas ela passa cada minuto do dia dela preocupada com você!

— Ela quer dar um tempo. Quer que eu seja o namoradinho dela... Eu simplesmente não tenho saco pra isso!

— Você desarma bombas, leva tiros, rouba bancos... Dar um pouco de romance pra sua mulher não é um problema grave. Logo ela muda de ideia... Apenas, escute a voz da experiência. — disse e antes que eu pudesse responder, ele deu o fora me deixando com meus pensamentos.

Onde está mesmo a esposa de Kakashi? Aaaah claro, ele não tem uma! Argh...

Muito simples mesmo, vir aqui e dar conselhos.

Levantei-me para pegar uma garrafa de Whisky e um copo.

Mas antes que eu pudesse mandar a primeira gota de álcool pra dentro, a porta se abre com todos os idiotas da equipe.

— Não, hoje não vou fazer nada sobre missões. — já fui dizendo.

— E quem disse que viemos aqui pra isso? Mostra pra ele, Neji. — disse Gaara. Enquanto Neji segurava dois cabides com dois de meus blazers.

— Qual desses? — perguntou Neji levantando um e outro pra que eu escolhesse.

— O preto é bacana. — observou Naruto que também entrou na sala.

— Mas o azul escuro, está mais pra diversão. — ponderou Sai.

— O que estão fazendo com minhas roupas nas mãos? — perguntei sem fazer ideia do que aqueles idiotas queriam.

— Vamos sair pra beber! — disse Neji com um lardo sorriso.

— Já estou fazendo isso! — disse erguendo o copo que tinha em mão.

— Não cara... Isso vai ser bem mais divertido, com os seus amigos, numa balada, com gatinhas e seu blazer azul marinho! — disse Sai.

— Essa é a sua despedida de solteiro! — anunciou Gaara.

Despedida de solteiro...

E por que não? A ideia não era ter as etapas que não tivemos?

Não me recordo ter tido uma boa despedida de solteiro!

Fui tomar um banho e me arrumar. Em meu carro, fomos eu Lee e Naruto. No carro de Kakashi, foram junto Gaara, Neji e Sai, dizendo que tinham que separar os comprometidos dos livres.

Luzes, bebidas, música alta, mulheres se esfregando em mim, mais bebida, os meus “amigos” me empurrando mais mulheres, ruivas, morenas, loiras, negras...

E tudo o que eu precisava era tirar suas mãos de dentro da minha camisa e ir pegar mais bebida.

Sentei em frente o balcão e pedi mais um drink, quando uma mulher alta de cabelos e olhos castanhos, bastante atraente, surgiu ao meu lado.

— Quando vai ser o casamento? Seus amigos me disseram que estão fazendo sua despedida de solteiro... — disse toda solicita.

— Já sou casado. — respondi, erguendo a mão para mostrar a minha aliança, e ri ao lembrar que Sakura fazia isso com frequência. A mulher a minha frente sorriu de volta, sem perceber que eu estava desinteressado na clara oferta dela para minha “despedida”.

Ela deu de ombros, investindo novamente.

— Me deixa te fazer companhia? — Perguntou a moça, apontando para o banco vazio ao meu lado. Girei, apoiando minhas costas contra o balcão e coloquei meu copo no lugar onde ela pretendia se sentar. Ao invés de ficar desapontada, um sorriso provocante surgiu em sua face e ela aproximou-se ficando de pé à minha frente. — Me resta sentar em seu colo... — ela disse e antes que cumprisse com a tarefa, minha mão a puxou pela nuca, deixando nossos rostos próximos o suficiente das respirações.

Com a mão livre tracei algumas carícias pelo contorno do rosto e ela fechou os olhos para senti-las. Quando parei ela abriu os olhos, que, não eram os que eu queria ver.

— Você é bonita, mas não é ela. — disse levantando-me, para me embrenhar na multidão novamente e alcançar a saída.

Liguei o carro e pisei fundo no acelerador, andar sem rumo era o que eu precisava. O álcool pesou em minha cabeça e acabei estacionando em qualquer canto para dar um tempo. Até que me dei conta... O que exatamente eu estava fazendo parado em frente o apartamento dela?

Não, eu não ia ficar aqui parado feito um idiota.

Eu ia entrar!

Comecei apertar a campainha, mas aquele raio de mulher não atendia. Quando pensei seriamente em arrombar, aquela maldita porta se abre e surge Sakura apontando uma faquinha em minha direção, detalhe: a ponta virada para ela.

— Por que demorou tanto pra abrir a porta? — perguntei.

— Estava escondendo minhas joias ué, podia ser um ladrão!

— Acertou! — respondi abrindo um sorriso com sarcasmo.

— Eu ia te ferir!

— Ah ia sim. Sem dúvidas. — disse e ela sentiu a ironia, percebendo que segurava a faca de maneira errada. Jogou aquilo no chão, cruzou os braços ajustando seu baby doll como se temesse algo e fechou a cara.

— O que veio fazer aqui, a essa hora? — perguntou.

— Vim porque precisava te entregar uma blusa que você esqueceu. — inventei, já que não conseguia me lembrar do maldito motivo que me tirou duma balada cheia de mulher e bebida pra vir até aqui. Argh.

— E cadê?

— Cadê o que?

— A blusa, Sasuke!

— Eu... Acabei esquecendo de trazer. — disse e ela balançou a cabeça reprovando-me.

— Estou sentindo o cheiro de cachaça daqui. Está quase me embebedando. Onde esteve, Sasuke Uchiha? — perguntou me encarando, enquanto eu entrava em seu apartamento, caindo sobre o primeiro sofá que vi, joguei a cabeça pesada para trás e fechei os olhos.

— Estava na minha despedida de solteiro, Sakura, eu não tive uma antes de me casar com você.

— Você... V-você... Estava com outras mulheres? — perguntou.

— Estava. — confirmei, abrindo os olhos. E ela despencou ao meu lado no sofá, com o olhar estático em mim, como se tivesse acabado de levar um tiro. — Mas não beijei, nem fiz coisa alguma além de dançar com elas.

— Nome completo e endereço.

— O que? — perguntei.

— O nome completo e o endereço, das vadias que dançaram com você.

— Me poupe Sakura, eu não lembro nem do rosto de nenhuma delas. — disse e de alguma forma ela suavizou um pouco a expressão carrancuda.

— Neste caso não dá pra fazer o retrato falado. Sasuke, promete pra mim. Promete que não se atracou com nenhuma delas, e veio aqui somente pelo remorso de ter me traído. Lembre-se do dito: Se beber não minta!

— Não te trai caramba. E esse ditado nem existe! — respondi irado. — To fazendo o que você quer: regredindo no relacionamento. Quer dá um tempo no casamento e voltar a namorar, Sasuke? — disse imitando a voz dela, deixando claro que detesto essa palhaçada. — Queeeeero, Sakura. —ironizei.

— Pare de me imitar! E não, não estamos regredindo! Talvez não seja grande coisa, mas eu sou apaixonada por você, e vou adorar ter todas as etapas que não tivemos. Tirando essa péssima ideia de despedida de solteiro, que claro, eu detestei. — ela disse, e como se estivesse percebendo as palavras que acabara de dizer, fez uma pausa. — E bem, acho que já é bem tarde pra estar aqui na casa de uma moça de família, ambos sozinhos, não é respeitável. — disse ela.

— Sua família está toda morta.

— Mas eu não! Então ainda mereço respeito. — respondeu. Então comecei a me levantar, mas ela segurou meu braço. — Onde pensa que vai?

— Você está doida? — perguntei, realmente querendo saber a resposta. Que não veio.

— Doido está você de pensar que vou deixá-lo dirigir nessa manguaça toda! Sei que você nunca fica bêbado, mas o fato de ter mais whisky que sangue em seu corpo neste momento, tá me preocupando! — reclamou e saiu furiosa resmungando algo sobre lençol, travesseiro, dormir e sofá.

E seria muito pretensioso de minha parte achar que aquela língua me lambendo quando amanheceu, fosse outra se não a de Akamaru. O cachorro me acordou antes de Sakura que ainda estava adormecida em sua cama. Enquanto eu estava dolorido daquele sofá, e da enxaqueca que agora martelava meu cérebro.

Sobre a lenda do casal que aguardava a planta morrer... Certa madrugada, ambos se flagraram com regadores em punho, cuidando da planta. A planta sensível era, na verdade, a relação dos dois. O amor era forte o suficiente a ponto de acordá-los em plena madrugada. O que estava ameaçando aquela união? O orgulho.

Antes de sair do apartamento de Sakura e voltar pra casa do Kakashi, tomei minha decisão, escrevi um bilhete deixando-o sobre a cabeceira, e fui embora.