Nós tivemos o caminho todo para refletirmos sobre nossa relação, mas ironicamente isso só acontece quando tem alguém para nos atrapalhar, não é mesmo? Argh!

Pulei para o banco com o susto que levei, e imediatamente me encolhi colocando as mãos na cabeça, já esperando pelo disparo do capanga do Itachi que apontava aquela arma para nós.

 Escutei o barulho daquela porta enferrujada sendo aberta com dificuldade e dei uma espiada levantando a cabeça...

Beleza, Sasuke e o capanga já estavam lutando, e agora? O que faço?

Desci da caranga tomando coragem para pegar uma pedra e quebrar na cabeça do cara, tornando-me em seguida a heroína de Sasuke. Tacharam... Ótima ideia, não? Esse cara merecia uma bela pedrada por atrapalhar nossos assuntos, certo? Seria mesmo brilhante, maravilhoso, esplêndido...

 Isso se Sasuke não estivesse neste exato momento...

Abraçando o inimigo e sorrindo? What?

 Assim não dá para descontar minha raiva!

— Venha cá, Sakura. Este é Kakashi, um amigo! — Sasuke disse dando uns tapinhas de leve nas costas do tal de Kakashi, num gesto de camaradagem.

 Então está explicado... É sempre um amigo de Sasuke que nos atrapalha. Naruto que o diga!

— Kakashi, esta é Sakura... Minha esposa. — Sasuke nos apresentou e eu estendi a mão cumprimentando o homem.

E analisando-o assim tão de perto, Kakashi não era de se jogar fora não, com todo respeito, é claro. Mas não sou cega, oras! O homem está inteirão, quarentão, altão, corpão, grizalhão, no estilo do James Bond... Acrescente uma pequena cicatriz no olho esquerdo e... Prontinho, este é Kakashi!

— Esposa? Oh, agora está explicado os amassos no carro... — Kakashi disse assim na lata sorrindo para Sasuke, e eu estava fumaçando de ódio por ele ter nos atrapalhado. Argh.

Nada contra você, Kakashi. Não mesmo. Nadinha. Só desejo que você bata o dedinho do pé na quina dos móveis quinhentas vezes ao dia, mas só para testar a durabilidade da mobília. É.

— Oh, não, não. Eu apenas estava olhando o ferimento dele... Sasuke foi baleado! — expliquei já sabendo que eu estava enrubescida de constrangimento.

Só então, Kakashi percebeu o ferimento de Sasuke, e só então eu percebi que Sasuke não havia parado o carro à toa.

Estávamos em frente à residência de Kakashi.

 Espera... Eu disse residência?

Correção: fortaleza!

Sim, havia uma forte familiaridade com a dark house de Sasuke, o que me fez lembrar também que ele a explodiu sem dó, com todas minhas coisinhas dentro. Argh!

Enquanto seguíamos o coroa, lancei um olhar interrogativo para Sasuke querendo saber o que era tudo aquilo. Precisava de explicações, oras!

— Não tenha medo, Kakashi é um velho e confiável amigo. Passaremos a noite aqui. — tranquilizou-me e eu assenti.

Adentramos na casa pela cozinha, Sasuke puxou uma cadeira sentando-se em seguida e eu fiquei em pé ao seu lado, admirando todo este seu cavalheirismo nato.

— É o que estou pensando, não é Sasuke? Você ainda não desistiu da vingança. — observou Kakari, e eu fiquei me perguntando até onde ele sabia, e de onde se conheciam. Mas estava muito mais preocupada com o ferimento de Sasuke. — Seu marido é um maluco cabeça dura, Sakura!

— E eu não sei?! Tsc! — disse irritada.

— Itachi já descobriu e colocou um exército atrás de nós. Vou até o fim! — Sasuke disse convicto.

— Bem como imaginei, você não mudou nada! — Kakashi murmurou, e depois se virou para mim com um sorriso. — Conheço seu marido desde que ele era um pirralho birrento e mal humorado.

— Tirando o pirralho, as coisas permanecem as mesmas. — disse emburrada e Sasuke revirou os olhos.

— Ela tem uma língua afiada, hein! — Kakashi comentou e eu dei de ombros. Ninguém mandou me atrapalhar, agora aguente!

— Kakashi ajudou minha mãe a fugir do cativeiro em que meu pai a colocou, Sakura. Fugi para cá quando descobri a verdade, e ele foi meu mentor.

— Você acha o seu marido bom em tudo o que ele faz? É porque não me viu em ação, ensinei tudo o que ele sabe... — gabou-se e eu compreendi a camaradagem. Dois psicopatas!

— Vejo que não perdeu a humildade, Kakashi — Sasuke disse irônico. — Pode ter me ensinado, mas eu já te superei a muito tempo.

— Meu melhor aluno, e ainda não entendeu que os mais velhos são mais experientes... — Kakashi rebateu, e Sasuke riu.

Vem cá, ninguém está preocupado com o tiro de Sasuke além de mim, não?

— Hahahah... A historinha de vocês está muito boa, de verdade verdadeira, quero que guardem para vocês para me contarem tudo mais tarde, porque agora Sasuke está ferido! Kakashi, você não tem nenhum remédio para dor por aqui não? — perguntei botando ordem no pedaço. É.

— Não precisa, já disse que estou bem — Sasuke disse. Bem uma ova! Onde tem sangue, pode crê que ali tem dor!

— Hmm, para dor eu não tenho nada, mas... — Kakashi respondeu pensativo e pôs-se a revirar os armários, tirando de lá uma garrafa antiga de vinho. — Acho que isto aqui aliviará um pouco. — disse estendendo-me a garrafa.

 Ótimo, Sasuke vai ficar tão chapado com aquilo que nem vai se incomodar com a dor. Aham.

— Isso não adiantará de nada! Esse homem aqui nunca fica bêbado, e digo por experiência! — reclamei tomando a garrafa de suas mãos, abrindo-a e bebendo um bom gole do gargalo.

Sasuke é imune, eu não.

Bebi mais uma boa quantidade deixando que o vinho descesse amargo pela minha garganta. Já que não resolve o seu caso, vai o meu mesmo...

Tô a fim de relaxar, sabe...

Tentar dá um chega para lá no estresse.

— Em algum lugar dessa casa tenho guardado uma caixa de primeiros socorros. Esperem aqui, já volto. — Kakashi disse retirando-se do cômodo, e Sasuke tomou a garrafa de minhas mãos, bebendo um bom gole também. Eu sei que ele não quer admitir que está sentindo dor... Oh homenzinho ruim, viu. Argh!

A garrafa de vinho já tinha ido para o espaço quando o grizalhão voltou com uma caixa sinistra em mãos. Entregou-me e em seguida começou a nos guiar. Foi quando ele se abaixou tateando o chão que não acreditei...

O Kakashi também tinha uma casa embaixo de casa!

 Veio um tsunami de flashbacks quando botei meus pezinhos de salto alto na bat-caverna dois. A saudade comia solta, viu...

Ele nos levou a um dos cômodos de lá onde havia um quarto, dando-nos orientações.

— Vocês estão exaustos! Depois que terminarem aí, podem subir para comer alguma coisa... Sasuke conhece tudo por aqui. Estão protegidos aqui embaixo, e se precisarem de qualquer coisa... Não me chamem! — avisou e em seguida escafedeu-se.

Tirei meu salto chutando-o em algum canto daquele cômodo, uni as mãos no alto da cabeça e flexionei o corpo.

 Sasuke sentou-se na cama de casal que ali havia, e após tirar sua jaqueta de couro, não fez cerimônias ao se livrar também de sua camisa.

Céus, o que eram aqueles braços musculosos e aquele tanquinho trabalhado?

Claro que nem reparei em nada disso...

O quê? Não mesmo!

Só no machucado que tinha em sua costela.

Bufei ainda irritada por Kakashi ter nos interrompido, ele acha que é fácil ter uma conversa daquelas com Sasuke, é? Não é não! Ele nunca fala do que sente, pensa ou sobre qualquer forma de se relacionar comigo, e quando eu estava conseguindo namorar um pouquinho o meu marido, ele me chega com aquela bazuca apontada para nós? Argh. Tenha dó!

Mesmo estressada, minha vontade de fazer o bem sempre grita mais alto. Não aguentei ver Sasuke ferido daquele jeito e fui pagar de enfermeira.

Vasculhei a maleta de primeiros, segundos e terceiros socorros que Kakashi havia dado, ali tinham até equipamentos cirúrgicos, eu hein! Peguei algodão e álcool para limpar o machucado, ele não contestou que eu o tocasse e também não fez uma caretinha sequer, embora eu soubesse que doía que só.

 Fiz de tudo pra não ficar olhando-o enquanto passava uma pomada anticéptica para não inflamar, em seguida coloquei gaze e esparadrapos finalizando o curativo.

Sasuke permanecia sentado na cama, enquanto eu guardava novamente as coisas dentro da maleta que estava ao seu lado, percebi que ele estava me encarando...

— Quê que foi? — perguntei mal-humorada.

— Por que não está usando teu perfume? — perguntou e eu uni as sobrancelhas, estranhando aquela pergunta.

 Ele não odiava o anti-Sasuke? Pensei que ficaria feliz quando eu parasse de usá-lo...

Aliás, quando foi isso mesmo?

Não sei...

Simplesmente parei de usar, mas não para agradá-lo. Não mesmo!

— Quis dar um tempo com ele, por quê? — perguntei tentando parecer sem interesse, enquanto terminava de guardar as coisas na caixinha.

— Porque de tanto passar aquela merda, acabei me habituando a ele. — Sasuke respondeu e eu fiquei pasma.

 Ele estava sentindo falta do anti-Sasuke?

 Eu até pensei em sentir um pouquinho de felicidade, mas eu estava o cão de irritada e resolvi ignorar...

Tentei ignorar!

Quando ia dar o fora com minha cara emburrada, ele me impediu, trazendo-me de volta à sua frente.

Sasuke segurou minha cintura com ambas às mãos, colocando-me entre suas pernas, e surpreendeu-me ao apoiar sua cabeça em minha barriga, como se estivesse refletindo, tomando uma decisão difícil.

Não aguentei aquela cena que me desarmou por completo...

Ok, eu me rendo!

Minhas mãos instantaneamente foram aos teus cabelos, e me assustei quanto ele se levantou de repente prendendo meu rosto entre suas mãos e me olhando daquela maneira que me faz esquecer quem sou.

— Tem certeza de que não sente nada por mim Sakura? — perguntou.

— T-tenho. — confirmei sentindo minha respiração ficar exaltada.

Sem demora, Sasuke me empurrou até a parede, pressionando seu corpo no meu e me beijando freneticamente.

Eu o abracei, mas ele deu um gemido de dor por conta do ferimento, então fui obrigada a mudar o rumo das mãos, que foram parar no coes da calça dele... Ops!

Desabotoei os primeiros botões, quando ele segurou minhas mãos na parede, imobilizando-me, e passou a beijar meu pescoço. Aquilo fazia cócegas e eu ficava muito fraca quando ria. Então tive de virar o jogo, colocando-o em meu lugar contra parede, enquanto ficava na ponta dos pés para beijar-lhe a boca.

 Sasuke segurou minha cintura para me ajudar a me manter, mas eu logo desci os beijos por seu abdômen sarado. Sempre quis beijar este oblíquo sarado dele... E os bíceps, tríceps e quadríceps todo.

Terminei de abrir os botões de sua calça e a abaixei, ele me ajudou a tirá-la me lançando um olhar de "agora é sua vez", e aquilo me fez ter um surto de consciência...

Ainda estava usando o conjunto bege... O-Oh!

Virei tentando correr, mas ele me puxou, fazendo-me bater as costas em seu peitoral.

— Agora vai me pagar por todas as provocações até aqui e por aquele papo de fidelidade também. — sussurrou em meu ouvido. Essa foi a melhor ameaça que já saiu daqueles lábios perfeitos.

Mas não poderia me deixar levar por este ar sedutor. Ele não pode me ver feia deste jeito.

— A culpa não é minha se você nunca quis apreciar esta obra de arte que é meu corpinho antes... Agora estou ridícula! — resmunguei enquanto fechava os olhos sentindo sua respiração forte em meu pescoço.

— Você está gostosa! — disse me prensando novamente contra a parede, com um olhar felino sobre meu corpo.

Estou precisando ir a um otorrinolaringologista... Escutei ele me chamando de gostosa, acreditam? Aquele vinho batizado do Kakashi não me fez muito bem.

Sasuke colocou suas mãos dentro de minha blusa acariciando minha barriga e eu me arrepiei toda, mas elas foram subindo e logo as tirei dali antes que se encontrasse com o terrível sutiã bege.

— Sakura... Não é um bom momento para joguinhos de sedução, quer me ver doido? — perguntou quase que brigando comigo, mas logo iniciou um novo beijo.

Coitadinho... Acha que estou jogando.

 A única coisa que quero jogar, queimar, cremar e me livrar colocando as cinzas no mar, era este conjunto que tive a infelicidade de comprar, para um dia casual que com certeza não era este!

 Claro que ele não queria só me dar uns beijinhos, seus toques estavam se tornando íntimos demais. Eu estava muito nervosa, mas tenho certeza de que uma lingerie sexy e estilosa iriam tirar toda essa insegurança.

 Eu estava prestes a me entregar para o Sasuke! Pelejei muito até chegar aqui!

— Sasuke, espere um pouco, por favor... — pedi aos sussurros. Mas quem disse que ele queria me ouvir?

Ele ousadamente apertou meu bumbum e subiu uma de minhas coxas até sua cintura, aprofundando os beijos e me pondo maluca. Sua mão foi subindo por debaixo de minha saia... Droga!

A pavorosa calcinha bege não!

Parei sua mão sem a certeza de que queria isso. Seu cheiro estava entorpecendo meus sentidos e a única coisa que sabia é que precisava recobrar a consciência antes que fosse tarde demais.

— Me deixa tirar a tua roupa... — pediu com a voz rouca.

Tudo bem querido.

 Hã?

Não!

Por quê?

Por que tinha que ser tão lindo e atraente?

Não caia nessa, Sakura. Vá se arrumar, sua candanga.

— Preciso usar o toalete, querido. É coisa rápida. — disse dando uma boa olhada nele...

 Dois metros de corpo sarado com aquela boxer preta.

Fechei os olhos.

Se ficasse presa a esta visão, não ia conseguir me livrar dele.

— Que foi? — perguntou. — Está vermelha por que, Sakura? Abra os olhos... — ele disse me provocando. — Vamos... Você já viu tudo por aqui, não é? Nada mais justo ser a minha vez...

 Sasuke estava terrível, não? Como ele era perigoso e danado nessas horas! Nem parece o bom moço comportado e "fiel" de sempre.

— Já volto. — disse dando-lhe um rápido selinho e corri até a cama para pegar minha bolsa e fui direto para o banheiro.

 Assim que fechei a porta, trancando-a com chave, escorei-me na porta tentando normalizar a respiração.

Homenzinho quente esse, viu!

 Comecei a me despir pegando alguns produtos que enfiei em minha bolsa quando fui dormir na casa de Naruto, coisinha simples, nada demais.

Então me meti debaixo do chuveiro, lavando meus cabelos com shampoo, em seguida condicionador.

Depois, coloquei um pouquinho de creme para hidratação. Precisava deixar agir por quinze minutos.

Mal podia esperar para passar a máscara capilar... Só mais quinze minutinhos.

Enquanto isso peguei um depilador para passar nas pernas, estava tudo em ordem, mas eu ia dormir com o Sasuke! Nossa grande noite! Precisava estar perfeita, então não custa revisar.

Enquanto os produtos agiam, fui escovar os dentes e passar anticéptico bucal.

— Sakura... — Sasuke me chamou bem fofinho, quase derrubando a porta. — Saia logo daí!!!

— Já vou, querido. Estou terminando!

 Sendo assim, rapidamente fiz o enxague completo e desliguei o chuveiro.

Ufa!

Agora sim...

Finalmente vou poder passar hidratante, fazer a sobrancelha, a maquiagem e as unhas das mãos e dos pés!

— Vamos, Sakura. Não pode me deixar assim!!! — esperneou como uma criança birrenta.

— Vai esquentando a cama, querido. Já estou chegando! — avisei enquanto penteava meus cabelos, mecha por mecha...

Estavam mais encharcados e compridos do que nunca!

Era uma pena Kakashi não ter secador de cabelo! Teria de esperar secar ao vento mesmo...

Já ouviram dizer que dá derrame cerebral se dormir com eles molhados? Pois é...

Fora que eu não podia me deitar sem que as unhas estivessem secas, né? Ia encher de pelinho de coberta e manchar o desenho que estava decorando com o pincel.

Coloquei uma lingerie preta, a única que me restara, pois a outra era uma calcinha de algodão rosa.

Não sei por quanto tempo fiquei paralisada deslumbrada com a figura do espelho, só percebi quando comecei a bocejar...

De repente senti um friozinho na barriga...

 Céus! Estava tão nervosa...

Será que Sasuke ia achar meu corpo bonito? Minha sobrancelha bem feita? Minhas unhas bem pintadas? E do meu brinco novo? Eu não pretendia usá-lo neste fim de mundo... Mas como vou dormir com Sasuke, achei de grande importância.

Respirei fundo antes de abrir a porta.

 Ainda não tinha ensaiado este número de mamãe, mas me arrisquei.

 Coloquei apenas uma perna para fora...

— Iuuu-uuuh queridooo! — chamei cantarolando, logo aparecendo por completo pra fisgá-lo com minha lingerie preta de rendas, e comecei a dançar sensualmente diante da cama, sem olhá-lo nos olhos... Fazia parte da sedução, ele ia ficar maluco, ficar surtado, ficar doido, ficar piradinho da Silva, ele ia ficar...

Sasuke?

Mas hein?

Sasuke estava sentado de mau jeito na cama com a cabeça tombada, completamente apagado.

Ele estava dormindo!

Será que demorei demais no meu bainho? Argh. Diacho!

Fui até ele, cutucá-lo com jeitinho...

Mas, cacildes! Ele estava muito cansado, não dormira nadinha. Ficou com estes olhos maravilhosos pregados na estrada por conta da fuga, havia lutado, corrido, me protegido, mergulhado (mentira) e ainda estava baleado!

Suspirei, abaixando-me para erguer suas pernas para cima da cama, acomodando-o direito, em seguida apaguei a luz, afinal... Eu também estava exausta!

Deitei-me ao lado dele, que se mexeu se virando para o lado... Detalhe, ao seu lado estava o meu corpinho frágil e delicado, mas Sasuke não teve dó e desabou seu corpão em cima de mim.

Qual é o problema dele, hein? Sempre vem para cima de mim!

Só não reclamei porque não tinha forças e nem ar nos pulmões, já que além de não me mover também não conseguia respirar, e também porque não é de todo mal quando ele se aconchega em mim me abraçando com seus braços enormes.

Fechei os olhos e adormeci esmagada.

Assim que acordei, tropecei e cai de cara no chão. Ainda bem que tinha um tapete fofinho ali para me amparar.

 Fui me levantando, mas antes me estiquei para pegar a blusa do Sasuke e rapidamente a vesti. Roupas no momento era um problema!

Subi as escadas da bat-caverna do Kakashi já escutando suas risadas estrondosas na cozinha. Em passos lentos me aproximei, e quando me notaram, o olhar de Kakashi ficou pervertido fitando minhas pernas a mostra, já o de Sasuke ficou em fúria...

Ora, mas por quê? Eu hein...

— Dormiu bem, senhora Uchiha? Acorda sempre tarde, ou a noite foi mesmo cansativa? — perguntou Kakashi debochado, fazendo-me sentir vergonha.

 Dei uma olhadela para o Sasuke que agora também fitava minhas pernas.

 — Sente-se... Deve estar faminta! — disse Kakashi apontando para cadeira ao lado de Sasuke. Mas que debochado este "sabe tudo" hein?!

— Não estou com tanto apetite assim... — respondi desconfortável com o silêncio.

— Tem que se alimentar, vai cair na estrada e provavelmente só iremos parar quando estiver para anoitecer. — avisou Sasuke num tom rabugento.

— Não se preocupe comigo, qualquer coisa levo uma marmita... Já que estou nessa vida de pobre. — disse sarcástica e ele bufou revirando os olhos.

— Mas não demore para fazê-la, posso acabar dormindo na espera. —rebateu irônico.

— Babaca.

— Idiota.

— Idianta! — Tsc!

— Ei, o que houve agora? Por que esse mau humor todo, Sasuke? Vocês dois são bipolares, hein! — Kakashi reclamou sentindo graça.

— Não ligue. Sasuke sempre acorda de mau humor, né querido? — falei sorridente.

— Ele estava rindo até você chegar. — Kakashi disse.

— É que dormi com a blusa dele, e isso o irrita mais que qualquer coisa nessa vida. — inventei.

— Não mais que você, amor. — ele disse apertando minha bochecha e forçando um sorriso. Argh.

Com essa cena, o olhar de Kakashi iluminou-se. Tive medo seja lá do que fosse que estivesse passando por sua mente.

— Que bonitinhos vocês dois! Por que não me contam como foi que se apaixonaram? — sugeriu.

Um, dois, três e...

— Na verdade, é uma história bem curta... — tomei dianteira antes que Sasuke começasse. — Eu estava roubando o carro dele! — disse calmamente e o queixo de Kakashi caiu.

Funcionou!

 Já que ele admirava a vida do crime, eu que não ia perder a oportunidade de me sair bem nessa. Hehe!

 — Apontei um trabuco enorme para a cabeça de Sasuke, maior que aquela tua bazuca... Ele ficou admirado com a minha coragem e se apaixonou perdidamente. Já foi me entregando a chave sem pestanejar... Foi amor à primeira vista, não é, querido? — contei, lançando lhe um sorrisinho sacana.

— Conte direito, querida! — disse puxando-me de minha cadeira para sentar em sua perna. Argh. — Era noite, e eu estava indo me encontrar com Karin, lembra-se dela? — Sasuke perguntou a Kakashi que assentiu com a cabeça.

Maldito! Tinha que pôr a vaca na história, só para me provocar. Argh!

— Neste dia eu estava usando o carro de Naruto... Estava passando por um beco sinistro, quando uma silhueta feminina surgiu no caminho, lançando-se na frente do carro... Sakura era uma...

— Não ouse dizer... — até tentei, mas fui interrompida.

— Prostituta. — Sasuke disse sem dó nem misericórdia, e o queixo de Kakashi caiu em cima dos sucrilhos.

 Meu sangue borbulhou nas veias, mas me concentrei encarando-o.

— Eu pretendia me oferecer para o carro que vinha logo atrás, mas como ao contrário do dele o carro era veloz e mal viu meu corpinho, então Sasuke pensou que eu estivesse lhe propondo um programa. O coitadinho estava meio chapado e enxergou duas de mim, perdendo o controle da direção...

— E quase passei com o carro por cima dela! Mas Sakura era tão desastrada que caiu com um vento forte que tinha soprado na direção dela, se desequilibrou e caiu feito uma jaca podre no chão... Esse rostinho é pura plástica. — disse Sasuke sorridente apertando meu queixo com sua mão gigante.

— O coitadinho ficou tão perturbado por ter me atropelado que veio correndo em minha direção aos prantos... Sasuke chorava e chorava ao me pegar em seus braços e gritar... "Por queeee?", olhando para o céu.

— Na verdade, Sakura estava de olhos fechados desmaiada e não viu que eu lacrimejava por conta de sua amiga de cabaré que chegou para defendê-la, jogando um spray de pimenta em meus olhos... Eu me livrei da vadia do spray e coloquei Sakura dentro de meu carro para levá-la ao hospital...

— O que Sasuke não sabia, é que nenhuma de nós eram prostitutas coisa nenhuma! Éramos uma dupla de assaltantes altamente treinadas! Desculpe-me a revelação só agora, querido... A verdade é que até o atropelamento era um número... Eu era preparada fisicamente para tombar em frente ao carro e cair de maneira que não me machucasse. E quando Sasuke me colocou dentro de seu carro, peguei minha arma escondida dentro do sobretudo e apontei para ele, que prontamente me entregou a chaves do carro.

— Eu não me importava, o carro era do Naruto, e além do mais, eu já tinha visto um policial se aproximar enquanto Sakura se sentava no banco do motorista.

— Então tive de fingir que o carro era meu e que por um descuido havia me esquecido dos documentos, mostrei meu decote pro policial, que aliás, era um negão gatérrimo e ele nos deixou seguir...

— O que Sakura não sabia, é que eu também estava furtando o carro do Naruto... Desculpe-me a revelação só agora, querida! Eu queria que ela se ferrasse no meu lugar, mas o destino teimava em nos unir. Foi só então que olhei nos olhos desta mulher e pude ver o quão verde folha de arvore velha era a cor deles...

— Esmeralda! Verde esmeralda... — o corrigi. — A verdade é que este homem percebeu que eu dava de mil a zero na vaca ruiva e a deixou, para se casar comigo.

— Quando descemos do carro do Naruto, Sakura se ajoelhou me pedindo em casamento. E com medo de que ela fosse uma desequilibrada mental, aceitei no impulso. Daí sim, me apaixonei perdidamente por essa mulher que me faz feliz até hoje...

— É sim, meu velho... — disse dando dois tapinhas na bochecha dele e ele dois tapinhas em minha bunda. Argh.

Kakashi começou a rir batendo palmas... Argh.

— Formidável! Vocês são mesmo o casal perfeito... Olha só essa história! Impressionante... — disse ao nos olhar com admiração.

E eu aproveitei o colinho do Sasuke para continuar com a palhaçada de casalzinho apaixonado e começar a tomar meu cafezinho. Eu não estava com fome, mas sabem-se lá quando seria minha próxima refeição, não é mesmo?

 Passei uma geleia de morango numa torradinha, enquanto suspirava ao pensar que logo cairíamos na estrada novamente...

Seria sempre assim?

Fugitivos Forever?

Também estava com a cabeça cheia por conta dos assuntos pendentes com Sasuke...

 Mas agora seria mais difícil, porque tomei uma decisão quanto ao meu futuro incerto.

— Que foi? — a voz rígida de Sasuke fez eu me atrapalhar e derrubar a torrada.

Lá vem ele prever meus pensamentos! Parecia sentir quando estava perturbada.

— Preciso conversar com você. — disse.

— Depois. — respondeu aproximando seu rosto, passando a língua no canto da minha boca. — Geleia de morango. — observou, dando de ombros.

Depois de me empanturrar de comida, Sasuke me apressou para arrumar as coisas. Nós íamos dar o fora da casa do Kakashi, afinal, não poderíamos ser encontrados pelos capangas do Itachi.

 Juntei meus trapinhos restantes na bolsa, despedi-me do velho agradecendo-lhe a estádia e lá fomos nós. Argh.

 Fugir, fugir e fugir...

Aquilo não estava me agradando absolutamente em nada, começando pelo meu guarda-roupa que foi dizimado! Fora as preocupações com uma possível recompensa que estaria rolando para acharem a mim e ao Sasuke...

 Imaginem se eu não estiver bem na foto? Argh.

Suspirei, desencostando a cabeça apoiada na janela da caranga, já sabendo que seria treta o assunto com Sasuke. Discutir a relação com ele não seria nada fácil, mas não havia jeito de abordá-lo a não ser este.

— Não quero me separar de você, Sasuke. Não quero ir para sei lá onde com Kiba e Shizune... Eu estou com medo, prefiro ficar com você. — disse enquanto ele tirava os olhos da estrada para me encarar.

— Engraçado... Não fiquei surpreso com isso. Sabia que você iria dar para trás uma hora ou outra.

— Eu não aguento mais isso, Sasuke! Quero voltar às coisas como eram antes. — reclamei e ele riu.

— Você pirou de vez? Não há como voltar. Já era!

— No dia da festa beneficente, bem na hora em que me chamou para irmos embora, eu tinha acabado de escutar a versão de Itachi e da infância que ele teve sem a Mikoto... — tentei explicar, mas Sasuke freou o carro bruscamente para me encarar.

— O que é agora, Sakura? Ficou com dózinha pela infância lascada que ele teve? Sim, porque ele deve ter sofrido pra caramba né? Ter tudo o que se quer na hora que quer... É uma barra! — ironizou.

— Sasuke, as coisas não são assim... Se ao menos pudessem conversar veriam que ambos foram prejudicados...

— Não estou te entendendo, Sakura! Está preocupada com ele? O que fazia com ele durante as missões, hein? Estava dormindo com ele, Sakura? Gosta do Itachi? — perguntou friamente me fazendo chorar feito uma idiota, totalmente humilhada. Como ele ousa me dizer tal coisa?

— Vai se ferrar, Sasuke! Se quer saber... Tive muitas oportunidades de fazer um filho com ele, ou até mesmo de ferrar com você! Mas não o fiz, seu estúpido! — esbravejei, tentando conter as malditas lágrimas.

— Então por que isso agora? Tá com dor na consciência? Não sabia que tinha uma! — disse cheio de sarcasmo.

— Eu sei bem o que é ter “tudo” e de repente estar na miséria... Sei o que é não ter ninguém com quem possa contar, porque já não se tem mais grana... Sei o que é não ter ninguém nessa merda de vida, Sasuke, e quando a burra acha que finalmente pode ter... Esse alguém te joga na cara o quão só você é... Essa pessoa quer te ver longe!

— Você não tem problemas em ficar longe de mim... Não foi você quem foi correndo para a casa do Naruto porque íamos nos separar?

— Porque não estou cega como você... E vejo que isso pode acabar com nossas vidas. — disse sentindo as lágrimas escorrerem — E a propósito, quanto àqueles teus quinhentos mil que deixei... Deve ter sido a porcaria da consciência que eu não tenho... Deve ter sido o meu surto de querer mais de você do que apenas a tua grana! Acho que me enganei... Isso é mesmo impossível.

— Será você não percebe que me atrapalha? Eu fui baleado porque me distraí com o seu grito! Não posso me proteger e te proteger ao mesmo tempo! Isso não estava nos meus planos, Sakura, e eu não posso continuar com isso se tiver que proteger você, droga! Apenas entenda isso se quiser continuar com a gente. — ele disse e como se estivesse dado um ponto final na conversa.

 Ligou a caranga velha e o barulho ensurdecedor do motor velho fez com que acabasse qualquer outra tentativa de conversar.