Duas semanas se passaram...

 A cada dia, uma caixa diferente com conteúdos excêntricos em minha porta.

Eram os presentes que Itachi me mandava juntamente com seus convites para ir até uma palestra, exposição ou qualquer outra desculpa em que no final pudesse me levar até sua casa.

Não chegavam a ser encontros...

Tá, tá eram encontros!

Mas sentia que minha companhia servia de estanca para a solidão que Itachi sentia. Sua casa tão cheias de empregados "invisíveis", seu trabalho cheio de bons "puxa-sacos", mas aquele homem atarefado, apesar de todos os seus compromissos, queria a minha atenção. Mimava-me com quadros italianos, vaso de porcelana da pérsia, tapete da indonésia e blá, blá, blá!

Tudo o que eu queria eram joias, perfumes, sapatos, bolsas e ele me dando "relíquias" como se eu estivesse a fim de montar um museu. Argh.

 A companhia de Itachi era sim agradável, sua postura elegante, gosto requintado, seu cheiro amadeirado... Por vezes me pegava encarando-o.

Não tinha como negar que havia traços ali que me atraíam...

 Eram sutis feições de Sasuke.

Não me tratava como Naruto, que se tivesse uma oportunidade me agarraria sem pudor, mas com gentileza, como se fosse realmente especial para ele. Confesso que todo aquele fascínio chegava me assustar, estava acostumada a outro tipo de tratamento, se é que me entendem...

E apesar de toda aquela cordialidade, sentia-me desesperada para voltar para casa. Sasuke podia ser seu completo oposto, me xinga, me humilha, não me dava uma pinça pra fazer as sobrancelhas... Mas me sinto livre pra ser eu mesma com ele. Com Itachi tenho de bancar a humilde milionária de espírito pobre, e isso estava me deixando maluca.

Meu grande conforto é que minha permanência de um mês está acabando, e não demora, terei minha parte na fortuna... Minha tão sonhada liberdade!

— Já posso abrir? — perguntei às cegas.

 Itachi estava com as mãos em meus olhos, guiando-me pelo gramado de sua mansão.

— Só mais um pouco, e... Pode abrir! — disse liberando minha visão.

 Pisquei algumas vezes tentando me adaptar ao sol que batia em meus olhos. Fiquei procurando o tal presente que ele queria me dar, mas tudo o que eu via era mato, céu azul e um cavalo a minha frente.

Olhei confusa para ele, que me fitava sorrindo ansioso.

— Está um dia incrível, não? — comentei sorrindo amarelo.

— Não enrole... Diga-me logo o que achou! — incentivou-me.

Tive de olhar para trás novamente...

Mato, céu azul e um cavalo. Será que o coitadinho está cego? Não tem presente nenhum aqui!

— Vamos, não faça essa cara... Te ensino a montar no seu cavalo! Ele é um campeão sabia? — contou alegremente. Hein?

Tenho cara de veterinária por acaso? Ou de quem monta em cavalos? De quem gosta de qualquer ser do reino animal? Argh! Presente...

RUM!

Preferia ganhar um esmalte, isso sim!

— Oh... Eu amei! Obrigada, Itachi! Não tenho palavras para descrever o quanto este animal é... é... Grande, e também com essa crina... Céus, olha só essas quatro patas! Incrível mesmo, obrigada! — disse, aproximando-me para beijar sua bochecha e pela primeira vez me surpreendi com uma atitude mais ousada da parte de Itachi, que era sempre tão respeitador e certinho.

Suas mãos seguraram minha cintura, puxando-me para um abraço bastante colado e logo voltou a me fitar.

— Seus olhos ficam lindos à luz do sol... — comentou, fazendo-me enrubescer...

Sasuke bem que poderia pegar umas aulas com o maninho, né?!

 Por que tão diferentes? Argh.

— Venha... Eu te ajudo a montar... — Itachi disse, levando-me até o animal.

— Oh... Não, não, não... Obrigada! Mas não posso aceitar, eu sequer sei subir nisso! — expliquei recuando enquanto ele mantinha suas mãos firmes em meu cotovelo, impedindo-me de dar o fora antes que aquele cavalo me engolisse.

— Não seja medrosa... Vou te ensinar, não vai se machucar, apenas... Confie em mim! — garantiu e eu contrariada aceitei, é claro. As escolhas não iam muito com a minha cara!

Ele me ajudou a subir no cavalo que se moveu um pouco me fazendo sentir um frio na barriga. Escutei sua risada com a minha total falta de jeito e logo me assustei novamente, dessa vez com o próprio Itachi montado logo atrás de mim.

 Já disse que ele cheirava bem?

 Não tinha a pele lisa e resplandecente do Sasuke, mas tinha um ar maduro que o deixava bem interessante.

Dona Mikoto merece um troféu por fazer essas criaturas nascerem! Dale sogrinha! Argh.

Aquela aproximação toda estava me deixando meio tensa... Sei lá, parecia-me errado àquele momento e logo dei um fim, inventando estar meio enjoada, o que não era de todo uma mentira. Ele prontamente me ajudou a descer.

— Obrigada. — agradeci escondendo a face, torcendo pra que não percebesse a vontade desesperadora de me teletransportar pra casa. Mas não podia...

— Quero te contar uma coisa... — disse Itachi pensativo, segurava minha mão enquanto adentrávamos a casa novamente. Eu nada disse, apenas esperei que ele continuasse. — Se importa em esperar que eu tome um banho antes de ir? — perguntou sorrindo, eu acenei brevemente com a cabeça. E então ele subiu as escadas, sumindo de minha visão.

Ótimo.

 Essa era a deixa que eu precisava... Afinal, é claro que não estou aqui para ficar cavalgando à toa. Corri até o sofá, onde deixara minha bolsa e por baixo das maquiagens num fundo falso, peguei um Cd que Shikamaru me deu, a fim de colocá-lo no computador de Itachi — também havia colocado igual no da empresa dias atrás.

Subi rapidamente as escadas, andando pelo enorme corredor com aqueles milhares de quartos.

 Involuntariamente, meus pensamentos regressaram no dia da festa, no momento em que Sasuke e eu passávamos por aqui de mãos dadas... Ao contrário de mim, ele realmente prestou atenção em tudo, pois chegou à conclusão de que o quarto de Itachi era o último, bem em frente ao banheiro no qual nos metemos para ele poder rabiscar minhas costas. Gostaria que ele abrisse meu vestido mais vezes, se é que me entendem... Para desenhar é claro! Tsc!

Entrei em outro cômodo ao lado, deparando-me com o escritório, e fazendo o mínimo de barulho possível. Confesso que babei...

Que decoração era aquela?

 Uau! Não, Sakura! Foco na missão...

Olhei mais ao fundo e lá estava seu computador na mesinha, fui rapidamente até ele e sem demoras coloquei o pequeno Cd do nerd ali dentro.

Esperei alguns segundos para instalar o programa espião que Shikamaru desenvolveu, fechando em seguida e voltando a respirar...

 Meu sangue pulsava nas veias, e a adrenalina me fazia ficar trêmula. Quando me virei para dar o fora dali...

— O que está fazendo, senhorita Haruno?

 Virei-me num pulo ao ouvir sua voz.

— E-eu... É que eu... — tentava formular uma de minhas desculpas, mas como ele estava só de toalha com aquele peitoral molhado a minha frente, ficava difícil...

Logo sua risada interrompeu qualquer possibilidade de pensamento.

 Ele estava vindo até mim?

Nãaaao! Não se aproxime...

— Eu sei que está confusa, mas serei paciente com você. Não sabe o quanto eu sinto por não ter te conhecido antes... E agora, eu pretendo me casar com você. — disse seriamente enquanto eu tinha um derrame cerebral.

— Itachi, eu já sou casada!

— E eu me odeio por não ter chegado primeiro! Mas você pode se divorciar, e eu espero que o faça. Gostaria que se tornasse a senhora Uchiha. — confessou, olhando-me intensamente.

Hellooooooo! Eu já sou a senhora Uchiha, e além do mais... Por que raios eu me casaria com um homem que está prestes a cair na falência?

Nada contra o Itachi e esse corpinho delic... Ado. Mas, essa definitivamente não é uma opção.

— Itachi, eu...

— Não, Sakura, só me escute, por favor... Eu realmente quero te contar algo. — disse e eu apenas me silenciei, deixando ser guiada até um sofázinho que ali havia.

 Itachi sentou perto demais e acabou rolando um clima... Involuntariamente ou não, ele foi inclinando seu pescoço para baixo em minha direção, e pregando aqueles olhos parecidíssimos com os do Sasuke nos meus.

Isso é golpe baixo!

Senti quando uma de suas mãos segurar minha cintura, com a outra roçou os dedos delicadamente nos meus lábios, me fazendo automaticamente acariciar seu rosto.

Como se eu estivesse hipnotizada por aqueles olhos, não consegui desviar quando ele avançou um pouco mais o rosto sobre o meu Itachi fechou os olhos e...

— Desculpe-me interromper, senhor Itachi. É uma chamada da empresa... — uma empregada surgiu no escritório atrapalhando todo o clima com um celular em mãos.

 Itachi piscou algumas vezes, apoiando sua testa na minha antes de bufar irritado. Em seguida, sem encará-la, estendeu a mão na direção da empregada que se prontificou em lhe entregar o aparelho.

— Saia. — pediu sem ao menos olhar para a moça, depois se levantou as pressas atendendo o celular. — Certo, já estou indo. — desligou virando-se para mim. — Conversamos depois! Pedirei para o motorista te levar.

— Tudo bem. — concordei, me levantando para sair. — Até logo? — perguntei sorrindo.

— Até muito logo... Faço questão que vá à festa beneficente que faremos por conta de nossa parceira social.

— Oh... Beneficente, é?

 Onde posso vomitar? Que saco!

— Sim, sabia que iria adorar a ideia é mesmo a sua cara... — disse sorrindo enquanto surgia com roupas na mão. Faço questão que leve seu marido.

— M-meu marido? — perguntei assustada. QUE? Não posso levar meu marido, que por acaso está tentando te dar um golpe, que por acaso é um gato como você, que por acaso é teu irmão! Já disse isso? Oras...

 Ele está muito engraçadinho hoje. Querer se casar com uma mulher que já é casada tudo bem, agora querer conhecer o marido da mulher casada com quem quer se casar, já é demais!

— Todos estarão acompanhados, inclusive eu. Sou um homem nobre, senhorita Haruno e se ele for o melhor para você, desisto do nosso casamento. — disse piscando para mim.

Ele está de brincadeira, né não?

— Será um dia agradável, é um clube poli esportivo... Vai se divertir. Fora que tudo isso é uma desculpa para caridade que estamos fazendo e por causa disso tenho certeza de que não vai recusar...

— Claro... Caridade! Como poderia não participar? Estarei lá... E-eu e meu marido. — avisei, e ele aprovou com a cabeça. Por que nunca me dão opção? Por quê?

— Nos vemos amanhã então. Disse e eu me retirei.

A cada passo que dava escada abaixo, sentia o quanto estava perdida. Por que a vida tinha de ser tão cruel? Estava tudo perfeito. Eu vinha a seu encontro lhe seduzia com a minha humildade enquanto completava as minhas duas semanas restantes antes do divórcio e pronto! Mas nãaaao, claro que não! Ele tinha que arranjar uma festa beneficente na qual eu devo levar o Sasuke.

Itachi e Sasuke se vendo? Isso não pode acontecer! Claro que não!

Daí pensei em levar um dos meninos da equipe, provavelmente o Naruto, cabelos rosa com loiro, olhos verdes com azuis... Essas explosões de cores formavam um casal e tanto. But... Itachi não é idiota e é claro que ele já sabe como é a aparência física de Sasuke, uma vez que ele tinha documentos falsificados que são cópias perfeitas dos originais com meu sobrenome de solteira, feitos pelo nerd, como se ele fosse o Haruno original e eu uma consequência de nossa união. Qualquer pesquisa feita ao meu respeito levaria ao Sasuke Haruno. Argh.

Maldita equipe eficiente!

Cheguei em casa totalmente estressada e magoada.

Poxa... Como ele pode me dar um cavalo ao invés de uma joia? Sinto-me um trapo!

Ainda por cima quer se casar comigo... Onde já se viu?

Acho que ao invés de colocar um anel no meu dedo, ele colocaria uma pulseirinha do reggae no meu pulso... Argh! Humilde é a vovozinha...

Não, nem vovó Haruno merece um xingo desses!

Joguei minha bolsa no chão do quarto e me deitei no sofázinho. Sasuke saiu do banheiro terminando de vestir uma camiseta branca, quando me olhou com seu ar de superior, como se já não bastasse o cocô que eu estava me sentindo!

— O que houve? — perguntou indiferente. Não estava nem ansioso para saber se eu tinha concluído o raio da missão.

— Ele me deu um cavalo! Um cavalo, Sasuke! — contei, fitando o teto com melancolia com as mãos cruzadas no peito, enquanto Sasuke ria ainda de pé me encarando.

— Conseguiu colocar o cd no computador dele? — perguntou ignorando o que eu disse.

— Sim... Nunca me senti tão desvalorizada em toda minha vida! — murmurei. — Um cavalo! Imagine euzinha, indo para o shopping de cavalo? Para que raios eu quero aquela criatura? Sabe... Certa vez eu tinha dito que amava a natureza, mas foi para manter meu disfarce. Nunca imaginei que ele fosse me dar um animal! — soltei uma risada frustrada.

— Isso não é uma consulta e eu não sou psicólogo, Sakura! — reclamou.

— Oras... O que custa me ouvir? — choraminguei, zangada.

— Além de aquele otário te achar a humildade personificada, o que mais percebeu? — perguntou.

— Não sei Sasuke! Ele... É bom negociador, tem bom gosto, trabalha a todo o tempo, mal olha para seus empregados, presenteia a mulher com quem quer se casar com um cavalo campeão. — disse e Sasuke me olhou interessado.

— Casar?

— Sim, e como se não bastasse, inventou um raio de festa beneficente, no qual todos irão acompanhados... Ele quer que eu leve você! — disse me sentando para olhá-lo. — Sasuke, precisamos dar um fim nisso... Estamos indo longe demais, você e Itachi não podem se ver ou é morte na certa.

Senti um leve aperto no peito. Mas... Por quê? Ou por quem?

Sasuke suportaria ficar frente a frente com Itachi sem fazer uma besteira? Itachi não desconfiaria de suas sutis semelhanças? O que ele pensaria de mim?

Desde quando me importo com o que vai acontecer a eles? Argh.

— Vou fingir que estou doente! É... Eu ligo dizendo que peguei uma virose e não poderei ir...

Por um impulso me levantei abraçando-o com força, quando Sasuke me interrompeu com sua voz cortante.

— Eu irei.