Jogos Vorazes - O Garoto Do Tridente escrita por Matheus Cruz


Capítulo 9
Piorando, Piorando...




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Errado! Eu fiz tudo errado.

“Em hipótese alguma, brigue com Carreiristas, eles andam em grupos. Isso é extremamente perigoso.”

Dan cambaleia, com a mão no queixo e depois avança, contra atacando. O garoto é muito forte, musculoso e suas mãos pesadas me arremessam para trás. O choque com a parede é inevitável, ouço a vidraça rachar, escorrego as costas pelo líquen até sentar no chão.

–- Ai! Desgraçado!

A cabeçada atinge a barriga dele, me ponho de pé num salto e minha visão fica desfocada por alguns segundos.

Corro em sua direção, sei que não devia fazer isso, mas a necessidade me manipula como um boneco.

–- A sereia sabe lutar... – Dan diz, com a voz falhando. – Donzela...

Saboreio mais um murro, meu olho é atingido. Seguro nos seus ombros largos, levanto o joelho e Dan se enverga de dor.

Giro e pairo no ar antes do meu pé acertar seu rosto de expressão dolorida.

–- Chega Finnick! – Zen pula na minha frente e me detém. Vejo a mancha roxa nos seus lábios, as lágrimas inocentes escapando pelo canto do olho. As mãos ossudas me seguram, urgentes. – Não vale à pena...

Os seus olhos brilhantes faz o ódio dissolver dentro de mim.

Porque alguém tão bom precisa entrar em contato com um universo tão bruto? Aqui seu destino será uma morte imediata, decapitado, torturado, mutilado. Mas enquanto isso, ele é capaz de salvar a vida daquele cara que lhe agrediu, sem rancor nem desejo de vingança. Há três passos eu pisaria no pescoço de Dan e esmagaria seus ossos, matando-o. Mas Zen não quer que eu carregue esse fardo pesado nas costas pelo resto da minha vida, não agora, não antes de ser forçado à isso.

Matar alguém custa um preço, extraído da alma, que nunca mais se preenchera. Algo do qual lembrará todas as noites quando for dormir e todas as manhãs quando acordar. Insubstituível e inconsolável.

–- Não por mim...

–- Tudo bem, você tem razão... – nos afastamos do local, caminhando lentamente, dando as costas para a cena deplorável. – ele não merece meu ódio. – minha cabeça e o maxilar doem, o uniforme está completamente sujo. Tonto procuro me apoiar no ombro de Zen.

Alguém bloqueia nossa saída.

–- Uau! Foi demais! – Irina aplaude sorridente.

–- Finn... – Zen me alerta, segurando meu braço.

Irina estende a mão pálida para mim e sorri.

–- Força e técnicas de combate impecáveis, sem armas, nocauteou um inimigo com o dobro do seu tamanho – o olhar simpático me assusta. – Vou adorar ter você como aliado.

Irina é forte, musculosa, com postura ameaçadora. As sardas dão um aspecto assustador à sua face de traços marcantes, assim como o cabelo ruivo cacheado. Tradicional Carreirista, treinou desde que nasceu nas escolas militares de seu Distrito, mata sem pestanejar, com certeza possui velocidade e destreza admiráveis.

É uma boa idéia tê-la ao meu lado.

–- Não faça isso...

As palavras de Zen parecem certas, mas ele é apenas um garoto inexperiente. Eu sou um tributo de verdade, Carreirista, devo me aliar à alguém como eu. As circunstâncias, meu instinto de sobrevivência e a minha vontade de voltar para casa me obrigam.

–- Pensarei na sua proposta.






 

–- Você enlouqueceu? – Mags anda de um lado para o outro do escritório, com as mãos na cabeça – Brigando no primeiro dia de treinamento!!!

Como no dia anterior, eu e Dakota sentamos em frente à nossa mentora, que agora limpa o suor da testa com as costas da mão e admira a paisagem adorável da Capital pela janela, preocupada. A fumaça fedorenta do cigarro nos atinge, mas ela não parece se importar, sopra cada vez mais gás de seus pulmões.

–- Eu não consegui me segurar, o cara me bateu! – digo tentando me defender mesmo sabendo que estou muito errado.

–- Porque? Se ele te bateu, teve um motivo.

–- Tudo bem, eu mostrei o dedo para ele e...

–- O quê? Muito receptivo da sua parte sair mostrando o dedo para os Carreiristas. Lhe alertei sobre os perigos... – ela se vira e a expressão de derrota me deixa constrangido.

–- Eu sei.

–- Amanhã consertará essa situação. Se quiser sobreviver mais de uma hora na arena! – Mags está realmente zangada, desobedecer seus conselhos foi uma má jogada. Mas ainda não mencionei a proposta de Irina, e resolvi que é melhor avisá-la um outro momento. – Da próxima vez não será olhinho inchado nem rostinho vermelho. Entenda de uma vez por todas: isso é matar ou morrer!

Ouço um pigarro.

–- Hum, o meu treinamento não foi tão animado quanto o do meu colega – Dakota interrompe e me olha de soslaio. Engraçado, a achei mais simpática nesses últimos dias. Simpática no nível de não fazer ceninhas o tempo todo, ela é muito esperta, deve ter percebido que não conseguiu enganar Mags. – Fiz amizade com os tributos do Distrito 1, Opala e Seth. Eles me vêm como uma grande aliada depois do sucesso da Cerimônia de Abertura. – Dakota fala num tom empolgado – A garota, Opala, só segura o arco com a mão direita e tem uma péssima mira. Seth é mais esperto e consegue acertar três bonecos ao mesmo tempo com uma única lança. – põe a mão no bolso e tira um pequeno bloco de anotações – Está tudo aqui. – e estende para Mags.

–- Muito bem, fez um ótimo trabalho. – Mags pega o bloquinho e guarda no bolso – Estão dispensados.




 

–- Boa tarde, tributos! – a treinadora fala ao microfone, sorridente, com uma prancheta debaixo do braço. – Começamos o segundo dia de Treinamento com uma novidade, espero que gostem.

Zen suspira ao meu lado, pelo visto ele também não gosta de surpresas. Cruzo os braços e encaro a treinadora, que faz suspense enquanto tira a prancheta debaixo do braço e passa alguns papéis.

Dakota está com seus novos melhores amigos de infância, Opala e Seth, e parecem estar se divertindo porque suas vozes e risadas ecoam pelo ginásio. Percebo, pelo canto do olho, que mais dois tributos se aproximam deles, Irina e Dan, cheio de hematomas, deixando a minha possibilidade de ser Carreirista ainda mais remota.

–- Hum... – a treinadora põe os óculos – Hoje, vocês formaram equipes de seis tributos. Escolhidas por mim.

Oh! Exclamações de descrença se espalham. Boquiaberto, me viro para Zen, que tem a mesma reação de espanto. Nunca antes os Idealizadores tentaram algo do tipo. Fico tentando imaginar qual o objetivo.

–- Finn, o que você acha que vai acontecer...? Estou com medo.

–- Calma, não pode ser nada pior do que nossa situação atual. – falo, Zen concorda e engole em seco.

–- Hum, vou anunciá-las e cada uma se dirigirá às suas respectivas câmaras. – aperta os olhos para consultar os nomes no papel – A primeira, câmara 1. – começa a ler a lista.

Solto o ar dos pulmões quando a treinadora diz o último nome da lista, não estou nessa equipe.

–- Próxima... Rachell , Distrito 12... – uma garota de cabelos castanhos encaracolados segue para a sala 2, a colega de Distrito do Zen, e em seguida os outros anunciados fazem o mesmo caminho.

Ah não! Meu coração dispara quando é anunciada a terceira. Zen olha pra mim todo sorridente por seu nome e nem o meu serem anunciados, sinal de que seremos da mesma equipe. Acontece que os nomes de Dakota, Irina e Dan também não foram chamados.

Restam apenas seis de nós após Opala entrar na terceira câmara.

–- Quarta equipe, câmara 4: Dakota Marshall, Zen Muller, Daniel Willer, Irina Ulmann, Henry Lizz e Finnick Odair.

“Calma, não pode ser nada pior do que nossa situação atual.”

Claro que pode, e isso está acontecendo cada vez mais rápido.



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