Jogos Vorazes - O Garoto Do Tridente escrita por Matheus Cruz


Capítulo 17
Minando água


Notas iniciais do capítulo

Olá! Mais um capítulo! Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/288838/chapter/17

Meus joelhos dobram à medida que caminho pelas imensas e intermináveis dunas do deserto em direção ao oásis verdejante. O suor que vaza por todos os poros gruda a camisa encharcada em meu corpo curvado e semi-morto. Ponho a língua para fora, mas à cada vez que respiro uma dor penetrante encolhe minha garganta ressecada.

Os demais seguem no mesmo estado, faz horas que não bebemos um gole d’água e já caminhamos uns quatro quilômetros pela areia quente debaixo do sol avassalador. O oásis parece ficar cada vez mais distante, trêmulo em meio ao vapor que emana das dunas.

Tento não perder o compasso da respiração, preciso agüentar firme, essa é uma prova de resistência, o destino será compensador, água, quero água, lá tem água! O oásis, está chegando... Ai! Arrepios me percorrem. Os passos pesam, as pegadas deixadas na areia somem às nossas costas.

Levanto a cabeça e miro os olhos apertados no céu azul sem nuvens, o sol à pino me cega um pouco, manchas rosadas e esverdeadas piscam à diante, mas continuo.

Vejo os primeiros vestígios na areia. A grama rala, o solo mais firme, depois o aroma das árvores e o vento fresco anunciando que estamos perto. Meus colegas suspiram, não de desejo, mas alívio. Creio que eles temeram, assim como eu, que os oásis fossem uma miragem.

A idéia parecia genial, mas os Idealizadores nos perderiam, morreríamos de sede, o que não seria vantajoso, já que nós garantimos os melhores shows, somos as melhores peças. Com certeza eles não querem nos matar assim tão fácil.

Paro de andar ao ficar sob a primeira sombra e respiro fundo, curvado, com as mãos apoiadas nos joelhos, abrindo os olhos e tentando inspirar um pouco de ar limpo para dentro dos pulmões sujos de areia.

–- Conseguimos... – Dakota deixa escapar enquanto engole em seco e pisca os olhos cheios de ciscos. – água... – sussurra e aponta para o poço artesiano coberto de musgo e trepadeiras.

Dan e Irina se adiantam desesperados, mortos de sede, cambaleando de cansaço, mas tento impedi-los. Sei que não devia fazer isso e sim deixá-los para as serpentes, mas seria um grande erro, eles despertariam as criaturas que viriam nos atacar em seguida, e fugir de volta para o deserto não parece uma boa opção.

Antes que eu pudesse alcançá-los, Seth segura o ombro de Dan.

–- Não... – diz arfando – É uma armadilha...

Relembro a tarefa de capturar as serpentes e que Irina e Dan não descobriram sobre o poço ser o covil delas. Apenas Henry sabia e o garoto só contou para mim, Dakota e Zen. Porém não entendo como Seth sabe sobre a armadilha, ele foi para uma câmara diferente, cumprir outra tarefa.

–- O que está dizendo? – Irina pergunta desconfiada.

–- No poço... tem serpentes. Durante o treinamento houve uma tarefa em que precisávamos buscar água sem despertá-las. – Seth olha em volta atônito, para as palmáceas e tamareiras – Há um explosivo com gás entorpecente por aqui... Lá também tinha... – ele se afasta, procurando nos arbustos.

Creio que a ficha dele sobre a morte de Opala ainda não caiu. Me esbarrei com o garoto desnorteado ao sair do labirinto. Ele ouviu o som do canhão e queria voltar para ver o que tinha acontecido, lhe contei sobre a sua colega de distrito, mas ele balançou a cabeça meio comovido e voltou a caminhar, o ouvi suspirar com pesar duas vezes, acho que ele gostava da garota.

–- Por aqui... – Seth mexe nos arbustos, eu lhe acompanho e o ajudo à procurar.

–- Enlouqueceu? Não pode haver serpentes ali dentro, elas não sabem nadar... – Dan, teimoso, corre para o poço e Irina o segue.

–- Não!!! – grita Dakota e corre atrás deles.

É tarde demais.

–- O poço está seco! – Irina avisa descrente. Ela e Dan estão tentando desenrolar as trepadeiras dos seus pés.

–- Merda! Não há água aqui!! – Dan chuta a areia com raiva, levantando poeira e depois tosse, um chiado vem crescendo em seu peito.

–- Achei! – Seth mostra a bomba de gás – Aqui, vamos conseguir! – corre em direção aos outros, mas freia o passo assustado. – Saiam já daí! – ordena.

–- Não vejo serpente nenhuma por aqui... – Irina abre os braços, mostrando em volta.

–- Verdade – Dakota concorda, também temerosa, esperando a chegada dos bestantes.

–- Mas... então para o que serve esse explosivo? – pergunta encafifado.

Uma idéia incrível me vem à cabeça.

–- Eu sei! – corro e tiro a bomba das mãos dele. – Você têm um fósforo? – pergunto me aproximando de Dakota.

Ela abre a mochila apressada e demora alguns minutos procurando até encontrar uma caixa pequena, me oferece e eu tomo de sua mão correndo em direção poço.

–- No que está pensando Finnick? – Dan pergunta preocupado.

Nem dá tempo de responder, risco o fósforo na lateral da caixa e acendo o pavio. Me debruço sobre o poço e atiro o explosivo lá dentro.

–- Precisamos correr!!! – grito para os outros que hesitam em me obedecer. Aquilo é uma dinamite, não vai soltar gás, vai destruir o oásis! E porque estou fazendo isso? – O oásis vai explodir!

Farei a água minar.

Dakota vem ao meu lado, Dan, Irina e Seth nos segue desesperados, confusos, acho que se esse plano der errado eles me matam, mas é melhor arriscar. A poeira levanta enquanto deslizamos pela areia, nossas gargantas secas não estão mais resistindo, estamos todos fracos, desidratados, essa corrida é o fim do limite.

A explosão estoura também meus tímpanos e sinto uma força descomunal me arremessar para frente. Ah! Sinto o calor invadir, me queimando. Caio de cara na areia quente, ouço em meio ao estrondo um zumbido que perfura meu ouvido.

Dakota caiu por cima de mim e deslizou por minhas costas para a areia quente. Sangue sai de seu ouvido direito, seus olhos percorrem desesperados em volta e congelam em mim. Tento me sentar... o que foi que eu fiz?

Dan, Irina e Seth se arrastam pela areia e tentam ficar de pé, Dakota geme de dor. Eu ergo o tronco e deixo a cabeça dolorida pender para frente, estou tonto, as imagens se duplicam à minha frente.

O oásis parece intacto, apenas algumas chamas chamuscam os arbustos e folhas se desprendem das árvores. Pisco e tento me concentrar, aos poucos a imagem toma forma e consigo vislumbrar o brilho azulado crescendo ali no meio, onde estávamos à segundos atrás. Água minando, onde ficava o poço, cristalina.

–- Consegui... – sussurro, cambaleando enquanto levanto.

–- Finn, você... – Dakota tosse – encontrou água... – ela se apóia em meu ombro, me fazendo curvar um pouco para o seu lado – Água!

Os outros estão de pé em frente, mirando a pequena cratera de areia que enche de água, formando uma lagoa. Um pouco de fumaça invade nossa visão, cinzenta. Dan, Irina e Seth seguem hipnotizados, sedentos. Eu e Dakota fazemos o mesmo, atrás deles.

As mãos em concha mergulham ao mesmo tempo no pequeno lago azul e bebericam o líquido fresco e revigorante. Bebo, sentindo o prazer frio me penetrar, goles e mais goles seguidos, compensando as horas de seca. Molho o rosto, os arranhões e lavo o ouvido ferido, que aos poucos para de zumbir.

O som de um canhão nos faz sobressaltar.

A troca de olhares é rápida e eficaz, estamos todos vivos.

Uma pessoa morreu, talvez longe daqui, mas seria coincidência ou tinha mais alguém no oásis no momento da explosão?

–- Não, não não... – ficamos de pé num salto.

Os soluços de sofrimento vêm dos arbustos, temos companhia.

Dan corre para lá, tirando o pequeno machado bronze de um saco preso ao cinto, Seth o segue meio debilitado com a clava brilhando entre os dedos, Irina aperta o cabo da faca em punho.

–- Ah, meu Deus... – ouvimos mais uma vez e... e...

É Zen!



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!