Então, eu senti duas mãos me empurrarem e, em seguida, fecharem a porta. Foi quando eu vi Lucas se sentar na cama, assustado. Fudeu, apenas. Eu me virei pra porta e tentei abrir.
- Qual é, abre aqui - Eu forçava a maçaneta e ninguém respondeu, apenas ouvi risos vindos do corredor. - Abre essa porta - Insisti, tentando me controlar. - Puta merda, abre aqui caralho - Bati quatro vezes na porta, respirei fundo e me virei para Lucas, que continuava me olhando assustado. - Dá pra mandar seus amigos engraçadinhos abrirem a porta? – Perguntei visivelmente irritada.
Quando se deu conta do acontecido, ele finalmente se levantou.
- Abre aqui, isso não tem graça alguma - Ele batia na porta e gritava, mas sua resposta foram apenas algumas risadas vindas do corredor. - Abre essa porra, bando de filho da puta! - Forçou a maçaneta e ninguém o respondeu novamente.
- Que ótimo - Ironizei, revirando os olhos e me sentei no chão.
Ele foi apenas se sentar na cama e ficou olhando pra baixo. E foi quando eu tive a brilhante ideia de avisar Logan. Sabe aquele mini ataque-cardíaco que te dá quando você coloca a mão no bolso e não sente o celular? Pronto, agora ficou tudo maravilhoso!
- Tá com o seu celular aí? - Perguntei olhando pro Lucas.
- Aqui - Ele respondeu baixo e me estendeu o celular.
Como não sabia o número do Logan decorado, fui procurar na agenda, devia ter, né. Procurei na letra L e não tinha, então fui pra letra W e estava lá como Watson. Legal. Peguei, coloquei pra chamar e o viadinho não atendeu, devia fazer parte da armação, por isso me arrastou pra cá ou estava ficando com a mina lá. Bufei e quase joguei o celular na parede, mas controlei minha mão e o coloquei no chão.
Já estávamos ali havia um bom tempo, tipo pouco mais de uma hora, mas que parecia ter sido uma eternidade. Eu já estava pensando seriamente em pular pela janela, sem brincadeira. Apesar daquilo ter tipo uns quatro, cinco metros de altura e eu poder quebrar o braço, perna, sei lá. Quando olhei no celular, já eram 17h15. Puta que pariu, eu ainda tenho que ir pra casa, pra me arrumar pra sair com o Austin... Que arda no fogo do inferno o engraçado que fez isso. Ou oS engraçadoS.
- Olha, eu vou descer pela janela - Me levantei impaciente.
- Não vai - Ele me segurou pelo braço, me puxando. - Ficou doida?
- Eu não aguento mais ficar aqui, eu ainda tenho que ir pra casa me arrumar! - Forcei pra sair de seus braços, mas ele me puxou para mais perto ainda, deixando nossos corpos praticamente colados. Jesus, me ajuda.
- Mas você não vai descer por lá - Respondeu baixinho, olhando em meus olhos.
Por mais que eu quisesse, eu não conseguia desviar. Não, eu não posso, eu consigo, eu vou me controlar... Ok, quem eu estou querendo enganar? Eu não consigo me controlar. Pude perceber ele aproximar um pouco seu rosto e parar, como se quisesse fazer aquilo, mas ao mesmo tempo, não podia. E eu me mantive imóvel, eu simplesmente não conseguia me mexer, eu havia perdido todos meus movimentos. Aquele seu olhar me manteve hipnotizada; Seu corpo se encontrou com o meu, fazendo com que um arrepio percorresse por toda a minha pele; ele passou sua mão do meu braço para a minha cintura, entrelaçando-a ali. Aqueles lábios maravilhosos e doces estavam cada vez mais perto. Eu não queria, mas, ao mesmo tempo, eu necessitava. Era mais forte que eu. E quando eles se tocaram de leve, um arrepio percorreu por toda minha pele novamente, fazendo com que um zoológico se formasse dentro do meu estômago. E foi quando se transformou num beijo leve. Num impulso, levei minha mão até sua nuca e ele pressionava minha cintura contra seu corpo, acabando com qualquer espaço entre nós. Então um sentimento de culpa dominou todos os meus incontroláveis pensamentos. Austin. E eu não podia continuar mais. Uma pontada extremamente forte apunhalou meu coração quando eu me separei.
- Eu não posso... - Sussurrei baixinho, quase dando apenas para eu escutar.
Aquietei-me no meu canto, cujo lugar eu não deveria nem ter levantado e olhei para frente. Segundos depois, quando caiu na real, se sentou na cama de olhar baixo. Fechou firmemente os olhos e um nó se formou em minha garganta. Ele passou a mão perto de seus olhos, como quem havia deixado uma lágrima escapar, esboçou um leve sorriso irônico em seus lábios e fungou em seguida, se jogando na cama de barriga pra cima. Eu simplesmente não estava acreditando no que eu havia feito. E então, passou-se mais meia hora naquele eterno silêncio. Olhei para o celular que ainda estava do mesmo modo, do meu lado, apertei o botão e olhei a hora: 17h40min. Austin deveria estar querendo me bater, esmurrar, sei lá. Culpa dessa cambada filha da puta.
- Qual é, abre a porta - Ouvi alguém falar do lado de fora, acho que era o Logan, sei lá. - Já deu tempo suficiente - Continuou. Tempo suficiente pra que?
E foi quando ouvi uma voz fina exclamar:
- Vem pegar - Ouvi o barulho de chaves batendo uma na outra.
- Engraçada - Ele ironizou e encaixou a chave na porta, girando-a em seguida.
E a porta se abriu. Como eu, Lucas nem se mexeu para olhar.
- Já vi que boa coisa não rolou aqui… - Logan olhou pra mim, pro Lucas e negou com a cabeça. - Vem, vamos embora. - Me puxou pela mão, fazendo com que eu me levantasse.
Olhei pra cara da bisca que devia ter feito Logan pegar as chaves, coisa que não deve ter sido difícil, já que ela é uma anã de jardim e ele uma girafa do zoológico, com uma cara de bunda e descemos pra sala. Olhei pra cara de todo mundo e todo mundo me olhou curioso. Apenas me fiz de quem não havia visto e saí de lá.
- Você viu meu celular? - Perguntei, enquanto saíamos da casa.
- Aqui - Colocou a mão no bolso e estendeu o celular.
- Que benção - Abracei meu celular com a mão.
- Ah, claro, porque ele quem se colocou dentro do meu bolso - Ironizou, enquanto eu discava o número do Josh.
- Obrigada! - O abracei e lhe dei um beijo na bochecha. - Mas, espera - Fiquei pensativa e o encarei. - Aposto que tem dedo seu nessa palhaçada toda.
- Eu fui contra o tempo todo - Ergueu os braços em sinal de rendimento.
- Ah, claro - Sorri irônica e comecei a falar com Josh.
- É sério - O ouvi murmurar.
Desliguei o celular e Josh disse que logo estaria aqui e que queria saber de tudo, sendo que eu nem tinha comentado sobre o ocorrido. Ok, meu irmão tem bola de cristal agora.
- Mas e aí, eu quero saber o que rolou lá dentro - Me deu três cutucadas no braço, enquanto nos sentávamos na beira da calçada.
- Não aconteceu nada. - Respondi, simplesmente.
- Ah, tá - Ele riu irônico. - Você ficou presa com ele por quase duas horas e não rolou nada? Me poupe.
- Tá, como você não vai desistir fácil, eu conto – Suspirei revirando os olhos. - Eu falei que ia 'descer' pela janela e ele me segurou, falando que eu não devia. Daí, pra falar isso, ele me puxou. Demorou um pouco, mas ele me deu um selinho e em seguida, me beijou. Um sentimento de culpa bateu e eu me afastei e aquietei num canto, onde eu nem deveria ter levantado. - Olhei para Logan que estava boquiaberto.
- E você não sentiu nada?
- Sei lá…
- Vai me dizer que isso não mexeu com os seus sentimentos? - Me olhou debochado.
- Ok, ok, mexeu… - Suspirei.
- Eu sabia, porque eu sou foda - Se gabou.
- E isso tudo é culpa sua - Olhei pra frente e em seguida, pra baixo.
- Qual é, eu não faria isso com você - Me olhou apreensivo.
- Acredito - Murmurei, ainda sem o olhar.
E foi quando lembrei de Austin. Com preguiça de pensar no número dele, fui olhar nas ligações recebidas recentemente. E gelei quando vi que ele tinha ligado, alguém havia atendido e a ligação tinha durado 27 segundos.

Só podem estar de brincadeira com a minha cara.