Entre luz e fusco, tudo há de ser breve como esse instante.
Aos dezenove anos, eu estava obtendo relativo sucesso em parecer um cara normal vivendo uma vida normal em um planeta normal que orbita em torno de uma bola de fogo eventualmente assassina.
Depois de toda a confusão tentando provar algo, ser um herói, me apaixonar pela garota mais errada de todos os tempos e trocar farpas das quais não me orgulho com meu pai, a coisa é que eu estava cansado de aventuras.
Meu novo objetivo de vida se resumia em ser tão invisível quanto possível e essa é a razão pela qual essa história começa comigo sentado atrás de um balcão em uma lojinha trouxa pequena e entulhada de vinis, HQ’s e todo tipo produto artístico antigo produzido em prol da cultura nerd.
A verdade é que depois de um tempo avaliando minhas opções em jornais, eu havia escolhido trabalhar no mundo trouxa enquanto não tinha ideia de que profissão seguir no mundo bruxo - e essa foi de longe a melhor decisão que tomei em todos os meus curtos anos de experiência humana.
Assim, desde que o Sr. Friedrichsen me contratou, eu comecei a passar todos os dias úteis da semana no pequeno estabelecimento, escutando musicas trouxas antigas, ignorando alergias à poeira, selecionando quadrinhos e ficando maravilhado toda vez que me apresentava a algum cliente e percebia que ele não reagia ao meu sobrenome.
No fim do expediente, eu andava tranquilamente até o beco mais próximo e aparatava para casa. Pode parecer bobo, mas para um cara como eu – com uma leve inclinação para ser chato e se sentir entediado – até que era uma rotina bem boa. Isso por si só já é digno de nota.
Mas há muito mais do que isso.