Alice Longbottom.

No momento em que seus lábios tocaram os meus eu sabia que estava encrencada.

Quer dizer, ali estava eu, no meio dos jardins, beijando Alvo Potter, que era para mim, até semana passada, o garoto mais repugnante da face da terra.

Seus lábios eram quentes e macios, e ele logo aprofundou o beijo, segurando minha nuca com uma mão e minha cintura com a outra, me inclinando levemente para trás, levei minhas mãos ao seus cabelos correspondendo o beijo, por que uma coisa eu tinha que admitir, ele fazia jus a fama que tinha e beijava muito bem. Eu pude até ouvir os suspiros das pessoas que ali estavam.

Perfeito.

Um Beijo de cinema para fechar o namoro com chave de ouro.

Ele interrompeu o beijo com um selinho e olhou dentro dos meus olhos, aqueles olhos verdes que pareciam me perfurar.

Sim, eu estava encrencada.

─ Ai. Meu. Deus. ─ ponderou Rose Weasley, quando nós saímos de lá em direção as estufas ─ Para um namoro de mentira, esse beijo não pareceu nada forçado. ─ disse ela, fazendo-me ter um sobressalto.

─ Rose! ─exclamou ele, olhando para os lados ─ Shiiiiii.

─ Você... Você contou pra ela? ─ sussurrei para ele.

─ Ela é minha prima e melhor amiga ─ sussurrou de volta.

─ Relaxa, eu não vou contar pra ninguém, sou de extrema confiança ─ ela sorriu.

Eu olhei para Alvo com um olhar irritado.

─ Devolve minha varinha por favor? ─ pedi estendendo a mão para ele, pois ele a havia pego com a garota que a tirara de mim.

Ele sorriu de canto para mim e tirou a varinha das vestes.

─ Aqui ─ me entregou ─ De nada. ─ completou vendo que eu não agradeceria.

Eu ri.

─ Disponha, Potter.

─ Vocês ainda vão se casar ─ murmurou Rose, se apressando para as estufas ─ Vamos, estamos atrasados.

Mas, antes que eu pudesse apertar o passo para chegar na aula a tempo, uma voz chamou as minhas costas.

─ Alice Longbottom.

─ Domi ─ falei olhando para ela aliviada, como era bom vê-la depois de tudo isso.

─ Você tem muito que explicar, mocinha. ─ ela sorriu.

─ Então... A gente precisa ir pra aula, vocês vem? ─ chamou Alvo.

─ Podem ir... Eu cuido dela daqui por diante. ─ disse Domi, divertida.

─ Tudo bem.. ─ ele sorriu ─ Até mais.

─ Tchauzinho ─ falei encarando-o até virar as costas ─ Nós não temos que ir pra aula? ─ perguntei para a garota ao meu lado, arqueando uma sobrancelha.

─ Não mais. ─ ela riu e me puxou em direção a floresta.

─ Onde nós vamos? ─ perguntei confusa.

─ Pra algum lugar por ali ─ disse indicando a orla da floresta ─ conversar.

─ Ah, claro. ─ concordei, já sabendo o que me esperava.

─ Temos assuntos pendentes, futura Sra. Potter,

Eu ri gostosamente e me pus a contar a ela tudo o que havia acontecido, sem me dar ao trabalho de corrigir o seu “novo apelido” o motivo? Eu não sei, não ainda.

xx

Alvo Potter.

Alguns dias haviam se passado desde o desastroso baile de inverno e tudo o que ele acarretara, incluindo meu “namoro”. Eu e Alice continuávamos a farsa, sem levantar nenhuma suspeita. Nenhum dos dois queria parar agora, não depois do que o idiota do Nott havia falado.

Infelizmente não havia rolado nenhum outro beijo depois daquele nos jardins, e olha, se me permitem dizer, que beijo. Pelo menos para alguma coisa o projeto de comensal servira. E, como era de se esperar, Alice fingia que ele nunca havia acontecido, e apenas uma pergunta atormentava minha cabeça.

Será que ela gostara?

Eu não sabia realmente o por que daquilo significar tanto para mim, visto que eu não costumava dar importância para as garotas que ficava, mas ela.. Bom, ela era minha namorada.

Ou quase isso, sei lá.

A questão é que ela ser indiferente a mim, ainda me irritava.

E falando em indiferença, quem não falava mais comigo era meu querido irmãozinho, James. Depois da briga que tivemos na Sala Precisa não nos falamos. Isso era em partes estranho demais.

Me levantei lentamente e me pus a pensar, esfregando os olhos, em como as coisas haviam mudado de uns tempos pra cá.

Se a um mês atrás alguém me falasse que eu iria brigar com meu irmão, ser dono do mapa do maroto, levar Alice ao baile e ainda “namorar” com ela, eu teria me dobrado de rir.

─ É, isso realmente está acontecendo.. ─ murmurei olhando o pedaço de pergaminho em branco que repousava em cima do criado mudo, estendi a mão e o peguei, juntamente com minha varinha ─ Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom ─ murmurei e o mapa apareceu..

James cumprira sua promessa e me dera o mapa, pois como eu já disse, ele leva isso muito a sério e sempre cumpre sua palavra.

Pensando nisso comecei a me sentir mal com aquele mapa nas mãos, parecia que ele não me pertencia realmente, e saber que estava sem falar com meu próprio irmão só piorava as coisas.

Corri os olhos pelo pergaminho, procurando uma pessoa em especial, e a encontrei rapidamente, ela andava pra lá e pra cá em seu dormitório, e eu me perguntei o que estaria fazendo...

─ Vigiando a namorada no mapa? ─ perguntou Scorpius, saindo do banheiro ─ Mau sinal, mau sinal...

─ Eu.. ahn... Estava só... ─ falei desviando os olhos do nome “Alice Longbottom” e fechando o mapa rapidamente ─ Malfeito feito. ─ murmurei apontando a varinha e vendo ele se transformar novamente em um pergaminho encardido.

─ Me poupe de suas explicações, caro companheiro ─ disse ele colocando o uniforme ─ Amigo apaixonado... Tsc, o que eu fiz a Merlin para merecer isso? ─ resmungou consigo mesmo.

─ Haha, muito engraçado ─ falei ironicamente me levantando para me arrumar para as aulas ─ E eu não estou apaixonado.

─ Então ta namorando ela exatamente por que?

─ Por que eu to... hum... curtindo ela. ─ falei dando de ombros.

─ Não cara, não, curtir você curte aquela garota que beija uma vez e pronto, passou... Não namorar, e tudo mais.. Daqui uns dias aparece com uma aliança de compromisso.

─ Não, não mesmo. ─ falei abotoando a camisa ─ Cara, você ta exagerando.

─ Alvo, quando você não ta com ela, você fica observando ela no mapa, isso não é normal cara ─ disse ele colocando uma mão sobre meu ombro.

─ Eu não passo tanto tempo assim com ela ─ bufei ─ E só olho ela no mapa de vez em quando pra ver se o idiota do Nott não está atrás dela.

─ Ih, ciúmes. Ah não Merlin, devolve meu amigo. ─ disse ele olhando para o céu.

Bufei e peguei minha bolsa, vendo que não adiantaria tentar discutir aquele assunto com ele.

É claro que ele estava vendo coisas demais, afinal, nós nem namorávamos de verdade.

Se ele pensa isso... Bom, é sinal que a farsa está boa, eu acho.

Sai do dormitório sem esperá-lo e logo estava andando pelo castelo, perdido em pensamentos.

─ Alvo! Ei, Alvo! ─ chamou Rose, correndo para me alcançar.

─ Oi Rose. ─ cumprimentei quando ela se aproximou de mim.

─ O que foi? ─ perguntou percebendo me desanimo. ─ Ah, ta assim por que não viu a namorada ainda? ─ completou em tom malicioso.

─ Até você? ─ ergui as sobrancelhas ─ Sério?

─ Ai, só uma brincadeirinha pra relaxar ─ ela sorriu enquanto caminhávamos para o Grande Salão. ─ Mas é serio, por que você ta assim?

─ Sei lá ─ murmurei ─ é estranho estar namorando, é estranho me preocupar com alguém, é estranho estar brigado com o James... é tudo estranho.

─ Ah, Alvo ─ disse ela sorrindo docemente e apertando minha bochecha ─ Não acredito, você enfim está crescendo ─ sorriu.

─ Rose...

─ É sério, e olha, sobre o James, logo vocês voltam a se falar, afinal vocês são irmãos e isso é normal.

─ Sei lá. To confuso...

─ Claro que está ─ disse ela passando um braço pelos meus ombros ─ Mas semana que vem é natal e nós vamos para a casa, você vai ter uma semana de folga de tudo isso para pensar..

─ É, tem razão ─ falei sentindo meu humor um pouco melhor, principalmente por que havíamos acabado de chegar ao Salão Principal e ele estava com um decoração de Natal realmente bonita.

Haviam ao todo oito arvores dispostas pelas extremidades do Grande Salão, enfeitadas com neve, bolas coloridas e pequenas fadinhas. Os alunos conversaram alvoroçados, com a perspectiva de voltar para casa logo, me encaminhei com Rose em meu encalço até a mesa da Grifinória e me sentei, servindo-me de torradas e um copo de suco de abobora.

─ Então... ─ comecei ─ Quais são os planos para o natal.

─ Os de sempre ─ ela suspirou ─ Ir para a casa, visitar vovô e vovó Granger com Hugo, na Londres trouxa... E passar o final de semana n’A toca. E você? ─ perguntou ela pegando uma taça com varias frutas.

─ Mais ou menos isso, tirando a parte do vovô e vovó Granger ─ sorri.

─ Bom dia flores do dia. ─ disse Scorpius chegando ali e me empurrando para o lado e se sentando entre mim e Rose ─ como está minha ruiva preferida nessa bela manhã de quinta feira? ─ perguntou com a voz arrastada, encarando Rose.

─ Deixe-me ver... ─ ponderou ela ─ Eu estava bem a vinte segundos atrás ─ conclui bufando e voltando ateunção para as frutas.

─ Mau jeito, Malfoy ─ ri passando geléia em minha torrada.

─ De melhor humor agora, Potter? ─ perguntou ele sem desmanchar o sorriso afetado.

Olhei para o salão decorado e meu olhar subitamente caiu sobre a mesa da Sonserina, onde Alice conversava animadamente com Dominique.

─ Digamos que consegui restabelecer meu ótimo humor inabalável na sua ausência. ─ falei olhando para ele novamente.

Mas antes que ele pudesse responder uma nuvem de corujas adentrou o Grande Salão, e logo uma carta caiu em cima de meu prato. Peguei-a e abri cuidadosamente, enquanto Scorpius voltava sua atenção ao seu hobby preferido. Tirar Rose do sério.

Estiquei o pergaminho e reconheci a caligrafia de meu pai, então me pus a ler.

Filho,

Como está? Eu e sua mãe estamos morrendo de saudades e não vemos a hora de ter vocês e seus irmãos aqui em casa conosco.

Como deve saber, sua avô, Sra. Weasley, está organizando –como sempre- uma bela festa de natal n’A Toca, com direito a família toda e mais alguns amigos, eu sei que você sempre traz Scorpius para passar essa data conosco, e devo dizer que esse ano ele será igualmente bem vindo.

Mas, ainda ontem, recebi uma carta de meu velho amigo Neville, que me trouxe uma noticia um tanto quanto... Inesperada. Ele me contou sobre seu namoro com a filha dele, Alice. Como deve imaginar, isso foi uma surpresa, tanto pra mim quanto para a sua mãe, afinal era evidente que você e a garota jamais se suportaram, mas devo dizer que estamos felizes em saber que finalmente vocês se acertaram... Até demais.

Enfim, eu convidei Neville para passar o natal conosco, e queria pedir que você chamasse sua namorada para vir também, tenho certeza que ela achara muito agradável, e será uma ótima oportunidade para reunir as famílias e conversar, afinal, ela é muito bem vinda na casa da nossa família, e faz muito tempo que não a vemos.

Esperamos vocês na estação, no sábado, como sempre.

Com carinho,

Papai.

Terminei de ler a carta, porém continuei encarando o papel, cheio de perplexidade.

Quando foi que esse namoro evoluiu tanto?

Afinal, namorar de mentira para enganar algumas pessoas é uma coisa, agora namorar de mentira para enganar a família toda é outra totalmente diferente.

E olha isso “Tenho certeza que ela achara muito agradável, e será uma ótima oportunidade para reunir as famílias e conversar” meu pai já está agindo como se eu fosse me casar com a garota.

Enrolei o pergaminho e o guardei nas vestes, olhei por sobre o ombro para a mesa da Sonserina e ela se levantava, indo em direção a saída.

Larguei meu café pela metade e sai atrás dela.

Nós definitivamente precisávamos conversar.