Crônicas de Son Gohan escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 20
Por que lutar contra os androides


Notas iniciais do capítulo

Gohan resolve levar seu pupilo Trunks para um bairro da Capital do Oeste. Lá o garoto de cabelo roxo vai descobrir a verdadeira razão de seu mestre se esforçar tanto para derrotar os androides. Qual seria essa razão?



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Por que lutar contra os androides:


Trunks descobre o motivo


 


- Ha, ha, ha, ha, ha... – Yakimo riu, ficando quase sem ar. – Você precisava ter visto a cara da sua mãe, quando ela percebeu que você tinha sumido!


O quarteto estava a bordo de uma aeronave, pilotada pelo rapaz de cabelo verde. O veículo começava a sobrevoar uma região urbana. Estava se aproximando da Capital do Oeste. Trunks, é claro, estranhou o roteiro:


- Por que a gente tá vindo pra cá? Você quer conversar com a mamãe, Gohan?


- Por agora, não, Trunks. Eu pedi pro Yakimo trazer a gente pra cá, porque faz parte do seu treinamento.


Não foi uma resposta lá muito esclarecedora, mas acabou aguçando mais sua curiosidade.


Passado o “momento comédia” com sua mãe, Gohan ficou mais sério, mais concentrado. Estava mais pensativo. O que ele pretendia fazer?


A aeronave aterrissou num local de aparência bem tenebrosa. Era a outra face da cidade onde Trunks morava. A outra face da Capital do Oeste. Após todos descerem, Yakimo apertou um botão externo da aeronave, que no mesmo instante se transformou numa cápsula e foi guardada no bolso.


- Gohan, que lugar é esse? – Aisu perguntou.


Trunks olhou ao seu redor. Tudo o que viu foram construções em ruínas e ruas desertas. O vento soprou, fazendo um som assustador em meio ao silêncio sepulcral do lugar.


Gohan, sério, disse:


- É a parte mais destruída da cidade. Depois daquela luta que aconteceu, os androides atacaram este lugar. Poucos sobreviveram e esta região nunca conseguiu se recuperar da tragédia.


- “Daquela luta”? – Trunks interrogou. – O que quer dizer? De que luta você fala?


- Da luta em que seu pai morreu. Foi a que mais causou mortes na cidade. Destruiu um colégio inteiro e parte do bairro onde você mora. Foi lá que a luta acabou... Bem perto da sua casa.


O grupo começou a andar pela rua. Não havia nada além de escombros e prédios abandonados. Mas, no fim do bairro, encontraram um aglomerado. Tudo se parecia mais com uma favela, com casas feitas de restos de materiais. Trunks olhava com atenção para cada detalhe. Até mesmo para os rostos das poucas pessoas que viviam ali.


Era visível a falta de esperança daquelas pessoas. Os mais velhos pareciam resignados, davam a entender que queriam apenas morrer para encurtar o sofrimento. Os mais jovens sentiam revolta, mas eles pareciam não ter espaço para externá-la. Tudo aquilo exalava tristeza, dor, revolta e nenhuma perspectiva de mudança.


- Parece que você prestou atenção em tudo. – Gohan disse ao garoto. – Quero que se lembre muito bem do que está vendo.


- E por quê? – Trunks perguntou.


- Porque esta é a razão pela qual eu luto contra os androides. Você me perguntou isso uma vez, não se lembra?


Ficou em silêncio. Lembrou-se de uma conversa que eles tiveram, tipo “mestre-e-discípulo”.


- Gohan, por que você treina tanto?


Gohan interrompeu a série de quinhentas flexões que fazia ao ouvir a pergunta de Trunks.


- Por que a pergunta?


- Por... Por curiosidade...


- Acho que não é só por curiosidade, Trunks... Tem alguma coisa a mais aí nessa pergunta...


- Na verdade, quero saber por que você treina tanto assim... Nunca te vi lutar pra valer com outro adversário...


- Eu treino porque tenho um objetivo... Quero desafiar os androides e quero vencê-los!


- Só por isso?


- Não.


- Então, por que quer enfrentar os androides? Quer dizer, por que quer derrotar eles?


Gohan não respondeu de imediato. Vieram à sua mente os combates em que esteve e nos quais testemunhou o fim de todos os guerreiros Z. Depois disso, respondeu:


- Porque quero vingança. Quero me vingar dos androides.


- A resposta que eu dei naquele dia não estava completa, Trunks. Eu luto contra os androides porque quero me vingar deles. Além disso, não quero ver mais ninguém sofrendo por causa deles... E quero que todos os guerreiros que morreram nas mãos deles se sintam vingados, inclusive o seu pai!


“Ele lutou muito contra os androides... Mas...”


“Os androides eram mais fortes...! Eles eram mais fortes e... Mataram ele...!”


Anos atrás fora obrigado a falar isso a Bulma. Tinha sido difícil dar uma notícia tão trágica. Depois, viu Bulma chorar, abraçando o pequeno Trunks com força. “Por quê?”, ela se perguntava sem querer acreditar que tudo aquilo havia acontecido. Aquela imagem não se apagava da sua memória.


Gohan não queria que essa imagem se repetisse.


- Se você pretende lutar contra qualquer inimigo, pense, em primeiro lugar, em proteger as pessoas de quem você gosta. – disse. – Pense em proteger a Terra, pois é nela que você nasceu e é nela que você vive.


Trunks olhou novamente para aquelas pessoas. Ficou perturbado. Perto da situação deles, podia se dizer muito rico.


 


*


 


Levantou-se e foi à cozinha. No meio da madrugada, acordou morrendo de sede e resolveu beber um pouco d’água. Encheu o copo e virou ele todinho de um gole só. Voltando ao seu quarto, parou no corredor e resolveu dar uma espiada na mãe. Trunks viu que ela não estava dormindo. Pelo contrário, ela estava sentada na cama, olhando para a sacada. A luz da lua invadia o cômodo e o garoto conseguiu ver que Bulma tinha uma expressão bastante triste no rosto.


Trunks nunca a tinha visto assim.


Bulma suspirou. Já se passaram vários anos, Gohan tinha se tornado mais forte e, quando se pensava que ele poderia acabar de uma vez por todas com aqueles androides... Não era o bastante... Isso não era frustrante só para ele, mas também para ela. Torcia para que Gohan vencesse, assim não seria preciso que Trunks lutasse.


Não seria preciso correr o risco de perdê-lo.


Era o que ela mais temia. Para ela, não importava se ficasse sem cabeleireiro, sem roupas belíssimas, sem maquiagem, sem a vida mansa que tinha antes daqueles sádicos aparecerem. Já não tinha mais nenhum desses privilégios mesmo... Mas agora Trunks era tudo o que tinha... Todo o resto tinha sido arrancado por eles... Os seus amigos... Os seus pais... O seu companheiro... Os olhos azuis começaram a se encher de lágrimas, mas ela as reteve. Dizia a si mesma que já havia chorado o bastante. Além disso, não deveria transmitir ao filho a angústia e a tristeza que sentia. Não queria deixá-lo mal. Nem causar-lhe preocupação.


Queria apenas que ele soubesse que era forte.


Olhou na direção da porta do quarto e viu o filho ali. Inutilmente tentou disfarçar a tristeza que sentia. Ele já tinha visto o bastante. Esboçou um sorriso e perguntou:


- Também teve um pesadelo, Trunks?


- Ah... Não... Er... Eu só fui beber um copo de água... Bem, na verdade, ainda nem consegui dormir...


- E por quê?


Trunks se recordou de tudo o que havia visto durante o dia, principalmente as pessoas daquela parte da cidade que havia visitado junto com Gohan e os outros. Pessoas desiludidas, apáticas, sem esperança alguma de dias melhores. Fitou os olhos da mãe. Percebeu que essas mesmas coisas começavam a aparecer no olhar dela. Por mais que ela tentasse fingir que estava otimista, não conseguia mais fazê-lo.


- Porque eu e o Gohan fomos a um bairro daqui da cidade... Lá ele me explicou por que se esforçava tanto para lutar contra os androides... Eles são ainda mais cruéis do que eu pensava... Se você tivesse visto o que eu vi, entenderia...


- E o que você viu?


- Pessoas tristes, desanimadas... Sabe aquela vontade que a gente tem de melhorar tudo que tá à nossa volta?


- Otimismo? Esperança?


- É, esperança...


- O que tem?


- Eles não têm... Já perderam a esperança... Já perderam o restinho dela... Pude ver nos rostos deles... E começo a perceber isso no seu...


Bulma fitou o garoto. Ele havia percebido que as suas esperanças estavam se acabando. Depois de tudo, era natural que isso acontecesse. Mas ela havia escondido isso tão bem de Trunks e dos outros, que só agora alguém podia perceber. Já não conseguia mais esconder isso. A fachada de otimismo que possuía começava a ruir.


- Agora eu entendo o porquê de Gohan se empenhar tanto pra derrotar os androides... E isso também me faz ter vontade de lutar com eles... Antes que você e as outras pessoas percam o restinho de esperança que ainda têm...!


- Mas, Trunks, isso é muito perigoso!


O garoto sorriu:


- Mamãe, você sabe muito bem que eu gostaria de ajudar o Gohan a vencer os androides. Se eu não fizer nada, de que adianta eu me tornar mais forte?


Olhou para os olhos azuis da mãe e continuou:


- Se eu não fizer nada, pra que eu estaria treinando? Você sempre disse que eu me parecia com o meu pai, e Gohan já disse que ele era um guerreiro muito forte... E eu herdei o sangue dele... E isso me faz sentir vontade de lutar, de seguir os passos dele... Eu quero ser forte como ele... Pra te proteger...


 


“Naquela luta contra os androides, antes de morrer, o Vegeta me fez prometer que...”


“Que...?”


“Ele me fez prometer que treinaria o Trunks... E que, enquanto eu fizesse isso, deveria proteger vocês dois... Até que o Trunks possa proteger você e vingar a morte dele...”


Lembrou-se do que Gohan havia lhe dito a respeito da promessa que tinha feito a Vegeta, em relação ao garoto. Parecia que o destino queria isso para Trunks. Queria que ele fosse guerreiro e seguisse os passos do pai, por mais que Bulma não aceitasse. O jeito era ceder.


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