Crônicas de Son Gohan escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 10
Entre mortos e feridos (Parte 2)


Notas iniciais do capítulo

Continuação do capítulo anterior, ainda mostra as reações dos dois sobreviventes do massacre dos androides.



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Entre mortos e feridos:


Os reflexos de uma tragédia (Parte 2)


 


 


- Mamãe...? Onde... Onde estou...?                               


Gohan acordou, ainda um pouco atordoado. Viu o rosto de Chi Chi abrir um sorriso. Ela o abraçou com força:


- Gohan!!! Ainda bem que acordou!!!


- Ai, mãe...! Tá doendo!


Chi Chi soltou o garoto e pediu desculpas. Ele nem respondeu. O seu rosto estava bem tristonho.


- O que houve, Gohan?


Silêncio. Ela insistiu:


- Aconteceu alguma coisa?


Ele engoliu em seco. Ainda estavam vivas na memória as cenas escabrosas que havia presenciado. Em seis meses, havia perdido seu pai e seus amigos, dentre eles, Piccolo e Kulilin. Começou a fazer cara de choro, mas tentou suportar toda aquela dor – a do corpo e a da perda. Só que não aguentou e desabou. Chi Chi o abraçou ternamente, como toda mãe faz com um filho. Vê-lo chorar daquela maneira cortava-lhe o coração.


- Não se preocupe Gohan... – ela disse. – Eu estou aqui.


- Já vi que você continua um bebê chorão!


- Como se atreve a dizer isso ao meu filho?! Sai já daqui, Vegeta! – Chi Chi disse furiosa.


Vegeta a ignorou. Estava escorado no umbral da porta, apesar de não estar recuperado. Ainda estava fraco. Prosseguiu:


- Você teve muita sorte em se tornar um Super Saiyajin... Se não fosse por isso, teria o mesmo fim que os amigos inúteis de Kakarotto!


- O que quer dizer com isso? – a morena agora estava curiosa.


- Eles viraram pó! – o saiyajin disse.


- Você não deveria estar aqui, Vegeta! – Bulma apareceu com cara de bronca.


- Não enche!


Uma discussão poderia começar naquele momento, mas Chi Chi perguntou, entre os soluços do filho:


- Você estava com o Gohan?


- Sim. – o guerreiro respondeu.


- Como ele foi parar na cidade onde estava acontecendo toda aquela confusão? – foi a vez de Bulma perguntar.


Vegeta se sentia num interrogatório. Começou a suar. Ainda não tinha recuperado muita energia para se manter muito tempo em pé.


- Ele estava com o namek e o nanico. Cheguei depois.


- E o que aconteceu com os amigos do Goku? – a morena inquiriu.


- Foram mortos pelos androides.


As duas mulheres ficaram perplexas. A cientista perguntou:


- Todos?!


 O saiyajin simplesmente sinalizou que sim, balançando a cabeça.


“Pobre Gohan...”, Bulma pensou, ao vê-lo chorando sem parar. “Era tão apegado ao Piccolo...”


- Ele só escapou porque se transformou em Super Saiyajin. Mas continua sendo um moleque mimado!


- O quê?! – Gohan ficou bravo com o que Vegeta havia dito.


- O que você ouviu, pirralho! Você é um moleque mimado! Não passa de um bebê chorão!


O garoto se enfureceu ante a prepotência do príncipe saiyajin. Levantou-se e o encarou:


- Acho que sei por que o Yamcha e os outros te odiavam. Parece que você não tem coração...


- Tenho, sim... Mas não tenho esses sentimentos idiotas! Não sou bonachão como esses terráqueos ridículos! Não preciso desses sentimentos ridículos de amor e bondade para ser um grande guerreiro! Isso é apenas para os seres fracos, que pensam que todo mundo pode ser bonzinho! E isso também inclui aquele retardado do seu pai, que não passava de um sujeito débil mental, sempre com um sorriso estúpido naquela cara de bobo alegre!


- NÃO FALA ASSIM DO MEU PAI!!! – o garoto se enfureceu.


Gohan partiu pra cima de Vegeta. Não deixaria que ele esculachasse o pai daquela maneira. Estava com um soco armado, pronto para acertar no saiyajin. O garoto acertou o golpe na barriga dele, mas ao mesmo tempo em que o havia atingido, acabou levando uma pancada semelhante. Os dois caíram com o impacto dos golpes. Gohan desmaiou, ao passo que Vegeta cuspia sangue.


O príncipe saiyajin, mesmo se contorcendo de dor por causa do golpe, ficou surpreso com a força do soco de Gohan:


 “Esse golpe... Esse golpe... Como ele conseguiu usar tanta força...?”


Tentou se levantar, mas ficou apenas sentado, recuperando o fôlego enquanto limpava o sangue que estava na boca.


“Moleque... Você tem muita sorte, pirralho...!”


Bulma queria ajudá-lo, mas Vegeta, furioso, se desvencilhou dela:


- Me deixa em paz!


Nisso, ficou em pé e saiu, a passos cambaleantes. Não se deixaria ser ajudado por uma mulher, muito menos na frente dos outros. Já tinha sido humilhado o suficiente naquele dia.


 


*


 


- Como você pode fazer isso com o Gohan? – Bulma perguntou. – Esqueceu que ele é apenas uma criança? Ele é apenas uma criança, não pode tratá-lo como se fosse um adulto. Não pode jogar nele a rivalidade que você tinha com o Goku, ele é apenas um garoto! O seu rival era Goku! A sua maldita revanche era com o Goku! Você odeia apenas o Goku, mas o Goku está morto! Ele está morto há seis meses! A culpa não é do Gohan! O Gohan é apenas uma criança!


Vegeta não respondeu. Parecia não dar atenção ao sermão de Bulma. Era como se estivesse com a mente em outro lugar.


- Você está prestando atenção em mim, Vegeta?


- E daí que o filho de Kakarotto seja apenas uma criança? – ele questionou aborrecido. – E daí?!


- E daí que o Gohan perdeu pessoas que eram importantes pra ele! Será que você nunca foi criança?


Ele não disse nada. Ela prosseguiu:


- Você me disse uma vez que o seu planeta foi destruído quando você era um garoto. Não sentiu a perda de alguém que era importante pra você?


Seu olhar se tornou distante. Parecia estar em algum canto de seu passado.


- Ainda bem que consegui contatá-lo, príncipe Vegeta! Mas, infelizmente, a notícia que tenho para lhe contar é bastante ruim... – era a voz de Freeza, ouvida através do rastreador. – É algo muito lamentável...


- Vê se desembucha! – uma voz de garoto interrompeu. – Não tenho tempo a perder, estou no meio da missão!


Tinha apenas cinco anos de idade, mas já era um prodígio. Era o orgulho de sua raça e estava na sua primeira missão, num planeta distante de seu planeta natal. Estava entediado com o treinamento monótono a que até então estava sendo submetido e pediu a Freeza para fazer uma missão de verdade. Dito e feito. Lá estava, cumprindo uma missão de verdade, apesar da pouca idade. Era mais forte do que muito saiyajin adulto da elite.


 Claro, era o príncipe...


- Está bem. – Freeza disse. – Infelizmente, um meteorito se chocou contra o planeta Vegeta, e o destruiu, com todos os saiyajins... E seu pai, o rei, também acabou morrendo nessa catástrofe... Eu lamento profundamente e me compadeço de sua dor...


Passaram-se alguns instantes de silêncio. Nisso, Vegeta disse:


- Isso é tudo?


A outra voz, um pouco espantada, confirmou:


- Sim, é tudo... Nappa e Raditz também já sabem do ocorrido...


Desligou o rastreador, ainda com sua aparente indiferença. Mas logo abaixou a cabeça. Não iria suportar sustentar aquela impassibilidade por muito tempo e resolveu se distanciar. O rastreador emitiu um alerta. Nappa e Raditz estavam se aproximando. Encontrou um local bem distante para ficar – uma mata bem fechada – e se sentou encostado numa árvore. Lá, pôde chorar à vontade a perda de alguém importante em sua vida até então – seu pai. E ninguém veria o príncipe desabar ali...


Permaneceu calado. Isso já fazia tanto tempo... Se já era ruim sentir a perda de alguém por causa de uma catástrofe, foi ainda pior saber que a tal catástrofe havia sido provocada por um verme miserável como Freeza. A indiferença e a frieza que faziam parte de sua vida não eram mais do que mecanismos de defesa. Eram apenas barreiras que evitavam que ele demonstrasse qualquer fraqueza.


Bulma o fitou por alguns segundos. Pelo jeito, parecia que ele já havia tido alguém importante na vida. Ela o conhecia o suficiente para ler algumas coisas através apenas de seu olhar, o que acontecia por trás dos olhos negros. Percebeu que ele dava a entender que queria ficar sozinho. Assim, ela saiu e o deixou só.


 


*


 


Bulma, pondo-se a caminho do quarto de Trunks, foi interceptada por Chi Chi.


- Preciso falar com você, Bulma.


- Pois não?


- Amanhã vou levar o Gohan pra casa.


- Por quê?


- Não finge que não sabe, Bulma! – a morena ficou brava. – Eu não quero que meu filho fique aqui pra correr o risco de virar saco de pancadas daquele monstro que você pôs aqui na sua casa!


Ela ficou em silêncio. Não podia argumentar, pois, de certo modo, Chi Chi estava certa. Para ela, Vegeta era um monstro.


- Mas ele ainda não se recuperou...


- Isso não me importa! O Gohan vai embora amanhã cedo! Não quero que ele fique perto desse marginal!


- Marginal? Você diz que o Vegeta é um marginal?! – Bulma se irritou.


- Ele é um assassino, Bulma! Abra os olhos! Você está abrigando um assassino em sua casa! Está se envolvendo com um sujeito muito perigoso!


Bulma se enfureceu:


- Por que você quer se meter na minha vida particular, hein? A casa é minha e eu escolho quem pode vir aqui! Se eu quero que o Vegeta fique aqui, isto não te diz respeito!


Nisso, ela saiu pisando duro. Era desaforo demais para poder aturar ali.


 


*


 


- Andou discutindo de novo, mulher?


Bulma estava aborrecida. Não respondeu à pergunta de Vegeta. Estava com as mãos na cabeça.


- Eu estou assim por sua causa... – ela disse, com a voz embargada. – Por sua causa, eu discuti com a Chi Chi. Agora corro o risco de não ter mais nenhum amigo...


Ele não disse nada. Apenas a via bastante chateada. Por que ela sentia falta de amigos? Ele não era suficiente?


- Pra que serve um amigo? – ele perguntou, depois de um momento de silêncio. – Só pra assumir sua fraqueza? Só pra confessar que não consegue fazer nada só por sua conta? Esse é o problema de vocês, terráqueos...


- E eu não sou como uma amiga? Ou sou apenas um objeto pra continuar a sua espécie? Acho que você me vê apenas como uma coisa... Por isso, você me afasta dos outros...


Dizia isso, bastante chateada. Isso se evidenciava em seu rosto.


- Esses androides mataram todos... Será que não tem ninguém que os derrote?


Vegeta olhou novamente pra ela e voltou à realidade. Precisava se recuperar para derrotar aqueles androides que o humilharam. Mas sentia que a morte o espreitava com mais intensidade. Não sabia se resistiria a mais uma luta contra eles.


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