Bernardo me levou para uma sala de aula vazia. Não devia estar em funcionamento e de certeza que já não a ocupavam á muito tempo. Pousei minhas coisas e tirei meu casaco. Bernardo se encostei numa mesa qualquer e apoiou as mãos por lá olhando para o chão e de seguida voltando o rosto para mim. Enfiei minhas mãos dentro dos bolsos e me encolhi esticando meus braços.

Queria falar alguma coisa mais a as palavras pareciam inexistentes acho que nem sequer sabia o que era essa coisa de falar. Bernardo também parecia estar um pouco perdido pois perdia o olhar em qualquer canto daquele espaço. Respirou fundo umas quantas vezes e só depois da milésia vez que enchei os pulmões e depois deixou sair o ar é que abriu a boca.

_Eu nem sei por onde devo começar. – ele falou me olhando e fazendo pausas constantes durante a frase.

_Você não sabe por onde deve começar, né! Por mim não precisa começar por sitio nenhum, afinal eu posso não ter visto por onde aquilo começou, mas vi onde acabou. E isso bastou.

_Você entendeu tudo mal.

_Entendi?

_Entendeu. A aula de Química acabou tarde e eu e Miguel vínhamos saindo, aí eu vi você e apressei o passo. De repente a Rita se joga na minha frente, me agarra e depois, depois me bei…

_Não precisa de dizer o que ela fez depois porque eu vi. Ou melhor o que vocês fizeram.

_Mas eu já te disse que foi ela que me beijou e não eu que a agarrei.

_Ah, foi ela que te beijou, não parecia nada. Você estava com as mãos bem grudadas na sua cintura e parecia estar curtindo bastante o clima. – nossos tons e voz estavam cada vez mais elevados.

_Então é isso. É isso que você acha? Você acha que eu gostei do beijo! – ele ria e falava sarcasticamente. - Só falta me dizer que foi eu que a beijei. Ou então não. Me dizer que eu estava com ela e você era apenas um brinquedo para mim.

_ E será que não era mesmo assim?

_Você não está pressupondo que eu tive esse tempo todo dentro de um personagem e usando você, pois não?

_Eu não tou pressupondo, eu tou mesmo afirmando.

Bernardo respirou fundo.

_Eu já falei que não estava contando com aquele beijo.

_Tá bom. Tá bom. Mesmo sem contar com aquele beijo me diga uma coisa. – falei autoritária. -  Você tinha mãos naquele momento? – ele assentiu. – Então isso quer dizer que podia empurrar aquela coisa, verdade? – ele voltou a assentir. – Então porque não o fez?

_Mas eu fiz isso. E depois eu olhei para você e apenas te vi correndo pela rua fora em direção ao não sei onde. Se você tivesse lá devia ter visto o que eu falei para  Rita. Devia ter visto como eu a humilhei no meio daquela gente toda. Eu passei a tarde toda te procurando, perguntando a todo o mundo por você, ligando para toda a gente questionando se não te tinha visto, e sabe porquê? – não falei, nem assenti. Era uma pergunta de retórica e eu apenas me limitei a escutar. – Porque eu tinha medo disso. Tinha medo daquilo que você pudesse pensar acerca dela e de mim. Tinha medo do que pudessem dizer sobre o beijo. Tinha medo de perder você.

_ Mas você já me perdeu.

_Perdi? – ele falou interrogando.

_Perdeu. – me aproximei dele com a voz tremula de quem estava prestes a chorar. – Não há palavra nenhuma que apague ou que encubra o que eu vi.

_Nem a minha?

_A sua palavra é o que menos conta para mim agora.

Peguei meu casaco e me bolsa e me dirigi até a porta, quando lá cheguei, girei o puxador e quando estava prestes a sair Bernardo chamou rouco e baixo:

_Leonor! – não respondi. Apenas me virei para ele e o olhei nos olhos. – Eu ainda gosto muito de você, e espero que não esquece o que a gente passou junto, porque eu não me vou esquecer tão cedo…

Olhei para o chão e saí fechando a porta atrás de mim. Deixei Bernardo sozinho na sala. Acho que ambos estávamos precisando de pensar.

Já passava um bom tempo do taque da primeira aula por isso não fim. Apanharia o toque para a segunda. Fui no bar da escola e pedi um café. Acho que era a única coisa que me faria bem. Minha cabeça estava as voltas e doía. Não sabia sequer naquilo que havia de acreditar. Ou acreditava naquilo que vi ou naquilo que ouvi. A escolha era difícil.

Senti a presença de alguém por trás e me voltei. Só podiam estar brincando!! Que mal é que eu fiz?

_Posso? – Rita estava na minha frente sentada.

_Já se sentou. – falei torcendo o nariz.

_Desculpe, mais é que eu queria falar pra você sobre uma coisinha…

Essa coisa loira só podia estar brincando.

_Fale. – falei pousando a chávena no prato e cruzando os braços esperando  alguma resposta.

_Então é assim. Você sabe que eu e o seu irmão já tive…

_Mas ele não é meu irmão! – falei interrompendo e a fazendo gaguejar.

_...Como eu estava dizendo e como você sabe eu e Bernardo já tivemos um caso e ontem eu o beijei para ter a certeza se ele ainda sentia algo por mim e apesar de depois me ter humilhado perante toda a escola ele respondeu ao meu beijo, mesmo que me tenha afastado bruscamente. – naquele momento só me apetecia jogar o liquido daquela chávena por sua cabeça abaixo. Mas por outro lado não estava entendendo onde ela queria chegar com aquela conversa.

_E… o que eu tenho a haver com isso?

_Pois, eu pensei que como vocês moram na mesma casa e são quase da mesma idade, você podia falar com ele acerca de mim e sei lá, o convencer a voltar para mim. – essa garota pensava que eu era quem? – E mais do que o convencer será que lhe podia entregar isso aqui? – ela me deu uma caixa pequena para a mão e eu a peguei, nem deu tempo para eu falar e se levantou, pegando sua bolsa. – Muito obrigado por fazer isso, agora adeusinho.

Joguei a caixa na mesa e levei minhas mãos á cabeça, deixando meu cabelo cair para afrente seus fios escorregarem entre meus dedos. Logo depois o sinal tocou e Marta não demorou muito a vir ter comigo.

Se sentou  á minha frente e eu guardei a caixa na bolsa.

_Então, foi assim tão má a conversa?

_Acabou.

_Acabou? Ele acabou com você?

_Não. Fui mesmo eu que acabei com ele. – Marta olhou para mim com piedade fazendo carinho com suas mãos em meus braços.

_E quer saber da melhor?

_Rolou mais alguma coisa?

_O pior é que rolou. Como se não bastasse aquilo que fez ontem a vaca da Rita veio ter comigo agora me pedindo ajuda para voltar a reconquistar Bernardo.

_Fala a sério? Essa garota é completamente doida.

_Doida? Doida é favor. Ela é uma grande cabra.

_E o que você pensa fazer agora?

_Está se referindo a quê? A mim e a Bernardo ou á Rita?

_Aos três!

_Ainda não sei. Acho que não estou com cabeça para pensar no que vou ou não vou fazer.

_Se precisar de ajuda ou de qualquer coisa sabe que eu estou aqui. E não hesite se estiver em duvida.

_Eu não vou hesitar. Você é a primeira na lista.

Miguel apareceu ao lado da mesa, seguido por Bernardo que não tinha muito boa cara. Tentei não olhar para ele mas foi em vão por muito que eu não quisesse meus olhos estavam constantemente fixos nele. Bernardo também esteve o tempo todo vidrado em mim. Miguel sentou ao lado de Marta e só sobrou um lugar. Que por coincidência era ao meu lado. Bernardo puxou a cadeira e se sentou.

Uma troca de olhares indiscreta entre Marta e Miguel chamou minha atenção e a de Bernardo também, pelo menos foi o que pareceu.

Miguel puxou um assunto qualquer e a gente começou falando, um pouco incomodados, até o toque soar de novo…