_Ele não sabia mesmo o que estava fazendo. Por isso é que a estava agarrando daquele jeito.

_Você entendeu tudo mal. Bernardo quando viu você ele a largou logo. – não deixei Marta acabar.

_Depois de ter feito borrada e ter percebido que eu vi era normal que ele a largasse. Bernardo é mesmo assim. Quer tudo. Quer as garotas todas ao seu dispor. Uma para segunda, outra para terça, outra para quarta, para quinta, para sexta,… Eu me iludi num Bernardo que achei que podia existir, mas que na realidade estava igual.

 _Se ele não tivesse mudado, ele não tinha ido correndo atrás de você, ele não tinha andado toda a tarde te procurando em tudo o que era canto,…

_Você o está defendendo?

_Não, Leonor. Eu não estou defendendo ele, mas também não estou com você. Você podia ter esperado, podia ter atendido seus telefonemas, podia o ter deixado dar uma justificação, pô!

_Mas não tem nenhuma justificação para ele me dar. Eu vi. Ele apenas me usou como brinquedo que se dá no natal e depois se joga fora. E eu, eu fui muito boba e me deixei levar na dele, como eu não percebi que ele se estava aproveitando de mim?? Me diga como? – ás lágrimas secas de minha longa tarde á beira mar ameaçaram cair de novo. – e  ele até pode ter sido apanha do surpresa e tudo e mais alguma coisa. Mas ele não quis parar quando ela o beijou.

_Isso não é verdade. – Marta falou tentando limpar as gotas salgadas em meu rosto.

_Ah, não é verdade! – falei irónica. –Me diga uma coisa, se algum garoto te beijasse de surpresa, como Bernardo e você e seja lá quem for diz que foi o que aconteceu. Se você se quisesse parar,  você arranjava forma de parar?

Marta assentiu.

_Então você acha que se Bernardo quisesse ter parado ele não parava? Você acha que se Bernardo gostasse realmente de mim, não a largava?  - Marta não respondeu e baixou a cabeça. – Agora ele não a largou. Ele deixou o beijo rolar, deixou ela por as mãos em sima dele. E se ao menos ele o tivesse feito longe da minha vista, sem eu desconfiar de nada… - ri sarcástica – Mas  ele não. Ele decidiu me mostrar aquilo bem na frente de meus olhos. Eles se pegaram na frente de todo o mundo.

Acho que deixei Marta sem o que falar. Ela me encarava com cara de pena. Pôs uma mecha de meu cabelo para o lado e limpou meu rosto com a mão.

 _Já para não falar que aquela garota já me era bem conhecida. – falei virando meu rosto para o lado.

_Porquê? Você já a conhecia?

_Digamos que ela passou muitas tardes enfiada no quarto com Bernardo, se limitando aos prazeres da vida.

_Isso quer dizer que ela e Bernardo já tinham tido uma relação?

_Relação só se for sexual. Ela era umas das muitas diversões de Bernardo. E agora ainda acredita que Bernardo não gostou daquilo que ela lhe fez?

_Ela até pode ter sido tudo e mais alguma coisa para Bernardo no passado. Mas agora. Agora ele queria você.

_No passado? Uma passado muito presente pelo que parece.

_Deixe de ser teimosa garoto. Não foi pela aquela garota que eu vi os olhinhos de Bernardo brilharem, como á muito tempo eu não via. Ele me garantiu que não tinha nada com ela.

_E você acha que a palavra dele para mim, agora ainda conta para alguma coisa?

_Dê uma chance para ele se explicar para você.

_Talvez dê, mas não hoje. – falei respirando fundo e puxando meu cabelo para trás.

_Como assim não hoje? Você pode se assegurar que quando chegar em casa o vai ter te esperando.

_Pois, isso. – cocei na cabeça e a olhei, ela fez um ar de desentendimento.

_Isso o quê?

_Liguei á pouca para meu pai e lhe falei que estava aqui com você e que ia passar cá a noite. Desculpe, mas não queria dormir na mesma casa que Ber…

_Não tem problema nenhum. Você pode ficar por cá. E agora mudando de assunto, porque não vai adiantar nada a gente ficar para aqui discutindo isso, você quer alguma coisa? Tem fome? Sede? Sono?

_Na verdade estou com fome. Não comi nada durante a tarde toda  e meu organismo já começa dando sinal de fraqueza.

_Tá bom, então eu vou pedir para a minha mãe trazer cá em cima algo para você. – Ela se levantou e foi em direção a porta quando lá chegou eu a chamei:

_Marta?

_Que foi?

_Obrigada, mesmo. – falei sorrindo fraco.

 _Não tem que agradecer, afinal os amigos não servem só para as coisas boas. Também servem para essas mais ruins.

Marta saiu e meu celular começou tocando. Peguei ele do bolso e olhei o visor. Bernardo estava me ligando. Apertei a tecla vermelha e o joguei na cama. Fui até ao espelho que Marta tinha no quarto e me olhei. Tinha os olhos muito vermelhos e papudos. Passei minhas mãos á sua volta e me olhei de cima abaixo. Meu celular voltou a dar sinal e dessa vez foi uma mensagem de voz que chegou na caixa, levei o aparelho no ouvido e escutei:

“ Oi Leonor, Seu pai me falou que estava em casa da Marta e que não ia dormir cá. Não sei se acredito mesmo que esteja com ela, mas... Estou preocupado com você! Passei a tarde toda te procurando e não encontrei você. E apesar de tudo o que você viu, acho que mereço ao menos me poder esclarecer com você. Sei que Marta já te deve ter contado a história na real e também sei que teimosa como você é nem sequer escutou. Mas é verdade.  Acho que mais do que ninguém, e mais de que qualquer justificação que lhe possam dar a meu respeito. acho a gente e quando digo gente sou eu e você precisa de falar. Se ouvir essa mensagem espero que esteja bem. Continuo gostando muito de você pequena. Ah, é o Bernardo, mas isso acho que percebeu logo desde o inicio.” –Ele estava nervoso em quanto falava. Falava com calma porém tropeçava em algumas palavras.

Marta entrou pelo quarto com uma tabuleiro na mão e com um prato e um copo O pousou na minha frente e sorriu. Peguei nos talheres e comecei comendo. Acabei depressa e em silêncio. Ela apenas me olhava e acompanhava cada garfada minha.  Passado um pouco sua mãe entrou no quarto com outra coisa na mão.

_Está aqui o que me pediu, se precisarem de mais alguma coisa  é só chamar.

_Tá bom mãe. Brigada.

Olhei para Marta que me desafiava para algo.

_Nada melhor que um bom filme para animar a gente, né?

_Não precisa está fazendo isso tudo!

_Isso tudo o quê? Isso aqui ainda não é nada, o melhor ainda está por vir.

Marta pôs um filme de comédia o que nos fez rir o tempo todo. Ela adormeceu primeiro e adormeci passado um tempo depois dela.

Acordei com um barulho irritante soando. O despertador de Marta tocava alto e saltava na mesinha ao lado da cama.

Marta o desligou e me olhou.

_Como você tá? Espero que tenha acordado bem disposta porque hoje, não quero que ande por aí sempre com a lágrima no canto do olho. Quero um sorriso nessa cara hein!!

Respirei fundo, fechei meus olhos e depois os voltei a abrir e com um sorriso, obedecendo ao pedido de Marta.

_Que bom que acordou cheia de energia. Agora vamo embora porque já é tarde.

_Tarde? Você já viu que horas são?

_Sim. E já é tarde. Se quiser aproveitar um tempinho com Miguel antes das aulas começarem tenho que me despachar.

_Ah, tá bom. Será que você tem algo para eu vestir?

_Sim claro. Abra o armário e escolha aquilo que achar que combina melhor com você.

Me visti depressa e desci. Não queria  dar trabalho a família de Marta por isso sai sem ela dar por nada e fui num café que havia na rua em frente. Tomei meu café da manhã e esperei que Marta saísse.

Ela saiu e veio ao meu encontro.

_Porque não comeu lá em casa?

_Oh, não queria dar trabalho. Já dei demasiado ontem.

Chegamos na escola e Miguel estava no portão esperando a amada.

_Bom dia meu amor. – Ele falou quando Marta envolveu seus braços em seu pescoço e lhe deu um beijo no rosto. Olhei para ele que não tirava o olhar de mim. – Dê uma chance para Bernardo se justificar. Nem tudo o que parece é. E ele está tão mal quanto você.

 Miguel sorriu e piscou o olho. Depois pegou na mão de Marta eles foram para um sitio qualquer da escola namorar.

Fui andando para dentro da escola propriamente dita e fui procurar minha sala. Virei num corredor vazio e aquilo que eu temia aconteceu, Bernardo apareceu na outra ponta. Olhei para ele e ele para mim. Não nos mexíamos, acho que deixei de saber como se andava. Mas o que é isso de andar? Como se anda? Bernardo pelo que parecia ainda sabia o que era andar porque depois de um tempo parado começou andando em minha direção. Foi pondo pé ante pé e quando deu por mim já estava frente a frente com ele no meio do corredor.

_Acho que a gente precisa conversar! – ele falou e eu apenas o olhei no fundo dos olhos.

Ia ser uma longa conversa, ia…