Acordei e olhei em volta. Já era dia pois raios de sol entravam pela janela. Era estranho, acho que esta foi uma das poucas noites em que eu não acordei no meio da noite gritando, transpirando ou chorando. Olhei para o relógio 10:35 que marcava. Esfreguei a mão na cara e me levantei. Corri pro banheiro e tomei um duche, eu odeio acordar melada. Saí do banheiro e fui até ao armário peguei a roupa que estava mais á mão e fui pro espelho.

Hoje queria dar uma volta pelas redondezas. Queria conhecer aquela que eu a partir de agora ia chamar a minha nova cidade. Penteei o meu cabelo e o amarrei com um laço. Peguei meu celular que ainda estava na bolsa e abri as mensagens. Tinha uma da minha mãe:

“Como está vc??? Se deu bem com a Carolina?? Como é o filho dela? Comeu tudo no jantar? E seu quarto é grande? Vc ainda só tá aí á um dia e eu já estou cheia de saudade! Me liga quando acordar, quero ouvir a sua voz!! Um beijo grande da mamãe e do Marcos.”

Sorri boba para a mensagem. A minha mãe sempre querendo saber de tudo. Estava com fome por isso decidi ir comer primeiro e depois quando saísse ligaria para a mamãe e falava com ela. Estava fechando a porta do quarto quando me viro e vejo Bernardo saindo da porta em frente. Presumi que fosse seu quarto. Ficamos parados no corredor nos olhando. Ninguém tomou a palavra. Se ouvia vozes no andar de baixo.

Num gesto rápido e depois de coçar a cabeça ele virou costas e desceu as escadas. Desci atrás de dele. Meu pai estava ao telefone e a Carolina teclava num computador portátil. O café da manhã já estava na mesa e pelo que parecia meu pai e a mãe do Bernardo já tinham tomado o café da manhã. Fomos até á sala de jantar e Kate, estava pondo o resto de um bolo de chocolate e café bem quentinho na mesa.

_Bom dia menino Bernardo. – se dirigiu á coisa bipolar ao meu lado que lhe deu um beijo na testa.

_Bom dia Kate. Tou vendo que hoje se esmerou no café da manhã. Bolo de chocolate, hein? Isso aqui é tudo por causa desta coisa aqui? – Bernardo apontou pra mim , e Kate sorriu ao me ver.

_Bom dia menina Leonor. Menino Bernardo não fale assim com a Leonor!

_Bom dia Kate! – Eu disse sorridente. – Kate ele sempre foi assim criativo quando se dirige ás pessoas ou é um novo talento que está a se despertar.

Kate sorriu com o meu comentário e pousou um cestinho com pão no centro da mesa.

_Hey, garota se vá acostumando, eu me dirijo ás pessoas como eu quiser e não é uma menina como você que me vai dizer o que fazer ao dizer.

_Vá lá menino Bernardo, não trate assim á sua irmã.

Aquilo que Kate disse foi estranho. E em coro eu e Bernardo nos entreolhamos e viramos para Kate dizendo:

_Mas ele não é meu irmão.

_Mas ela não é minha irmã.

_Bom dia meninos! – meu pai entrou na cozinha mesmo no momento em que eu e Bernardo íamos começar uma briga feia. Olhei para Bernardo e ele me fuzilava com os olhos, o seu olhar era desafiador como se me disse-se que aquilo não acabava por ali. Respirei fundo e virei pra meu pai que nos mirava encostado na porta.

_Bom dia pai! – disse com um sorriso fingido. Tentando disfarçar o que se tinha passado.

_Dormiu bem filha?

_Sim pai dormi muito bem. A cama é muito confortável.

_Ainda bem que gostou. Fui eu que escolhi. Seu pai preferia outra, mais eu o convenci que aquela era a ideal. – Carolina falou, agarrando meu pai pela cintura. Ri com a atitude da Carolina.

_Bom dia Carolina. Boa escolha, a cama é espetacular.

Olhei para a mesa. Bernardo já comia. Devorava uma fatia de bolo de chocolate e lia um jornal que estava pousado na mesa.

_Pai, hoje estou pensando em dar umas voltas pela cidade. – falei para meu toda entusiasmada.

_Me parece muito bem. O Bernardo pode te levar no seu carro ele até pode…

_Não. Nunca na vida. – falei sem deixar meu pai terminar, ele me olhou surpreendido. – Ah, não foi isso que eu quis dizer… ah, não é preciso o Bernardo estar a ter trabalho. – sorri sínica para ele.

_Sim Afonso, ainda para mais, hoje eu vou ter que estudar . Tenho prova de Química amanhã e você sabe como é. Tou no terceiro ano. Não posso baixar ainda maia ás notas. – Bernardo me olhou com cara de “ toma de volta”, tinha a certeza de que aquele garoto não ia ter prova nenhuma. Mais por um lado até foi bom, não o queria ter a meu lado me chateando com besteiras. Olhei pro meu pai:

_Viu pai o Bernardo tem prova e de certeza que tem muita matéria para revisar.

_Bom sendo assim, acho que não tem mal nenhum você ir. Mais tome cuidado para não voltar a ser…

Eu sabia o que meu pai ia dizer e por isso cortei a frase:

_Não se preocupe, eu vou ter cuidado.

Bernardo desviou o olhar da mesa e me olhou com cara de quem queria ouvir o resto da frase. Não o encarei, não sei o que me dei, mais não o conseguia encarar. Seria medo, receio, vergonha,…? Não sabia explicar mais não queria olhar para aqueles olhos ora azuis ora cinzentos que estavam vidrados em mim.

Peguei uma fatia de bolo de chocolate para mim e bebi um pouco de leite. Era domingo por isso hoje não tinha muito para fazer. Meu pai tinha dito a minha mãe por telefonema que já tinha tratado da minha escola. Disse que ia estudar na mesma escola que Bernardo. Segundo minha mãe aquela coisa, filho da Carolina era dois anos mais velho que eu. Eu tinha 17 ele 19. Em principio a escola pra mim só começava na quarta-feira.

_Meninos eu vou ás compras com a Kate, não sei se volto antes da uma da tarde se eu não chegar, mandem vir umas pizzas. Deixo dinheiro em cima da mesa da sala.

_Tá bom Carolina.

_Ok, mãe!

_Adeus meu amor.

Foram as únicas frases que se ouviram naquela casa. Quando a Carolina falou em pizzas meu pai, eu e Bernardo ganhamos um brilhozinho nos olhos. Como crianças que receberam brinquedo novo.

Meu pai disse que ia para o escritório e eu e Bernardo ficamos na cozinha nos olhando. Falando com os olhos e perguntando com o olhar quem ia levantar a mesa.

_Bom eu tenho muito que estudar, por isso acho que vou subir. Vê se dá um jeito nesta cozinha já que a Kate foi nas compras com minha mãe!

_Hey você só pode estar brincando, né!! Eu aqui não sou criada de ninguém. Tanto você como eu sujamos por tanto eu e você limpamos!! – fiz enfase no VOCE.

_Essa coisa de limpezas para mim é trabalho de mulher por tanto.

_Bernardo Pires, Bernardo Pires você faz o favor de arrumar essa bagunça ou pelo menos me ajudar. – falei autoritária.

_Não, não faço. Se precisar de alguma coisa estou no meu quarto. – ele se levantou e saiu da cozinha. Quando já estava no ultimo degrau da escada gritou. – É a porta em frente ao seu, caso esteja perdida.

Aquele garoto estava me pondo fora do sério. Ai que raiva.

_Isto não vai ficar assim ouviu! Você faz de propósito para me irritar. Ai eu te odeio.

Ainda pensei em ir bater na porta de seu quarto mesmo, mais desisti. Arrumei a mesa e pus toda a loiça na banca. Coloquei o leita na geladeira e o pão no armário. Peguei na jarra de flores que estava no balcão e a posicionei no centro da mesa. Olhei para tudo. Estava tudo nos lugares e tudo arrumado. Subi para pegar minha bolsa e meu celular. Estava chegando na porta de meu quarto quando…