Rebolávamos na cama de um lado para o outro, ora ficava eu por cima, ora ficava ele tomando conta da situação. Estávamos nos beijando e rindo ao mesmo tempo se bem que era baixo visto que agora a Kate também estava em casa. Bernardo fez cocega em mim e eu soltei uma risada que o fez logo me puxar para ele e enterrar minha cabeça na curva de seu pescoço para abafar o som.

_Shhh… - ele falou rindo da situação e me abraçando. – Se alguém nos ouve!!

Um barulho ecoou no quarto e eu e Bernardo olhamos para tudo o que era canto para tentarmos identificar de onde vinha o som. Olhamos os dois para a minha bolsa que estava em cima de secretária e percebemos que só podia ser uma coisa. Meu celular. Uma mensagem devia ter entrado nele. Olhei para Bernardo que me questionava com o olhar se eu ia atender e lhe dando a resposta, me levantei e fui até á estante. Remexi na bolsa e lá encontrei meu celular perdido. Era Marta:

“Desculpe não lhe ter dito nada, mas é que rolou uma coisa e eu não pude ir na aula.”

Respondi, ficando curiosa em relação á coisa. Será que Miguel é essa coisa?

“E que coisa é essa? O que se passou? Algo de mau?”

_Quem é? – Bernardo veio por trás de mim e agarrou minha cintura tentando ler aquilo que estava escrito no visor do aparelho.

_Marta! Ela hoje não foi na aula e agora me disse que se passou algo!

_Fala a sério!

_Estou falando! – não percebi muito bem o “Fala a sério” que Bernardo proferiu. – Porquê tanta admiração em Marta não ter ido na aula de Filosofia?

_Miguel também não foi na de Geopolítica, só isso.

_Que estranho , né! – Falei irónica respondendo a Bernardo.

_Mesmo. Será que Miguel perdeu a chave do armário da escola e Marta o foi ajudar a procurar?

_Será?

Começamos a rir juntos.

_Você sabe de alguma coisa.

_Alguma coisa como?

_Sei lá, o Miguel não lhe falou onde iriam?

_Ele só me disse que ia esclarecer tudo com ela. Que já estava farto de ser ignorado e ser julgado por aquilo que não é. – Bernardo falou, quando me virei para ele e entrelacei minhas mãos em sua cintura.

Meu celular voltou a vibrar, Marta tinha respondido:

“Amanhã em te conto! Bj pra você xD”

_O que ela disse?

_Que amanhã me falava o que rolou. – joguei o celular na cama e Bernardo acompanhou com o olhar o percurso dele.

Ouviu- se alguém gritar do piso de baixo.

_Meninos, o brigadeiro está pronto.

Eu e Bernardo nos entreolhamos e nos descolamos saindo do quarto e descendo á escada em busca dos doces de Kate. O aroma a chocolate estava espalhado pela casa e um desejo e apetite de os devorar era cada vez maior.

Passamos a porta da cozinha e um prato grande cheio de bolinhas negras se sobressaia. Tinham muito bom aspeto e Bernardo atacou logo o prato tirando um e devorando muito rápido. Segui os seus passos e meti também um pela goela abaixo.

De fato os doces estavam realmente bons. Tão bons que o prato se esvaziou depressa.

_Não é que mesmo depois de tantos anos a fazer o mesmo doce, você não perde o jeito! – Bernardo falou com a boca rodeada de chocolate.

_Isso tá realmente muito bom. Muito bom não, Kate. Ótimo de mais!

Kate riu satisfeita enquanto acabava de limpar tudo o que tinha sujado desde pratos a colheres.

Olhei no prato e apenas sobrou um brigadeiro. Bernardo também estava estacado nele. Estávamos devorando o brigadeiro com os olhos e escolhendo qual de nós o iria devorar. Nos concentramos um no outro esperando o ataque.

Tomei a iniciativa e quando já estava preste a lhe por as mãos em cima, Bernardo o rouba e o come. Fiz beicinho para ele e reclamei a minha posse de direito sobre a bolinha negra.

_Você  é mesmo um lerdo. – Me levantei e sai da mesa indo de novo para meu quarto.

Passei lá quase todo o resto do dia. Saí apenas para jantar e depois voltei para lá de novo. O jantar foi mais tarde do que o habitual. Meu pai teve um problema qualquer com um paciente lá no hospital e por isso se atrasaram para a hora que consideram ser de família. Eram quase 11: 45 quando a  agente terminou de jantar por isso me deitei mal subi.

Acordei, por incrível que pareça sem a ajuda do despertador, por mim mesmo. Toda torta na cama e com uma linha de babo marcada em meu rosto. Desliguei o alarme do relógio e ui tomar o meu sagrado banho de despertar. Como acordei com tempo, pude ficar relaxando um pouco mais na banheira.

Escolhi uma roupa qualquer e preparei minha mochila. Estava ansiosa, queria falar com Marta o mais rápido possível. Queria saber o que tinha rolado com Miguel ou se havia novidades.

Fui tomar o café da manhã e pela primeira vez eu cheguei primeiro que Bernardo, arranjando um pretexto de o provocar quando descesse.

Meu pai chegou e me cumprimentou com um beijo em minha cabeça. E logo depois já estava toda a família exceto Bernardo, envolta da mesa do café da manhã.

Passado algum (bastante) tempo Bernardo apareceu com o rosto inchado e com cara de sono.

_Então meu querido Bear, perdeu o relógio?

Ele não me deu bola e pegou numa fatia de pão com manteiga, a trincando e vestindo o casaco do team da escola.

Ele me fez sinal para abandonar a mesa e seguir com ele para a escola. Chegamos lá depressa e eu segui para o bar, sitio onde já sabia que ia encontrar Marta.

E não me enganei, ela estava lá com um suco na frente remexendo na garrafa, muito pensativa:

_Bom dia.

_Bom dia. – ela falou com um sorriso assim fora do normal.

_Tanta alegria! Isso é tudo porque não vamos ter a aula de Matemática ou será que foi pelo que rolou ontem durante a sua suposta aula de filosofia, em que não foi?  

_Você não tem noção daquilo que se passou.

_Então, do que está esperando pra me contar?

_Eu e Miguel ontem tivemos conversando e a gente se entendeu. Tivemos uma conversa bem séria e tudo isso acabou em beijo. Ou melhor em muitos beijos.

_Muitos beijos como assim?

_A gente ficou curtindo a tarde toda.

_Curtindo? – falei surpresa com aquilo que ela me falava. Quem diria né?

_Curtindo até ele me pedir em namoro.

_AH?? E o que você lhe disse? Você aceitou, certo?  

_Claro que aceitei. O que queria que eu tivesse respondido?

_E você já o viu hoje? – olhei em volta para ver se o avistava, mais sem sucesso.

_Não. E é isso que me está pondo assim. O que é que eu lhe falo? Será que ele vai vir ter comigo? O que lhe respondo? Me ajude vai!

_Sei lá! Que tal começar por lhe dizer OLÀ, não? Se elevai vir ter com você eu não sei. E o que lhe vai responder isso depende do que ele lhe preguntar!

_Estou nervosa!

_ Já deu a entender, caso não saiba. – estava achando graça a expressão de estresse e de aflição de Marta – Tenha calma, quando chegar na hora você vai saber o que falar. – disse a tentando acalmar  e relaxar, missão quase impossível.

_Como você consegue estar tão calma.

_Porque talvez a situação não seja comigo!! – era obvio o porquê!

_O que você fez com Bernardo?

_Fiz como? – não entendi o sentido daquela pergunta.

_Sei lá. Como você o olhou, e o que lhe disse, o que el te disse?

_Hey, tenha calma. Quando chegar na hora você vai saber o que fazer, não se preocupe. – ela estava entrando em trauma e olhava para todos os lados, tentando controlar todas as entradas e saídas.

Só se esqueceu que havia também uma porta atrás dela e que por acaso foi por lá que Miguel entrou. Me levantei e arrumei a cadeira.

_Onde vai?

_Acho que chegou a minha hora! – Falei quando Miguel se aproximou por trás da cadeira de Marta e ela seguiu meu olhar procurando a razão para a minha despedida.

Trocou um olhar comigo e eu sorri. Dando os bons dias a Miguel e saindo pela porta principal procurando um novo lugar para esperar o toque de entrada.