O clima estava esquentando e eu já estava ficando nervosa. Lentamente fui me começando a inclinar para me poder deitar na cama. Tudo estava indo bem devagar. Bernardo se começou deitando em cima de mim sem desgrudar nossos lábios. Quando finalmente se deitou por completo em cima de mim parou o beijo.

Estava apoiado só com os cotovelos fazendo força para não deixar todo o peso de seu corpo cair em cima de mim. Respirei fundo e acho que ele percebeu meu nervosismo. Carinhoso passou uns fios de cabelo que apareciam em meu rosto e os pôs atrás de minha orelha sorrindo e apreciando cada traço e feição de minha face.

Passei minhas mãos por seus músculos dos braços e os apertei em gesto de ternura. Fechando meus olhos e suspirando mais uma vez. Bernardo chegou seu rosto no meu e depositou um beijo nas dobras de minha testa. O apertei bem forte para mim.

Ele me largou e colocou seu olho dentro do meu. Eu fiz o mesmo, encarei aqueles olhos grandes, que agora estavam escuros e sedutores.

_Não vamos apressar nada, garotinha. A gente tem todo o tempo do mundo para fazer isso. – ia abrir minha boca mas ele não deixou e colocou seu dedo indicador em cima de meus lábios. Quando deu conta que eu já tinha percebido a mensagem deixou ele deslizar por meu queixo até não ter mais superfície para ele pousar. – Vamos com calma e não vamos forçar nada a rolar. Vamos esperar que o tempo nos diga a altura certa, e não vamos nós escolher o momento ideal. E não pense que eu não quero fazer isso, porque eu quero, eu quero muito. Mas quero muito mais que isto role sem pressão e que quando acontecer, você esteja segura naquilo que está fazendo. E não insegura e nervosa como está, deixando as lembranças trágicas e dramáticas do passado tomarem conta de você e subirem na sua cabeça, te fazendo recear tudo. Quero ter você só minha nessa ocasião, toda minha e não permitindo que recordações repugnantes, desumanas e ruins te tirem do clima. Te deixando tensa e temerosa. Tudo tem seu tempo, hein! E eu tenho certeza que essa não é a hora certa, unhm?

Bernardo terminou e eu assenti, concordando com quase tudo, o que... Tá bom! Concordando com tudo o que ele falou. Ele tinha razão. Eu tinha um certo medo daquilo que podia vir a fazer, e devo confessar que as memórias do que passou vão ficar para sempre guardadas cá dentro. Mas Bernardo tinha razão, nada era melhor do que deixar o tempo rolar e escolher a altura ideal. Agarrei sua camiseta com força e ele se aproximou mais de mim deixando minha cabeça se encaixar em seu peito.

_Agora durma. Eu fico aqui até você cair no sono, vai.

Me aconcheguei mais em seu peito e ele fez caricia em meu cabelo.

_Boa noite, minha pequena.

Não demorou muito o sono pegar. Até adormeci bem rápido…

Acordei com o barulhento do despertador aos saltos em cima da mesinha ao lado do abajur. Virei para o outro lado e afundei a cabeça na almofada, esperando que ele acabasse a cantoria habitual. Ele não o fez. Já estava começando a ficar enojada com o som que estava se fazendo soar pelo quarto quando peguei naquela coisa branca e com números digitais e joguei no outro lado do quarto. Meu ato foi seguido de um barulho meio pó estrondoso. Presumi que o despertador se tinha partido em dois.

Olhei em volta. O quarto estava vazio. Olhei por mim abaixo e me sentia muito apertada. Estava vestida, supostamente devia ter dormido com a roupa. Lembrei depois da noite de ontem e sorri boba para o nada.

Estava morrendo de sono e meus olhos teimavam em fechar. Me levantei da cama e achei o chuveiro a melhor forma de me despertar. Nada é melhor do que ter água escorregando por nosso corpo e gotas grossas de água chocarem com nosso rosto.

Sequei bem meu cabelo e passei uma boa camada de creme por meu corpo. Fui no quarto de novo e substitui a toalha molhada que rodeava meu corpo, por uma roupa mais ou menos que encontrei pendurada no roupeiro. Um short, uma camiseta e blusão era o ideal. Fiz minha cama muito rápido e desci.

Tinha demorado um pouco no banheiro e não era estranho se Bernardo já estivesse me esperando no andar de baixo.

Estava em frente á porta de entrada e me lançou um olhar como se me desse os bons dias. Meu pai apareceu vinco da cozinha:

_Bom dia filha! Já está um pouco atrasada. O despertador não tocou de novo?

_Não pai, dessa vez fui mesmo eu que me atrasei.

_Um dia é o despertador, outro dia é porque se atrasou mesmo e amanhã vai ser porquê? Porque não tinha roupa para vestir? Olhe que eu já te faço o favor de te deixar na escola se continuar assim vou começar fazendo a obrigação, - Ele falou fazendo enfâse em “obrigação” – de te deixar em casa. – percebi o joguinho que Bernardo queria fazer comigo e com nossos pais e alinhei na coisa.

_Ó garoto, eu aqui não pedi nada a ninguém. Eu podia ir muito bem para a escola a pé.

Era incrível mais eu até gostava de fazer esse joguinho gostoso de cão e gato na frente de nossos pais. Eu gostava de estar com Bernardo numa boa mais adorava as brigas que a gente tinha. Geralmente acabava em beijo, e isso era a parte mais legal.

_Mas vocês os dois se importam de parar de brigar? – falou meu pai autoritário se pondo no nosso meio.

_Sim meninos, o Afonso tem razão, ainda agora é de manhã e vossas excelências já estão brigando.

_Em vez de estarem para aqui discutindo porque não vão andando? Daqui a pouco começam a vossa primeira aula. – o Sr. Afonso falou olhando para o relógio, o que me fez olhar para o meu também.

Bernardo abriu a porta da sala para mim e deixou eu passar na sua frente. Entrei no carro e ele entrou também, arrancando no mesmo instante.

_E não é que eu adorei esse seu estilo hoje, assim meio pro rebelde, hein?

_É? Gosta mesmo? Num é que eu pensei que você só ligava para garotas patricinhas, loiras e burras que passam o tempo todo em frente do espelho, falando da vida umas das outras, que fingem ser amigas de todo o mundo mas na verdade o que querem é mostrar ás coxas e transar com os primeiros garotos populares que lhes aparecem na frente e que depois se grudam neles e pensam que já são gente!?

_Você acha mesmo que eu sou assim?

_E não é?

_Não.

_Me diga uma coisa. Você sabe o que é namorar?

Ele hesitou um pouco e acho que o deixei sem resposta.

_Ou melhor, você alguma vez já namorou com alguma garota? Você sabe o que é namorar com uma garota? Bem me parecia. Agora deixe eu reformular a pregunta: Você algumas vez transou com alguma garota?

_Já, claro que sim. – resposta que eu já estava esperando. Bernardo já devia ter transado com meia escola. Nas primeiras semanas que estive lá em casa era uma a cada hora. Quando eu pensava que já não ia aturar mais nenhuma, tocavam na campainha e mal saia uma Bernardo já estava com outra.

_E… quando transou com essa ou essas garotas houve algum sentimento de um para o outro, tipo amor, carinho, e assim?

Ele voltou a não ter resposta. Parou o carro no parque da escola e o desligou. Me encarando com ar que me deixou com um pouco de receio. Acho que ele estava pensando nas palavras certas para proferir por isso esperei que ele falasse alguma coisa.

_Você tem razão. Eu não sei sequer o que é namorar com alguém. Foi sempre curtir e fugir das relações mas, de uma coisa eu te posso garantir, desde a primeira vez que eu vi uma certa garotinha parada na minha sala com um montão de malas ao lado, com cabelo cor de mel acastanhado, com olhos castanhos caramelo, com um sorriso diferente de todos os outros, muito marrentinha e chatinha que adora brigar com o seu meio irmão e que o está deixando completamente louco por ela, eu nunca mais parei de pensar nela e sinceramente não sei se quero parar…