Agradecimento – Capítulo Único

Nami rolou na cama, fechando o livro que estivera lendo momentos antes, e fitou o teto de madeira sem realmente estar enxergando-o. Fazia três semanas que haviam partido do navio-ilha Thriller Bark, e até agora o fato de ter sido salva por Sanji daquele tal de Absalom, por algum motivo misterioso, não lhe saia da cabeça.

Revirou mais um pouco na cama e percebendo que aquilo não estava ajudando, decidiu tomar um banho para espairecer a mente. Preparou a banheira com alguns sais de seu gosto e imergiu na água aquecida. Sentia os músculos de seu corpo começar a relaxar sob efeito da temperatura agradável e deu um leve sorriso. Brincou um pouco com a espuma formada, mas não demorou muito para sua mente começar a focar novamente no cozinheiro loiro.

Bufou irritada. Será que não ficaria livre daqueles pensamentos estranhos?

Levantou bruscamente da água e se enrolou em uma toalha branca. Não adiantava ficar guardando aquilo só para si. Para conseguir – ou pelos menos tentar - entender o por que de estar sempre relembrando aquele acontecimento, precisaria bater de frente com o loiro. Assim talvez a solução brilhasse em seu cérebro.

Escolheu uma blusinha azul, juntamente com uma saia marrom, e depois de observar sua silhueta no espelho do quarto e se sentir satisfeita, saiu a procura do cozinheiro.

Logo avistou-o no amplo convés do navio, servindo uma xícara de chá para Camie, a sereia. Por que ele tinha que ser tão mulherengo? Algo se apertou no peito da jovem navegadora ao ver a atenção exagerada que Sanji dirigia para a sirena de cabelos verdes. No entanto, controlando a sua vontade de acertar algum objeto na cabeça do cozinheiro e ignorando a sensação incômoda em seu peito, respirou fundo e ficou apenas observando a algazarra distribuída no convés.

Luffy, Chopper, Usopp e Pappagu faziam gestos estranhos remexendo o corpo – que para eles deveria ser alguma espécie de dança – ao compasso das notas liberadas pelo violino de um animado Brook. Zoro jazia adormecido apoiado ao mastro principal, enquanto que Robin e Franky pareciam conversar sobre o livro nas mãos da arqueóloga.

Tudo parecia normal. Na medida do possível, lógico.

Nami lançou uma olhadela para o céu, mas ao verificar que não havia nenhum perigo se aproximando, relaxou um pouco. Porém ainda havia uma questão a ser resolvida. E Sanji ficar paquerando a sereia, não ajudava em nada.

Não que isso tivesse alguma relação de fato, mas a ruiva não pareceu perceber este pequeno detalhe.

A navegadora apoiou os braços na balaustrada do navio, imaginando quando Sanji pararia com toda aquela enrolação, quando sua atenção foi chamada ao ver, através de sua visão periférica, o homem loiro começar a vir em sua direção.

- Boa tarde, Nami-san. – cumprimentou-a como de costume, com seu cavalheirismo seleto para mulheres bonitas. – Irei preparar imediatamente algo para ser seu lanche da tarde! – sorriu-lhe antes de atravessar a porta para a cozinha.

Nami ponderou momentaneamente sobre suas possíveis chances de ter uma conversa particular com o loiro e considerou que aquela podia ser uma das raras chances que teria em semanas. Primeiro verificou se alguém havia olhado naquela direção e ao notar todos envoltos as suas ocupações, adentrou o ambiente para refeições rapidamente.

Sanji não pareceu perceber a entrada da ruiva no local e se aproveitando disso, Nami ficou algum tempo observando as costas largas do cozinheiro enquanto este lavava alguns recipientes usados a poucos instantes.

- Sanji-kun, você já serviu o lanche da tarde para Robin e Camie? – perguntou a navegadora antes que pudesse controlar a língua.

O loiro, surpreso por não ter percebido antes a presença dela, limitou-se a sorrir.

- Já sim. – ele disse, voltando sua atenção para os utensílios que antes estivera lavando, para agora enxugá-los. – Mas não se preocupe, Nami-san! Logo o resto dos bolinhos ficará pronto.

Ele começou a tagarelar algo sobre os materiais que utilizara na receita, mas Nami não prestava atenção em nenhuma de suas palavras. Estava ocupada demais em relembrar, pela enésima vez naquele dia, o fato de que Sanji a salvara tão fervorosamente.

Ela não sabia o porquê de estar se sentindo estranha por causa daquilo. Já havia sido salva diversas vezes pelos outros mugiwaras, mas... Será que...?

“Será que estou me sentindo assim por que não o agradeci devidamente?”

Nami tombou a cabeça para o lado, imaginando se aquilo era realmente possível. E aceitando a hipótese como absolutamente plausível, rumou em direção ao loiro distraído em sua narração de como colocara todos os seus sentimentos naqueles bolinhos.

- Hã? O que houve, Nami-san? – indagou ao perceber a navegadora próxima a si.

- Ah, nada não, Sanji-kun. – sorriu travessa.

O loiro arqueou a sobrancelha aparente, achando aquela situação meio anormal.

- Você está bem mes—

Sua fala foi cortada ao sentir os lábios macios da ruiva pressionarem levemente sua bochecha esquerda. Sanji olhou confuso para a garota – sentindo sua face esquentar – e só então percebeu o lindo rubor formado no rosto da navegadora.

- Isso é para agradecê-lo por ter me salvo do homem-cara-de-cachorro, ok? – ela explicou rapidamente e se retirou as pressas da cozinha sem dar tempo de Sanji raciocinar uma resposta sobre aquilo.

Seu coração acelerado no peito e o calor que sentia tomar conta de seu rosto só fez Nami comprovar outra coisa.

Talvez Sanji não fosse apenas um companheiro de tripulação para ela. Ou pelo menos, não era mais.