Parado no meio da plantação de algodão observava a luta de Sakura com a cama durante dez minutos. Depois, praguejando, entrou na pickup e foi ate a casa.

Não bateu a porta do carro quando saltou, mas teve muita vontade.

- Esqueceu as pulseiras mágicas.

Ela estava sem fôlego. Vários fios de cabelo rosa haviam escapado da longa trança que fizera. Já havia conseguido arrastar a enorme caixa pela metade dos degraus da varanda.

Fez um enorme esforço para não ficar ofegante quando o viu aproximar-se.

- Como?

- Não pode haver mulher maravilha sem as pulseiras mágicas. Eu pegarei deste lado.

- Não preciso de ajuda.

- Pare de bancar a irritante e abra a porta!

Ela foi abrir a porta contrariada.

- Você esta sempre aqui?

Sasuke retirou os óculos escuros e atirou-os longe mo chão.

- Esta vendo aquela plantação ali? Pois é minha. Agora vai para o lado enquanto eu levanto esta ponta. Nossa, que diabo de cama é essa?

- De ferro. – Sakura respondeu satisfeita.

- Eu deveria ter imaginado. Precisamos virá-la para passar na porta.

- Eu sabia disso.

Sakura andava de costas tendo que confiar nas orientações de Sasuke. Esfolou a mão e resmungou algumas vezes, mas finalmente colocaram a caixa no quarto.

-Obrigada. – Os braços dela doíam. – Posso fazer o resto sozinha.

- Tem ferramentas?

-Claro que tenho.

-Então vá pega-las. É melhor montar isto antes de trazer o resto.

Num gesto irritado, Sakura empurrou o cabelo para trás.

- Posso cuidar de tudo.

- Ah claro. Mas sou muito educado para isso e você não me convencerá com a sua teimosia.

Ele pegou a mão de Saki e beijou-as onde estavam machucas, não dando tempo de ela retira-las.

- É melhor passar algo na mão enquanto armo a cama.

Sakura pensou em insultá-lo e expulsa-lo, mas sabia que seria em vão. Então simplesmente buscou as ferramentas. Sasuke admirou a organização dela.

- Está preparada para tudo hein?

- Você provavelmente não sabe distinguir um alicate de uma chave inglesa.

Achando graça Sasuke pegou o alicate de ponta fina.

- Uma tesoura, certo?

Depois que a expressão emburrada de Saki virou em um sorriso ele começou o trabalho de retirar as peças.

- Vá colocar algo nesta mão machucada! – Falou com autoridade.

- Não é preciso.

- Passe logo alguma coisa! Depois nos prepare uma bebida gelada?

- Escute Sasuke, não sou sua mulherzinha!

Ele a alhou avaliando-a com um olhar frio.

- É pequena, e é uma mulher e estou com a tesoura.

- Creio que minha sugestão de onde pode enfiar este alicate apagaria este seu sorriso.

- E eu não creio que o fato de lhe dizer que fica sensual quando se irrita não a convenceria a estrear a cama comigo depois que estiver armada, não é mesmo?

- Já chega!

Sakura saiu do quarto, buscou as compras e tratou de preparar o chá. Percebeu que as mãos de Sasuke eram grandes, mãos de pianistas. Sabia que ele sabia plantar, cuidar e colher pois fora criado para isso, mas as tarefas cotianas? Isso era muito diferente.

Achou que quando voltasse ao quarto encontraria o caos então lhe deu bastante tempo. Ligou o telefone novo, guardou os panos de prato e cortou sem pressa as fatias de limão do chá. Convencida de que já lhe dera tempo o suficiente, voltou ao quarto levando dois copos de chá com gelo.

Sasuke acabara de girar o ultimo parafuso.

Os olhos de Sakura se iluminaram e o som que saiu de seus lábios era típico de felicidade feminina.

- Oh é maravilhosa! Incrível! Eu tinha certeza de que seria!

Sem pensar entregou os copos a Sasuke a fim de passar as mãos na armação montada.

A primeira reação de Sasuke foi de divertimento, depois de satisfação. Tomou um gole de chá observando-a entrar no centro da cama enquanto passava as mãos pelos raios da cabeceira.

E a nova sensação foi de desejo, tão básico, tão forte, que ele deu um passo deliberado para trás. Podia imaginá-la segurando aqueles raios enquanto a penetrava, em sucessivas arremetidas, longas e firmes, os olhos de Saki se tornando mais e mais enevoados.

- É bem resistente.

Ela sacudiu a cabeceira deixando o estomago de Sasuke dando voltas.

-É melhor que seja.

- Você fez um bom trabalho e eu fui grosseira, obrigada e desculpe.

- Não foi nada, esqueça. – Sasuke lhe entregou o copo enquanto puxava a corda do ventilador. – Esta quente aqui dentro.

Ele tinha vontade de morder o ponto por baixo da orelha de Saki onde a mandíbula começava.

- Fui grosseira, Sasuke. Não sou muito boa no trato com as pessoas.

- Não é boa com as pessoas? E vai abrir uma loja?

- São clientes. Sempre fui muito boa com clientes. Posso ser muito gentil com eles.

- Hum... – Sasuke foi se postar no outro lado da cama. – Se eu comprar algo vai ser gentil comigo?

- Não tão gentil assim.

Com a maior agilidade ela o contornou e saiu do quarto.

- Eu poderia ser um excelente cliente.

- Esta tentando me irritar de novo.

- E estou conseguindo, Saki.

Ele pos a mão em seu ombro e ela se retraiu Sasuke acrescentou:

- Pare com isso. – Ele largou o copo no chão e virou-a para fita-la. – Pronto, não doeu nem um pouco, não é?

Sasuke tinha mãos gentis, fazia muito tempo que ela não tinha um contato assim com um homem.

- Não estou interessada em flertes.

- Eu estou, mas por enquanto podemos ser apenas amigos.

- Não sou uma boa amiga.

- Eu sou, então porque não trazemos o resto de sua cama para que possa dormir bem esta noite.

Sakura deixou-o chegar quase na porta se perguntando se deveria ou não falar. Chegou a uma conclusão mais rápido do que imaginava.

- Nunca me perguntou, Sasuke. Em nenhum momento, nem antes ou agora como eu sabia. – Saki sentiu as palmas das mãos suarem enquanto ele se virava. Segurou os cotovelos fortemente. –Nunca me perguntou como sabia onde encontrá-la ou como sabia o que acontecera.

- Não precisava perguntar.

As palavras agora saiam em disparada pelos lábios de Sakura, ela não conseguia parar.

- Algumas pessoas pensaram que eu estava com ela, embora eu afirmasse que não estava. Que fugi e a deixei sozinha. Que a abandonei...

- Não é o que eu penso.

- Outras pessoas apesar de acreditarem no que eu disse, trataram de se afastar de mim, mantendo seus filhos a distancia. E pararam de olhar nos meus olhos.

- Eu continuei a olhar nos seus olhos Saki, naquela epoca e agora.

Ela teve que respirar para se controlar.

- Por quê? Se pode acreditar que tenho isso dentro de mim, por que não se afastou? Por que continua a me procurar aqui e agora? Espera que eu lhe diga o futuro? Não posso fazer isso. Que eu lhe de dicas do mercado de ações? Não há a menos possibilidade.

Sakura tinha os olhos brilhando pela fúria, ele pode notar. Mas não entraria naquele jogo, não daria razão as expectativas dela.

- Prefiro viver um dia de cada vez. De qualquer forma obrigado. E tenho um bom corretor para cuidar de minha carteira de investimentos. Não lhe ocorreu que sempre volto por que gosto de sua aparência?

- Não.

- Então é a primeira e única mulher que conheço sem vaidade. Não faria mal algum se adquirisse um pouco. Agora... – Ele inclinou a cabeça para o lado. – Quer ir buscar o colchão ou prefere me espantar e assombrar dizendo que comi no almoço?

 Sakura abriu a boca espantada enquanto ele passava pela porta. Sasuke tinha realmente feito uma piada sobre seu dom? Era a primeira vez que isso lhe ocorria. Geralmente as pessoas tentavam se afastar ou então lhe pediam que resolvesse todos os seus problemas. Mas ele havia lhe feito uma brincadeira.

Ela movimentou os ombros para aliviar a tensão e foi atrás dele.

Trabalharam em silencio ambos escutando o próprio pensamento. Depois que terminaram ele terminou o chá, levando o copo para a cozinha e foi ate a varanda.

- Não deve ter muitos problemas em fazer o resto, Saki. Estou um tanto atrasado com o meu trabalho.

Não, você não vai embora assim! Pensou Sakura.

- Agradeço a sua ajuda, e muito.

Quer fosse por irritação ou impulso, ela segurou o seu braço. Sasuke parou e fitou-a.

- Se quer me agradecer pense em mim quando estiver entrando na terra dos sonhos esta noite.

- Sei que lhe custou um bom tempo. Ah, sim... não falou alguma coisa sobre almoço?

Confuso Sasuke apenas balançou a cabeça.

- Almoço?

Foi o suficiente.

- Isso mesmo seu almoço de hoje. Metade de um sanduíche de presunto e queijo suíço com mostrada marrom. Deu a outra metade para aquele cachorro preto esquelético que corre pelos campos, suplicante, sempre que avista você. – Sakura recuou, sorrindo. – Deve se sentir ansioso pelo jantar muito em breve.

Sasuke pensou um pouco depois resolveu seguir seu instinto.

- Sakura por que não volta aqui e me diz o que estou pensando agora?

Ela sentiu um impulso que poderia ser uma risada subindo por seu peito.

- Creio que o deixarei guardar isso só para você.

E entrou na casa deixando bater a porta.