Lua de Sangue escrita por BiahCerejeira


Capítulo 37
Capítulo 37


Notas iniciais do capítulo

Mais um capitulo, espero que gostem.



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Naruto lutava com o nó da gravata. Detestava aquelas malditas coisas. Sempre que usava uma, lembrava-se da sua mãe, com um chapéu de primavera que parecia uma taça de flores virada ao contrário, a estrangulá-lo com uma gravata azul-viva, a combinar com o detestável terno azul-vivo.


    Tinha seis anos, e achava que aquilo o tinha traumatizado para o resto da vida.


    Usava-se gravatas nos casamentos e usava-se gravatas nos funerais. Não havia forma de contornar a questão, mesmo para quem tinha a sorte de ter uma profissão que não exigia a porcaria de uma corda ao pescoço todos os dias da semana.


    Iam enterrar a sua tia dali à uma hora. Também não havia forma de mudar isso.


    Estava chovendo, com direito a trovoada. Os funerais exigiam mal tempo, pensou, tal como exigiam gravatas e crepe preta e flores com um perfume exageradamente doce.


    Teria dado um ano da sua vida para poder voltar a meter-se na cama, puxar os cobertores até à cabeça e deixar que tudo acontecesse sem a sua presença.


    - A Maxine disse que não se importava de tratar dos cães - anunciou Hinata. Entrou, dentro de um vestido preto perfeitamente digno que encontrara no armário. - Naruto, que fizeste a essa gravata?


    - Dei-lhe um nó. É isso que se costuma fazer às gravatas.


    - Parece mais que andou a brigar com ela. Venha aqui, deixa-me ver o que consigo fazer.


    Puxou ligeiramente, depois com mais força e torceu.         


    - Deixa para lá. Não importa.


    - Desde que queira sair com o aspecto de quem tem papo preto debaixo do queixo. A minha tia-avó Harriet tinha papo, e não era bonito de se ver. Fica quieto um minuto, estou quase conseguindo.


    - Deixa, Hina. - Afastou-se para pegar no casaco do terno. - Quero que fique aqui. Não vale a pena saír por causa disso, não vale a pena ficarmos os dois molhados e infelizes durante as próximas horas. Já chega aquilo por que passamos.


    Ela pousou a bolsa que acabara de pegar.


    - Não me quer contigo?


    - Devia ir para casa.


    Ela olhou para ele e depois em volta. O perfume dela estava em cima da cômoda dele, o roupão pendurado no cabide, atrás da porta.


    - Engraçado, e eu aqui a pensar que era aí que estava. Enganei-me, afinal?


    Ele tirou a carteira da gaveta e meteu-a no bolso de trás, depois de tê-la esvaziado dos trocos.


    - O funeral da minha tia é o último lugar onde devia estar.


    - Isso não responde à minha pergunta, mas vou fazer outra. Porque é que o funeral da tua tia é o último lugar onde eu devia estar?


    - Por amor de Deus, Hina, pensa. A minha tia foi casada com o homem que matou a tua irmã e que podia ter te mortado há dois dias. Se já te esqueceste disso, eu não.              


    - Não, não me esqueci disso. - Virou-se para o espelho e, para manter as mãos ocupadas, pegou na escova. Com uma calma aparente, passou-a pelo cabelo. - Sabe, muitas pessoas, provavelmente a maioria delas, acham que eu não tenho muito mais bom senso do que uma rama de nabo. Que sou fútil e tonta e muito leviana para me prender a qualquer coisa durante mais tempo do que aquele que levo a lixar as unhas. Não faz mal.                           


    Pousou a escova, pegou no frasco de perfume e pôs um pouco no pescoço.


    - Não faz mal - repetiu. - Para a maioria das pessoas. Mas o engraçado é que achei que tu pensava melhor de mim. Achei que pensava melhor de mim do que eu própria.


    - Penso bem de ti.                                                       


    - Pensa Naruto? - Os olhos dela mexeram-se e encontraram os dele, no espelho. - Pensa mesmo? E ao mesmo tempo acha que pode ter essa atitude irritante e enxotar-me hoje. Talvez eu devesse ir ao cabeleireiro enquanto tu vai ao funeral da tua tia. E da próxima vez que tiver de lidar com alguma coisa difícil ou desconfortável vou às compras. E depois dessa - continuou ela, num tom de voz cada vez mais alto e mais duro -, já não estarei aqui, portanto nem se levantará a questão.                                                  


    - Isto é diferente, Hinata.


    - Pensei que fosse. - Pousou o frasco de perfume e virou-se. - Esperava que fosse. Mas se não me quer contigo hoje, se acha que não quero estar contigo hoje, ou não tenho coragem para isso, não é diferente do que já vivi antes. E não estou interessada em repetir.


    A emoção assolou-lhe os olhos, enraiveceu-o até as suas mãos se transformarem em punhos.


    - Odeio isto. Odeio ver o meu pai assim, desfeito. Odeio saber que a tua família voltou a ser violentada, e que a minha teve um papel nisso. Odeio saber que esteve no mesmo quarto que o Pain, imaginando o que podia ter acontecido.


    - Ainda bem, porque eu também odeio essas coisas todas. E vou dizer-te uma coisa que talvez não saiba. Há dois dias, quando acabou tudo, assim que consegui voltar a pensar, quis o ter perto de mim. Era a única pessoa que eu queria comigo. Sabia que iria cuidar de mim e abraçar-me e dizer-me que ia ficar tudo bem. Se não precisa do mesmo da minha parte, então eu também não vou permitir a mim própria precisar de ti. Sou suficientemente egoísta para isso. Vou contigo hoje, e fico ao teu lado e tento dar-te algum conforto. Ou então volto para Beaux Revés e começo a te esquecer.


    - Sei que farias isso - disse ele, calmamente. - Porque será que admiro isso em ti? Irresponsabilidade? Loucura? - Abanou a cabeça enquanto se aproximava dela. - É a mulher mais forte que conheço. Fica comigo. - Encostou a testa à dela. - Fica comigo.


    - A minha intenção é essa. - Lançou os braços à volta dele e passou-lhe as mãos pelas costas. - Quero poder estar ao teu lado. Isto é novo para mim. E a culpa é tua. Não me largou até eu me apaixonar por ti. Foi à primeira vez em que não disparei sem olhar. E acho que gosto.


    Abraçou-o e sentiu-o apoiar-se nela. Gostou disso também. Ninguém se apoiara nela antes.


    - Agora, vamos. - Falou energicamente e beijou-o na face. - Vamos chegar atrasados, e um funeral não é ocasião para se fazer uma entrada em grande estilo.


    Ele não conseguiu deixar de rir.


    - Está bem. Tem guarda-chuva?


    - Claro que não.


    - Vou buscar um.


    Enquanto ele remexia no armário, tentando encontrar um guarda-chuva, ela inclinou a cabeça e observou-o com um ligeiro sorriso.


    - Naruto, quando ficarmos noivos, me compre uma safira em vez de um diamante?


    A mão dele fechou-se sobre a pega do guarda-chuva e permaneceu ali.


    - Vamos ficar noivos?      


    - Uma bonita, não muito grande, para não dar muito na vista. Quadrada. O primeiro atrasado mental com quem casei nem sequer me deu um anel, e o segundo comprou-me o diamante mais ordinário que conseguiu encontrar.                                             


    Pegou no chapéu preto que atirara para cima da cama e foi até ao espelho para colocá-lo na cabeça num ângulo adequado.


    - Pelo aspecto que tinha se calhar era só um bocado de vidro. Vendi-o depois do divórcio, e com o dinheiro passei duas belas semanas num spa de luxo. E gostaria de uma safira quadrada.


    Ele tirou o chapéu-de-chuva e afastou-se do armário.


    - Está a pedir-me em casamento, Hinata?


    - Claro que não. - Endireitou a cabeça, para ver se estava bem. - E não pense que, porque estou a dar-te umas pistas sobre qual seria a minha resposta, fica dispensado de fazer o pedido. Espero que siga a tradição, de joelho no chão e tudo. E - acrescentou -, com uma safira quadrada na mão.


    - Vou tomar nota.                                                               


    - Muito bem, faz isso, então. - Estendeu-lhe a mão. - Preparado?


    - Achei que estava. - Pegou-lhe na mão e enlaçou os dedos nos dela, com força. - Mas nunca se está preparado para ti.


 


 


 


    Enterraram a mãe dela debaixo de uma chuva que bombardeava o chão como balas, enquanto os relâmpagos dilaceravam o céu, a este. Violência pensou Sakura. A mãe vivera com ela, morrera com ela e, mesmo agora, parecia atraí-la.


    Observou a chuva bater no caixão, a martelar nos guarda-chuvas. E esperou que terminasse.


    Viera mais gente do que ela esperara, formando um pequeno círculo escuro e melancólico. Ela e o tio ladeavam a avó, com o enorme Cecil logo atrás. E Sasuke estava ao lado dela.


    Tsunade, abençoada, chorava baixinho entre o marido e o filho.


    As cabeças mantiveram-se curvadas enquanto as orações eram lidas, mas Hinata levantou a dela e encontrou os olhos de Sakura. E sentiu o conforto inesperado de alguém que compreendia.


    Suigetsu viera, por ser presidente da câmara, supôs Sakura. E por ser amigo de Naruto. Manteve-se um pouco afastado, com ar solene e respeitoso. Imaginou que ele estaria desejoso que aquilo acabasse, para poder voltar para Karin.


    Ali estava Kurenai, firme como uma rocha, os olhos secos enquanto acompanhava silenciosamente o sacerdote nas orações.


    E, estranhamente, a tia Rosie, toda vestida de preto, incluindo chapéu e véu. Apanhara toda a gente de surpresa quando chegara, com uma mala enorme, na noite anterior.


    Margaret estava temporariamente em casa dela, anunciara. O que significava que Rosie fizera imediatamente as malas para ficar temporariamente noutro lado.


    Oferecera a Sakura o vestido de casamento da mãe, que amarelecera como manteiga, com o passar do tempo, e deitava um cheiro forte a bolas de naftalina. Depois, vestira-o e usara-o durante o resto da noite.


    Quando o caixão baixou à terra molhada, e o sacerdote fechou o livro, Jiraya deu um passo em frente.


    - Ela teve uma vida mais difícil do que precisava. - Pigarreou. - E uma morte mais dura do que merecia. Agora, está em paz. Quando era menina, os malmequeres amarelos eram as suas flores preferidas. - Beijou o malmequer que tinha na mão e atirou-o para a sepultura. Depois se virou para a mulher.


    - Ele teria feito mais por ela - disse Chyo - se ela o tivesse deixado. - disse ela a Sakura. - Depois, vamos para casa. - Agarrou Sakura pelos ombros e beijou-a em ambas as faces. - Estou feliz por ti, Saki. E orgulhosa. Sasuke, toma conta da minha menina.


    - Sim, minha senhora. Espero que venham passar uns dias conosco quando voltarem a Progress.


    Cecil baixou-se para tocar com os lábios na face de Sakura.   


    - Eu tomo conta dela - sussurrou. - Não te preocupe.


    - Não me preocupo. - Virou-se, sabendo que as pessoas estavam à espera que ela começasse a receber condolências. Rosie já ali estava, com os olhos brilhantes como os de um pássaro, atrás do véu. - Foi um belo serviço religioso. Digno e breve. Condiz contigo.


    - Obrigada, Rosie.                                        


    - Não podemos escolher a nossa família, mas podemos escolher o que fazer com ela. - Tocou no rosto de Sakura e olhou para o sobrinho. - Escolheste bem. A Margaret vai entender, ou talvez não, mas não te preocupe com isso. Vou falar com a Chyo, e saber quem é aquele homem grande e musculado que está com ela.


    Tentando não ceder à vontade de rir, nem à de chorar, Sakura pôs a mão no braço de Sasuke.


    - Vai levar-lhe o teu guarda-chuva. Eu fico bem.


    - Volto já.                                                      


    - Saki, lamento imensamente. - Suigetsu estendeu-lhe a mão e, agarrando a dela, beijou-a na face enquanto mudava a posição do guarda-chuva para protegê-la. - A Karin queria vir, mas eu obriguei-a a ficar em casa.


    - Ainda bem. Não seria bom para ela sair com este tempo. Foi simpático da tua parte estar presente, Suigetsu.


    - Nos conhecemos há muito tempo. E o Naruto é um dos meus dois melhores amigos. Saki, há alguma coisa que eu possa fazer por ti?


    - Não, mas obrigada. Vou dar uma volta e visitar o túmulo da Hope, antes de ir embora. Devia ir para casa, ter com a Karin.


    - E vou. Fica com isto. - Colocou a mão dela no guarda-chuva.


    - Não, eu estou bem.


    - Fica com ele - insistiu. - E não fique na chuva durante muito tempo.


    Deixou-a e voltou a aproximar-se de Naruto.


    Grata pelo abrigo, Sakura desviou o olhar do túmulo da sua mãe e começou a caminhar por entre a erva e as pedras, até ao túmulo de Hope.                                                                                                                                                


   


 


 


A chuva caía pelo rosto do anjo como lágrimas, e batia nas rosas mágicas. Dentro do globo, o cavalo alado voava.


    - Acabou tudo. Ainda não sinto paz - disse Sakura, com um suspiro. - Tenho este peso dentro de mim. Bem, são muitas coisas para digerir ao mesmo tempo. Quem me dera... Há tantas coisas a desejar.


    - Nunca venho pôr flores aqui - disse Hinata, atrás dela. - Não sei por quê.


    - Ela tem as rosas.


    - Não é isso. Não são as minhas rosas, rosas que eu lhe venha trazer.


    Sakura olhou para trás e deu alguns passos para ficarem ao lado uma da outra.


    - Não consigo senti-la aqui. Talvez tu também não consiga.


    - Quando chegar a minha vez, não quero ser enterrada. Quero as minhas cinzas espalhadas. No mar, acho eu, porque é lá que estou planejando fazer com que o Naruto me peça em casamento. Junto ao mar. Talvez ela sentisse o mesmo, só que as dela teriam sido espalhadas no rio, ou próximo do rio, no pântano. Ali era o lugar dela.


    - Pois era. Ainda é. - Pareceu-lhe importante e natural dar a mão a Hinata. - Há flores em Beaux Revés, que foi também o lugar dela. Acho que vou cortar algumas, quando a tempestade passar, e levá-las até ao pântano. Até ao rio. Deixá-las lá para a Hope. Talvez essa seja a coisa certa a fazer, pôr flores na água em vez de deixá-las morrer no chão. Quer fazer isso comigo?


    - Odiei partilhá-la contigo. - Hinata fez uma pausa e fechou os olhos. - Agora já não. O tempo vai melhorar da parte da tarde. Vou dizer ao Naruto. - Começou a afastar-se, mas deteve-se. - Sakura, se fores a primeira a chegar...


    - Espero por ti.


    Sakura a viu se afastar e olhou para trás, para a pequena colina, a cortina de chuva, a umidade que começava a condensar junto a terra. Ali estava a avó e Cecil, forte, a apoiá-la, Rosie com o seu véu e Kurenai, com um chapéu de chuva.


    Jiraya e Tsunade continuavam junto à sepultura da irmã que ele amara mais do que pensava.


    E ali estava Sasuke, com os seus amigos, à espera.


    À medida que foi se aproximando dele, a chuva começou a escassear e o primeiro raio de sol lançou a sua luz líquida e rompeu a escuridão.


    - Compreende porque quero fazer isto?


    - Compreendo que queira.                                            


    - Sakura sorriu um pouco, enquanto sacudia a chuva do caule de alfazema que acabara de colher.


    - E está aborrecido, só um bocadinho, por eu não te pedir que venha comigo.


    - Um bocadinho. Mas isso é contrabalançado pelo fato de tu e a Hina estarem a se tornar amigas. E tudo isso é superado pelo terror de saber que vou ficar à mercê da Tia Rosie até regressar. Tem um presente para mim, já o vi. É um chapéu alto, a cheirar a mofo, que ela espera que eu use no nosso casamento.


    - Fica bem com o vestido roído pelas traças que ela vai me dar. Vamos fazer uma coisa: tu usa o chapéu, eu uso o vestido, e pedimos à Kurenai que nos tire uma fotografia. Colocamos numa moldura bonita para a Tia Rosie, e depois colocamos num quarto escuro e seguro antes do casamento.


    - Brilhante. Vou casar com uma mulher inteligente. Mas temos de tirar a fotografia esta noite. Casamos amanhã.


    - Amanhã? Mas...


    - Aqui - disse ele, abraçando-a. - Tranquilamente, no jardim. Já tratei de quase todos os pormenores, e vou tratar do resto hoje à tarde.                                                                                      


    - Mas, a minha avó...


    - Já falei com ela. Ela e o Cecil vão ficar mais uma noite. Vão assistir ao casamento.


    - Não tive tempo de comprar um vestido, nem...


    - A tua avó falou nisso, e espera que esteja disposta a usar o que ela vestiu quando casou com o teu avô. Vai num instante a Florence buscá-lo, esta tarde. Disse que significaria muito para ela;


    - Pensou em tudo, não foi?


    - Sim. Tem algum problema com isso?


    - Vamos ter muitos problemas com isso, nos próximos cinquenta ou sessenta anos. Mas agora? Não.                                         


    - Muito bem. A Kurenai está a fazer um bolo. O Jiraya vai trazer uma caixa de champanhe. A idéia animou-o espantosamente.


    - Obrigada.


    - Já que está tão grata, me deixe acrescentar que a minha tia Rosie está pensando em cantar.


    - Não acrescente. - Recuou um pouco. - Não vamos estragar este momento. Bem, já que todos aprovaram o horário e os detalhes, quem sou eu para me opor? Também já tratou da lua-de-mel? - Viu-o hesitar e revirou os olhos. - Sasuke, francamente.


    - Não vai discutir por causa de uma viagem a Paris, não é? Claro que não. - Deu-lhe um beijo rápido antes de ela poder responder. - Talvez queira fechar a loja durante uns dias, mas a Tsunade gostou da idéia de tomar conta dela e a Hinata andava com umas idéias.


    - Meu Deus.


    - Mas isso é contigo.


    - Muito obrigada. - Passou a mão pelo cabelo. – A minha cabeça esta rodando. Falamos sobre isto tudo quando eu voltar.


    - Claro. Sou flexível.


    - O diabo é que é - resmungou ela. - Finge ser. - Pegou no cesto com as flores e lhe entregou a tesoura de corte. - Não comece a dar nomes às crianças enquanto eu estiver fora.


    Homem exasperante, pensou ela, enquanto se metia no carro e colocava o cesto com as flores no assento ao lado. A planejar o casamento nas costas dela. E a planejar exatamente o tipo de casamento que ela queria. Que irritante, e que maravilhoso, alguém nos conhecer tão bem.


    Então, porque não estava tranquila? Quando entrou na estrada, rodou os ombros. Não conseguia acabar com a tensão. Era compreensível, disse a si própria. Passara por uma provação terrível. Não conseguia imaginar-se a casar dali a vinte e quatro horas, com tantas coisas presas dentro de si.


   Estacionou na beira da estrada, onde Hope deixara a bicicleta. Depois de sair, atravessou a pequena ponte onde as coroas imperiais floriam como num livro de contos, e seguiu pelo caminho que sabia que a sua amiga tomara naquela noite.


    Hope Hyuuga Uchiha, a espiã.


    A chuva se transformou em uma espécie de vapor, que se elevava do chão como dedos curvados que se separavam e depois se voltavam a unir, à volta dos tornozelos dela. O ar estava cheio de umidade, de verde, de fungos. De mistérios por resolver.


    Quando se aproximou da clareira, desejou ter se lembrado de trazer alguma madeira. Ali estaria tudo muito úmido para fazer uma fogueira, e talvez fosse uma tolice querer fazer uma, com aquele calor. Mas lamentou não ter pensado nisso, porque assim poderia acender uma, como fizera Hope.


    A pensar nisso, a recordar-se disso, cheirou-lhe a fumo.


    Ali estava a fogueira, pequena e cuidadosamente preparada para não lançar chamas altas, um pequeno círculo de chamas, com uma série de paus compridos e afiados, ao lado, à espera de marshmallows.


    Pestanejou uma vez, para perceber se era verdade. Mas a fogueira ardia devagar e o fumo esvanecia-se lentamente na neblina. Intrigada, Sakura entrou na clareira, com o cesto prestes a derrubar as flores aos pés.


    - Hope? - Levou uma mão ao coração, como que a certificar-se de que ele continuava a bater. Mas a criança de mármore que fora sua amiga permaneceu no seu mar de flores e não disse nada.


    Com a mão a tremer, pegou num dos paus e viu que os cortes feitos para o afiar eram recentes.


    Não era um sonho, não era um flashback. Estava a acontecer ali e naquele momento. Era real.


    Não era Hope. Nunca mais seria Hope.


    A pressão cresceu dentro dela, num assomo quente de medo e de entendimento.


    Dos arbustos veio um barulho, úmido e dissimulado.


    Ela se virou na direção dele. A senha. Pensou isso, o ouvi na sua cabeça. Mas não era Hope. Não tinha oito anos. E, Deus! Afinal não tinha acabado.


 


 


 


    Sasuke estava no jardim, a decidir onde deviam pôr as mesas para o copo-d'água, quando o chefe Kakashi apareceu.


    - Ainda bem que está aqui. Acabei de receber novidades que achei que devia saber.                                                       


    - Entre, lá dentro está fresco.


    - Não, não posso demorar, mas quis te dizer pessoalmente. Temos o relatório da bala sobre Konan. A arma com que ela foi morta não foi à mesma que o Pain tinha com ele. Nem sequer são do mesmo calibre.


    Sasuke sentiu-se levemente tocado pelo medo.


    - Não sei bem se estou compreendendo.


    - Acontece que a arma que o Pain tinha quando entrou na casa onde estavam a Sakura e a sua irmã foi roubada de uma casa a cerca de vinte e cinco quilômetros daqui, na manhã em que a mãe da Sakura foi morta. A casa foi assaltada entre as nove e às dez da manhã desse dia.


    - Como pode ser?


    - A única maneira é o Pain ter aberto as asas e voado até aqui desde Darlington County. Ou então, foi outra pessoa que meteu aquelas balas na Konan.


    Kakashi cobriu o queixo com a mão e esfregou-o com força. Os olhos ardiam de cansaço.


    - Tenho estado em contato com os agentes federais, e estou encaixando as peças. Konan recebeu um telefonema logo depois das duas da manhã, da cabine que fica à saída de Winn-Dixie, a norte daqui. Ora, seria de pensar que foi o Pain que lhe telefonou daqui, dizendo que ia buscá-la. Até aqui, tudo bem. Mas as coisas não se encaixam, quando se acrescenta o resto.                       


    - Foi o Pain que lhe telefonou, isso é certo. Se não, porque teria ela feito as malas?


    - Não sei. Mas imaginemos que ele telefonou daqui, por volta das duas da manhã, foi até lá, disparou os tiros entre as cinco e às cinco e meia, e depois voltou para cá e foi mais vinte e cinco quilômetros para sul, assaltou uma casa e roubou uma arma, uma garrafa e uns restos do jantar. Ora, porque andaria o homem a ziguezaguear para trás e para frente?


    - Era louco.


    - Não vou dizer o contrário, mas o fato de ser louco não faz com que seja capaz de andar a bater recordes de velocidade numa manhã. Principalmente porque parece que não tinha nenhuma espécie de veículo. Ora, não estou dizendo que não pudesse ser feito. Estou dizendo que não faz sentido.


    - Quem mais poderia ter morto a mãe de Saki?


    - Não posso responder a isso. Tenho que trabalhar com fatos. Ele tinha a arma errada, e nós não temos nada que prove que o homem tinha carro. Mas pode ser que ainda venhamos a encontrá-lo, ou à arma que ele usou para matar a mulher.


    Tirou o lenço do bolso e limpou a parte de trás do pescoço.


    - Mas me parece que se o Pain não cometeu aqueles crimes em Darlington County, talvez não tenha morto ninguém. Isso significa que quem quer que os tenha cometido ainda anda à solta. Vinha à espera de conseguir conversar com a Sakura.


    - Ela não está aqui. Ela... - Um medo branco e quente o atravessou por dentro. - Foi ter com a Hope.


 


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Notas finais do capítulo

Aeeeeee
Fic chegando ao fim.
O proximo é o ultimo!!!!
Entao já descobriram qm é o assassino????

O proximo eu posto na semana que vem!!!
Bjux e feliz ano novo!



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