Lua de Sangue escrita por BiahCerejeira


Capítulo 36
Capítulo 36


Notas iniciais do capítulo

Mais um capitulo!!! Reviews???



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    Os braços ficaram imóveis sobre a cabeça dela, e o pânico atravessou-a até ao coração. O ar tornou-se denso, pesado, transportando um vago cheiro de uísque.      


    Ela sentiu o cheiro, como uma presa sente o cheiro do caçador.


    Num salto, estava junto da mesa de cabeceira, segurando na mão o revólver que Sasuke lhe dera. Sentiu um grito no fundo da garganta, mas se conteve. Tudo o que soltou foi à convulsão do medo. Saiu do quarto, no momento exato em que Hinata saía do banheiro.


 - Deixei-a de molho. Podes tirá-la quando... - Primeiro viu a arma e depois o rosto de Sakura. - Oh, meu Deus - foi tudo o que conseguiu dizer antes de Sakura lhe agarrar o braço.                     


    - Ouve-me e não faça perguntas. Não temos muito tempo. Sai pela porta da frente, depressa. Vai para o carro e vai buscar ajuda. Eu detenho-o, se conseguir.


    - Vem comigo. Anda, agora.


    - Não. - Sakura afastou-se e correu para a cozinha. - Ele vem aí. Vai!


    Correu para as traseiras da casa para dar a Hinata tempo de fugir. E para enfrentar o pai.


    Ele abriu a porta de trás, a pontapé, e entrou abruptamente. Tinha as roupas sujas, o rosto e os braços cheios de arranhões e de marcas de picadas de mosquitos. Bamboleou um pouco, mas os seus olhos mantiveram-se fixos no rosto da filha. Tinha uma garrafa vazia numa mão e uma arma na outra.


    - Tenho estado à tua espera. -Sakura apertou mais o revólver.


    - Eu sei.                           


    - Onde está aquela devassa Hyuuga Uchiha?


    - Só estou eu aqui.


    - Puta mentirosa. Não dá dois passos sem a fedelha daquele homem rico. Quero falar com ela. - Sorriu. - Quero falar com as duas.


    - A Hope está morta. Agora, sou só eu.


    - Pois é. - Levantou a garrafa e depois, apercebendo-se de que estava vazia, atirou-a contra a parede, fazendo-a estilhaçar-se. - Morreu. Estava a pedir isso. As duas mereceram tudo o que aconteceu. A mentir e a esconder coisas. A tocarem-se uma à outra como umas porcas.


    - Entre mim e a Hope só havia inocência. - Sakura apurou os ouvidos para tentar escutar o rugido do motor do carro de Sasuke, mas não ouviu nada.                                                               


    - Pensava que eu não sabia? - Fez um gesto furioso com a arma na mão, mas ela não vacilou. - Pensa que não as vi, a nadarem nuas, a flutuar na água, a salpicarem-se nela e a deixarem que ela escorresse pelos corpos?


    Sentiu náuseas por ele profanar aquela recordação de infância.


    - Tínhamos oito anos. Mas o pai não. O pecado estava dentro de ti. Sempre esteve. Não, para trás. - Apontou a arma, e o tremor percorreu-lhe o braço, do ombro até às pontas dos dedos. - Nunca mais vai voltar a pôr as mãos em cima de mim. Nem a mim, nem a ninguém. A mãe não lhe deu dinheiro suficiente desta vez? Não se mexeu suficientemente depressa? Foi por isso que fez aquilo?      


    - Só levantei a mão à tua mãe quando foi preciso. Deus fez o homem senhor da sua casa. Largue essa coisa e vai buscar algo para que eu possa beber.


    - A polícia vem a caminho. Andam à sua procura. Pela Hope, pela mãe, por todas as outras. - A arma tremeu-lhe incontrolavelmente na mão quando ele avançou para ela. Ouviu o assobiar e o bater de um cinto. - Se se aproximar de mim, não vamos esperar por eles. Acabo com isto agora.


    - Pensa que me assusta? Nunca teve juízo nenhum.


    - O mesmo não pode dizer de mim. - Hinata apareceu atrás de Sakura. A pistola brilhava na mão. - Se ela não lhe der um tiro, juro que eu dou.


    - Disse que ela estava morta! - Era um homem grande, com braços compridos. Movido pelo pânico e pela fúria, avançou para Sakura e atirou-a com força contra a parede. Ouviu-se um tiro e o cheiro a sangue encheu-lhe os sentidos.


    Sakura caiu sobre Hinata, enquanto o pai soltava um uivo de dor e saía por onde entrara.


    - Te mandei embora. - Batendo os dentes, Sakura caiu de joelhos.


    - E eu não ouvi? - Sentindo a visão turvar-se, Hinata apoiou-se contra a parede e abanou a cabeça com força. - Usei o telefone do carro do Sasuke e chamei a polícia.


    - E voltou aqui.


    - Claro. - Soltando a respiração numa espécie de pequenos sopros, Hinata curvou-se para a frente, dobrada pela cintura, tentando fazer com que o sangue voltasse a chegar à cabeça. - Tu também não me teria deixado.


    - Havia sangue. Cheirou a sangue. - Subitamente Sakura pôs-se de pé, puxando Hinata. - Está ferida? Ele disparou contra ti?


    - Não. Foste tu. Deste-lhe um tiro, Sakura, escapou da tua arma.       


    Sakura olhou para a mão. Continuava a segurar a pistola, que tremia como se estivesse viva. Deixou-a cair no chão, em choque.


    - Dei-lhe um tiro?        


    - A tua arma disparou quando ele te empurrou. Acho eu. Meu Deus, aconteceu tudo tão depressa. Ele tinha sangue na camisa, disso tenho certeza, e eu não disparei. Acho que vou vomitar. Detesto vomitar. Sirenes! - Ao ouvi-las, Hinata se encostou na parede. - Graças a Deus!


    Depois, ouviu o rugido de um motor e afastou-se da parede.


    - Oh, não! Meu Deus! O carro do Sasuke! Deixei as chaves no carro.


    Antes de Sakura conseguir impedi-la, Hinata corria para a porta da frente. Saíram ambas a tempo de ver o carro chiar na estrada.


    - O Sasuke vai me matar.


    Sakura soltou um suspiro semelhante a um soluço, mas que acabou por transformar-se numa gargalhada. À beira da histeria, mas era uma gargalhada.


    - Acabamos de livrar-nos de um louco e tu está preocupada com o teu irmão. Só tu.


    - Bem, o Sasuke pode ser uma fera. - Para lhe dar conforto e para se apoiar a si própria, Hinata pôs o braço sobre os ombros de Sakura. Ela pousou a cabeça nele e fechou os olhos.


    O grito das sirenes ecoou-lhe nos ouvidos. Viu mãos no volante do carro. As mãos do seu pai, cheias de arranhões profundos. Sentiu a velocidade, a dança dos pneus, enquanto ele acelerava o carro.


    A velocidade aumentava cada vez mais. O rádio deitava rock enfurecido. As luzes em espiral. Consegue vê-las pelo retrovisor, com os olhos apontados à estrada. Pânico, revolta, ódio. Eles estão cada vez mais perto.


    Os braços ardem-lhe da bala e das gotas de sangue.


    Mas vai escapar. Deus está ao seu lado. Deixou-lhe o carro. Depressa. Mais depressa.


    Um teste. É apenas mais um teste. Vai escapar. Tem de escapar. Mas vai voltar para apanhá-la. Oh, sim, vai voltar e fazê-la pagar.


    As mãos estão escorregadias por causa do sangue. O volante escapa-lhe da mão. O mundo roda, as formas rodopiam.


    Um grito. É tu que está a gritar?                                              


    - Sakura! Por amor de Deus, Saki. Pára com isso. Acorda. Acordou na beira da estrada, de cara para baixo, com o corpo a tremer e os gritos a dilacerarem-lhe a mente.


    - Não faça isto. Não sei o que fazer.


    - Eu estou bem. - A custo, Sakura virou-se e protegeu os olhos com o braço. – Me de só um minuto.


    - Está bem? Quando eles chegaram, foste a correr para a estrada. Tive medo que te atropelassem. Depois, os teus olhos reviraram-se e tu apagou. - Hinata deixou cair a cabeça entre as mãos. - Isto é de mais para mim. É de mais.


    - Está tudo bem. Acabou. Ele está morto.


    - Acho que percebi essa parte. Olha. - Apontou para a estrada, mais adiante. As chamas e o fumo erguiam-se em espiral e o sol refletia-se nos cromados e nos vidros dos carros da polícia estacionados em círculo.


    - Ouvi o choque e depois uma espécie de explosão.


    - Uma morte pelo fogo - murmurou Sakura. - Foi à morte que pedi para ele.


    - Ele é que a pediu. Quero o Naruto. Oh, meu Deus, quero o Naruto.


    - Vamos mandar alguém chamá-lo. - Mais firme, Sakura pôs-se de pé e estendeu a mão a Hinata. - Vamos lá abaixo e pedimos a alguém que lhe telefone.


    - Está bem. Sinto-me um bocado bêbada.  


    - Eu também. Vamos amparar-nos uma à outra.


    Com os braços enlaçados à volta da cintura uma da outra, começaram a percorrer a estrada. O calor acontecia no asfalto, lançando um reflexo trémulo no ar. Através das ondas desse reflexo, Sakura viu o fogo, o rodopio de luzes, o bege claro do carro do governo, com os agentes do FBI ao lado.


    - Consegue ver onde está? - murmurou Sakura. - Exatamente à frente do sítio onde a Hope... Precisamente na curva da estrada, diante do sítio onde ela estava.


    Ouviu o carro aproximar-se, parar e virar. Sasuke saiu e correu para elas, abraçando-as.


    - Vocês estão bem. Ouvi as sirenes e depois vi o fogo. Oh, meu Deus, pensei...


    - Ele não nos fez mal. - O cheiro de Sasuke estava ali, doce, de homem. Do seu homem. Sakura deixou-se invadir por ele. - Está morto. Senti-o morrer.


    - Chiu. Não digas nada. Vou levar vocês para casa.


    - Quero o Naruto.


    Sasuke pousou os lábios no alto da cabeça de Hinata.        


    - Vamos buscá-lo, querida. Vem comigo. Se apoia em mim.


    - Sasuke, ele levou o teu carro. - Hinata manteve os olhos fechados, o rosto contra o peito do irmão. - Desculpa.


    Sasuke abanou a cabeça e abraçou-a com mais força.


    - Não pense nisso. Vai tudo correr bem.


    À beira do descontrole, ajudou-as a entrar no carro. Quando arrancou, a agente Williams saiu para a estrada e fez sinal.


    - Senhorita Haruno, pode confirmar que se trata do seu pai? - Fez um gesto na direção dos destroços. - Que era Pain que ia a conduzir aquele veículo?


    - Sim. Está morto.          


    - Preciso lhe fazer umas perguntas.


    - Não neste local nem neste momento. - Sasuke voltou a engatar a primeira. - Passe por Beaux Revés, quando terminar aqui. Vou levá-las para casa.


    - Está bem. - Williams olhou para Sakura. - Está ferida?


    - Não.


    Por um momento, sentiu a mente em branco. Sentiu vagamente Sasuke levá-la para casa e a ajudá-la a subir as escadas. Afastou-se ainda mais quando ele a deitou numa cama.


    Passado pouco tempo, sentiu qualquer coisa fresca no rosto. Abriu os olhos e viu os dele.


    - Estou bem. Só um pouquinho cansada.


    - Fui buscar uma das camisolas da Hinata. Vai se sentir melhor depois que a vestir.


    - Não. - Ela sentou-se e o abraçou. - Já me sinto melhor. Ele acariciou-lhe o cabelo, suavemente. Depois agarrou-a com força e enterrou a cara no cabelo dela.


    - Preciso de um minuto.


    - Eu também. De muitos minutos, provavelmente. Não me deixe.


    - Não deixo. Não posso. A Hinata ia a conduzir como uma louca. Preparei logo o sermão.


    - Ela fez de propósito. Adora te ver zangado.


    - E é o que está sempre a fazer. Andei pelo campo a estourar que ela havia de pagar, e o Piney atrás de mim, a rir como um idiota. Foi nessa altura que ouvi o tiro. Foi como se me tivesse parado o coração. Comecei a correr, mas ainda estava a uma boa distância da estrada e do carro quando a polícia chegou. Vi a explosão. Pensei que a tinha perdido. - Começou a embalá-la. - Pensei que a tinha perdido, Saki.


    - Estive no carro com ele, no meu pensamento. Acho que quis estar para saber o momento exato em que tudo acabasse.     


    - Ele não pode voltar a te tocar.


    - Não. Não pode voltar a tocar em nenhum de nós. - Pousou a cabeça na curva forte do ombro dele. - Onde está a Hina?


    - Lá em baixo. O Naruto está aqui. Ela não consegue parar sossegada. - Afastou-se um pouco dela e o seu olhar percorreu-lhe o rosto. - Vai estar assim até cair, e nessa altura ele estará aqui para segura-la.


    - Ela ficou comigo. Exatamente como tu lhe pediu. - Soltou um suspiro. - Tenho de ir à casa da minha avó.


    - Ela vem para cá. Telefonei para ela. Esta é a tua casa agora, Saki. Depois vamos buscar as tuas coisas na Casa do Pântano.


    - Me parece uma bela idéia.


    O crepúsculo chegou enquanto ela percorria os jardins com a avó.


    - Quem me dera que ficasse aqui conosco, avó. A avó e o Cecil.


    - O Jiraya precisa de mim. Perdeu a irmã, uma irmã que ele não foi capaz de salvar de si própria. E eu perdi uma filha. - A voz quebrou-se. - Já a tinha perdido há muito tempo. Mas, por mais que se negue, há sempre aquela esperança que teima em dizer que tudo vai ficar bem, tudo há de se compor. Agora, acabou.


    - Não sei o que posso fazer por ti.


    - Já está fazendo. Está viva e está feliz. - Apertou a mão de Sakura. Parecia que não conseguia deixar de abraçá-la, deixar de tocar-lhe.


    - Todos temos de encontrar paz em relação a isto, cada um à sua maneira. - Chyo respirou fundo, tentando recuperar a firmeza. - Vou enterrá-la aqui, em Progress. Acho que é assim que deve ser. Passou aqui alguns anos felizes e, bem, o Jiraya quer assim. Não quero serviço religioso. Nesse ponto, estou em desacordo com ele. O funeral é depois de amanhã, ao princípio do dia. Se o Jiraya quiser, o sacerdote da igreja dele pode dizer umas palavras junto à sepultura. Saki, não te censuro se não quiseres ir.                                      


    - Claro que vou.


    - Fico contente. - Chyo sentou-se num banco. Os vaga-lume já andavam ali fora, iluminando a escuridão com as suas luzes. - Os funerais são para os vivos, servem para ajudar a fechar um vazio. É melhor ires te preparando. - Puxou Sakura para baixo, fazendo-a sentar-se junto de si. - Já sinto os anos, pote de mel.


    - Não diga isso.


    - Ora, isto passa. Nem eu permitiria que não passasse. Mas esta noite sinto-me velha e cansada. Diz-se que os pais nunca deviam enterrar um filho, mas a natureza e o destino é que sabem. Temos que viver com isso. Vamos todos viver com isto, Saki. Quero que me diga que vai agarrar o que tem à tua frente com ambas as mãos e com muita força.


    - Vou, sim. A irmã da Hope sabe fazer isso. Estou aprendendo com ela.


    - Sempre gostei daquela moça. Ela tem intenção de casar com o meu Naruto?


    - Acho que ele tem intenção de casar com ela e vai deixá-la pensar que a idéia foi dela.


    - É um rapaz esperto. E forte. Vai mantê-la na linha sem lhe cortar as asas. Vou ver os meus dois netos felizes. É a isso que vou agarrar-me, Saki.


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Notas finais do capítulo

E aeeee o q acharanm??? REVIEWS!!!!!

Feliz Natal!!!
Bjux



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